Mais Além

Publicado por: Milu  :  Categoria: Mais Além

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Mais Além

De

João Garcia

João Garcia nasceu em Lisboa no ano de 1967. Iniciou-se na escalada em rocha na Serra da Estrela aos 16 anos de idade. Anos mais tarde, em 1983, passou à escalada em neve e gelo nos Alpes. O cume do Evereste, a montanha mais alta do mundo (8.850m), pisado pela primeira vez por Edmund Hillary e Tenzing Norey, fez de João Garcia o primeiro português a alcançar esta proeza sem recurso a oxigénio artificial. O alpinista João Garcia, pertencente à elite do montanhismo mundial detém no seu palmarés, para além do emblemático Evereste, a conquista de sete outros picos, com alturas superiores a 8.000m, um extraordinário feito que não está ao alcance de todos.

Mais Além” é uma obra da autoria do alpinista português João Garcia  que nos traz um apaixonante e envolvente relato das  aventuras, por si vivenciadas, na tentativa da concretização de um seu tão acalentado sonho – a conquista das alturas, nos pináculos das maiores  montanhas dispersas algures pelo Planeta Azul. Neste livro, o alpinista dá-nos conta do ambicionado e  arrojado objectivo de escalar e atingir o cume das 14  montanhas  mais altas da Terra, com a altitude  acima dos 8.000m. A conquista do pico do Evereste, o mais alto (8.850m), no dia 18 de Maio de 1999,  deixou-lhe algumas sequelas físicas e psicológicas. A elevada exposição às mais agrestes temperaturas, provocaram-lhe graves queimaduras que culminaram em  amputações nos dedos das mãos e dos pés, assim como, numa terrível perda, a morte do seu companheiro de escalada, Pascal, que no dia subsequente, após ter sentido  a alegria de levar a cabo tamanha proeza, teve uma queda que o sepultou na face norte do Evereste. No ano seguinte, João Garcia regressou ao Evereste para proceder a uma homenagem  a Pascal. Foi nesta  viagem aos Himalaias, no Nepal, que  se viu confrontado com a revelação de que  continuava, apesar de tudo, a desejar ardentemente atingir a realização dos seus  objectivos –  Desafiar e testar os seus limites, vencendo as dificuldades impostas pela natureza rumo à conquista  dos cumes mais altos do mundo.

evereste

No Verão de ano 2ooo escalou a montanha CHOPICALQUI (6.354), no Peru. Foi com imensa satisfação que concretizou esta expedição, já que lhe permitiu fazer, também, algum turismo, o que veio mesmo a calhar para o  aliviar da angústia sentida pelo trauma do passado. No entanto, a sua finalidade primordial  mantinha-se  – a conquista  dos píncaros das montanhas acima dos “oito mil”.  A montanha GASHERBRUM II (8034m), no Paquistão foi a seguinte, mais uma vez nos Himalaias, é aqui que se encontram oito das catorze montanhas mais altas.  PUMORI (7120m), no Nepal, teve a particularidade de ser  a primeira expedição portuguesa e, por este motivo, houve alguma moderação nos objectivos ambicionados. Os “oito mil” ficariam à espera de uma outra investida! Tudo tem o seu tempo!

Levado pelo sentimento de amizade, pois iria ter a oportunidade de se encontrar com vários amigos, decidiu integrar-se numa expedição que incluía o cume HIMLUNG HIMAL (7126), no Nepal. De qualquer forma,  esta escalada revestia-se de bastante importância, na medida em que pretendia conhecer os mais variados picos  para adquirir conhecimentos dos quais se poderá socorrer, quando enveredar pela organização  e condução de  futuras expedições.

Foi a vez do MONTE VINSON (4897) na Antárctida, esta escalada faz parte de um arrojado objectivo – atingir o cume do pico mais alto de cada continente – O desafio dos “Sete Cumes”. AMADABLAM (6856), no Nepal, foi mais uma expedição portuguesa, caracterizada por alguns contratempos que incluíram várias, ainda que ligeiras, indisposições da comitiva.

gasherbrum

GASHERBRUM I (8068), no Paquistão. Finalmente de volta aos oito mil! A escalada foi marcada por um funesto acontecimento, um espanhol de nome José, que se encontrava  inserido num grupo de alpinistas que haviam atingido o cume, sofreu uma queda na descida,  embateu numas rochas  e acabou por se despenhar pela montanha. Este acontecimento arrefeceu, de alguma forma, o ânimo da equipa que fazia parceria com João Garcia. De súbito enfrentaram dúvidas se deveriam levar por diante a tarefa de alcançar o cume. A renúncia é bastante  difícil, é como fazer tábua rasa de todo um esforço despendido até então, decidiram, por fim, que não era altura para  fraquezas. Uma vez chegados àquele ponto, depois de tão hercúleos esforços só havia uma opção – Prosseguir na odisseia!

Lhotse

Eis a montanha LHOTSE (8516M), no Nepal, num esforço supremo João Garcia atinge solitariamente  o cume desta montanha, perfazendo assim o sexto dos “oito mil.” Reconhece, no entanto, que foi um alto risco, pois sentiu que chegou a atingir o limite das suas forças. KANGCHENJUNGA (8586), no Nepal, a terceira montanha mais alta do Planeta. O sucesso desta expedição perigou devido aos consideráveis atrasos, Tozé, um elemento do grupo foi acometido de uma apendicite  em plena  escalada da montanha, facto que obrigou à sua hospitalização. Devido à instabilidade das condições meteorológicas, João Garcia atrasou a sua marcha em direcção ao pico, foi uma espera desesperante, ainda assim alguns alpinistas  tentaram prosseguir, todavia, viram os seus intentos frustrados. Com tamanhos contratempos João Garcia viu-sem mais uma vez, na iminência de se fazer ao cume sozinho. Porém, quando menos esperava, Ivan, um experimentado  escalador, já com 12 cumes de “oito mil” no currículo, decidiu fazer-lhe companhia na façanha,  rumo ao tão esperado e desejado píncaro.

Este foi um livro que gostei de ler, nomeadamente pelos conhecimentos que adquiri que  me possibilitaram fazer uma ideia de como se faz montanhismo. Esta é uma actividade que envolve e necessita de aturado planeamento, desde à angariação dos patrocínios às operações de logística em estreito contacto com diversas organizações destinadas a garantir assistência alimentar, transporte, etc. Também foi interessante saber como se desenrola o processo de escalar uma montanha. Sempre pensei que era uma obra que se fazia  de uma assentada, afinal, são estabelecidos campos, umas vezes mais outras  menos, de acordo com a dificuldade técnica da escalada. Os alpinistas deambulam por entre esses campos, subindo e descendo, conforme a necessidade de aclimatação, principalmente. Esta  consiste num período necessário ao organismo humano de se adaptar à rarefacção do ar, correspondendo deste modo, ao aumento da produção de uma maior quantidade de glóbulos vermelhos. Uma vez bem aclimatado o alpinista encontra-se em condições favoráveis para subir aos céus!

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