A caça às bruxas

Publicado por: Milu  :  Categoria: A caça às bruxas, PARA PENSAR

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“É melhor acender uma vela do que maldizer a escuridão.”

 

 

Apontamentos retirados do livro intitulado “Um Mundo Infestado de Demónios” da autoria do cientista astrofísico Carl Sagan, um autor representativo da Terceira Cultura, que nos demonstra até onde pode ir a credulidade humana. E, já agora, até onde pode ir, também, a crueldade humana – o Homem lobo do Homem. Conhecer a História da Humanidade é estarmos de sobreaviso. Estão  a dar-se muitos acontecimentos que ainda há pouco tempo achávamos impossíveis. A estupidez humana não tem limites.

“As obsessões com os demónios começaram a atingir um crescendo quando, na sua famosa bula de 1484, o papa Inocêncio VIII declarou:

“Chegou aos nossos ouvidos que pessoas de ambos os sexos não se privam de ter relações sexuais com anjos do mal, íncubos e súcubos, e que estes, com as suas feitiçarias, encantamentos, sortilégios e conjurações, sufocam, matam, e fazem as mulheres perder os filhos que trazem no ventre.”

“além de provocarem muitas outras calamidades.Com esta bula, Inocêncio desencadeou um movimento de acusação, tortura e execução sistemáticas de inúmeras «bruxas» em toda a Europa. Elas eram culpadas daquilo a que o Santo Agostinho tinha chamado «uma intromissão criminosa no mundo invisível». Apesar de a bula referir equitativamente «pessoas de ambos os sexos», não é de surpreender que as perseguições tenham recaído sobretudo sobre raparigas e mulheres.

“Nos séculos seguintes, muitos dirigentes protestantes, apesar das suas divergências com a igreja católica, adoptaram uma posição praticamente idêntica. Mesmo humanistas como Desidério Erasmo e Thomas More acreditavam em bruxas. «Abandonar a ideia da bruxaria», disse John Wesley, o fundador do metodismo, «representa de facto o abandono da Bíblia».”

(…)

“O papa Inocêncio louvou «os Nossos queridos filhos, Henry Kramer e James Sprenger», que «foram nomeados, por carta apostólica, inquisidores destas depravações heréticas». Se «as abominações e enormidades em questão permanecerem impunes, as almas de muitos enfrentarão a condenação eterna».”

“O papa encarregou Kramer e Sprenger de escreverem uma análise completa, utilizando todo o arsenal académico de finais do século XV. Estes, com citações exaustivas das Escrituras e de eruditos antigos e modernos produziram o Malleus Maleficarum, o «Carrasco das Bruxas» – apropriadamente descrito como um dos documentos mais terríveis da história da Humanidade. Thomas Ady, em A Candle in the Dark [Uma Luz na Escuridão], acusou-o de serem «doutrinas e invenções torpes», «mentiras horríveis e coisas impossíveis», que serviam para esconder «a crueldade ímpar [dos autores] dos ouvidos do mundo».

O Malleus resume-se, em grande medida, à regra de que, se alguma mulher foi acusada de bruxaria, é uma bruxa. A tortura é um meio infalível de demonstrar a validade da acusação. A ré não tem quaisquer direitos. Não há oportunidade de um confronto com os acusadores. Dá-se pouca atenção à possibilidade de as acusações poderem ser feitas com objectivos ímpios – por ciúme, por exemplo, ou por vingança ou pela cupidez dos inquisidores, que costumavam confiscar em seu proveito os bens da acusada. Este manual técnico para torturadores também inclui métodos de sevícias concebidos para libertar os demónios do corpo da vítima antes de esta ser morta. Com o Malleus na mão e a certeza do apoio do papa, os inquisidores começaram a multiplicar-se por toda a Europa.”

“Isto tornou-se rapidamente um sistema de fraude financeira. Todos os custos da investigação, julgamento e execução ficavam a cargo da acusada e seus familiares – incluindo as diárias pagas aos investigadores privados contratados para espiar a ré, vinho para os guardas, banquetes para os juízes, as despesas de viagem de um mensageiro enviado para ir buscar um torturador mais experiente a outra cidade, bem como a lenha para a fogueira, o alcatrão e a corda para o enforcamento. E havia ainda um bónus para os membros do tribunal por cada bruxa queimada. O remanescente dos bens da bruxa condenada, se ainda houvesse algum, era dividido entre a Igreja e o Estado. À medida que este assassínio e roubo em massa, sancionados pela lei e pela moral, se institucionalizaram, criando uma enorme burocracia para servir o processo, a atenção foi-se desviando das velhas miseráveis para pessoas da classe média e abastadas de ambos os sexos.”

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“Quanto mais eram aqueles que, sob tortura, confessavam a prática da bruxaria, mais difícil era afirmar que todo o processo era uma mera fantasia. Uma vez que cada «bruxa» era forçada a denunciar outras, o número de acusadas cresceu exponencialmente. Estas constituíam «a prova aterradora de que o Diabo ainda está vivo», como foi dito mais tarde na América, no julgamento das bruxas de Salém. Numa época de credulidade, o testemunho mais fantástico era aceite – que dezenas de milhares de bruxas se tinham reunido para um sabat em praças públicas em França, ou que 12 000 escureceram o céu quando voaram para a Terra Nova. A Bíblia tinha prescrito que «Não consentirás que uma bruxa viva». Legiões de mulheres foram queimadas na fogueira. E as mais horríveis torturas eram infligidas por norma a todas as rés, jovens ou velhas, após os instrumentos de tortura serem previamente benzidos pelos padres. O papa Inocêncio morreu em 1492, após tentativas infrutíferas de o manter vivo com transfusões (que provocaram a morte de três rapazes) e amamentando-o ao peito de uma ama. Foi chorado pela amante e pelos filhos.”

“Na Grã-Bretanha contratavam-se caçadores de bruxas, também chamados «prickers», que recebiam uma recompensa generosa por cada rapariga ou mulher que entregassem para ser executada. Não tinham qualquer incentivo para serem prudentes nas suas acusações. Normalmente, procuravam «marcas do Demónio» – cicatrizes, sinais de nascença ou nevos – que, quando picadas com um alfinete, não provocavam dor nem sangravam. Muitas vezes, um simples truque com as mãos fazia que parecesse que o alfinete penetrava profundamente na carne da bruxa. Quando não se vislumbravam marcas, bastavam as «marcas invisíveis». Sobre o patíbulo, um pricker de meados do século XVII «confessou que era responsável pela morte de mais de 220 mulheres na Inglaterra e na escócia, com um lucro de 20 xelins por cada uma.”

“Um espírito crédulo…  tem grande prazer em acreditar em coisas estranhas, e quanto mais estranhas estas são, mais fácil lhe é aceitá-las; mas nunca considera as que são simples e viáveis, pois nestas todos os homens podem acreditar.”

Samuel Butler, Characteres (1667-69)

Bibliografia

SAGAN, Carl. (1998). Um Mundo Infestado de Demónios. Gradiva. Lisboa.pp. 127-130.

Ciência Versus Pseudociência

Publicado por: Milu  :  Categoria: Ciência Versus Pseudo..., PARA PENSAR

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“É moralmente tão mau não nos preocuparmos em saber se uma coisa é verdadeira ou não, desde que nos faça sentir bem, como não querermos saber como arranjamos o dinheiro, desde que o arranjemos.”

Edmund Way Teale

Apontamentos retirados do livro “Um Mundo Infestado de Demónios” da autoria de Carl Sagan, no qual se esforça para nos fazer entender qual a diferença entre a Ciência e a Pseudociência, e nos aconselha a cultivar uma atitude de cepticismo, perante tudo aquilo que não foi submetido a um rigoroso exame com métodos científicos.

“A luz da vela é trémula. A pequena mancha luminosa que projecta vacila. A escuridão adensa-se. Os demónios começam a agitar-se.”

“Alguns livros – Legends of the Earth [Lendas da Terra], de Dorothy Vitaliano, por exemplo – interpretam as lendas da Atlântida originária em termos de uma pequena ilha no Mediterrâneo que foi destruída por uma erupção vulcânica, ou de uma antiga cidade que deslizou para o Golfo do Corinto depois de um terramoto.Talvez, isto, tanto quanto sabemos, seja a origem de uma lenda, mas está muito longe da destruição de um continente no qual se desenvolvera uma civilização técnica e mística excepcionalmente avançada.”

“O que quase nunca encontramos – nas bibliotecas públicas, nos quiosques de revistas ou nos programas da hora nobre da televisão – são provas convenientes do alastramento dos fundos oceânicos e da tectónica de placas, e de mapas do fundo do oceano que mostrem sem sombra de erro que não poderia ter havido nenhum continente entre a Europa e as Américas que se aproximasse da escala de tempo que nos é proposta.”

“O que há mais são relatos pouco fiáveis que servem de engodo aos crédulos. As abordagens cépticas são muito mais difíceis de encontrar, pois o cepticismo não se vende bem. É centenas ou milhares de vezes mais provável que a uma pessoa inteligente e curiosa, que confie inteiramente na cultura popular para obter informações sobre uma coisa como a Atlântida, se depare uma fábula tratada de um modo acrítico do que um estudo sério e equilibrado.”

(…)

“A ciência desperta uma sensação de exaltação e de deslumbramento. Mas a pseudociência também. As divulgações científicas escassas e de baixa qualidade abandonam nichos ecológicos que a pseudociência se apressa a preencher. Se muita gente percebesse que os pretensos conhecimentos exigem provas adequadas antes de poderem ser aceites, não haveria espaço para a pseudociência. Mas na cultura popular prevalece uma espécie de lei de Gresham, segundo a qual a má ciência afasta a boa ciência.”

(…)

“A pseudociência é mais fácil de forjar do que a ciência, pois os confrontos com a realidade – quando não podemos controlar o desfecho da comparação – são mais fáceis de evitar. Os padrões da argumentação, que passam por provas, são muito menos rígidos. Em parte pelas mesmas razões, é muito mais fácil apresentar a pseudociência ao público comum do que a ciência. Mas isto não basta para explicar a sua popularidade.”

“É natural que as pessoas experimentem vários sistemas de crença para verem o que mais convém para as ajudar. E, se estivermos muito desesperados, dispomos-nos a abandonar o que pode ser considerado o fardo pesado do cepticismo. A pseudociência dirige-se a necessidades emocionais fortíssimas que a ciência muitas vezes deixa sem resposta.”

(…)

“Poder-se-ia afirmar que as adesões à pseudociência são directamente proporcionais à incompreensão da verdadeira ciência. Mas, se uma pessoa nunca ouviu falar de ciência (para já não referir o modo como ela funciona), é difícil aperceber-se de que está a aderir à pseudociência. Está simplesmente a pensar de uma das maneiras que os seres humanos sempre pensaram. As religiões são muitas vezes os berços da pseudociência protegidos pelo Estado, embora não haja razão para as religiões terem de desempenhar esse papel.”

“Não só nos lares camponeses, mas também nos arranha-céus das cidades, coabitam o século XX e o século XIII. 100 milhões de pessoas utilizam a electricidade e ainda acreditam nos poderes mágicos dos signos e nos exorcismos… As estrelas de cinema vão a médiuns. Os aviadores que pilotam máquinas maravilhosas criadas pelo génio do homem usam amuletos nas camisolas. Que reservas inesgotáveis possuem eles de trevas, ignorância e selvajaria!”

Leão Trostski

(…)

“A pseudociência difere da ciência errónea. A ciência alimenta-se de erros, que vai eliminando um por um. Tira a todo o tempo falsas conclusões, mas tira-as provisoriamente. Formula hipóteses para poder refutá-las. Submete uma sucessão de hipóteses alternativas à experiência e à observação. A ciência avança às apalpadelas e em passos hesitantes em direção a um conhecimento mais perfeito. É claro que há sentimentos de propriedade feridos quando se refuta uma hipótese científica, mas essa refutação é considerada fundamental para o progresso científico.”

“A pseudociência é precisamente o oposto. As hipóteses são muitas vezes formuladas com exactidão para serem invulneráveis perante qualquer experimentação susceptível de as refutar, pelo que, mesmo em princípio, não pode ser invalidada. Os seus praticantes jogam à defesa e são cautelosos. A análise céptica confronta-se com barreiras.”

(…)

“Talvez a distinção mais nítida entre ciência e pseudociência resida no facto de a primeira ser muito mais severa na apreciação das imperfeições e da falibilidade humanas do que a pseudociência (ou revelação «infalível»). Se recusarmos com firmeza reconhecer onde somos susceptíveis de errar, poderemos estar certos de que o erro – até mesmo os erros graves, profundos – serão nossos companheiros para sempre. Mas, se tivermos a coragem de nos auto-avaliarmos, por muito tristes que sejam as reflexões que isto possa suscitar, as nossas hipóteses melhoram muito.”

(…)

“Um dos grandes mandamentos da ciência é «Desconfia das afirmações das sumidades». (os cientistas, como primatas que são, e, por conseguinte, propensos a hierarquias de domínio, claro que nem sempre seguem este mandamento). Muitas destas afirmações revelaram-se tristemente erradas. As sumidades têm de provar as suas asserções como outra pessoa qualquer. Esta independência da ciência, a sua incapacidade ocasional de aceitar a sabedoria convencional, torna-a perigosa para doutrinas menos autocríticas, ou com pretensões de estarem certas.”

Uma vez que a ciência nos transporta em direcção a uma compreensão de como é o mundo, e não de como desejaríamos que ele fosse, as suas descobertas podem não ser imediatamente compreensíveis ou satisfatórias em todos os casos. Pode ser preciso um pouco de trabalho para reformular a nossa estrutura mental. Alguma ciência é muito simples. Quando se torna complicada, isso deve-se, em geral, ao facto do mundo ser complicado – ou a nós sermos complicados. Quando nos afastamos dela por nos parecer demasiado difícil (ou por termos recebido ensinamentos demasiado deficientes), desistimos da capacidade de tomar o nosso futuro em mãos. Abdicamos dos nossos direitos e a nossa autoconfiança esboroa-se.”

Conclusão

Se se quer saber quando será o próximo eclipse do Sol, podem consultar-se mágicos ou místicos, mas conseguir-se-ão muito melhores resultados com cientistas. Estes dir-nos-ão onde uma pessoa se deve pôr na Terra, quando se tem de estar lá e se vai ser um eclipse parcial, um eclipse total ou um eclipse anelar – Podem prever um eclipse solar, com uma precisão até ao minuto, com uma antecedência de um milénio, como um exercício de rotina. Pode ir-se ao feiticeiro para quebrar o encanto que provoca uma anemia perniciosa, ou pode tomar-se vitamina B12. Se uma pessoa quiser impedir que os filhos tenham poliomielite, pode rezar ou pode vaciná-los. Se se está interessado em saber o sexo de um filho que ainda não nasceu, pode consultar-se alguém que use um pêndulo (esquerda-direita), rapaz; para trás-para a frente, rapariga – ou talvez seja ao contrário), mas esta só acerta, em média, uma vez em duas. Se se quer exactidão (ou seja, uma precisão de 99%), pode tentar-se a amniocentese ou a ecografia. OPTE PELA CIÊNCIA.

Bibliografia

SAGAN,Carl. (1998). Um Mundo Infestado de Demónios. Gradiva. Lisboa. pp. 19-47.

A Problemática do Envelhecimento

Publicado por: Milu  :  Categoria: A Problemática..., SOCIEDADE

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“Envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo.”

Charles Saint-Beuve

Apontamentos recolhidos no Workshop com o tema “Quais os limites do envelhecimento normal e patológico?”  promovido pela Associação ProMaior, que teve lugar na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, no dia 8 de novembro de 2014.

O Envelhecimento Normal e o Envelhecimento Patológico

Tipos de  Envelhecimento:

  • Biológico;
  • Cognitivo;
  • Emocional;
  • Social;
  • Funcional.

O Envelhecimento tem causas Normativas e Não Normativas.

As causas Normativas são Universais, todos nós vamos passar por esse processo, mas cada um ao seu ritmo.

As causas Não Normativas são as que estão relacionadas com as influências individuais.

Todas elas podem contribuir para o Envelhecimento Patológico, que se caracteriza pela perda das capacidades para desempenhar Actividades Básicas (ex: o idosos já não conseguem vestir-se), e Instrumentais (ex: já não sabem como fazer para vestir-se).

Breve descrição dos respetivos tipos de Envelhecimento

Emocional – Com o avanço da idade todos temos de fazer lutos pelas perdas e pode haver uma diminuição da satisfação com a  vida, o que pode levar a quadros depressivos. É importante, por isso, que a pessoa interaja com o ambiente circundante, que se entregue a actividades estimulantes, aprendendo a compensar as perdas com novos ganhos. Convém descobrir novos interesses que contribuam para preencher lacunas que podem acelerar o envelhecimento.

Exemplo: Os utentes dos Lares de Terceira Idade são na sua maioria mulheres, bem como pessoas que durante a sua vida desempenharam funções pouco estimulantes, facto que contribuiu em certa medida para a perda de capacidades cognitivas e aceleração do processo de envelhecimento. Por conseguinte, é importante que o idoso sinta satisfação na sua vida. Quanto mais escolaridade se tiver mais possibilidades há de atrasar a demência, porque houve activação dos estímulos cognitivos.

Social – Perda ou diminuição da rede de contactos. Amigos ou familiares que vão morrendo ou de alguma forma desaparecendo das nossas vidas. Com a reforma há um afastamento dos colegas de trabalho que até ali fizeram parte do nosso mundo.

Funcional – É aqui que estão os grandes limites: perda das capacidades para desempenhar Atividades Básicas da Vida Diária (higiene, alimentação, cuidar da casa) e Instrumentais. No Envelhecimento Normal a pessoa mantém as capacidades para as Actividades Básicas e Instrumentais. No entanto, quando se verifica que a pessoa mantém as capacidades para as Atividades Básicas mas as Instrumentais estão comprometidas, a pessoa está a vivenciar a transição do Envelhecimento Normal para o Envelhecimento Patológico.

Esquema

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Geriatria e Gerontologia

Noções:

Geriatria –  Geriatria trata da patologia do doente idoso. Tem, portanto, a ver com o Envelhecimento Patológico, ou Envelhecimento Secundário.

Gerontologia –  A Gerontologia dedica-se ao estudo fisiológico, normal, do envelhecimento. Também designado por Envelhecimento Primário.

 

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Actualmente verifica-se que cada vez mais o Envelhecimento evolui para a patologia. Para piorar este estado de coisas, cada vez há menos centros psiquiátricos, o que leva a que estas pessoas sejam institucionalizadas em Centros de Dia e Lares de Terceira Idade, algumas delas ainda relativamente jovens, na faixa etária dos 40 anos, moral e sexualmente desinibidos.

Ligação Cérebro Comportamento

Visão Estrutural e Funcional

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Neurónios

Impulso Nervoso

Sinapse

Neurotransmissor

Vamos explicitar, a grosso modo, de como funciona ou como se processa a informação no cérebro:

Exemplo: Conceito de rosa – A rosa tem pétalas, cheiro e espinhos. Os neurónios recebem o impulso nervoso, que é constituído pelas características da rosa, passam-na para outros neurónios, formando a rede neuronal. As transmissões de informação de neurónio para neurónio chamam-se sinapses. A visão global da rosa dá-se no neurotransmissor.

O cérebro é composto por 2 hemisférios. Hemisfério Direito, lado qualitativo, que está relacionado com as artes, o abstracto. O hemisfério esquerdo, lado quantitativo, que diz respeito à linguagem, à compreensão, memória, informação antiga.

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Lobo Frontal

O Lobo Frontal é onde se concentra enorme variedade de importantes funções, incluindo o controle de movimentos e de comportamentos necessários à vida social, como a compreensão dos padrões éticos e morais e a capacidade de prever as consequências de uma atitude.

Características Principais:

 Personalidade

– Centro Motor – Exemplo: para nos deslocarmos numa sala de aula por entre um emaranhado de secretária, nós escolhemos o caminho que entendemos ser o mais apropriado, mais fácil ⇒Programação motora, que segue um esquema sequencial. Este pode ser isolado (faz-se por etapas), ou seguido (automático, reflexo).

– Atenção motora – o que me permite manter o foco de atenção durante um longo período de tempo.

Frontal Esquerdo – Broca – O que me permite repetir, nomear, e ter afluência oral (linguagem, expressiva).

Frontal – Pré Frontal – Faz a ligação com todo o cérebro, mas particularmente com o sistema límbico.É responsável pelas funções executivas principais. Permite mudar o foco de actuação. Flexibilidade cognitiva:

Sequência, Planeamento (funções)

Pensamento, Emoções

Funções Executivas

Actuação de sequência e Planeamento

Tomar decisões; Resolver problemas

– Controlo Inibitório – educação (exemplo: aguardar a nossa vez numa fila de espera).

O Controlo Inibitório pode funcionar mal nos idosos, que podem começar a ter condutas desinibidas, de cariz sexual, por exemplo.

– Fluência Verbal – Fonética (exemplo: dizer palavras começadas por P). Categorias (plantas, animais, transportes).

No trabalho com idosos devem-se programar atividades que articulem a  terapia da reminiscência (recordações antigas) com informações novas, actuais, de forma a aumentar a rede neuronal.

Parietal

– Atenção Seletiva – O que nos permite descriminar um estímulo de um conjunto de estímulos. Ao escolher uma cor num conjunto de cores, exercemos a atenção seletiva. Mas se de um conjunto de objetos de variadas cores nós procurarmos reunir todos os objetos da mesma cor já se trata de Atenção motora.

– Orientação espacial – O que nos permite perceber onde estamos. Todos os dados sensoriais estão na mesma área – Tálamo – recebe toda a informação e distribui para as zonas respetivas.

– Centro receptor – Distribui os dados sensoriais.

Temporal

– Orientação Temporal – É o primeiro atributo a falhar, mesmo no Envelhecimento Normal. Para ajudar um idoso nesta situação deve-se estabelecer hábitos e rotinas em determinados dias. Exemplo: Num Lar, à terça feira,  ao almoço é servida  habitualmente  uma banana para sobremesa. O idoso apercebe-se de imediato em que dia da semana está.

– Linguagem Auditiva –

– Memória – Há vários tipos de memória, mas dois deles são mais importantes:

– Memória Anterógrada – Retenção . Novas aprendizagens. Mas é  o tipo de memória que mais facilmente se perde nos idosos, que pode começar a inventar factos, devido à confusão.

– Retrógada – Evocação. memória armazenada.

Temporal Esquerdo – Compreender o que nos dizem

– Wernicke Receptiva – Compreende o que lhe é dito

Occipital – Altamente especializado. Recebe, processa e associa, formas, movimentos, cores, exemplo: banana – cor amarela, sabor, e textura densa.

– Visual

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Sistema límbico – Emoções, respostas emocionais, alegria, dor, tristeza, etc. Quem regula o sistema límbico é a área Pré – Frontal.

O Sistema límbico não é afectado com o Envelhecimento. Contudo, os idosos podem ter uma conduta desinibida devido à área Pré – Frontal que esta sim envelhece e, por conseguinte baixa a guarda.

– Memória Visual – Há doentes sem memória, que perante uma série de fotos, lhes for pedido para escolherem uma delas, estes tendem a escolher uma que lhes é familiar, que normalmente corresponde a um filho ou outra pessoa muito chegada.

Actividade para estimular a memória

Jogo de Palavras

Formar um grupo de idosos e pedir a um que diga uma palavra à sua escolha. O idoso seguinte deverá dizer outra palavra que esteja relacionada com a primeira. Contudo o terceiro idoso já deverá escolher uma palavra que esteja relacionada com aquela que acabou de ser dita, de forma, que ao contemplar todo o grupo de idosos, a última palavra a ser dita poderá não ter nada a ver com a primeira.

A segunda parte consiste em começar tudo de novo mas do fim para o princípio.

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Lobo Frontal – Programação

Cerebelo – Permite executar uma acção.

Hipotálamo – Funções homeostáticas.

Dopamina – Funciona ao nível da actividade motora.

1º Neurotransmissor ⇒Actividade motora – Dopamina – Lobo Frontal (programa); Cerebelo (executa).

2º Neurotransmissor ⇒Emocional – Serotonina – Pré – Frontal; Sistema Límbico.

3º Neurotransmissor ⇒ Memória – Acetilcolina – Particularmente em todos os processos de Memória (Temporal).

No fundo todos os Neurotransmissores dependem da Dopamina e de outro em particular.

A adrenalina activa o Sistema Límbico (memória; planear).

Perturbações:

Linguagem – Afasias

Existem 7 tipos de Afasias, mas as mais comuns são: Broca (expressão); Wernicke (compreensão).

Orientação – Temporal e Espacial. A orientação do tipo temporal é aquela que primeiro é afectada.

Atenção – 2 tipos: Selectivo e Motor.

Actividade MotoraApraxias

Memória Amnésias, que podem ser do tipo Anteretrógrada ou Retrógada.

Reconhecimento e Associação Agnosias.

Agnosias de Reconhecimento – O idoso não sabe o que é determinado objecto.

Agnosias de Associação – O idoso sabe o que é determinado objecto mas não sabe para que serve.

Funções ExecutivasSíndrome de Disexecutivo Frontal (SDF). Se estiver afectado há lesão no Lobo Frontal.

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Demências

Alzheimar

Não existe forma de provar esta doença, ou melhor, só com uma biópsia, que neste caso seria muito complicada, se poderia provar a doença. Mas também se pode provar a doença fazendo a necrobiópsia, (depois da morte). Muitas vezes pensa-se que a pessoa tem a doença de Alzheimar, quando na verdade se trata de Demência Vascular ou Declínio. Não se sabe a causa da doença de Alzheimar mas uma vez que comece não se consegue travar a sua evolução.

Só se pode considerar que uma pessoa sofre de Demência quando apresenta os sintomas referentes ao quadro demencial, processo que pode levar de 3 a 6 meses ou até mesmo 10 anos.

1º Leves esquecimentos, pontuais.

2º Final da leve perda de memória. Desorientação temporal. Confusão mental ⇒Fase Moderada.

– Alteração do pensamento e da memória, que vai evoluindo. Mas todos estes sintomas são comuns a outras doenças.

A doença de Alzheimar não tem cura, o tratamento é feito ao nível sintomático. Um AVC pode desencadear a doença de Alzheimar. Os primeiros sintomas podem aparecer em apenas uma semana e estar muito tempo nesta fase. Mas também pode passar à fase moderada e também se manter muito tempo.

Parkinson –

Há menos tendência para evoluir e é mais doença do que demência. Não se sabe a causa e começa na actividade motora. Inicia-se nos Gânglios de Base e os sintomas são facilmente perceptíveis (tremor em repouso).

Sintomas:

1º – Tremor em repouso;

2º- Freesing (ex: hesitação no início da marcha);

3º Postura flectida;

4º Rigidez muscular.Ex: ao toque de um martelo no joelho, este não faz levantar a perna, ou então levanta muito a perna.

Quanto menos Dopamina a pessoa tem, mais actividade a pessoa apresenta, por isso, o tratamento consiste em administrar Dopamina para que a actividade se reduza.

Na doença de Parkinson, doença do neurotransmissor, há uma demora considerável na perda das capacidades cognitivas. O doente tem a perfeita consciência do que lhe está a acontecer. Passam por todas as fases da evolução da doença com consciência da sua doença e do seu estado. Nalguns casos a doença de Parkinson pode evoluir para o quadro demencial do Alzheimar. Pode começar por volta dos 25 anos, devido a alguma infecção ou abuso de drogas, mas surge habitualmente aos 50 anos. Não há tratamento para os sintomas.

Esclerose múltipla

Esta doença é pior do que o Parkinson porque a pessoa perde as funções motoras mas não as funções cognitivas. É uma doença auto imune. Nunca se perde a consciência.

Demência Vascular –

É mais comum do que a doença de Alzheimar. Costuma ser a consequência de  um acidente vascular cerebral. É a maior causa de morte em Portugal, assim como é a doença que melhor se pode prevenir. É mais difícil de prevenir já no próprio Envelhecimento.

Causas:

– Sedentarismo;

– Alcoolismo;

– Tabagismo;

– Colesterol elevado;

– Taquicardias;

– Hipertensão.

Um AVC seja por êmbolo ou por trombo, acontece do pescoço para cima. O coágulo que entope pode vir de qualquer parte do corpo, mas aloja-se no cérebro.

Acidentes Isquémicos Transitórios (AIT) –

Os Acidentes Isquémicos Transitórios evoluem para AVC Letal.

Hemorragias – é menos comum e mais perigoso, implica rebentamento e extravasão de sangue.

Isquémico – é mais comum e menos perigoso, implica a obstrução devido a um coágulo.

Sintomas de AVC:

– Alteração do hemicorpo (metade do corpo).

– Formigueiro ou adormecimento do corpo.

– Náuseas, má disposição, vómito.

– Tonturas, faltas de equilíbrio que não era habitual ter;

– Alteração da linguagem, que pode ser lenta, desorganizada, etc;

– Desvio da comissura labial. No caso de dúvida basta sorrir, dessa forma se tiver havido desvio será mais perceptível.

Os sintomas enumerados dependem da extensão e da localização onde ocorreu o AVC.

Testes Básicos:

Pedir à pessoa suspeita de ter tido um AVC para abrir os braços e caminhar. Pedir para andar em passos miúdos. Se estiver sentada pedir para pôr o dedo no nariz. Por norma a pessoa se tiver tido mesmo um AVC não conseguirá acertar no nariz. Qualquer um destes exercícios tem a finalidade de avaliar a actividade motora.

Pedir para dizer uma frase coerente. É muito importante pedir que sorria.

Epilepsia –

Crise Parcial

Crise generalizada

Não se sabe as causas. No cérebro em vez de um impulso nervoso, eléctrico, o que se dá é uma descarga de vários.

Na Crise Parcial – 1 hemisfério não são comprometidas as funções. Mas na Crise Generalizada, que afecta os dois hemisférios, há convulsões. Também há episódios em que a pessoa se alheia nem que seja por segundos, perde a consciência e ninguém se apercebe.

Conselhos:

– Não dar água;

– Não acordar;

– Não pôr nada na língua;

– É deixar estar e chamar as entidades competentes.

Psicóticas

Nas demências há sempre alterações da personalidade

A mais importante (e abundante) é a Esquizofrenia. Não implica lesão estrutural mas sim funcional, que está em hipo  funcionamento.

Na esquizofrenia há um corte com a realidade (para o esquizofrénico, para nós não).

Ouve vozes e vê imagens que julga serem a realidade. Não se apercebe que o que vê não é real. Há, portanto, uma “realidade” que é só deles. É habitual recusarem a ajuda e o tratamento. As drogas podem desencadear a esquizofrenia. São muito instáveis.

Sintomas psicóticos positivos – Alucinações.

Sintomas psicóticos negativos – Variações do estado de humor.

Intervenção

É possível atrasar quadros cognitivos devido à neuroplasticidade. Por exemplo,através de actividades:

Teste Moca – Foi validado para a população portuguesa com escolaridade e sem estarem institucionalizados, por isso, em certa medida, não representa a realidade portuguesa.

– Podemos gravar sons de animais e  perguntar qual é o animal a partir de determinado som (estímulo da parte associativa).

– Pedir que digam 3 palavras começadas pela letra P; M e R. São as letras mais complicadas. Aos idosos que estiverem num estado em que os impossibilita de ter uma participação activa, deve ser pedido para dizerem categorias, como por exemplo: Transportes, animais.

– Pedir para que os idosos contem ao contrário (ex: 30-3) e assim sucessivamente ir diminuindo 3. Por conseguinte, além de implicar que o idoso recorra à memória antiga, também recebe nova informação.

FAB – Menos aptas

Perguntar quais as diferenças e semelhanças entre determinados objetos. Alguns idosos não conseguem dizer quais as semelhanças e começam logo a enumerar as diferenças. Pedir para repetir 3 movimentos contraditórios.

Escala de Depressão Geriátrica

(Muita ATENÇÃO, com os seguintes pontos)

Características idiossincráticas; (as pessoas são diferentes, são o resultado das suas vivências, não se deve esperar homogeneidade).

Qualidade de vida, bem estar e autonomia; (importante para conservar a saúde mental).

Nível de escolaridade; (quanto mais escolaridade mais interesses se evidenciam e isso atrasa o envelhecimento e por isso a demência).

Interação medicamentosa; (muitos idosos tomam variados medicamentos, alguns deles para o mesmo problema, estão, por conseguinte, hipermedicamentados

Dificuldade nos exercícios; (cuidado, respeito e compreensão pelas condições físicas do idoso).

Avaliação quantitativa, versus qualitativa;

Rótulos psicopatológicos. (não colocar rótulos pejorativos nos idosos, principalmente quando partem de pressupostos que estão errados).