Tu! Ó fome que aviltas

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“Não mudaremos a vida se não mudamos de vida. Há que perder a paciência.”

José Saramago

Chegada ao terminus desta minha incursão pelo livro “Levantado do Chão” – lido e relido, que agora, já o posso afirmar.

Confesso que tive de fazer um esforço hercúleo, para não ceder à tentação de  o transcrever neste meu recanto do mundo, página a página, cada uma delas um deleite, um saboreio para a alma…, algumas vezes até me ri. Gargalhei por ele no silêncio da noite. Reminiscências… Só por isso já seria um livro abençoado. Mas uma profunda admiração foi o sentimento que imperou. Apetece-me gritar aos quatro ventos: Saramago! Que és meu.

 

“Então outra voz, vem dali, sobre a sombra da noite cai uma sombra que não se sabe donde vem, que ideia lhe lembrou, não está a falar das oito horas nem do salário de quarenta escudos, estes é que são os assuntos para que a reunião foi convocada, porém ninguém tem alma de interromper, Eles sempre quiseram baixar-nos a dignidade, e ouvindo eles todos entendem o que foi dito, eles são a guarda, a pide, é o latifúndio e seu dono Alberto ou Dagoberto, o dragão e o capitão, a fominha de dentes e o osso partido, a ânsia e a quebradura, Quiseram baixar-nos a dignidade, não pode ser mais assim, tem de acabar, ouçam todos isto que aconteceu comigo e com o meu pai que já morreu, foi um segredo de nós dois, mas hoje não posso ficar calado, se os camaradas não se convencerem com este caso, então não há mais nada a fazer, estamos perdidos,

uma vez há muitos anos, estava assim uma noite escura como esta, o meu pai foi comigo, fui eu com ele apanhar bolotas para comermos, não havia nada em casa, e eu já era homem e andava a pensar em casar, levámos um saquito, nem era grande coisa, um taleigo, fomos juntos por companhia, não por causa da carga, e quando já tínhamos o saco quase cheio apareceu a guarda, a mesma coisa aconteceu a outros que aqui estão, não é nenhuma vergonha, apanhar a bolota do chão não é roubar, e que fosse,

a fome é uma boa razão para roubo, quem rouba por precisão tem cem anos de perdão, bem sei que o ditado não é assim, mas devia ser, se eu sou ladrão por ir roubar bolota, ladrão é também o dono dela, que nem fabricou a terra nem plantou a árvore e a podou e limpou, e então chegou a guarda e disse, não vale a pena dizer o que eles disseram, já nem me lembro bem, chamaram-nos nomes, como é que a gente tem aguentado tantas más palavras, e quando o meu pai lhes pediu por amor de Deus que nos deixassem levar a bolota que tínhamos apanhado do chão, puseram-se a rir e disseram que estava bem, podíamos ficar com a bolota, mas com uma condição, ouçam todos a condição, brigarmos um com o outro para eles verem, e então o meu pai respondeu que não ia brigar com o seu próprio filho, e eu com o meu próprio pai, mas eles disseram que sendo assim íamos para o posto, pagávamos a multa e talvez levássemos uns conchegos pelas costas abaixo, para aprendermos a regra do bom viver, e então o meu pai respondeu que estava bem, íamos brigar,

peço-lhes por tudo, camaradas, que não fiquem a pensar mal do pobre do velho que está morto, Deus me perdoe se por causa disto estou a tirá-lo da cova, mas a fome era muita, e então o meu pai, a fingir, deu-me um encontrão, e eu a fingir deixei-me cair, era a ver se os enganávamos, julgávamos nós, mas eles disseram que ou brigávamos a sério, a aleijar, ou íamos presos, nem sei com que palavras hei-de contar o resto, o meu pai ficou desesperado, foi uma coisa que lhe passou pela vista, e bateu-me, doeu-me tanto, não foi a força da pancada, e eu dei-lhe troco da mesma maneira, e daí a um minuto andávamos a rebolar pelo chão, os guardas riam como uns perdidos, e uma vez que pus a mão na cara do meu pai senti-a molhada, não era suor, deu-me uma fúria, agarrei-o pelos ombros e sacudi-o como se fosse o meu maior inimigo, e ele, de baixo, dava-me socos no peito, ao que nós chegamos,

os guardas continuavam a rir, era uma noite assim escura como esta e o frio tanto que cortava os ossos dentro da carne, estava o campo todo em redor, não se levantaram as pedras, será para isto que os homens nascem, quando demos por nós estávamos sozinhos, os guardas tinham-se ido embora, acho eu que por desprezo, era o que merecíamos e então o meu pai começou a chorar e eu embalei-o como se fosse uma criança, jurei que nunca haveria de contar a ninguém, mas hoje não podia ficar calado, não é pelas oito horas e pelos quarenta escudos de salário, é porque é preciso fazer alguma coisa para não nos perdermos, porque uma vida assim não é justa, lutarem dois homens um com o outro, pai e filho, e que não fossem, para divertimento da guarda, não lhes bastava terem armas e nós não, não somos homens se desta vez não nos levantarmos do chão, nem que isto seja por mim, seja por meu pai que está morto e não torna a ter outra vida, coitado do velho, lembrar-me eu de que lhe bati, e a guarda a rir, pareciam bêbedos,

se houvesse Deus teria aparecido naquela hora.

Quando esta voz se calou, levantaram-se os homens todos, nem foi preciso dizer mais palavras, cada qual seguiu seu destino, firmes para o primeiro de Maio, para as oito horas e para o salário de quarenta escudos, e ainda hoje, passados tantos anos, não se sabe qual deles foi que brigou com o próprio pai, quando as dores são muito grandes, os olhos é que não suportam vê-las.”

Bibliografia

SARAMAGO, José. (1987). Levantado do Chão. Editora Caminho. 7ª edição. pp. 334-336.

O Reverso da Medalha

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“Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.”

Confúcio

E já agora que cresce em Portugal a população chinesa, assim como o investimento chinês, faz-se pertinente que estudemos um pouco da sua cultura. Quem é que nunca ouviu falar sobre a política do filho único implantada em 1979/80 na China?

Pois bem, as implicações e consequências dessa lei que bem serviu o país, conforme se pensou nessa altura,  estão aqui bem descritas neste post, constituído por um excerto retirado do livro “CHINA, a escalada do DRAGÃO”, da autoria da investigadora Renata Pisu. Aviso desde já, que se trata de um cenário algo inquietante! Um pouco à semelhança do estado da demografia em Portugal, só que neste caso, não é pela escassez de mulheres, mas antes pela escassez de população jovem. As consequências desta emigração forçada que aconteceu com os portugueses não tardarão… Portugal foi espoliado de duas formas. A primeira espoliação foi na sua população jovem. A segunda nos filhos que dela nascerão…

“As crianças chinesas são geralmente mimadas, meninos bonitos que não têm nem irmãozinhos nem irmãzinhas porque são, como manda a lei, «filhos únicos», ou melhor, «Pequenos Imperadores». Mandam na mamã e no papá e têm à disposição quatro avós que estão dependentes deles e lhes fazem todas as vontades. Já não usam aquelas calças cómicas com um buraco na parte detrás, tão úteis em tempos, quando à China ainda não tinham chegado as fraldas de usar e deitar fora, bastava que, para uma «repentina necessidade» ou mesmo para a «grande necessidade» (em chinês diz-se exactamente assim, e compreende-se logo do que se trata), o pequeno se acocorasse no chão e… pronto, estava feito.

Em Pequim, no Inverno, os rabinhos dos meninos ficavam vermelhos e duros por causa do frio cortante e já estavam bem preparados para uma eventual palmada. Agora já não: Os Pequenos Imperadores vestem jeans macios, camisolas da moda e ninguém lhes ousa dar palmadas no rabo porque quem manda são eles. Meninos mimados, como foi dito. E é preciso acrescentar que se se obrigam todos os casais a só terem um filho, é lógico que lhe dêem carinho, que o mimem.

Assim, a partir de 1980, ou seja, quando entrou em vigor a lei do «filho único», as crianças chinesas passaram a ser as mais mimadas do mundo. E teme-se que venham a ser ainda mais mimados os filhos dos filhos únicos que estão por nascer: de «déspotas», como foram os seus pais e as suas mães e que hoje já se encontram em idade de procriar, não poderão nascer senão outros déspotas, não importa se machos ou fêmeas.

Na China, em geral, preferem-se os machos às fêmeas mas não nas cidades. Não em Pequim ou em Xangai onde ter uma rapariga e amá-la, mimá-la, adorá-la, idolatrá-la e vesti-la como uma boneca é, pelo contrário, considerado um sinal de abertura mental. Por outro lado, nos campos ainda se espera que seja macho, e a lei, que no início era muito rígida, acabou mais tarde por vir a conceder aos japoneses que tivessem mais filhos, no máximo três, caso os dois primeiros fossem fêmeas. Mas não quatro, cinco, seis, como acontecia na época de Mao que não queria sequer ouvir falar em controlo dos nascimentos, convencido de que «quantos mais formos, melhor».

Uma vez em Pequim, pouco depois de ter entrado em vigor a lei do filho único, encontrei um jovem pai que transbordava felicidade por todos os poros: empurrava um carrinho de bebé daqueles tradicionais, de madeira, e estavam lá dentro dois pimpolhos quem nem um ano tinham, dois machos, gémeos. Todos o olhavam com inveja, muitos o felicitavam: dois machos de um só golpe, aquele homem era verdadeiramente um dragão!

Calcula-se hoje que a política do filho único tenha salvo a China e o mundo do pesado fardo de mais de trezentos milhões de pessoas para sustentar, e não de certeza para acarinhar e para mimar.

Nas grandes cidades costeiras, onde o bem-estar se difundiu rapidamente a níveis semelhantes – se não mesmo superiores – aos do Ocidente, as crianças têm tudo e querem tudo. Já não se contentam com brinquedos feitos com fios de erva, com pedaços de papel dobrado, com papagaios, com ventoinhas coloridas: querem e dão-lhes playstations. Eles fazem exigências e os pais satisfazem-lhes todos os caprichos. Debicam permanentemente batatas fritas, guloseimas, bolinhos; fazem as festas de anos no MacDonald’s e as autoridades sanitárias já lançaram o alarme: a maioria destes Pequenos Imperadores sofre de obesidade. Em contrapartida, as crianças dos campos, sobretudo as meninas, ainda padecem de fome.

Os Pequenos Imperadores, estes déspotas citadinos, são a elite da qual dependerá o futuro do país. Constituem um fenómeno novo na China, um fenómeno que preocupa os sociólogos e os psicólogos que defendem que duas – dentro em breve três – gerações de filhos únicos destruirão o sistema social e a teia das relações familiares; limitam a esfera afectiva, fazem empobrecer a língua.

Em chinês cada grau de parentesco tinha – na teoria ainda tem – um nome característico, irmão maior, irmão menor, irmã maior, primeiro primo da parte materna, segundo primo da parte materna, tia irmã do pai, tia irmã da mãe. Cada familiar tinha um nome específico, dos parentes mais chegados aos mais longínquos, cada ligação sanguínea tinha o seu ideograma característico. Uma riqueza linguística e uma hierarquia de afectos que na China sempre foi respeitada porque a família tradicional sempre foi uma família alargada.

Depois vieram as crianças sem irmãos e sem primos, que nunca hão-de ter um cunhado ou uma cunhada ou mesmo uma tia ou um tio, porque o papá é filho único e a mamã também. Mas têm a sua playstation. É esta a felicidade de um mundo que se está a globalizar?

Seja como for, a política do filho único está para ser abandonada e talvez então as mulheres possam pôr no mundo o número de filhos que lhes apetecer e quando quiserem, sem que o Estado controle o número de nascimentos.

Deixarão de acontecer casos monstruosos como o de uma operária de Xangai que em Abril de 2004 foi condenada a dezoito meses de «reeducação pelo trabalho». Em 1988, Mao Hengfeng, é este o seu nome, não obstante o facto de se encontrar em vigor a lei do filho único, desejava e deu à luz um segundo filho e por isso foi despedida da fábrica de sabão onde trabalhava. Iniciou então um procedimento legal, que durou quinze anos, para fazer valer o seu direito ao trabalho e, entretanto, engravidou outra vez. O juiz tinha prometido emitir uma sentença favorável à sua reintegração caso acedesse em abortar. A senhora Mao abortou mas ainda assim foi condenada a trabalhos forçados por ter infringido a lei do filho único.

Nos últimos tempos têm-se levantado na China muitas vozes contra este excesso de planificação familiar. Os demógrafos do Instituto de Pequim defendem que a uma liberalização económica deve corresponder uma liberalização global, um laissez-faire, extensível também ao quarto e à cama. Defendem também que o empreendedor privado, que assume os seus riscos económicos e é considerado responsável pelas suas próprias acções, não pode ser condenado quando se trata de procriar.

«Não existe indivíduo numa sociedade evoluída, moderna, que não saiba calcular por si qual o número de filhos que lhe convém ter para manter o nível de vida que conquistou», defende um demógrafo da Universidade Fudan de Xangai que calcula que por volta de 2010 todos os casais terão direito a pôr no mundo dois filhos.

Por agora só têm este direito os casais constituídos por um homem e uma mulher que sejam ambos filhos únicos. Este tipo de casais está a aumentar porque os filhos únicos nascidos nos anos 1980 e 1990 – período em que a adopção desta política permitiu conter o crescimento da população dentro de limites considerados aceitáveis – encontram-se hoje ou casados ou em vias de o fazer. Mas esta política provocou, todavia, muitos excessos. Houve muitas ingerências públicas na vida privada dos cidadãos: desde abortos impostos mesmo se no sexto mês de gravidez, a esterilizações forçadas, ao controlo dos ciclos menstruais das mulheres em idade fértil (levados a cabo pelos diligentes voluntários dos Comités de bairro), e à cobrança de multas e de taxas para quem tivesse infringido a lei.

A política do filho único teve também outras consequências, sobretudo a nível psicológico. «Nós não fazemos ideia do que seja ter um irmão ou uma irmã», disse-me uma rapariga de vinte anos. «Eu tenho nove tios e tias mas o meu filho não vai ter nenhuns e isso vai afectá-lo e, certamente, vai ter influência na sua maneira de ser».

Mas hoje se se casar com um homem que também seja filho único esta rapariga poderá ter dois filhos: ao primogénito chamarão «gege», ao «maos» novo «didi» se forem ambos machos; se a mais velha for fêmea será «jiejie», a mais nova será «memei».

Agora que os filhos únicos estão a constituir as suas famílias poder-se-ia verificar um novo boom de nascimentos. Mas tal não parece vir a acontecer e no Instituto Demográfico de Pequim estão tranquilos: declaram que nas grandes cidades se está próximo do crescimento zero; que estudos recentes demonstram como, mesmo na China, um maior bem-estar corresponde a uma planificação espontânea dos nascimentos e que a política do filho único já está a provocar os seus desastres, como a preponderância de machos devido aos abortos selectivos e a predominância da população envelhecida. Assim faz sentido abandonar esta política ainda que os chineses continuem a ser muitos – mais de mil e trezentos milhões – e que anualmente nasçam outros vinte milhões. Os demógrafos não se atrevem a fazer previsões.”

[Pesadelo]

 

“No entanto parece estar a compor-se um quadro negro: encontrar mulher, montar casa, casar… Sonhos, ilusões. Na China explodiu o pesadelo demográfico, faltam raparigas, o que num país onde se regista um aumento vertiginoso daqueles que a lei abarca sob a designação comum de «crimes sexuais» – e que vão do estupro ao adultério, das violações de mulheres à bigamia, da pedofilia à homossexualidade – é um facto que se arrisca a colocar em crise a estabilidade social.

Deste modo, ao mesmo tempo que a imprensa popular mas principalmente as telenovelas (que passam todas as noites em trezentos milhões de televisores) contam detalhadamente palpitantes histórias de amor procurando sobrepor a máscara da ilusão à realidade, mais de vinte milhões de jovens machos estão, assim como assim, destinados a não encontrar uma mulher. E dentro de cerca de vinte anos, este número duplicará porque não há, de facto, um número suficiente de fêmeas na sua faixa etária, foram suprimidos à nascença o ainda em embrião.

Na China o extermínio de mulheres intensificou-se principalmente quando, como consequência da política do filho único, se difundiram as ecografias: se é macho tem-se o filho, se é fêmea aborta-se. No início dos anos 1990, o governo proibiu aos médicos que revelassem o sexo do feto, mas criada a lei, foi encontrado o engano: o médico não fala, sorri se o pequeno é macho, torce o nariz se é fêmea, mímica facial que toda a gente conhece e sabe interpretar.

Mas isto não se passa só com os recém-nascidos: há poucos anos um camponês de Hunam desejava ter um filho macho, mas já tinha uma filha de quatro anos e então atirou-a a um poço, colocou-lhe uma pedra em cima e sentou-se à espera que a pequena já não desse sinais de vida. Foi condenado apenas a cinco anos de prisão e a pena demonstra suficientemente bem qual é a mentalidade corrente em relação a este assunto, mesmo entre aqueles que administram a justiça. De certeza que este homem é agora pai de um belo rapazinho, concebido mal ele saiu da prisão: um rapazinho que quando crescer, viverá num país sem mulheres.

Infelizmente, episódios semelhantes a este são da ordem do dia e encontram-se relatados nas páginas dos tablóides. Hoje, contudo, a desproporção entre os sexos alarmou os demógrafos chineses que calculam que em 2020 existirão na China entre trinta a quarenta milhões de jovens solitários, não «ricaços« inclinados, quem sabe, a experiências amorosas particulares, mas deserdados destinados a serem perdedores na competição social e, consequentemente, incapazes de encontrar uma mulher a não ser que a raptem de uma aldeia miserável.

Para a maioria dos jovens machos em excesso, sobretudo caso pertençam aos extractos mais pobres da população, a dificuldade de constituir família é agravada pelo facto de dezenas de milhares de pessoas abandonarem continuamente os campos para procurarem trabalho noutros lugares, prática que se tornou comum desde os anos 1980, ou seja, desde a abertura da China à economia de mercado.

Ainda por cima deu-se o caso de homens e mulheres se deslocarem – e ainda se continuam a deslocar – não juntos, mas em direcções opostas: as mulheres para as fábricas das cidades costeiras, os homens para os grandes estaleiros de obras públicas das regiões do interior. O fenómeno destas migrações atípicas que criaram concentrações anormais, por género, foi estudado pela Academia das Ciências de Pequim. À cidade costeira de Guandong, por exemplo, afluíram nos últimos dez anos duzentas mil mulheres de outras províncias, enquanto a população local conta com apenas quatro mil homens. Aqui existem demasiadas mulheres ao passo que noutras zonas se contam trezentos, quatrocentos mil solteiros e poucos milhares de mulheres.

Ainda assim, não obstante o facto de já serem visíveis os perigos e os horrores de um país sem mulheres, continuam-se a matar as raparigas. Se as mulheres que escapam à morte no útero fossem ao menos bem tratadas… mas isso não acontece: na China regista-se a mais alta percentagem de suicídios entre a população feminina, cinco vezes superior à média global.

Porquê?

E por que razão se suicidam sobretudo as mulheres em idade de casar, isto é, as raparigas entre os quinze e os vinte e quatro anos?

Talvez estivessem à espera de que os tempos fossem outros, e que ser mulher já não significasse, como antigamente, ser escrava. Isto é o que se lê na imprensa chinesa que se começa timidamente a interessar pelo fenómeno destas mortes voluntárias, muito numerosas nas zonas rurais, onde se registam noventa e três por cento dos suicídios femininos. O facto de as mulheres beberem frequentemente insecticida para acabarem com a sua vida leva a que os sociólogos de interroguem, mas até hoje ninguém parece ter ainda encontrado respostas convincentes. Tanto mais que todas as telenovelas, o ópio que o regime distribui noite após noite para pintar de cor de rosa os pesadelos das pessoas, apresentam sempre personagens femininas vencedoras, que podem escolher a vida e o marido que querem porque (e esta é a mensagem que o ecrã procura difundir como se fosse realidade) só agora, graças à economia de mercado, as mulheres governam realmente «metade do céu», como Mao tinha dito. Mas se na altura isto não era verdade, também não o é hoje.

Deste modo, num país onde males antigos se juntam novos males, assiste-se a uma masculinização da sociedade, destinada a ver triunfar apenas uma metade do céu, um céu sem mulheres que participem a governá-lo, um céu onde se fazem anunciar tempestades e aguaceiros.

Hoje os pobres jovens começam a conformar-se de que nunca terão uma mulher. «Devem habituar-se a conviver com o castigo que lhes foi infligido por causa dos erros cometidos pelas gerações que os precederam», escreve uma revista de Pequim. Não se especifica qual seja este castigo: viver num país sem mulheres?

E para a mulheres, então, qual é o castigo?

Talvez seja continuarem a viver num país que é seu inimigo.”

Bibliografia

PISU, Renata. (2008). CHINA a escalada do DRAGÃO. Quidnovi. Lisboa. pp. 231-237.

“O Homem nunca foi macaco”

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“O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.”

Mario Quintana

 

Apontamentos que retirei durante a leitura do livro de Alcino Cruz intitulado “O Erro do Evolucionismo. O Homem nunca foi macaco”. 

O DUALISMO ANTROPOLÓGICO – ALMA E CORPO – DO PENSAMENTO HELENISTA

“O dualismo antropológico é uma realidade que irá marcar todo o pensamento ocidental até aos nossos dias. Nasceu com o pensamento antigo grego, mas viria a ser o Império Romano convertido ao Cristianismo, e de forma paradoxal, a disseminá-lo por todo o Ocidente” (p. 29).

“No pensamento antigo do grego Homero, o morto é um corpo sem força vital, sem alma respiratória. Esta abandona o homem quando ele morre. Mas convém não esquecer, como dirão os órficos, que o corpo, mesmo sem vida, é já um «sepulcro da alma». A alma nesta conceção é extremamente valorizada em detrimento do corpo” (p. 29).

[Órficos – derivado do mito de Orfeu. Numerosas fontes históricas relatam a existências dos mitos órficos. Ler mais aqui]

“O «Helenismo» significa o encontro do pensamento grego herdado de Homero até Aristóteles com o pensamento da cultura judaico – cristã. O Império Romano é o espaço onde se realiza esta fusão entre o grego e o latim, a qual, irá dar origem a novos termos e novas formas de pensar.”

O NOVO MÉTODO CIENTÍFICO DE BACON E A REDUÇÃO DO HOMEM À SUA DIMENSÃO NATURAL

“(…) o Homem conseguiu granjear para si conhecimentos que de uma forma ou de outra são herança do passado. Por um lado, rompe em definitivo com o pensamento medieval separando, definitivamente, a razão da fé e, por outro lado, vai voltar ao conhecimento deixado pelos gregos, onde a razão assumia papel preponderante.
A antropologia desta época vai, pois, ser, assim, essencialmente, marcada pelos novos desenvolvimentos da ciência experimental (empirismo) e racional (humanismos racionalistas), onde o «Teocentrismo» típico da mentalidade medieval (o homem sempre visto à luz da relação com deus que está no centro de todas as coisas) vai dar lugar ao “Antropocentrismo” moderno. É o homem que passa a estar no centro de todas as preocupações e de todos os estudos. Neste sentido, a originalidade dos filósofos deste período não deve procurar-se nos sistemas que professam mas na atitude que adotam perante o homem e a natureza. Os sistemas filosóficos gregos ganham com eles um significado novo, que tem de qualificar-se de moderno. Efetivamente, a atitude dos filósofos humanistas é, radicalmente, antropocêntrica. O regresso aos filósofos gregos é motivado pelo desejo de encontrar um modelo de humanidade diferente do medieval. No Renascentismo aspira-se a um homem novo, liberto da incultura, da superstição, do obscurantismo, enfim, da mediocridade. Daí que o humanismo renascentista se caraterize pela insistência na educação das capacidades naturais humanas, no desenvolvimento da personalidade, na primazia concedida aos valores estáticos e pelo individualismo, em oposição à cultura medieval, que era, radicalmente, teocêntrica: considerava deus como ponto de referência absoluto de todo o real e, por conseguinte considerava o homem também uma referência essencial a Deus. Todavia as instituições religiosas da época, eram uma afronta aos direitos humanos, uma vez que a sua cultura vivia enclausurada nos seus mosteiros. Ao contrário, o renascimento e a Modernidade caraterizam-se por um antropocentrismo naturalista. Referido ao homem, o naturalismo pode ser definido como a atitude que acentua os aspetos naturais deste, esquecendo ou menosprezando a dimensão e o destino sobrenaturais. Esta tendência naturalista vai ser usada na interpretação de todas as correntes filosóficas gregas. Neste sentido, a filosofia platónica é agora vista como uma espécie de “Religião Natural”, vindo a preceder aquela que é tematizada pela modernidade e, como tal, o homem da modernidade é entendido de uma forma estritamente relacional, ou seja, sem dogmas que refiram a dimensão da relação com o divino. Já não há mistérios nem coisas por conhecer, agora, o homem, usando bem o poder da sua razão, já não está condicionado pelas leis divinas nem pelas superstições, tudo lhe é permitido e não precisa de prestar contas a ninguém” (p. 49 – 50).

“Segundo os humanistas, o homem é senhor do seu próprio destino, é ele quem, livremente, e com autonomia, decide da sua própria conduta” (p. 51).

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“O surgimento do novo método científico, criado por Bacon, o qual se centra no âmbito da razão absoluta, tendo como principal objectivo reduzir a atividade científica ao domínio da natureza para proveito do homem. Como filósofo da ciência, Francisco Bacon é a expressão eloquente do otimismo e da confiança renascentista na capacidade do homem para estender mais e mais o seu domínio sobre a natureza. A ideia central do seu pensamento é que o homem pode dominar a natureza e que o instrumento adequado para esse domínio é a Ciência. Para este autor, ao contrário do que dissera Aristóteles, o fim da ciência, não é a contemplação da natureza, mas o domínio desta: «a natureza domina-se obedecendo-lhe», isto é, conhecendo as leis que regem os fenómenos naturais para, submetendo-se a elas, utilizá-las em benefício próprio. Devemos ainda acrescentar que esta atitude naturalista de reduzir o conhecimento humano àquilo que se pode experimentar pelos sentidos vai dar origem ao «Cepticismo»: todo o conhecimento advém das impressões sensíveis e como tal não se podem estabelecer leis universais, imutáveis e absolutas, uma vez que, tudo aquilo que, hoje, aparece como certo, amanhã poderá não o ser se a experiência nos mostrar a descoberta de novas bases que ponham em causa as leis anteriormente definidas. Por esta razão é que a «Ciência» não tem razões absolutas, o que é verdade hoje, amanhã pode ser mentira. Deste modo, nada se pode conhecer com absoluta certeza e do divino não faz sentido falar, porque não o podemos sentir. Do homem, a única coisa que os teóricos cépticos podem dizer é que, é um ser que tal como todos os outros animais, nasce, desenvolve-se, reproduz-se, tem uma vida social, envelhece e depois morre. Esta é a natureza do homem que para este autor é semelhante à do animal” (p. 52 – 53).

DESCARTES E A REDUÇÃO DO DIVINO E DO HUMANO À AUTO-SUFICIÊNCIA DA RAZÃO

“No seguimento da linha de pensamento do autor (Bacon) estava aberto o caminho para a expansão da ciência e para o domínio sobre o real. A razão científica era a nova bíblia e viria a ser a grande bandeira do Iluminismo. Os termos racionalismo e racionalista são usados frequentemente, não apenas em filosofia, mas, também, na linguagem comum. Se perguntássemos a qualquer pessoa estranha à filosofia que significam tais termos, talvez nos respondesse que o racionalismo é a atitude que atribui uma importância e um valor fundamentais à razão. E assim é, de facto, a tal ponto, que o conhecido filósofo francês Descartes definiu a essência do homem como substância pensante (res cogitans)” (p. 53).

“O que Descartes diz é o seguinte:

a) é no pensamento, na atividade do pensamento puro (sem ligação à experiência) que se encontra a raiz de todo o conhecimento válido;

b) Descartes dá um peso e uma importância ao sujeito, relativamente, ao objeto, que nenhuma outra filosofia dera até então: se o cogito é a primeira das verdades, se a certeza e a evidência estão nas nossas representações, o objeto (mundo) exterior ao cogito fica sempre incerto e duvidoso. Mas Descartes, como cientista e matemático que é, acredita na realidade do mundo e no conhecimento da ciência e como tal não pode permitir esta incerteza ontológica. Dessa forma, resolve o problema do modo seguinte: Ao contrário de Kant que afirma a incapacidade do intelecto em conhecer realidades numenais, admite a intuição intelectual, que penetra o que se esconde para lá dos fenómenos, ou seja, a essência ou substância. E, deste modo, concebe o «eu» enquanto o res cogitans, ou substância pensante, situando-se no plano metafísico, isto é, conhecer o «em si» desse «eu» (essencialidade) que a simples análise fenomética não atinge” (p. 54 – 55).

“O termo Iluminismo é uma categoria historiográfica, unanimemente, admitida, dentro da história e da filosofia e da cultura em geral, para designar um movimento de ideias que se situa no século XVIII, entre o Barroco e o Romantismo, e que influencia poderosamente a sua época. Mas em termos filosóficos podemos dizer que podem classificar-se de iluminismo todas as épocas em que a atitude cultural dominante é racionalista, num sentido de uma razão que tenta impor-se a si mesma, abandonando o seu próprio juízo, como única construtora do homem: assim, se considera o Iluminismo da época da sofística grega” (p. 67).

teoria da evolução

Marx não tem dúvida em afirmar que o Homem está no centro da existência, a evolução da humanidade é determinada pela oposição do homem e da natureza, pelo conflito entre o indivíduo e a sociedade e, sobretudo, pela luta de classes.
Todo o curso histórico depende, afinal, da infra-estrutura económica: o conjunto dos modos de produção da vida material, a natureza e o estado das forças produtivas constituem a base real do devir histórico. Segundo este autor, mudando o seu modo de produção, a sua maneira de ganhar a vida, os homens mudam todas as suas relações sociais e constroem-se a si mesmo. É visto que o ser social do homem determina a sua consciência, todos os aspetos da sua vida cultural serão determinados por estas transformações” (p. 71 – 72).

“(…) o período Iluminista deu origem ao movimento empirista, o qual reduziu o homem à dimensão biológica: só aquilo que provém da experiência sensível, e pode ser demonstrado (com certeza) pela ciência, é verdadeiro. Por este facto, como de Deus e da dimensão espiritual não se tem experiência sensível, não se pode conhecer, e em última análise nada nos garante a sua existência. É, neste sentido, com naturalidade, que se investiga o funcionamento do corpo humano como se de um animal se tratasse” (p. 79).

“As ciências naturais são explicativas e, para elas, explicar consiste em estabelecer relações constantes ou necessárias entre os fenómenos observados, isto é, em captar o que há de uniforme e repetível no comportamento dos fenómenos. Deste modo, formam-se assim as leis naturais (p. 78).

“(…) o comportamento do homem é expressão da liberdade humana e por isso não se pode prever esse comportamento tal como se prevê a partir de um determinado aumento da temperatura a dilatação do ferro” (p. 78).

A TESE DARWINISTA DA «SELEÇÃO NATURAL» E A RECUSA DE UMA LEI UNIVERSAL PARA A NATUREZA.

“A teoria da evolução é uma hipótese científica que tem por objetivo explicar a origem das espécies e a diversidade da vida por meio de processos e mecanismos identificáveis pelos métodos correntes em Biologia, nomeadamente, a experimentação. Os factos que inspiram a ideia evolutiva são os parentescos morfológicos das espécies viventes, o desenvolvimento desigual dos órgãos semelhantes, a relação ou adaptação destes às suas funções e dos organismos ao seu meio, e em especial a distribuição geográfica de formas com rasgos comuns e diferenças características em regiões bem delimitadas como ilhas de um arquipélago. O tema das mudanças e transformações na natureza ocupou sempre os investigadores de todos os ramos, mas as teorias biológicas da evolução tratam de dar uma visão sistemática e global dessas mudanças através dos processos e factores biológicos ao longo da história. Aqui, vamos destacar os naturalistas que mais se ocuparam do tema, e os rasgos mais salientes das suas teorias.
A primeira categoria que tratou de explicar o encadeamento dos organismos na Natureza é de começos do século XIX e deve-se a Jean B. Monet de Lamark. A sua noção de evolução na atribuição do crescimento e regressão, observadas em órgãos homólogos de muitos animais, ao uso e desuso e na crença dos carateres adquiridos. Por volta de 1815 anuncia aquilo a que chamou as quatro leis da vida:

1) a vida por suas próprias forças, tende, continuamente, a acrescentar o volume, as dimensões e a organização do vivente até a um limite que ela mesma determina;

2) a produção de um novo órgão deve-se a uma necessidade a a um novo movimento com que o organismo responde a ela;

3) o desenvolvimento e a força de cada órgão é proporcional ao seu uso;

4) tudo o que foi adquirido, traçado ou mudado na organização dos indivíduos no curso da sua vida conserva-se e transmite-se por geração.

A teoria de Lamark que partindo do biológico, tratava, também, de dar valor filosófico resume-se nos princípios da ação do meio como origem de toda a mudança e da hereditariedade de todo o caráter adquirido ou modificado: posteriormente, a influência do meio e a adaptação como resposta sofreriam muitas precisões ainda não muito bem compreendidas nos nossos dias, e a hereditariedade ficaria reduzida a certas mudanças dos cromossomas e das células germinais. Em 1858 C. Darwin e Alfred R. Wallace consideram, simultaneamente, que as mudanças nascem, espontaneamente, no material hereditário e o papel do meio ambiente é extrínseco ao processo e negativo, ou seja, um papel de seleção ou prevalência da descendência do melhor dotado frente aos menos dotados que se eliminam. Darwin é influenciado pela teoria da «luta da existência» cuja ideia principal é o crescimento demográfico segundo as ideias de Malthus: o meio seria condição e não a causa” (p. 70 – 80).

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Darwin foi o primeiro a considerar o evolucionismo num sentido mecanicista e, nesse sentido, a novidade não se situa na teoria da descendência mas sim na teoria da selecção natural. Segundo este autor, o que põe em marcha a evolução e de onde procede o facto de que nem sempre se mantenha no mesmo nível, mas que é uma evolução ascendente, em que se produzem espécies cada vez mais diferenciadas e superiores” (p. 83).

“(…) surgem as teses de Malthus segundo as quais «a luta pela existência» domina, intrinsecamente, a humanidade. Uma vez que para um «lugar ao sol» cada vez há mais pretendentes. A população terretre aumenta, embora o espaço da terra continue a ser o mesmo e apenas pode alimentar um número limitado de homens, e, desse modo, a luta pela existência agrava-se cada vez mais com o decurso do tempo. Segundo Darwin, uma luta semelhante pela existência domina também o reino animal. E aquilo que Malthus tinha profetizado como uma etapa futura no reino humano, é uma realidade no reino animal: cada espécie animal se enriquece cada vez mais no sentido de lhe permitirem as condições externas de vida. Dos descendentes de cada par sobrevivem apenas alguns, ou seja, os mais fortes. Mas estas conclusões são fruto daquilo que em lógica se chama a falácia da generalização apressada, ou seja, a partir da observação de um caso particular, generaliza-se para todos os casos que se situam nas mesmas circunstâncias” (p. 86).

“O homem não pode ser reduzido à natureza, pois, as leis que o governam não são, apenas, leis naturais mas são, também, espirituais e respeitam o plano inteligente da Lei Universal” (p. 89).

“O Darwinismo implica a extensão das suas teorias, também, ao homem. O homem compartilha com todos os demais seres vivos o facto de proceder de um outro ser vivo. A semelhança entre o homem e, sobretudo, o macaco, reclama um parentesco de sangue. Segundo esta tese, há milhares de séculos ou milhões de anos, o homem, num certo momento, ter-se-á separado do animal pela primeira vez” (p. 89).

“É no contexto destas correntes evolucionistas que surge a teoria da Hominização, estudada em todos os manuais de história dos nossos dias. De forma sintética podemos dizer que esta teoria consiste em defender a evolução do homem durante milhões de anos de formas inferiores de vida até chegar ao estado atual. Isto implica afirmar que as nossas civilizações são as mais perfeitas, e que tudo o que aconteceu no passado teve por base o respetivo estado de evolução em que a humanidade se encontrava. Estes autores consideram, por exemplo, que a civilização ocidental atual, é superior, por exemplo, à da Grécia Antiga, ou à dos Incas, pois o fundamento é sempre o mesmo: evoluir de formas inferiores para superiores, quer no domínio fisiológico, quer social, económico, cultural e até mesmo intelectual. O Evolucionismo, defende, irredutivelmente um contínuo progresso para a perfeição, centrado na teoria de que o Homem descende de seres inferiores, os macacos” (p. 90).

“Os espíritos conservadores recusaram sempre esta tese de uma causalidade natural, puramente mecânica, em nome da doutrina da criação dos seres por Deus, a partir do nada. Mas o darwinismo, que estava, totalmente, de acordo com o estilo causal-genético do século XIX, não teve dificuldades em triunfar e em penetrar todas as mentalidades em gera. O conceito de evolução surge como uma palavra mágica que abre todas as portas até agora cerradas ao espírito, e, neste sentido, a realidade passou a ser sempre vista como uma evolução onde, o superior teve origem no inferior, o diferenciado a partir do único, o espiritual a partir do nada” (p. 96).

“As décadas da difusão do darwinismo são ao mesmo tempo as décadas do «Movimento ateu». Não apenas o socialismo se tinha manifestado anti-religioso (como em Marx por motivos éticos), também as ciências naturais que se fortaleciam decompunham cada vez mais as boas consciências. Chegava a nova fé que era chamada a ocupar o lugar da fé em Deus. De facto Moisés ou Darwin era um livro muito lido, apesar da sua pobreza” (p. 96).

“O homem não evoluiu de um ser inferior. A sua interacção com o ambiente e consequente progresso adaptativo ao real difere da dos outros animais: é determinada pela escolha e intenção. O homem, não está vinculado ao ambiente, como acontece com os animais e, desse modo, impõe modificações ao meio adaptando-o a si. Continuamente, produz novas combinações dos elementos da experiência tecnológica e estética do passado, para produzir novos tipos de construção material que alteram o ambiente de novas maneiras, que cria e organiza. Nenhum outro animal possuía ou possui habilidades intencionais, inovadoras e criativas deste género. Logo, o homem, é distinto de todos os outros seres vivos, incluindo o macaco” (p. 122).

“O erro do evolucionismo consistiu, pois, no facto de definir o Homem a partir da comparação com o animal, o que é um paradoxo tão absurdo como é comparar as faculdades do Homem com as dos macacos ou outroseres inferiores” (p. 123).

 

Bibliografia

 

CRUZ, Alcino. (2000). O Erro do Evolucionismo. O Homem nunca foi macaco. Campo Grande Editora. Lisboa.

 

2001-1