Horizontes de mudança

Publicado por: Milu  :  Categoria: Horizontes de..., SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA

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No dia 16 de Maio do corrente ano, estive presente no evento denominado “2º Encontro de Psicologia em Contexto Educativo”, que teve lugar na Escola Superior de Saúde – Instituto Politécnico de Leiria.

A intervenção de que mais gostei foi levada a cabo por Daniel Rijo, doutorado em Psicologia Clínica, docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, onde ensina e investiga nas áreas clínica e forense. É também Investigador do CINEICC – Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental e Autor do Programa Gerar Percursos Sociais (GPS), um programa de prevenção e de reabilitação para indivíduos com comportamento antissocial.

Então, porque gostei eu tanto da intervenção de Daniel Rijo? – Porque ele disse o que já muitos de nós pensamos e até queremos dizer mas não temos autoridade científica para tal. Daniel Rijo foi assim um porta voz daqueles que auguram a necessidade urgente de mudança na forma de operar nas escolas.

De algum modo vou tentar reproduzir parte do seu discurso através dos apontamentos que consegui fazer durante a sua intervenção. Vamos então “ouvi-lo”:

 

Intervenções estruturadas em jovens com comportamento agressivo – Daniel Rijo

Os problemas de comportamento constituem o tipo de problemática mais prevalecente nas escolas, tanto para professores como para os pais.

Sobre a agressividade há a dizer, que se não fosse ela, não teríamos evoluído como espécie. Logo, querer eliminar a agressividade é agir contra natura.

Ao querer-se eliminar a agressividade pode-se estar a contribuir para o aumento do seu requinte, porque pode ser substituída por outras formas de agredir, que não seja através da força física. Exemplo: a mulher costuma ser muito mais requintada na sua agressividade. A chantagem psicológica, a ironia, etc, são também formas de agredir o outro.

Sem bater consegue-se fazer mossa*

Embora se possa pensar o contrário, cerca de 50% da agressividade é mútua. Há mais homens a assassinar as mulheres, é certo, mas estas também têm vindo a ganhar terreno.

Ao educarmos muito bem as crianças estamos a criar futuras vítimas. É preciso ter em conta que a agressividade faz parte da vida. Temos de estar apetrechados.

O porquê da agressividade:

Um exemplo: Um miúdo chama puta à professora. Gera-se então um tumulto e empolga-se de tal forma que se dá o que o miúdo pretendia – a elevação do seu estatuto.

No que diz respeito aos “betinhos” ou meninos que tiram sempre boas notas, estes são uns competidores natos. Assim, tanto os alunos betinhos, como os alunos “corrécios”, uns e outros são problemáticos. Cada um ao seu estilo o que pretende é tirar o protagonismo ao outro. Assim, tirar boas notas, ou portar-se mal, são duas formas de buscar o protagonismo.

A agressividade é, portanto, normal. Chamar os pais à escola é querer imputar-lhe as culpas. Mas, o que está a gerar a agressividade? A escola gera ou não a agressividade? Uma coisa é certa. Não podemos ter resultados diferentes se procedermos sempre da mesma maneira.

A nova denominação de delinquente é:  “Jovens em conflito com a lei”.

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Como começar?

É preciso trabalhar o auto-conceito dos jovens problemáticos. Quando os vimos com aquela aparente segurança toda, esta não passa de uma carapaça para os sentimentos de vergonha, baixa auto-estima, etc. São os pais que ajudam o jovem a sentir-se assim tão mal e também a escola, uma vez que estão sempre a exigir deles, que sejam os melhores, que tirem as melhores notas, e até a questão do aspeto, ser gordo, baixo, etc, pode criar problemas nas crianças. Há miúdos que vivem um intenso sentimento de inferioridade. E o que faz a escola a esse respeito?? Com a suas políticas de educação contribui para que esses sentimentos  se aprofundem.

Muito alunos com notas altas, são precisamente os alunos que mais vivem o sentimento de inferioridade. Ter notas altas foi afinal um estratagema para conseguir estatuto. Estes alunos podem chegar à Universidade e começar a falhar. Mentem aos pais, que não sabem que o filho nem sequer uma disciplina fez. Estudos recentes têm mostrado que parte destes alunos são filhos de médicos e de professores. Exigiram tanto deles, em tão pouco tempo, que lhes retiraram a vontade para mais.

Denegrimos os outros porque nós mesmos não estamos seguros do nosso valor.

Assim, a Intervenção deve focar-se na imagem que o aluno tem de si próprio. Tem de ser trabalhada a sua auto-imagem.

Por outro lado, os professores não são avaliados quanto às suas qualidades sociais. Eles mesmo podem também ter graves problemas. Na Suécia resolveram o problema do abandono escolar selecionando melhor os professores. Andamos a centrar a nossa atenção no aluno e não fazemos nada quanto aos professores!!

O nosso trabalho é conseguir que os miúdos compreendam que é preciso estudar para no futuro poderem vir a ter uma profissão de que gostem. Por outras palavras ainda mais acessíveis: para poderem no futuro fazer uma coisa de que gostem.

É preciso ter em conta que quando os pais são pobres, os filhos não conhecendo outros “mundos”, também não são ambiciosos, ou seja, não têm modelos para se guiarem quanto ao que desejariam vir a tornar-se no seu futuro.

Andam a mentir aos miúdos quando lhes dizem que o sucesso escolar dá felicidade. Andam a treinar os putos para fazerem comparações sociais.

Alcançar Estatuto. O Sucesso a qualquer preço. Exigem tanto que eles acabam por detestar a escola. Muitos como não conseguem corresponder ao ideal de aluno, acabam por se tornarem delinquentes, que é uma outra forma, mais fácil,  de alcançar estatuto. Isto é, os miúdos são empurrados para a delinquência.

É preciso entender que o valor das pessoas, a qualidade de vida, passa por se fazer o necessário e não mais do que isso. As pessoas têm o valor intrínseco daquilo que são.

E depois há que criticar esta onda recente de que a matemática é a mais importante das disciplinas: Alguém que nos explique porque é que a matemática  desenvolve o raciocínio e  a filosofia não, e por isso vai ser riscada do currículo escolar! Será porque não interessa à indústria?? Visto assim, não há dúvidas que a escola serve para preparar as pessoas que alimentam a produção de riqueza.

Assim, os desfavorecidos pensam: Sou uma merda!

Os favorecidos pensam: eu sou uma fraude (não tão bons como parecem), e vivem no temor de ser descobertos.

A agressividade é, no limite, um sinal de que alguma coisa não está bem. Depois vem o erro – surgem as intervenções eivadas de moral e de religião, revestidas de psicologia.

Ao exibir-se as pessoas de muito sucesso só estão a criar condições para muitos outros se sentirem inferiores. A escola não está a formar cidadãos completos! A escola, tal como a conhecemos, perverte! Não está a cumprir o que está na sua matriz!

Os miúdos repetentes são colocados em turmas especiais para estes casos. Mas os professores continuam a ser os mesmos!!!!!!!! Muitos sem formação adequada, ou formados há anos e anos. Assim, estes miúdos acabam em centros educativos e alguns até na prisão!

Tudo isto fica muito caro ao Estado. Era mais rentável pagarem a pessoas competentes, SE É QUE QUEREM TER BONS RESULTADOS.

* Da minha lavra 🙂

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