Identidades. Nacionalismos.

Publicado por: Milu  :  Categoria: Identidades..., PARA PENSAR

 

487042_422268044501307_1367147484_n

 

 

“O nacionalismo é uma doença infantil: é o sarampo da humanidade.”  

Albert Einsten

Breves apontamentos retirados durante a leitura do livro  intitulado a ” A Identidade Nacional” da autoria de SMITH, Anthony.

“Este livro debruça-se sobre 4 questões principais. A primeira são as características de identificação nacional por oposição a outros tipos de identificação cultural coletiva.

A segunda é o papel das diferentes bases étnicas na formação das nações modernas e os meios através dos quais estas surgiram na Europa moderna inicial.

A terceira é a natureza dos diferentes tipos de ideologia e simbolismo nacionalista e o seu impacte na formação de identidades políticas étnicas e territoriais.

A última questão aborda as consequências políticas de diferentes tipos de identidade nacional e o seu potencial para a proliferação de conflitos étnicos e as possibilidades de abandonar as identidades e ideologias que deram lugar a esta instabilidade endémica.

– Como ideologia e linguagem, o nacionalismo emergiu na Europa do século XVIII, sendo por isso necessário examinar de forma breve a matriz cultural e o papel dos intelectuais no seu aparecimento” (p. 11).

“O nacionalismo fornece talvez o mais constrangedor mito de identidade do mundo moderno, mas surge sob várias formas. Os mitos de identidade nacional referem-se tipicamente ao território ou à linhagem (ou a ambos) como base da comunidade política, e estas diferenças fornecem importantes, se bem que por vezes negligenciadas, fontes de instabilidade e de conflito em muitas partes do mundo” (p.11).

“Não é por acaso que muitos dos mais cruéis e prolongados conflitos “inter-nacionais” derivam de pretensões e de concepções antagónicas de identidade nacional. A compreensão destas ideias e alegações é vital se quisermos melhorar, se não mesmo resolver, alguns destes conflitos e criar uma comunidade internacional genuína” (p.11).

“Quais são as categorias e papéis que constituem cada pessoa no individual? Em primeiro lugar, a categoria do género sexual. Se não imutáveis, as categorias por género são universais e penetrantes. Estão também na origem de outras diferenças e subordinações. Somos de muitas formas subtis bem como patentes, definidos pelo nosso género, tal como o são muitas oportunidades e recompensas na vida. Simultaneamente, essa mesma universalidade e natureza abrangente das diferenciações de género torna menos coesa e potente a base para a identificação e mobilização coletivas. Apesar do aparecimento do feminismo em determinados países, a identidade de género, que atravessa o globo, é inevitavelmente mais atenuada e admitida no mundo moderno do que outros tipos de identidade coletiva. Separadas geograficamente, divididas por classes e etnicamente fragmentadas, as clivagens de género devem aliar-se a outras identidades mais coesivas, se quiserem influenciar a consciência e ação coletivas” (p. 16 – 17).

“Em segundo lugar, a categoria de espaço e território. A identidade local e regional é igualmente corrente, em particular nas eras pré-modernas” (p. 17).

“Um terceiro tipo de identidade colectiva é a sócio-económica, a categoria de classe social” (p.17).

“Quer definamos “classe”, como Marx, como uma ligação com os meios de produção, como Weber, como o conjunto de pessoas com oportunidades de vida idênticas” (p. 18).

“A «identidade religiosa» baseia-se em critérios bastante diferentes dos de “classe social” e emerge de esferas muito diferentes de acção e de necessidades humanas. Ao passo que as identidades de classe emergem da esfera da produção e troca, as identidades religiosas derivam das esferas da comunicação e socialização. Baseiam-se em alinhamentos da cultura e dos seus elementos – valores, símbolos, mitos e tradições, muitas vezes sistematizados em costumes e rituais. Tiveram assim tendência para englobar numa única comunidade de fiéis todos aqueles que sentiam partilhar certos códigos simbólicos, sistemas de valores e tradições de crenças ou rituais, incluindo referências a uma realidade supra-empírica, embora impessoal, e marcas de organização especializadas, por mais ténues que fossem. As comunidades religiosas estão com frequência estreitamente ligadas a identidades étnicas (p. 19 – 20).

“Uma identidade «nacional» implica uma consciência de comunidade política, por mais ténue que seja. Uma comunidade política, por sua vez, subentende pelo menos algumas instituições comuns e um único código de direitos e deveres para todos os membros da comunidade. Sugere também um espaço social claro, um território bastante bem demarcado e limitado, com o qual os membros se identificam e ao qual sentem que pertencem” (p. 22).

“A terra natal torna-se um depósito de memórias e associações históricas, o local onde viveram, trabalharam, oraram e lutaram os “nossos” sábios, santos e heróis” (p.23).

“As nações devem ter uma medida de cultura comum e uma ideologia cívica, um conjunto de critérios e aspirações, sentimentos e ideias, que unam a população na sua terra natal. A tarefa de assegurar uma cultura coletiva pública comum foi entregue a órgãos de socialização popular, como o sistema público de educação e os meios de comunicação” (p.24).

“Território histórico, comunidade político-legal, igualdade político-legal dos membros e ideologia e cultura cívica comuns; são estas as componentes do modelo ocidental normal de nação (p. 25).

“Genealogia e pretensos laços de origem, mobilização popular, idiomas, costumes e tradições vernáculas: são estes os elementos de uma concepção étnica alternativa da nação” (p. 26).

“A existência destes pressupostos comuns permite-nos catalogar os aspectos fundamentais da identidade nacional da seguinte maneira:

1. Um território histórico ou terra de origem;
2. Mitos e memórias históricas comuns;
3. Uma cultura de massas pública comum;
4. Direitos e deveres legais comuns a todos os membros;
5. Uma economia comum, com mobilidade territorial para os membros.

Uma nação pode assim ser definida como uma determinada população humana, que partilha um território histórico, mitos e memórias comuns, uma cultura pública de massas, uma economia comum e direitos e deveres legais comuns a todos os membros” (p. 28).

“É uma cultura única e partilhada que nos permite saber «quem somos» no mundo contemporâneo” (p. 31).

“Podemos fazer uma lista dos seis atributos principais de uma comunidade étnica:
1. Um nome próprio coletivo;
2. Um mito de linhagem comum;
3. Memórias históricas partilhadas;
4. Um ou mais elementos diferenciadores de cultura comum;
5. A associação a uma terra natal específica;
6. Um sentido de solidariedade em sectores significativos da população.

Quanto mais uma população possui ou partilha estes atributos (e quanto maior for o número destes atributos por ela possuídos ou partilhados), mais essa população se aproxima do tipo ideal de comunidade étnica ou etnia” (p. 37).

“As etnias são constituídas não por linhas de descendência física, mas pelo sentido de continuidade, de memória partilhada e destino colectivo, isto é, por linhas de afinidade cultural encarnadas em mitos, memórias, símbolos e valores característicos, conservados por uma dada unidade cultural da população” (p. 46).

“Existem dois tipos principais de extinção étnica no sentido global do termo: genocídio e etnocídio, ao qual por vezes se chama – algumas vezes erroneamente – «genocídio cultural». De certo modo, o genocídio é um fenómeno raro e provavelmente moderno. Inclui aqueles casos em que sabemos que a morte em massa de um grupo cultural foi premeditada e que a base desse objetivo foi exclusivamente a existência desse grupo cultural e a sua pertença a ele. As políticas nazis contra os Judeus e uma parte dos Ciganos foram deste tipo” (p. 47).

“Outras políticas e acções foram genocidas, mais nas suas consequências do que nas suas intenções; uma destruição étnica deste tipo ocorreu quando os brancos americanos encontraram os Índios Americanos e quando os conquistadores espanhóis encontraram os Aztecas. Nestes casos a extinção étnica não foi deliberadamente visada, apesar de não ter sido feita qualquer tentativa para atenuar essas políticas, cujos efeitos laterais foram genocidas” (p.48).

Bibliografia

SMITH, Anthony. D. (1997). A Identidade Nacional. Gradiva. Lisboa.

rwanda-genocide