Na arena catedrática

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Assim que você confiar em si mesmo, você saberá como viver.” Johann Goethe

Desistir não é de forma alguma meu apanágio. A prova disso é que me deu para levar a cabo mais uma investida para, num salto quântico, ingressar no Ensino Superior. Desta vez, a mão do destino decidiu pela Universidade Internacional, que foi a primeira universidade privada em Portugal, fundada em 1984 com sede em Lisboa e Figueira da Foz. Foi fechada em 2009, devido à falta de viabilidade económica e financeira, ao que parece.

Mas também li aqui que “em 2007, a Universidade Internacional foi investigada pelas autoridades governamentais portuguesas de ensino superior (Inspeção-Geral (IGES) e Direção-Geral do Ensino Superior (DGES)) para esclarecer diversos relatórios anteriores que levantavam preocupações sobre a qualidade e o rigor desta e de outras instituições privadas. Essa situação levou ao encerramento compulsivo da Universidade Internacional em 2009 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) de Portugal.

Tomei conhecimento de que estavam a decorrer as inscrições para a candidatura ao Ensino Superior no regime ha doc, na Universidade Internacional em Lisboa . Recordo que já publiquei aqui um post com a narrativa da minha primeira investida no Ensino Superior, que foi na Faculdade de Direito em Lisboa. Creio que fiz os dois exames no mesmo ano, apenas com alguns meses de intervalo.

No dia aprazado, meti-me no comboio e fui fazer o exame. Seria o ano de 1985 ou 1986, e tendo em conta a localidade onde residia, o comboio era a melhor alternativa devido ao horário alargado, uma vez que eu não fazia a mínima ideia de quando estaria despachada para poder regressar a casa.

Tenho a ideia que o comboio se dirigia para a Estação de Santa Apolónia e que a seguir apanhava o Metro até ao Jardim Zoológico, que fica perto de onde então era a Universidade Internacional. Fiz esse percurso, ir e vir de Lisboa, 3 vezes.

Na primeira vez fui fazer um exame escrito, que consistia em desenvolver um dos dois temas à escolha. Um deles era sobre o terrorismo. O outro era sobre as sociedades, como elas se formaram e como funcionam.

Hossana nas alturas! À semelhança do primeiro exame, na Faculdade de Direito, tinha ali um tema no qual me poderia espraiar até mais não. E foi o que fiz. Desta vez, já mais calejada, não estive para me envolver em pântanos de areias movediças e optar pelo tema manhoso que é o terrorismo.

Tinha lido um livro sobre Economia, mais precisamente Introdução à Economia.
Era tudo quanto eu precisava para mergulhar em cheio no tema – As sociedades, como elas se formaram e como funcionam.

E por que tinha lido eu esse livro??


Acontece que frequentava nessa altura o 3º ano do Curso Geral de Liceus (9 anos de escolaridade) no regime noturno, pois tinha o estatuto de trabalhador estudante. O nosso professor exercia a profissão de advogado, mas para avolumar os seus proventos, dava também umas aulas na nossa escola, e sem ser. O seu método de ensino consistia em percorrer a sala, desfilando pelos corredores entre as carteiras, ao mesmo tempo que proferia uma algaraviada sem sentido, que nos era impossível de decifrar. Alto, magro, de postura direita e olhos pardos fitos no vazio lá ia debitando uma treta qualquer só para preencher o silêncio e o vazio.

Claramente ele não estava ali para ensinar. Estava ali a fingir que dava aulas e os alunos não tinham outra alternativa que não fosse desejar ardentemente pelo toque que lhes anunciasse o fim da aula, o tão desejado fim daquela tortura chinesa. Nunca percebi o que pretendia aquela alminha. Acharia ele, que aquela matéria não nos serviria para nada e por isso agia assim? Bem, se era isto, então, estava redondamente enganado e o que irei contar a seguir é a prova disso.

Com a passagem do tempo, vendo que o comportamento do professor não se alterava, comecei a pensar que eu mesma tinha de deitar mãos à obra, que seria estudar por conta própria, já que desconfiava que ele era menino para no dia da prova, nos colocar à frente um teste com perguntas, como se alguma vez tivesse dado aulas a sério.

Por isso, à cautela, num dia à noite, deitada na cama, que é onde mais gosto de ler, peguei naquele pequeno livro de Introdução à Economia, o nosso manual, e vá de o ler de fio a pavio. E até o li com prazer, sim. Estava bem escrito de uma forma leve mas eficiente.

Mal sabia eu, que estava a fazer algo que me viria a valer tanto! Aquele professor tonto, salvou-me a vida sem nunca ter sido essa a sua intenção. Se ele não tivesse sido parvo, jamais teria feito uma prova escrita tão brilhante e não teria esta história de vida. É bem certo que “Deus escreve direito em linhas tortas”.

Naquele dia, durante a prova, as ideias surgiam-me em catadupa. Ainda não tinha terminado de desenvolver uma ideia e já me estava a ocorrer outra. De forma que, por várias vezes, tive de escrever na folha de rascunho notas ou expressões que representavam ideias, para as retomar quando fosse oportuno. Não dei hipótese para me esquecer de nada.

No dia aprazado para as provas orais, lá foi esta menina novamente de comboio, sozinha, em busca do seu eu, de se descobrir a si mesma. No fundo, o que andava a fazer senão um constante pôr-me à prova?

Chegou-se a noite e não cheguei a ser chamada. Devido às iniciais do meu nome fiquei para o dia seguinte. Contudo, nada perdi porque pude assistir às provas dos outros colegas e assim ficar cada vez mais familiarizada com os métodos utilizados. Assisti, por exemplo, à prova oral de um pobre desgraçado que se atreveu a enveredar pelo tema do terrorismo. Foi sovado sem dó nem piedade. Até eu fiquei dorida e não era nada comigo. Mas também haveria de chegar a minha vez. Também levei um bom enxerto.

O colega deve ter colocado o terrorismo num patamar tão terrífico que, os dignos catedráticos, resolveram dar-lhe a volta e, colocaram a hipótese, de o acto terrorista poder ser o único recurso para a libertação. E, se pensarmos bem, a Revolução Francesa, tão envolta de sangue, foi o acontecimento que inaugurou a Idade Contemporânea e instituiu novas perspetivas políticas que até hoje exercem efeitos no mundo ocidental. Aliás, grandes mudanças na História da Humanidade estão envoltas de sangue.

Ouvi o meu nome. Avancei em direção ao pedestal onde se encontravam sentados os três catedráticos, como quem caminha direto ao cadafalso. Sentei-me na cadeira da tortura e olhei para cima. Sabia que iria ser duro. Eles, os três magnânimos, estavam num plano bem acima de mim, como convém. Sempre amedronta alguma coisa.

O Catedrático que se encontrava no meio era, segundo consta, o Presidente. Olhou para mim e perguntou-me o nome. Baixou a cabeça para olhar para a minha prova durante uns instantes e tornou a olhar para mim, ao mesmo tempo que levantava a mão lentamente e, com dois dedos, ajustar os óculos ao nariz. Poderei viver 100 anos, que jamais me esquecerei deste momento. Foi o primeiro impacto.

A seguir disse: “A senhora escreve bem. Tenho aqui a sua prova que li do princípio ao fim. E do princípio ao fim fui seguindo na perfeição o seu raciocínio. Na verdade, nem precisava ou não deveria estar agora aqui a fazer uma prova oral. Ainda assim, entendemos ser necessário devido à nossa experiência. Não é a primeira vez que nos surgem casos de pessoas inteligentes, mas que vieram a mostrar não ter a inteligência própria para um jurista.”
Foi mais ou menos isto que me foi dado ouvir.

A prova oral consistiu em negar e contrariar as afirmações que eu tinha feito na prova. Parece fácil, e deveria ser, uma vez que não inventei nada. Tudo o que tinha escrito na prova resultava de ter lido recentemente o manual de Introdução à Economia. Mas o examinando está sempre em desvantagem, o medo, a incerteza começa a dominar. Só me recordo de ouvir dizer assim: “A Senhora diz aqui que as leis são igualmente aplicáveis a todos os cidadãos. Como assim, se os homens são (ou eram) obrigados a cumprir o serviço militar e as mulheres não? Onde está o princípio da igualdade?

Respondi que o serviço militar obrigatório não se aplicava às mulheres, tal como as licenças de maternidade também eram só para as mulheres, que tinha que se olhar às circunstâncias, aos contextos, etc. Enfim, o exame decorreu todo neste registo, quando afirmava uma coisa, ele desmantelava-a e dizia que eu estava errada e vice versa. A prova oral teve a duração de terríveis e angustiantes 30 minutos, durante os quais me senti como um touro numa arena, acossada por todos os lados.

Como já referi, eram três professores e apenas o do meio interveio, os outros dois só olhavam, sempre com uma expressão atenta e olhar inquisidor. A dado momento, já tão cansada daquele impiedoso interrogatório, fiz uma expressão de enfado, assim como quem quer dizer “estou farta desta merda”. E este foi um descuido meu, devia ter-me contido.

O professor que me interrogava não viu pois encontrava-se a olhar para a minha prova escrita, em busca de mais um argumento para me “sovar”. Mas os outros dois viram. Um deles endureceu a expressão e lançou-me um olhar frio, gelado. Este momento impactou-me de tal forma que, dos três, foi o único rosto que a minha memória guardou. Ainda hoje ele seria o único que reconheceria de imediato. Refiro-me a vê-lo em fotos, evidentemente, que ele já está a fazer tijolo há muito tempo.

No final, foi colocada uma pauta com os resultados do exame. Não faço a menor ideia se houve muitos ou poucos reprovados. Estava extenuada, andava naquilo há dias e já estava a acusar o esforço, mas quem viu primeiro a minha reprovação foram os meus colegas, que fizeram a prova nesse dia e assistiram à minha prestação. Estavam estupefactos. Eles é que me disseram que tinha sido reprovada. Consideravam que tinha estado bem em todos os sentidos e até me sugeriram que fosse inquirir a secretaria sobre o resultado, pois poderia ser um engano.

Mas eu sabia que não era engano. Tinha visto a expressão do tal professor…

Ainda assim, para fazer a vontade aos colegas, lá fui informar-me mas eles já sabiam, ouviram os comentários dos meus colegas e perceberam de imediato que algo deveria ter-se passado e aqueles professores eram como deuses na terra. Aconselharam-me, então, a candidatar-me ao Curso de Gestão de Empresas, cujas inscrições ainda estavam abertas, que até haveria muita probabilidade de passar, uma vez que eram os segundos exames. Pelo menos era o que costumava acontecer, disseram.

Mas já não estava interessada, afinal, o que quis foi sobretudo viver uma experiência, enfrentar um desafio, pôr-me à prova e, estava, sobretudo cansada. Decidi mandar aquilo tudo à merda.

Já era tarde, ainda me assustei porque o Metro já estava quase a fechar. No comboio, quando fui a reparar, a carruagem estava repleta de magalas, que se dirigiam para o Entroncamento. Eu, encolhida num cantinho, triste como as coisas tristes, sentia-me um passarinho ferido. Quanto aos magalas, olhavam para mim com uma expressão preocupada. Sim, eu vinha mal. Mas as lições de vida foram muitas. Ainda hoje posso ter perante mim uma pessoa tida como muito ilustre que eu não me deslumbro. Por detrás daquela carapaça cheia de brilho pode estar o maior dos canalhas, um grande monte de merda.

Mas aquilo fazia-se? Então, não vale de nada o empenho, a coragem, o arrojo, a presença de espírito de uma jovem de 25 anos (que eles perceberam bem que era uma pobretanas, e continuo a ser pobre) que se atira ao mundo num sonho de estudar?

Mas eles não viram o que estava perante eles? Não era uma jovem que iria estudar à pala dos proventos dos papás. Era antes alguém que estava prestes a contrariar a lei da reprodução social.

Mas o Universo manda muito. A saga continuou. E, à terceira, foi de vez. Esta será a próxima história de vida. E estou prestes a dar cabo da Lei de Lavoisier, ao afirmar convicta:

Na natureza No Universo, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Dar novos mundos ao meu mundo

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Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais. (José Saramago)


“Buscando caminhos nos processos de formação/autoformação”, li eu por aí, neste infinito que é a Internet. Uma premissa que veio ao encontro da minha concepção de vida, que é acrescentar sempre; não me refiro a pessoas, nem a coisas, refiro-me a ideias, a conhecimento, a potencialidades.

Sim, todos nós temos a obrigação de promovermos a nossa formação e aprendizagem contínua. Não devemos ficar satisfeitos com o que nos promete a nossa zona de conforto. Aliás, permanecer na zona de conforto é, seguramente, caminhar para a estagnação, versus frustração.

Consciente desta realidade, volta e meia tenho acessos de inquietação, que me levam a encetar caminhos que me possam ampliar os meus horizontes desgastados, que já não me trazem o que tanto necessito – o novo, a novidade e, por conseguinte, o incentivo para fazer e experimentar coisas novas.

Quis a mão do acaso, durante o ano passado, que encetasse um ciclo de Formações, todas elas no domínio do digital. Aprendi como se cria um Site, aprendi como se faz o Marketing e Gestão de Redes Sociais e agora há poucos dias, aprendi como se produzem Conteúdos com o Apoio da IA.

Foi como um novo mundo que se abriu para mim. Doravante, dificilmente terei períodos de tédio. Quando me sentir menos bem, vá, toca de ir brincar nas plataformas de IA, criar coisas, desenvolver habilidades, seja lá o que for. Só sei que as horas passam num ápice, e uma pessoa durante esse tempo aprende umas coisas.

Mas vamos ao que interessa, pois que, o que acabei de descrever foi só um introito para o que vem a seguir, que é verdadeiramente a substância deste artigo:

Há pouco tempo iniciei um mini curso de Produção de Conteúdos com o Apoio da IA. Na primeira aula, eu estava toda expectante. Não admito sequer que houvesse lá alguém com as orelhas mais espetadas do que eu, na ânsia de não perder pitada, igual aceito, mais do que eu nunca.


A dada altura, o Formador deu-nos instruções no sentido de elaborarmos um trabalho (Exercício1), que consistia num comentário argumentativo, no site Padlet, sobre o tema “A importância das aplicações da IA Generativa em diferentes sectores (indústria, saúde, educação).” Além disso, o Formando deveria “abordar os benefícios e desafios éticos associados a cada sector”.

Bem, estava eu a preparar-me toda decente, para fazer um trabalho arrancado das entranhas, com as minhas ideias, as minhas impressões, ou seja, tudo aquilo que me era genuíno senão quando, ao aceder ao site Padlet, reparei surpresa, que já lá estavam espetados 3 trabalhos.


Três formandos já se haviam desembaraçado da incumbência, enquanto eu ainda estava numa espécie de pré limiar. Repare-se que, tive a consciência de atentar que nem sequer estar no limiar. Estava no pré limiar. Quase entrei em pânico. Não era para menos, se insistisse naquela postura ainda hoje estava por acabar esse trabalho.

Mas não é que me ocorreu, pelo meio do meu desespero, de que tinha um recurso? Ou seja, o melhor era partir para o Chatgpt e fazer “copiar colar” e toca a andar que se faz tarde. Foi o que fiz de imediato, e fui bem sucedida, embora com algum peso na consciência. Ainda sou da velha guarda, do tempo em que copiar, era um acto punido de todas as formas possíveis e imagináveis, considerado até como um pecado mortal.

Daí vinha a minha renitência, e de não ter sido ainda mais rápida. Depois de todos termos feito o exercício é que me ocorreu que não tinha cometido nenhum ilícito, mas antes tinha acabado de demonstrar uma habilidade, que actualmente, no contexto em que vivemos é muito apreciada, considerada até uma mais valia.

Para corroborar a minha defesa, veio-me à ideia o 3º Seminário (trans)FORMAR Inteligência artificial vs Inteligência emocional – Que equilíbrio?, promovido pelo CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica.

Esta Organização já promoveu até agora três Seminários, especialmente dirigidos a Formadores e Professores. Já que falo nisto, fica-se a saber que sou Formadora, detenho o que é conhecido pelo antigo CAP e também sou E-Formador e Moodle. Por conseguinte, também habilitada a ministrar formações através das plataformas online. Por isso gosto e faço questão de assistir e estes Seminários.


Não tenho exercido, tenho mais que fazer, mas fiz tudo isto com empenho, com gosto, com paixão. Não foi preciso que ninguém me motivasse, que me “empurrassem”. Fui eu quem decidiu que tinha de o fazer, em prol do meu desenvolvimento pessoal, e esta particularidade tem o condão de me fazer sentir vitoriosa, ainda que não retire mais proveitos. Nem tudo deve ser feito só a pensar nas recompensas materiais.

Faço também saber que, desde o 1º Seminário promovido pelo CENFIM, tenho vindo a elaborar um resumo, muito à minha maneira, de acordo com aquilo que mais me impacta, e que publico neste meu blog. Pode ser acessado o 1º Seminário aqui. O 2º Seminário aqui.


Mas o que tem sido feito do resumo do 3º Seminário, que teve lugar no Hotel Vila Galé, Coimbra, no dia 26 de outubro de 2024? ? Não existe! Ou melhor, não existia até agora. E se não existia uma razão houve: não fui capaz de o elaborar porque não lhe achei o fio condutor, a que estava habituada. Não consegui fazer uma harmonização entre os variados oradores e o tema que deu origem ao Seminário. Falha minha com toda a certeza.

Mas houve uma excepção.

Essa excepção foi a apresentação do Professor André Pinho. É certo que o Psicólogo João Leite – também presente, pela terceira vez, tantas quantos os Seminários, é sempre uma lufada de ar fresco, uma presença inspiradora, renovadora, mas eu já lhe conhecia a linha de pensamento, mais coisa menos coisa. A verdadeira novidade foi André Pinho que disse coisas que até agora ainda ando a digerir…uma delas é o incentivo aos seus alunos para que usem o CHATGPT. Pois, se esta plataforma nos dá a “papa feita” em segundos, para quê perder mais tempo? Para quê?

Assim, dito à queima roupa, pode parecer um convite ao facilitismo ao relaxismo, mas não é…

O Professor André Pinho – Strategy Consultant | Adjunct Professor | PhD candidate @ BRU-IUL | INSEAD MBA, também apresentado como “médico de empresas”, postula que a IA transformou a Educação. Segundo ele, é preciso ter em conta que a IA “constrói respostas estatisticamente prováveis, com base nas informações que podem ser pobres ou até erradas” – na medida em que o que sai é um produto daquilo que entra. Mas então, o aluno que faz o seu trabalho com a ajuda do CHAGPT têm sempre uma outra tarefa à sua frente: certificar-se da exatidão das respostas fornecidas, de tudo o que foi apresentado, e corrigir se for o caso. Ora, ninguém está habilitado a certificar e a corrigir, se não souber minimamente a matéria. Ponto assente!

Posto isto, de uma coisa podemos ter a certeza. Que este recurso torna tudo mais veloz, e a velocidade é hoje um dos parâmetros com muito valor acrescentado.

A saber, segundo André Pinho:

Recursos ou competências do passado, que passaram a ser secundários:

  • Memorizar
  • Qualidade à primeira
  • Recolha de informação
  • Capacidade de trabalho

Recursos mais valorizados actualmente, ou competências do futuro:

  • Velocidade
  • Raciocínio integrado
  • Pensamento Crítico
  • Co-criação

Destas competências uma delas tem retinido persistentemente nos meus ouvidos: O que é, no que consiste, afinal, o Raciocínio Integrado?

Eis a resposta, com ajuda do Chatgpt, claro:

“”é uma abordagem que busca combinar diferentes perspetivas, conhecimentos e metodologias para resolver problemas complexos, tomar decisões ou criar soluções inovadoras. Ele vai além de pensar em partes isoladas de um problema e considera a interconexão entre os elementos envolvidos, integrando aspetos quantitativos, qualitativos, lógicos, intuitivos e até emocionais

Ora bem, foi a partir daqui que eu compreendi que, cabe às empresas criar os seus próprios talentos, treinando-os e fazendo-os sentir como parte integrante e importante dos processos criativos e produtivos. Ou seja, as pessoas têm de estar bem entrosadas nos processos porque só assim conseguem estabelecer as necessárias e imprescindíveis conexões. O conhecimento ocasional, isolado, não serve para nada, não funciona com eficácia.

Mas pronto, todo este meu arrazoado só para justificar que fiz e apresentei um trabalho à pala do CHATGPT. Pois, abençoado seja.

Adiante:

Durante o prosseguimento deste mini curso de Produção de Conteúdos com o Apoio de IA, nós, formandos, fomos convidados no “Exercício 2”, a criar um prompt de comando específico, sobre um tema à escolha, com a utilização de ferramentas de IA para geração de texto. Deveria ser utilizado em diferentes plataformas, para podermos discutir as diferenças entre elas.

Não consegui fazer durante a aula, pois fiz uma má aposta num determinado tema. A vantagem é que o trabalho poderia ser apresentado à posteriori, desde que fosse antes da próxima aula. Levei algum tempo a descobrir um tema que me interessasse. É que nestas coisas de estudo, de desenvolvimento pessoal, tem de haver gosto, paixão pelas coisas. Por que senão, tudo é um sacrifício. Mas num dado momento, veio-me à ideia um tema que me interessa bastante: a questão da nutrição de uma mulher da minha idade e com as actividades que desenvolvo, quer no trabalho, quer no meu tempo livre.

O mais curioso é que desconhecia de todo o que era o prompt! Saber no que consiste e suas regras foi um dos meus maiores ganhos. Bolas! Uma pessoa elabora um bom e eficiente prompt e qualquer plataforma de geração de texto nos dá um trabalho de fazer cair o queixo. Foi liminarmente o que me aconteceu com o meu prompt.

Fiquei de queixo caído!

E eu, que até tinha há uns tempos, recorrido aos serviços de uma nutricionista. Se for comparar o resultado que estas plataformas me forneceram, usei quatro, com o plano que essa nutricionista me facultou, nem sei o que dizer de tamanha pobreza.

Escusado será dizer que, ainda não comecei a seguir à risca o plano fornecido pelo Chatgpt, pois foi o que gostei mais, mas todos os outros têm um nível excelente. Mas logo vai. Nada de pressas. A pressa costuma ser má conselheira 😀

O Exercício nº 4, consistiu no desenvolvimento de um plano para uma marca ou organização fictícia, utilizando as estratégias de criação de conteúdo com IA. O Formando deveria definir os objectivos, o público alvo, os tipos de conteúdos, e as ferramentas de IA a utilizar.

Foi esclarecido que este plano apenas tinha como finalidade testar os conhecimentos adquiridos durante a formação pelo que, poderia incidir sobre a actividade profissional de cada um, algo que achássemos que poderia ser implantado.

Parti confiante para a tarefa proposta, já que tinha o mais importante, era detentora da técnica de como elaborar um bom e eficiente prompt.


Coloquei de parte a minha actividade profissional e incidi sobre a área em que fui especialmente preparada, já que apesar de não exercer formalmente, me custou muito dinheiro, garra, sangue, suor, pestanas queimadas e, sobretudo, muita convicção. Para alguma coisa me há de servir, ao menos! Estou a falar da formação em Serviço Social, vulgo Assistente Social.

Os meus olhos atónitos confirmaram o que já então suspeitava. Ou seja, o Plano apresentado, desenvolvido com IA e tendo em conta os parâmetros referidos no prompt, é simplesmente perfeito! Tudo feito em escassos minutos…

Com isto tudo, mal posso esperar pela próxima formação. Já está outra na calha!

Regressões

Publicado por: Milu  :  Categoria: FLAGRANTES DA VIDA, Regressões

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O que já fiz não me interessa. Só penso no que ainda não fiz.” (Pablo Picasso)

“Não voltes ao lugar onde foste feliz”, diz-nos a sabedoria popular. Confesso que, não foram poucas as vezes que já dei por mim, a desejar voltar aos lugares onde pretensamente fui feliz. E isto, apesar de bem entender, que o passado quer tenha sido bom ou mau, deve ficar lá atrás, de preferência bem enterrado, porque só assim se poderá abraçar o presente e o futuro sem amarras. Tudo tem o seu tempo próprio.

Mas o que é muito fácil de dizer nem sempre é fácil de fazer. Eu que o diga: ocasionalmente um simples evento do meu dia a dia, pode fazer espoletar na minha memória uma passagem de vida, que me faz mergulhar em pensamentos e conjecturas.

Um dia destes, desloquei-me a Lisboa com alguns propósitos, e um deles foi visitar o Centro Comercial Colombo. Sabe-se lá porquê, durante a viagem, assomou-me à memória a vez em que fui ao Amoreiras Shopping Center. Fui lá almoçar. Lembro-me que comi lulas.

Andava numa lua de lulas. Recentemente, tinha ido jantar a uma casa de fados lá em Lisboa e jantei umas lulas que me tinham sabido pela vida. Não sei se foi do ambiente à luz das velas, se das fadistas e das desgarradas, ou do vinho tinto, que me afogueava a cara, o certo é que foi um dia histórico para o meu bem-estar. Daí que nesse memorável dia a que fui a Lisboa e almocei no Amoreiras, tivesse optado por tal iguaria.

E o que fui eu fazer a Lisboa? Ora bem, fui fazer um exame na Faculdade de Direito para ingressar no Ensino Superior! E esta, hã?

Decorria o ano de 1986. Alguém me tinha informado que havia uns exames que se denominavam “ad hoc” (actualmente M23), através dos quais, se poderia ingressar no Ensino Superior.

Por essa altura eu também estudava, frequentava o Ensino Secundário e decidi de imediato dar um salto quântico e de uma assentada entrar no Ensino Superior. Ora se há outros que o fazem, que são capazes, por que não eu??

E assim fiz. Pelo meio do meu entusiasmo lá consegui arrastar comigo uma outra pessoa conhecida que também fez o exame, foi quem me deu boleia e até me ofereceu o almoço. Nunca mais soube dessa pessoa. Mas o que aconteceu comigo dá para contar aqui uma história.

Já dentro da sala, começámos por fazer uma prova de português, que me correu lindamente. No meu percurso como estudante sempre fui uma boa aluna a Português. De mais a mais, eu até andava nessa altura a estudar e tinha a matéria toda muito fresquinha. Safei-me bem na interpretação do texto e na gramática.

Mas, há sempre um mas! Havia também uma prova específica. Estas provas normalmente são constituídas por dois temas. Um dos temas versava sobre os linces da Serra da Malcata e o risco de extinção da espécie. Tinha lido há poucos dias um artigo precisamente sobre este tema, na revista Selecções do Reader’s Digest, uma grande revista, não pelo tamanho pois é uma revista pequena, mas grande pelo conteúdo, que costumava aparecer lá por casa. Alguém as comprava. Poderia ter feito uma prova brilhante! Lembrava-me perfeitamente do que estava descrito nesse artigo da revista, mas, vá-se lá saber porquê, que capricho foi esse do destino, que me impeliu para optar pelo outro tema, que se intitulava assim: “Relações entre a Arte e o Poder”. Vocês, que lerem isto, estão a ver a cena, não é?

De início tinha umas ideias, ou julguei que as tinha, e para lá as desenvolvi. Mas depressa esgotei o pequeno filão. A certa altura, eu já estava declaradamente a inventar, pois tinha de escrever um determinado número de linhas. Como andava num processo de libertação da catequização, da igreja e da religião, deu-me para enveredar pelo ramo da arte sacra e o poder aliado à igreja, sei lá que mais fui buscar aos recônditos do meu cérebro! Inventar parece fácil mas não é! O que me causa espanto é que, em qualquer momento, poderia ter optado pelo outro tema. Como me lembrava de tudo, num instante fazia outra prova. Mas alguma coisa, a mão do diabo, sei lá, me empurrou para ali!

Nunca soube o resultado do meu exame. Na altura achei que não valia a pena. Na minha ideia não teria sido aprovada por ter feito uma má prova específica. Para além disso, tinha um currículo de merda. Nenhum professor iria dar acesso ao Ensino Superior a uma maria ninguém. No entanto, mais tarde, um pormenor me intrigou: a pessoa que me informou sobre a existência dos exames “ad hoc” também fez, logo sabia como ter acesso aos resultados e terá visto inclusive os meus.


Por que será que nunca me falou sobre os resultados? Por que nunca me perguntou ou me incitou a ir saber o resultado? Teria eu tido uma nota positiva e essa pessoa não, e isso incomodou-a? Já ninguém me tira da cabeça que eu até fui aprovada! Pensando bem, eu se fosse professor catedrático até aprovava só para conhecer quem tinha escrito semelhantes coisas.
De qualquer das formas, uma coisa sei, ainda que tivesse sido aprovada não me encontrava com condições para deixar tudo e ir viver para Lisboa. Fi-lo mais tarde, pouco tempo depois, mas por outros motivos. E, pronto, mergulhada nestas cogitações, lá fiz a viagem até Lisboa.