O Duplo

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O Duplo

O Duplo

De

Fiódor Dostoiévski

Fiódor Dostoiévski nasceu em Moscou no dia 30 de Outubro do ano de 1821, foi considerado um dos maiores romancistas da literatura russa, tido como fundador do existencialismo e um dos maiores inovadores artistas de todos os tempos. A sua obra explora os sentimentos mais intrínsecos do ser humano: a humilhação, a auto destruição e as patologias inerentes ao estado psicológico do ser humano capazes de o levarem ao suicídio, à loucura e ao homicídio. Fiódor Dostoiévski esteve preso e em 1849 é condenado à morte cuja pena foi depois comutada para trabalhos forçados na Sibéria, tendo sido amnistiado no ano de 1855. Há quem defenda a teoria de que terão sido as suas dificuldades pessoais que o impulsionaram rumo a uma carreira em que se notabilizou como um dos maiores romancistas do mundo. No Ano de 1846, publicou O Duplo, quando tinha apenas 24 anos, meses depois da publicação do seu primeiro romance Gente Pobre. O livro Crime e Castigo, publicado em 1866 foi reconhecido como uma das obras mais famosas da literatura mundial. O seu último romance Os Irmãos Karamazov foi considerado por Sigmund Freud como o melhor romance já escrito. O movimento do modernismo, as ciências da teologia e psicologia beberam na fonte das suas ideias.

O Duplo da autoria de Fiódor Dostoiévski é um intrigante romance que se destaca principalmente pela densidade e profundidade dos conflitos existenciais que nele estão patentes. Está implícita na narrativa, uma luta de tal forma renhida entre sentimentos tão infinitamente antagónicos, que fiquei exausta depois de ter lido este livro. O drama humano que aqui está representado continua actual e presente um pouco na vida de todos nós e, infelizmente, comungo de uma certeza – que permanecerá intemporal por toda a eternidade, enquanto vida Humana. Goliádkin é um funcionário público possuidor de raro carácter, dotado dos melhores princípios e qualidades morais, contudo, vive o dia-a-dia com nítida dificuldade, sem lograr alcançar a tão desejada harmonia e sã convivência com o mundo em que vive inserido, mas que não compreende, pois nele imperam, acima de tudo, os interesses pessoais e a hipocrisia. Goliádkin mergulha num mar de dúvidas e sentimentos de tal forma angustiantes e envoltos em contradição que lhe deturpam a razão, levando-o a sentir-se como um pobre animal perseguido.

duplo

Movido por uma intensa revolta envolve-se numa eterna e inglória contenda, na qual combate cego e surdamente contra preceitos tão usuais e característicos de uma sociedade, que mau grado seu, vê espelhada no departamento onde trabalha e no relacionamento com os seus colegas, atitude que o conduz, inevitavelmente, a uma grave desordem emocional. Vítima de uma imaginação delirante é arrastado para um patamar de insanidade,  a partir do qual dá vida a uma personagem fictícia, materializando-a num duplo de si mesmo, no qual projecta toda uma panóplia de características por si consideradas como socialmente abomináveis. Numa palavra, o duplo incarna tudo aquilo que ele próprio não é, nem consegue ser mormente a sua matriz educacional e moral. Imerso numa confusão de paradigmas  conjectura contra si, contra aquilo que é, contra o que não é, tentando definir o que gostaria de ser ou o que pensa que deveria ser. Martiriza-se a si próprio, sem dó nem piedade, faz de si uma vítima constante, tornando o  seu duplo, num duplo vencedor! Vencido e desmoralizado o nosso  herói observa o modo de agir do seu duplo, como conquista as simpatias e alcança o reconhecimento, saracoteando-se, insinuando-se, apertando a mão a um, sorrindo para outro, dando uma palmadinha no ombro àquele e pisando e derrubando impiedosamente quem ousa causar -lhe algum estorvo, no fundo, fazendo tudo aquilo de que ele próprio, Goliádkin, nunca seria capaz. Conclui pois que está irremediavelmente perdido, não é de cá! Este mundo não é o dele!

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