A Palestina

Publicado por: Milu  :  Categoria: A Palestina, ISLÃO

Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.” (Einstein)

Prosseguindo nesta minha iniciativa de elaborar um trabalho que denominei de mini curso sobre o Islão, apresento-vos hoje um excerto sobre a Palestina. Através dele são introduzidos novos termos, como o sionismo, a Diáspora e o anti-semitismo. Neste pequeno excerto também podemos constatar a maldita cobiça, na sede sempre presente pelo imperialismo, (política de expansão e domínio territorial, cultural e económico de uma nação dominante sobre outras). Esta prática da formação de impérios que se desenvolveram e, em muitos casos, foram dissolvidos ou substituídos por outros, está registada na história da humanidade. Boas leituras!

“O caso mais complicado do novo xadrez imperial britânico no Médio Oriente era o mandato sobre a Palestina, atingido desde o princípio por uma agenda contraditória, que por um lado prescrevia a criação de uma «Casa nacional para o povo judeu» e por outro queria salvaguardar os direitos políticos e económicos das comunidades não judaicas – árabes e cristãs – que ali existiam. O sinonismo moderno é uma forma de nacionalismo judaico, aparecida nos finais do século XIX, que defende a criação de um Estado no território de origem do povo judeu – a Palestina. Tirou o nome da ideia messiânica do regresso a Jerusalém (Sião, na versão bíblica tradicional). Note-se que muitos judeus ortodoxos são violentamente contrários ao sionismo e defendem a permanência da Diáspora*, como modo e lugar ideal de viver o judaísmo” (PINTO, 2015: 67).

O movimento teve causas directas, como o recrudescimento do anti-semitismo** na Rússia, na Europa Oriental e em França, e teve como textos de referência obras como «O Estado Judeu», de Theodor Herzl, que, em 1897, tinha promovido em Basileia o primeiro congresso da Organização Mundial Sionista” (PINTO, 2015: 68).

A Declaração Balfour, pela qual Londres se comprometia com a fundação na Palestina de um «lar para o povo judeu», abria passo a um reforço da imigração judaica, como colonatos apoiados pelos Rotschild. Os sionistas também se dividiam em relação aos árabes e às políticas restritivas de Londres: enquanto um núcleo, chefiado por David Ben-Gurion, advogava uma posição moderada, negociadora, perante palestinianos e ingleses, outro, liderado pelo jornalista e activista Vladimir Jabotinsky, preconizava a criação de um Estado judaico por quaisquer meios” (PINTO, 2015: 68).

Graças aos fortes propósitos do movimento sionista de retornar a Israel, nas vésperas da Grande Guerra haveria já, na Palestina, cerca de 85 000 judeus. Depois da Declaração Balfour (1917), esta migração de judeus para a Palestina, acompanhada da aquisição de terras pelo Jewish National Fund, foi dando origem a um ciclo de confronto: em 1935, os nacionalistas palestinianos passavam à luta armada contra os ingleses e os colonatos judaicos, inaugurando um tempo de violência que dura até hoje” (PINTO, 2015: 68).

Em 1937, a Peel Commission, uma comissão nomeada pelo gabinete de Londres, reconhecia que entre os cerca de um milhão de árabes e 400 000 judeus que estavam na Palestina não havia comunidade nem entendimento possíveis e que, assim sendo, a partilha territorial era o caminho a seguir. Só que a partilha territorial então preconizada não era propriamente equitativa: das terras da Palestina, os judeus recebiam a melhor parte – quer em localização geográfica, quer em riqueza agrícola. A agravar as coisas, a Peel Commission previa ainda transferências populacionais para fazer coincidir as zonas atribuídas com as comunidades étnicas. Finalmente, os árabes não iam ter direito a um Estado palestiniano, ficando com as suas áreas adstritas à suserania de Abdllah, rei da Jordânia” (PINTO, 2015: 68-69).

O resultado foi a revolta armada – com atentados contra os militares e funcionários ingleses e contra colonos judeus. Estes ataques e assassínios causaram, por sua vez, uma violenta repressão. Foram 25 000 os soldados e polícias britânicos que dela se encarregaram, destruindo casas de suspeitos, internando em campos de concentração cerca de 10 000 activistas e simpatizantes da revolta e fazendo 5000 mortos” (PINTO, 2015: 69).

A resistência palestiniana e o começo da guerra na Europa levaram Londres a esquecer o relatório Peel e a publicar uma nova norma (o White Paper), com recomendações para uma solução mais equitativa: limites à emigração judaica (um tecto de 15 000/ano) deviam conduzir a um maior equilíbrio entre as comunidades, ficando os judeus com um terço da população total; previa-se também a criação, em dez anos, de um Estado palestiniano sob um governo misto de árabes e judeus” (PINTO, 2015: 69).

De acordo com as disposições de Sykes-Picot, na partilha dos domínios otomanos do Levante, à França cabiam o Líbano e a Síria, mais um pedaço da Anatólia. Faiçal, o filho de Hussein, fora proclamado rei da Síria pelo Congresso Sírio, reunido em Damasco, em Março de 1920, mas a Conferência Aliada decidira outra coisa, com o apoio da Liga das Nações, reconhecendo o mandato francês sobre a Síria e o Líbano. Era um velho sonho colonial de Paris, que vinha das Cruzadas e se repetira com Napoleão, tendo por base demográfica as comunidades cristãs orientais do Líbano e da Síria” (PINTO, 2015: 69).

Assim, entre 1920 e 1930, os árabes e os muçulmanos do globo estavam ou ficavam sob tutela dos europeus. No Médio Oriente, tinham trocado o domínio turco – exercido pelos seus correligionários religiosos – por um condomínio de «poderes cristãos», os imperialismos laicos e económicos de Londres e Paris. No resto do mundo, o controlo estendia-se ao Índico e ao Pacífico, à Índia britânica e à Indonésia, onde existiam grandes comunidades islâmicas, também dominadas pelos ingleses e pelos holandeses (PINTO, 2015: 69-70).

Geralmente, as potências europeias exerciam o poder ou directamente, colonialmente, ou em regime de mandato ou tutela, apoiados em potentados locais, como os Hachemitas no Levante ou os sultanatos e emiratos do Golfo Pérsico. De qualquer modo, para comunidades com uma longa tradição civilizacional, com cidades, cultura, negócios, elites sofisticadas, esta perda da independência política era humilhante” (PINTO, 2015: 70).

*Diáspora: A palavra Diáspora deriva do hebraico e significa dispersão, expulsão e exílio. É o termo que define as migrações do povo judeu – quase sempre por expulsão. Assim, acabaram por se espalhar pelo mundo. As consequências directas da Diáspora estão na formação das comunidades judaicas. É prevista na Bíblia e define a busca do povo pela terra prometida. O Egipto e a Babilónia foram os destinos dos judeus nos dois principais movimentos de Diáspora a partir do século 6 a.C. Embora tenham sido escravizados, o movimento permitiu a troca de informações culturais, linguísticas e religiosas, reforçando a identidade dos povos. No exílio, o povo judeu manteve a tradição de disseminação das escrituras por meio dos centros de estudos judaicos.

**Anti-semitismo: Preconceito contra ou ódio aos judeus. O Holocausto é o exemplo mais radical de anti-semitismo na história. (Semita: termo criado pelo orientalista alemão August Ludwig Schlözer, utilizando o nome de um dos filhos de Noé, Sem, e servia para designar as línguas cujo parentesco foi estabelecido na Idade Média pelos eruditos judeus: o hebraico, o aramaico e o árabe. Actualmente os povos chamados de semitas são essencialmente judeus e árabes, mas na antiguidade também havia assírios, babilónios, arameus, cananeus e fenícios).

Bibliografia

PINTO. N. Jaime. (2015). O Islão e o Ocidente. A Grande Discódia. Dom Quixote. Alfragide.