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“Existem definições distintas de «droga» consoantes os diferentes países, a cultura em que estão inseridos e a lei que os rege.
Por exemplo, nas montanhas da Colômbia as pessoas são obrigadas a beber chá de coca ou a mascar as suas folhas para conseguirem suportar a altitude em que se encontram, uma vez que a atmosfera respirada naquelas altas cidades da Cordilheira dos Andes possui menos oxigénio. Mas as razões podem ser igualmente estritamente culturais ou religiosas, como é o caso da Índia. Neste país os sacerdotes ou «sadus» (como são vulgarmente chamados) do Hinduísmo, que vivem normalmente retirados nas grutas das montanhas do Himalaia, fumam diariamente grandes quantidades de haxixe e justificam esse acto como forma de ligação privilegiada com o divino. Os cientistas acrescentam que o consumo dessa substância deve-se não apenas a um aspecto religioso, mas também de sobrevivência, ajuda-os a suportar a fome e o frio das grutas geladas do Himalaia” (Cruz, 2000: 11).
“As «drogas» consumidas em grandes quantidades pela população mundial que são proibidas fora do âmbito farmacêutico acabam por ser comercializadas ilegalmente, sendo uma das principais fontes de rendimento de algumas economias, sobretudo, na América Latina e Ásia Menor, as duas regiões do mundo maiores produtoras destas substâncias químicas. Entre elas podemos destacar as mais conhecidas: o haxixe são as extremidades e a resina do Cannabis (folhas e flores) e que é frequentemente fumado ou tomado por via oral criando grande dependência psíquica e física; a cocaína que é originária da folha da coca sendo frequentemente injectada, inalada ou tomada por via oral (sob a forma de crack; a heroína, por sua vez, deriva da morfina e pode ser injectada, fumada e inalada; e, por fim, as drogas sintéticas como o LSD que é tomada por via oral sendo a dependência psíquica baixa e a física, praticamente nula, os solventes que são frequentemente inalados e, finalmente, o ecstasy, cuja sensação provocada é de bem estar e alegria, conjuga-se bem com o prazer procurado pelos jovens no fim de semana, nas discotecas” (Cruz, 2000: 15).
“O Comité de peritos da O.M.S. em 1957 distinguiu entre «habituação» e toxicodependência. O «hábito» é a necessidade do emprego continuado de uma droga, cuja supressão provoca transtornos psíquicos ou físicos. A toxicodependência é um estado de intoxicação periódica ou crónica, prejudicial para o indivíduo e para a sociedade, produzido pelo consumo repetido de uma droga. Este último estado caracteriza-se pela tolerância, dependência psíquica – desejo invencível de tomar determinada substância – e dependência física. Segundo esta «Organização», existem drogas, que de uma maneira especial, dão lugar a toxicodependências, as principais são a morfina, a cocaína e os barbitúricos. Estas drogas formam o grupo dos denominados estupefacientes. No entanto, há drogas que apenas produzem dependência psíquica, sem compulsão nem perigo para a sociedade: são as denominadas drogas de habituação. Na produção desta habituação apresenta-se como papel determinante a produção de euforia e a sensação de bem estar. De referir que as toxicodependências ou toxicomanias podem desenvolver-se tanto em sujeitos sãos (tratados esporadicamente com um estupefaciente) como em neuróticos, psicopatas ou psicóticos. Em ambos os casos o principal transtorno é a deterioração do carácter.
Neste contexto, e em atenção ao perigo que para a sociedade significava o uso indevido de estupefacientes quase todos os países passaram a sancionar o tráfico ilícito dos mesmos, configurando esta infracção como um delito «contra a saúde pública». Contudo, substâncias como o álcool, a nicotina, a cafeína, o chá preto e os psicotrópicos, embora, igualmente prejudiciais, não figuram nesta lista sancionável, sendo hoje uma das maiores fontes de problemas para a saúde mundial” (Cruz, 2000: 16-17).
(…)
O ALCOOLISMO
“A história da humanidade mostra que o homem desde cedo começou a usar as bebidas alcoólicas pelo seu efeito tónico e euforizante, que permitia o alívio da angústia e a libertação de repressões. Contudo, no pretérito ou no passado, a miserável condição económica em que vivia essa imensa massa deserdada pode ter motivado uma situação de alcoolismo, pautada pela insuficiência de alimentação, a generalizada ignorância e as ansiedades de evadir-se aos problemas graves da vida, também as classes mais privilegiadas abusaram do álcool para fugir ao tédio que a carência de problemas pode proporcionar a quem, com a ausência de um fim transcendente, põe todo o sentido da vida na posse e desfrute dos bens materiais presentes.
A mudança das formas de vida tradicionais, estáveis e baseadas, frequentemente, numa economia agrícola de limites locais, para outras completamente inéditas, competitivas, instáveis, com tendência à industrialização – ou plenamente industrializadas -, com repercussões de facores económicos nacionais e inclusive internacionais, produz evidentes desajustes sociais, que do ponto de vista do álcool, determinam que cada vez, e em maior medida, seja considerado como droga sedante ou estimulante (conforme os objetivos em causa) para conseguir um ajuste mais satisfatório na vida” (Cruz, 2000: 21).
“O alcoolismo entre os jovens é uma realidade dos nossos dias, que cada vez afeta idades mais precoces, e que vai perturbar, não só a maturação emocional destes, configurando-lhes uma personalidade mal ajustada e frustrada, como também, em grande medida, lesiona na sua essência, o processo de maturação ética que impossibilita a inserção na convivência social e a adoção dos valores morais que são o antecedente necessário ao bem estar humano, substituindo-os por factores, meramente, instinto-afectivos integrados por tendências e impulsos primitivos não subordinados a normas éticas. O problema é tão grave que há estatísticas que confirmam que, nas idades compreendidas entre os doze e os dezoito anos, existem milhares de jovens alcoólicos” (Cruz, 2000: 22).
Bibliografia
CRUZ, Alcino. (2000). As Drogas Socialmente Aceites. Campo Grande Editora. Lisboa.