Há algum tempo que tenho vindo a ler algumas críticas aos livros de auto-ajuda, mas eu, que até gosto deste género, não me deixo derrotar facilmente, e contraponho com o argumento, de que autores considerados sérios, consagrados, autoridades por assim dizer, também escreveram livros de auto-ajuda. O filósofo e matemático inglês Bertand Russell, por exemplo, autor de “A Conquista da Felicidade”. Um outro exemplo é o psicólogo americano Albert Ellis, que criou a TCER – Terapia do Comportamento Emotivo Racional, e escreveu vários livros, um deles, “Como Conquistar sua Própria Felicidade”. E Sócrates, o filósofo? Está bem, não escreveu livros, mas alguém os escreveu por ele. O que nos quis ele dizer, quando num dia em que passeava numa praça onde decorria uma feira, olhando para as bancas repletas, nas quais reluziam as ricas louças, proferiu: “Tanta coisa que não me faz falta”! Precioso ensinamento.
O importante é saber ler, com espírito crítico, e não se sentir obrigado a concordar com tudo. O certo é que os livros de auto-ajuda podem levar-nos a reflectir sobre aspectos da nossa vida, ou de nós próprios, que nunca antes havíamos pensado. Tal como este livro, do qual hoje trago um pequeno excerto, que considero como que uma viagem ao nosso interior. Quantas vezes, nos dirigimos ao frigorífico, olhamos para o seu interior, cheio e com os mais variados alimentos, e parece que nada daquilo nos satisfaz, seja lá o que for que optarmos por ingerir? E num só dia repetimos este gesto variadas vezes… Se ler este post, compreenderá que num momento desses, o nosso “mal” pode ser qualquer um, menos fome ou necessidade de comida. Se se interessar e adquirir este livro, posto que apenas reproduzi aqui a Parábola do Semeador, ou seja, atirei as sementes, é muito provável que você desperte para as suas verdadeiras necessidades e comece a operar mudanças no seu comportamento alimentar. Tudo o que aproveitar da leitura deste livro valerá a pena. As mudanças são sempre bem vindas. Faça o que aconselha Confúcio.
“Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo.” Confúcio
Apresentação da obra e seu autor
Tem Fome de Quê?” da autoria de Deepak Chopra, – Médico especialista em medicina interna, é considerado um dos grandes líderes na redefinição dos conceitos de saúde e na relação corpo/espírito. A revista Time considerou-o um dos 100 Ícones e Heróis do Século, descrevendo-o como «o poeta-profeta da medicina alternativa». Autor bestseller do New York Times, já escreveu mais de 75 livros, publicados em 35 países.”
“Se quiser regressar ao seu peso ideal, tem duas opções. Pode começar a fazer uma dieta ou outra coisa. Este livro trata desta outra coisa. Fazer dieta implica o tipo de motivação errada, e é por isso que raramente conduz ao objectivo desejado.
Está a escolher o caminha da abnegação e da privação.
Quando está em dieta, todos os dias luta contra a sua fome e pelo seu autocontrolo.
Existe forma mais insatisfatória de viver?
O acto de perder peso deve gerar satisfação para poder ter êxito: isto é a «outra coisa» que funciona depois de as dietas terem falhado. Se voltar a equilibrar os sinais de fome do corpo, o seu impulso para comer torna-se o seu aliado em vez de um inimigo. Se confiar que o seu corpo sabe aquilo que precisa, ele vai tomar conta de si em vez de protestar.
Tem tudo a ver com compreender as mensagens que ligam a mente e o corpo.
Em medicina, fui formado para analisar a fome quanto à subida e descida de certas hormonas. A fome é uma das mensagens químicas mais poderosas que o cérebro envia ao corpo. Uma pessoa não deveria sentir fome logo depois de comer uma refeição, e um lanche durante a tarde não deveria levar a um segundo ou a um terceiro. Mas senti estas coisas – tal como milhões de pessoas -, o que significa que a experiência de fome pode existir mesmo que a necessidade de alimentos não exista.
É esta experiência de fome que tem de mudar quando dá por si a comer em excesso. Os desejos de comida e a falsa fome não são o mesmo que dar ao seu corpo o combustível de que precisa. O seu corpo não é como um carro a consumir gasolina. É a expressão física de milhares de mensagens que estão a ser enviadas para e pelo cérebro.
O acto de comer envolve a sua auto-imagem, os seus hábitos, condicionamento e memórias.
A mente é a chave para perder peso, e, quando a mente está satisfeita, o corpo deixa de desejar demasiada comida.
Uma abordagem mente-corpo vai funcionar porque lhe pede apenas uma coisa:
ENCONTRE O QUE LHE TRAZ SATISFAÇÃO!!!!!
Estar satisfeito é algo que a comida não consegue fazer por si só. Deve nutrir:
⇒ O corpo com comida saudável;
⇒ O coração com alegria, compaixão e amor;
⇒ A mente com conhecimento;
⇒ O espírito com serenidade e autoconsciência.
Com consciência, todas as coisas se tornam possíveis. Mas, se as descurar, ficam cada vez mais longe do seu alcance.
Parece um paradoxo, mas, para perder peso, deve encher-se.
Ao encher-se com outros tipos de satisfação, a alimentação deixa de ser um problema. Nunca deveria ser um problema, pois comer é uma forma natural de nos sentirmos felizes. Comer em excesso não é. Durante séculos, a vida tem sido celebrada com banquetes, e algumas destas celebrações, como os banquetes de casamento, podem ser o ponto alto da vida de uma pessoa. Que criança não fica feliz quando surge o bolo de aniversário? Porém, o prazer que a comida gera torna peculiar e único o problema de comer em excesso. Sentir-se feliz, o que é bom para si, transforma-se em algo que é mau para si.
Neste momento, o leitor está algures nesta escala móvel que associa a comida à felicidade:
Alimentação normal → Alimentação excessiva → Desejos alimentares → Vício de comida.
Comer normalmente faz com que se sinta bem.
Comer em excesso fá-lo sentir bem no momento, mas leva a maus resultados a longo prazo.
Ceder a desejos de comida não o faz sentir nada bem: instalam-se quase de imediato o remorso, a culpa e a frustração.
Ser viciado em comida traz sofrimento, uma saúde degradada e uma total falta de amor-próprio.
(…)
Então, porque é que a alimentação normal começa a transformar-se em alimentação excessiva?
A resposta é simples:
falta de satisfação!!
Começa a comer em excesso para compensar uma carência noutra área qualquer.
(…)
Podemos estar distraídos e esquecer-nos de comer, ou podemos estar obcecados e pensar em comida o dia todo. No entanto, estamos sempre em busca de satisfação. Há muitas coisas com que se pode preencher além de comida. O desejo vem de necessidades, começando pelas mais básicas.
Todos precisam de se sentir em segurança.
Todos precisam de se sentir nutridos.
Todos precisam de se sentir amados e valorizados.
Todos precisam de sentir que a sua vida é relevante e que tem sentido.
Se tiver preenchido estas necessidades, a comida vai ser apenas um prazer entre muitos. Mas há inúmeras pessoas que comem em excesso como substituição daquilo que querem realmente. Torna-se um jogo de substituições e, muitas vezes, as pessoas nem se apercebem.
É esta a situação em que se encontra?
Eis alguns indicadores comuns. Só se sente seguro quando está entorpecido por ter comido demasiado. O entorpecimento provoca uma espécie de calma que dura pouco tempo
Só se sente nutrido quando as suas papilas gustativas estão estimuladas em demasia com açúcar, sal e gordura.
Não se sente amado e valorizado e por isso transforma a alimentação em «dar algum amor a mim próprio».
A sua vida não tem sentido mas, pelo menos, quando come consegue ignorar o vazio dentro de si durante algum tempo.
Se deixar de se concentrar tanto na dieta e nas calorias, poderá ver que a história de excesso de peso nos EUA é uma história de falta de satisfação.
- Temos os melhores alimentos do mundo à nossa disposição, mas empanturramo-nos com os piores.
- Temos oportunidades abençoadas para crescer e evoluir mas, em vez disso, sentimo-nos vazios.
O meu objectivo é trazê-lo para um estado de satisfação. Quando isso começar a acontecer vai deixar de comer pelos motivos errados. A solução é simples mas profunda: para perder peso, cada passo do caminho deve ser satisfatório. Não tem de se psicanalisar, pode deixar de se obcecar com o seu corpo e de remoer a desilusão e a frustração. Só se aplica um princípio:
a vida deve trazer satisfação.
Se a sua vida não o satisfaz, o seu estômago nunca poderá dar-lhe o que está em falta.
Tenho fome de quê?
A história de vida de todas as pessoas é complicada, e as melhores intenções podem ser goradas porque as pessoas têm dificuldade em mudar. Os maus hábitos, tal como as más memórias, perduram com teimosia quando gostávamos que desaparecessem. Mas o leitor tem uma grande motivação a seu favor, que é o seu desejo de ser feliz. Defino felicidade como o estado de satisfação, e todos queremos sentir-nos satisfeitos. Se tiver isto em conta, a sua motivação mais básica , as escolhas que faz resumem-se então a uma única questão:
«Tenho fome de quê?»
O seu verdadeiro desejo vai levá-lo na direcção certa. Os falsos desejos levam-no na direcção errada. Pode fazer um simples teste para prová-lo a si mesmo: da próxima vez que for buscar qualquer coisa para comer ao frigorífico, pare um instante. Está a ir buscar comida porquê? Só há duas respostas:
- Está com fome e precisa de comer.
- Está a tentar preencher um vazio, e a comida tornou-se a forma mais rápida de o fazer.
A medicina moderna tem um extenso conhecimento sobre os estímulos que desencadeiam o impulso de comer. O seu corpo segrega hormonas e enzimas que ligam o centro da fome no seu cérebro ao estômago e ao trato digestivo. Quando era bebé, este era o único tipo de estímulo a que respondia. Chorava porque tinha fome. Agora, poderá acontecer o contrário: quando tem vontade de chorar, fica com fome.
Durante uma vida inteira, criamos novos estímulos que um bebé nunca poderia antecipar. A depressão é um estímulo muito conhecido para comer em excesso. O mesmo acontece com o stress, uma perda repentina, o sofrimento, a raiva reprimida e muitos outros. É mais vulnerável a quais? Provavelmente só tem uma vaga ideia. A maioria das pessoas não tem consciência de quando o seu comportamento alimentar é motivado por algo, porque os estímulos são, muitas vezes, inconscientes – e é isso que os torna tão fortes. Reage automaticamente, sem pensar.
Questionário:
O que o leva a comer em excesso?
Os estímulos mais comuns para comer em excesso constam das listas seguintes. Alguns são mais fáceis de superar do que outros. Veja estas listas e assinale as causas mais comuns que o fazem comer mesmo quando não tem fome. Marque todos os itens que achar que se aplicam a si.
Grupo A: Costumo comer em excesso quando
⊗ Estou ocupado ou distraído no trabalho;
⊗ Estou com pressa e ando de um lado para o outro;
⊗ Estou cansado, não dormi o suficiente;
⊗ Estou com outras pessoas que estão a comer;
⊗ Vou a um restaurante;
⊗ Estou à frente da televisão ou do computador e preciso de ocupar as mãos com qualquer coisa;
⊗ Tenho um prato de comida à minha frente e sinto que devo limpar o prato.
Grupo B: Costumo comer em excesso quando
⊕ Estou deprimido;
⊕ Me sinto sozinho;
⊕ Me sinto pouco atraente;
⊕ Me sinto ansioso ou preocupado;
⊕ Tenho pensamentos negativos sobre o meu corpo;
⊕ Estou com stress;
⊕ Quero ser reconfortado.
Autoavaliação: Se todos ou a maioria dos itens que assinalou pertencem ao grupo A, os seus estímulos são os mais fáceis de superar. Tem de prestar mais atenção aos seus hábitos alimentares, mas isso deverá ser relativamente simples. Poderá dar por si a comer quando não tem fome porque o seu principal problema é a distração. Assim que se focar numa coisa de cada vez – a refeição à sua frente -, vai conseguir controlar uma alimentação desatenta.
Se todos ou a maioria dos itens que assinalou pertencem ao Grupo B, tem fome de algo que vai além da comida, e prestar atenção a essas coisas será a melhor forma de perder peso.
Uma coisa importante é não fazer dieta!
O seu caminho não é a privação!
É satisfação noutras coisas além da comida!
O que fazer:
- Faça uma pausa e inspire profundamente.
- Pergunte-se se a sua fome está accionada por um padrão familiar, tal como sentir-se aborrecido, inquieto ou triste, ou querer uma distracção. Agora conhece alguns dos seus estímulos mais comuns, por isso veja se há algum deles envolvido.
- Assim que tiver identificado um estímulo, pergunte-se se precisa realmente de comer. Talvez possa encontrar uma actividade alternativa que adie simplesmente a reacção ao seu estímulo, tal como:
Θ Fazer uma tarefa doméstica;
Θ Telefonar a um amigo;
Θ Verificar o seu e-mail e responder a mensagens guardadas;
Θ Ler um livro;
Θ Beber um copo de água.
Qualquer distracção inofensiva serve. O seu objectivo é inserir uma pausa antes de reagir automaticamente a um estímulo. Se ainda continuar com fome, então coma. Mas mantenha o hábito de reparar nos seus estímulos desta forma: é um passo básico para os superar e dar-se mais liberdade para escolher. Prometi algo a mim mesmo antes de tratar do problema de comer em excesso: a solução devia funcionar aqui e agora. Um grande defeito das dietas é tornar-se infeliz hoje sob a promessa de que vai ser mais feliz amanhã. Mas o desejo não funciona desta forma. «Tenho fome de quê?» é uma pergunta que existe no momento presente . O impulso que sente pode ser simplificado em várias categorias básicas:
♦ Tem fome de comida.
♦ Quer preencher um vazio emocional.
♦ Quer preencher um vazio na sua mente (tal como baixo amor-próprio, uma má imagem física ou uma sensação de fracasso e de frustração).
A estes, acrescentaria um quarto impulso, que é espiritual. Quer preencher um vazio na sua alma.
Estas são motivações fortes, alimentadas pelo desejo. Assim que orienta o desejo para a direcção certa, pode sofrer uma verdadeira transformação. Todos nós seguimos o caminho do desejo todos os dias. O impulso de obter mais da vida é natural e profundo. Neste livro, vamos descobrir exactamente do que é que tem fome. Assim que souber, terá um caminho nítido que faz todo o sentido em termos de mente, corpo e espírito. Eis a forma como vai ser transformado:
Vai comer apenas quando tiver fome de comida!!
Não vai comer quando aquilo de que tem fome é emocional, em termos de conforto, segurança, amor, ligação com os outros ou uma sensação de alegria!!
Não vai comer quando tiver fome de uma vida que seja relevante e significativa, que lhe permita ter um propósito e alcançar os seus objectivos!! Estas são as necessidades da mente.
Não vai comer quando tiver fome de algo espiritual, tal como a leveza do ser ou uma visão mais elevada da alma!
Bibliografia:
CHOPRA, Deepak. (2014). Tem Fome de Quê?. Editora Nascente. Amadora.