O Tribunal de Sócrates

Publicado por: Milu  :  Categoria: O Tribunal de Sócrates, PARA PENSAR

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 “Transforme as pedras em que você tropeça nas pedras de sua escada.”

 Sócrates

“O que é a História? Unicamente recortes de jornais de tempos idos. Quando o leitor ajuda alguém, nenhum jornal publica a sua história; mas se matar alguém, todos os jornais falarão desse caso. E de que trata a História senão daqueles que foram incómodos, que deixaram feridas na consciência humana? Chama a isso História? Na sua mente só há lixo deste.

É estranho que as verdadeiras flores da inteligência nem sequer sejam mencionadas. Tive grande dificuldade em descobrir informações sobre tais pessoas. Procurei em muitas bibliotecas, tentando descobrir alguma coisa sobre elas, que foram realmente os criadores! Foram eles que abriram os alicerces.

Mas nós só conhecemos uma espécie de mundo, o mundo onde o poder é razão.

Num segundo nível, direito é poder. A inteligência acredita que consegue descobrir o que é certo.

Não há necessidade de lutar com espadas ou com bombas a matar-se mutuamente, porque a força não prova nada. 

Pense em Muhamad Ali a disputar uma prova de boxe com Buda Gautama… É evidente que Ali vencerá o primeiro assalto. Não haverá um segundo assalto, o primeiro soco será suficiente; o pobre Buda ficará esborrachado! E ao ver a situação, ele próprio começará a contar: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez. Não vai esperar que seja o árbitro a contar. Não se levantará do chão; deitado ao comprido, contará até dez. E dirá:

«Acabou-se – és tu o vencedor.»

Mas o poder não prova o direito – é perfeitamente correcto no mundo dos animais e no mundo do instinto.

A inteligência vira tudo do avesso:

«Direito é poder» – e o direito tem de ser decidido pela inteligência, pela lógica, pela razão, pela discussão.

 

DIREITO

 

 

Foi o que fez Sócrates no tribunal: Preparou-se para responder a qualquer pergunta que os jurados e os juízes lhe quisessem fazer. Sócrates perguntou-lhes:

«Quais são os meus crimes? Comecem a enumerá-los, um por um – estou pronto para responder.»

Sabiam que era impossível discutir com aquele homem – mas pensaram que Sócrates não conseguiria defender-se de crimes imprecisos. E, mesmo que o conseguisse, os jurados não ficariam convencidos, porque isso iria contra todos os seus condicionamentos. A primeira coisa que lhe disseram foi:

«O maior crime que tens andado a cometer é andares a corromper as mentes da juventude.»

Sócrates respondeu-lhes:

«Isso é verdade, mas não é um crime. E ao que chamais corrupção, eu chamo criação. Corrompestes as mentes desses jovens; agora eu tenho de destruir essa corrupção. E se vocês tiverem razão, então porque não abris uma escola, uma academia, tal como eu tenho a minha escola e a minha academia? As pessoas irão ter com aqueles que têm razão.»

Desde que Sócrates abrira a sua, todas as outras escolas de Atenas tinham fechado, porque, quando um homem como Sócrates ensina, quem pode competir com ele? Na realidade, todos os professores que dirigiam escolas tornaram-se alunos de Sócrates.

Ele era um verdadeiro mestre.

Sócrates disse-lhes:

«Apresentai-me um único jovem que esteja a ser corrompido por mim – e o que entendeis vós por corrupção?»

Responderam-lhe:

«Ensinais que não existe Deus nem deuses.»

Sócrates disse:

«Sim – uma vez que não há Deus, não há deuses. Que posso eu fazer quanto a isso? A culpa não é minha. Se Deus não existe, sois vós que estais a corromper as mentes da juventude, ou sou eu que estou a corromper as mentes da juventude? Eu digo-lhes simplesmente a verdade. Pensais que a verdade pode corromper as mentes da juventude?»

O debate continuou dias a fio.

Finalmente os juízes decidiram:

«No que diz respeito à inteligência, ele fechou a boca a todos – um único homem sozinho contra toda a medíocre sociedade de Atenas – por isso não deveríamos continuar a discutir; pediremos simplesmente um voto.»

Sócrates disse-lhes:

«Votar não vai provar o que está correcto e o que está errado… De facto, o mais certo é que as pessoas votem no que está errado, porque a maioria é formada por pessoas medíocres.»

Sócrates tentava estabelecer que o direito deveria ser decidido pela inteligência. Foi isso o que finalmente acabou por criar toda a evolução da ciência, porque em ciência não se trata de «ter o poder, logo ter razão». A questão é que qualquer pessoa pode provar que tem razão; o poder que ela possa deter não interessa.”

Bibliografia

OSHO. (2013). Intuição. Conhecer para além da lógica. Bertrand Editora. Lisboa. pp. 96-98.

Sobre OSHO:

“Os ensinamentos de OSHO não são fáceis de categorizar. Eles abrangem desde a busca de sentido do indivíduo até aos temas sociais e políticos mais prementes dos nossos dias. Os seus livros não foram escritos mas transcritos de registos audiovisuais de palestras improvisadas dadas por todo o mundo ao longo de trinta e cinco anos. OSHO foi descrito pelo The Sunday Times de Londres como «um dos mil construtores do século XX».