MEMÓRIA DE ELEFANTE

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MEMÓRIA DE ELEFANTE
De
António Lobo Antunes

António Lobo Antunes nasceu em Lisboa a 1 de Setembro do ano de 1942. É formado em medicina com especialização em psiquiatria, foi destacado para a guerra colonial em Angola nos anos de 1970 a 1973. Chegado da Colónia Portuguesa ingressou no Hospital Miguel Bombarda, onde exerceu medicina psiquiátrica. “Memória de Elefante” foi o seu primeiro romance, editado em 1979, ano em que iniciou, oficialmente, a sua carreira literária. Segue-se-lhe na peugada “Os Cus de Judas” (1979); “Conhecimento do Inferno” (1980); “Explicação dos Pássaros” (1981); “Fado Alexandrino” (1983) e o “Auto dos Danados” (1985), pelo qual recebe o Grande Prémio de Romance e Novela APE. Entretanto dedicou-se inteiramente à actividade literária, tendo deixado progressivamente a medicina, embora conservasse alguns pacientes, não abandonando completamente o seu trabalho no Hospital Miguel Bombarda. Continuou a sua profícua carreira literária com “As Naus” (1988); “Tratado das Paixões da Alma” (1990); “A Ordem Natural das Coisas” (1992); “A Morte de Carlos Gardel” (1994); “Livro de Crónicas” (1995), este, dedicado ao seu avô, que tanto o terá marcado. “Manual dos Inquisidores” (1996), recebe, então, o Prémio France Culture, granjeado pelo romance “A Morte de Carlos Gardel”. Publica “O Esplendor de Portugal” (1997), conquista mais uma vez o Prémio France Culture pela sua obra “Manual dos Inquisidores”. Publica a “Exortação aos Crocodilos” (1999), é galardoado com o seu segundo Grande Prémio de Romance e Novela APE e, ainda, Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus. No ano 2000 publica o livro “Não Entres Tão Depressa Nessa noite Escura” e recebe o Prémio de Literatura Europeia do Estado Austríaco pelo romance “Exortação aos Crocodilos”. “Que Farei Quando Tudo arde?” (2001); “Segundo Livro de Crónicas” (2002); “Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo” (2003) e é galardoado com o Prémio Internacional União Latina e o Prémio Ovidius da União de Escritores Romenos. Com o romance “Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo” recebe o Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril Sol. Tendo em conta toda a sua obra é-lhe entregue um dos grandes prémios internacionais de literatura, o Prémio Jerusalém. Em 2004, ano em que perfaz 25 anos de carreira literária publica “Eu Hei-de Amar Uma Pedra”. A seguir publica “Terceiro Livro de Crónicas” (2006); “Ontem Não Te Vi Em Babilónia” (2006), é agraciado com o Prémio José Danoso 2006, atribuído pela Universidade Chilena de Talca, No ano de 2007 recebe o Prémio Camões, com o seu 19º livro, “O Meu Nome é Legião”, ainda neste ano em Julho recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e em Setembro o Prémio Pablo Neruda. No dia 22 de Fevereiro do corrente ano foi-lhe entregue o Prémio José Danoso 2006, em cerimónia no Instituto Camões em Lisboa, o atraso na entrega atempada do galardão foi devido aos impedimentos causados pelo seu estado de saúde, mais tarde recebeu, também, o Prémio José Danoso 2007. Pelo livro”Ontem Não Te Vi Em Babilónia” é distinguido com o prémio espanhol Terence Moix, que o júri classificou como o melhor livro de ficção publicado em Espanha no ano de 2007, é condecorado pelo Governo Francês com as insígnias de Comendador das Artes e das Letras e ainda agraciado com o Prémio Juan Rulfo, sendo que, passou a ser o primeiro português a receber o galardão latino-americano.O génio não descansa, eis a mais recente obra: “ O Arquipélago da Insónia” (2008).

Actualização: “Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?” (2009)

“Memória de Elefante” é o primeiro romance da autoria de António Lobo Antunes, uma obra autobiográfica se avaliada à luz de acontecimentos que tiveram lugar na vida do escritor, os quais constam da sua biografia. A principal personagem desta narrativa é o próprio narrador, médico psiquiatra que após a separação da sua mulher e filhas, mergulha num estado depressivo profundo, chafurdando incessantemente e sem piedade nos recônditos da sua consciência, arrancando à memória tristezas do passado, remoendo-as incansavelmente, numa espiral de tortura, espicaçando a alma até fazer sangue. Incapaz de resolver as suas angústias, vive o tormento de ter de si uma imagem distorcida, sente-se um homem acabado, melhor ainda, um merdoso de merda, julgando-se indigno da sua própria mulher. Provavelmente terá sido a sua instabilidade emocional, que o levou a afastar-se da família numa errante procura de si mesmo, encetando uma caminhada que o arrastaria ao fundo de um negro e solitário poço. Evoca, exaustivamente, recordações de um passado que teimam em permanecer vivas e dolorosas, marcado pelo abominável de uma guerra, luta por exorcizar as imagens que se lhe impuseram aos olhos de forma tão desumana. No meio deste turbilhão emocional, que descamba num mar de reflexões, sobressai a admirável mestria com que o médico perscruta os meandros da mente humana. A linguagem obtusa que aqui e ali pontua o discurso serve, tão-só, para derramar um mar de raiva contida, que deveria ter sido expulsa em seu devido tempo. Termino esta minha dissertação, confessando que, durante a leitura deste livro tive momentos em que me ri e, livro que me faça rir, é um livro abençoado!

elefante

ENQUANTO ESTA MÚSICA DURAR ÉS SÓ MINHA

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ENQUANTO ESTA

MÚSICA DURAR

ÉS SÓ MINHA
De
Margarida Brum

Margarida Brum nasceu nos Açores e licenciou-se em História na Faculdade de Letras em Lisboa. É professora, orientou estágios e colaborou com vários departamentos do Ministério da Educação. Foi co-autora na elaboração de vários programas do Ensino Secundário.

“Enquanto esta música durar és só minha”, é um livro que nos revela a forma de sentir das mulheres de uma geração que vivenciou, na sua juventude, os tempos que antecederam a Revolução dos cravos. Ei-las aqui representadas! Um pequeno e unido grupo que se conhece desde os seus primórdios, indo além dos estudos Universitários, casamentos, divórcios e separações até à idade dos “enta”, então, já com filhos criados e, por conseguinte, aumentados os cadilhos. Movidas por um sentimento fraternal, vêm mantendo ao longo dos anos, o hábito regular de se reunirem  alternadamente em casa umas das outras,  no intuito de viverem uns instantes agradáveis, entregues à conversa e  coscuvilhice, tal e qual como manda a praxe, exorcizando assim, antigas maleitas e amarguras recentes! Por entre cascatas de chá e uns biscoitos, para ensopar, rindo das suas pequenas desgraças, relembram e troçam dos seus defeitos e pontos fracos, das lutas político-partidárias que um dia travaram, mormente os seus ímpetos revolucionários, tão majestosamente imbuídos de ideais próprios da sua condição, estudantes universitárias! Tudo vem à baila, os antigos namorados, as antigas colegas do percurso escolar, aqui e ali um episódio rocambolesco, envolvendo alguma outra colega, mais prepotente, com a qual nunca simpatizaram e que, comummente, designam como detestável. Como não poderia deixar de ser, sobressai todo um contraste educacional entre mães e filhas.  Foram meninas estudantes cujos horizontes não se compadeceram com os atávicos preconceitos das suas progenitoras,  situação que frequentemente deu azo a encarniçadas discussões verdadeiramente reveladoras de  algumas incompatibilidades! Rute, uma das amigas, nunca esqueceu, apesar de na altura, ter apenas 12 anos, uma conversa que ouviu à irmã, casada há dois anos, para com a mãe:”Mãe, mãe! O confessor dos Olivais, (um padre novo), disse-me que não era pecado gostar…”, hesitou à procura das palavras, para então continuar: “gostar de estar na cama com o nosso homem”. Resposta pronta da mãe: “Pois não, filha. É a nossa obrigação”. Bolas! Parece que, para a mulher, afinal, tudo se resume a um dever!!!  Aquela jovem terá sofrido agruras, julgando-se em pecado, imunda e indigna! Todo este mal-estar teve origem na formação da sua personalidade, resultante das quantidades maciças de catequese e missas que “papou”, ao longo da sua vida, logrando deste modo, uma imagem distorcida da realidade, impedindo-a de descortinar, com conhecimento, “onde mora” o verdadeiro mal…
Foi, também, esta geração que inaugurou uma nova forma de estar na vida, já não se namorava para casar. As raparigas, sempre que podiam, “enfiavam-se” nos quartos dos respectivos namorados que viviam em apartamentos alugados. Elas, por sua vez, pernoitavam em Lares de freiras, condição imposta pelos pais, convencidos de que, deste modo, as filhas estavam mais acauteladas e resguardadas… de tentações!… Mas que ironia…

Madalena é uma personagem que tem nesta obra, a distinta e nobre missão, de personificar a mulher actual, que vive só, por seu livre arbítrio. Casada com Francisco, tem um sonho antigo que a acompanha desde os mais verdes anos, ainda era criança e já dizia que, quando fosse grande, queria ter dez filhos. Cedo se apercebeu das inconstâncias do marido que, amiudadas vezes lhe fazia perceber que, o seu casamento, não duraria até a morte os separar. Grávida da sua filha Diana, decidiu, num acesso de pura sensatez, não tornar a engravidar! Ratoeiras, bem bastam as que a vida, de tão traiçoeira, nos vai armando… Cansada de aturar aquele bebé grande que era seu marido, divorciou-se! Dedicou-se com aprumo à sua profissão de professora, à filha, e aos amigos, a quem prestava apoio, quer cuidando das suas crianças quer emprestando o ombro para desafogo das suas mágoas. Pedro, divorciado e pai de três crianças a seu cargo é um dos amigos e grande admirador de Madalena. Morando em apartamentos distintos mas, sitos no mesmo prédio, as oportunidades para encontros eram frequentes, quanto mais não fosse, por motivos ligados às crianças. É neste contexto que nasce um sentimento profundo entre os dois, vivido a medo, por Madalena. Já se enganou uma vez!… No entanto, num supremo esforço, usa no dia-a-dia de bom senso e pragmatismo, esquecendo tudo o que ficou para trás, abrindo de par em par as portas do seu coração. Ao longo do tempo Madalena e Pedro, sempre fizeram as suas vidas mantendo-se parcialmente separados, cada um no seu apartamento, unindo-se apenas quando era necessário ou quando o desejavam. Sempre próximos um do outro, sempre disponíveis um para o outro, mas, sem se sufocarem! Muito bem! Concordo plenamente!

Os abutres

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Os Abutres
De
Artur Agostinho

Artur Agostinho nasceu em Lisboa, no dia 25 de Dezembro de 1920. Iniciou a sua actividade profissional como locutor de rádio, tendo ingressado aos 25 anos na Emissora Nacional. Foi jornalista desportivo, actor e apresentador de programas e concursos. Participou nos filmes “Capas Negras” (1947); “O Leão da Estrela” (1947); “Cantiga da Rua” (1949); “Sonhar é Fácil” (1951); “ Dois Dias no Paraíso” (1957); “O Tarzan do 5º Esquerdo” (1958) e “ Encontro com a Vida” (1960). Participou em programas de televisão, tais como: “No Tempo Em Que Você Nasceu”; “Curto-Circuito” e nas séries e telenovelas, “Clube das Chaves”; “Ana e os Sete”; “Sonhos Traídos”; “Ganância”; “Casa da Saudade” e “Tu e Eu”.

Foi na série “Ana e os Sete” que tive a oportunidade de ver, pela primeira vez, Artur Agostinho como actor, fiquei surpreendida com o seu notável talento para a representação, a que não será alheia, certamente, a intrínseca e particular faceta para comunicação.
“Os Abutres” é um romance da autoria de Artur Agostinho que nos traz um intrigante trama, onde não faltam os elementos essenciais e necessários para captar a curiosidade do leitor. Antes de mais, quero realçar a linguagem acessível, fluida e escorreita que nos é apresentada neste livro e, nem outra coisa seria de esperar, tendo em conta o seu autor! A história desenrola-se em torno de José Luís Marques que, vindo do nada, viu um dia nascer, fruto do seu carácter determinado e empreendedor, a sua própria empresa, a ETC (Empreendimentos Turísticos e Construções)! Como qualquer empresário bem sucedido, melhor ainda, um novo-rico, José Luís Marques  desenvolveu o gosto pelo requinte, pelo caro…Nem que fosse por uma questão de estatuto, tendo em dada altura, aderido à elitista modalidade desportiva, o golfe, cuja prática, além de prometer saúde, proporcionava alegres e descontraídos convívios entre os seus amigos e parceiros de jogo. Eis que um dia, Herculano Santiago, um dos comparsas do golfe, comunica-lhe que os restantes amigos do clube vêem com bons olhos, a possibilidade da candidatura de José Luís Marques à presidência da Câmara, nas próximas eleições autárquicas. Orgulhoso pelo convite, deslumbrado pela oportunidade de vir a contribuir, com o seu trabalho e dedicação, para o engrandecimento da sua terra, algures dentro dele, no seu âmago, no que de mais profundo é possível existir, um tremendo sentimento de vaidade emergia! Não deixa, mesmo assim, de usar de ponderação decidindo, por conseguinte, consultar Américo Cerqueira, seu grande amigo e braço direito, sem o qual jamais teria sido possível almejar a sua prestigiada condição. Detentor de uma mente lúcida, personificando a razão, Américo adverte-o para os esconsos motivos que, possam estar por detrás, das aparentes boas intenções demonstradas pelo seu grupo de apoiantes, o que não deixa de ser verdade, já que, às primeiras impressões e vista desarmada, facilmente se depreende que, pretendem sentar na cadeira de Presidente, uma pessoa de prestígio, que inspire confiança mas inexperiente nos meandros  da política, um fantoche, por assim dizer, para, livremente, mexerem os cordelinhos de acordo com os seus interesses. Américo, a voz da razão, chama-lhe a atenção para outro melindre, quiçá mais importante, que consiste no facto de José Luís Marques ser dono de uma empresa na área da construção civil, um óbice considerável, por ser passível de ser usado em futuros ataques vindos das mais diversas direcções, não deixaria de o ser, certamente, pela oposição, no intuito de minar uma campanha que se deseja livre de obstáculos, argumentou Américo lutando por advertir o amigo do desastre que se deixa adivinhar. Estava certo! Foi exactamente por esta fragilidade que a cúpula do Partido optou por outro candidato, atirando assim, José Luís Marques para um mar de desgosto, raiva e o consequente desejo de vingança que culminou na sua morte. A par destes acontecimentos a empresa também sofreu alguns abalos, mormente pelo progressivo afastamento do empresário, envolvido nas questões políticas e, mais tarde, pelo agravamento do seu estado de saúde. José Luís Marques revelou-se um homem cheio de princípios e justo, além de…Uma inábil pontaria para seleccionar os elementos do núcleo duro da sua empresa! Que ninho de cobras! Apre!…