“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”
Jesus Cristo
É hoje. E não passa de hoje!
Bem sei que, o que não falta, são artigos deste género pela Internet fora, mas não me vou deixar mais uma vez emudecer por esse facto. Pelo contrário, faço questão de, muito à minha maneira, também aqui vir dar o meu contributo.
Assim, depois de muitas arremetidas frustradas para criar uma Categoria no meu Blog, dedicada ao tema da violência não só do homem mas também da sociedade sobre a mulher, foi hoje que, motivada pela notícia, que pode ser lida aqui, decidi, finalmente, levar a cabo esta tarefa.
Esta nova Categoria, à qual achei por bem dar o nome de Libertação (embora destinada à compilação de textos sobre a mulher oprimida, o objectivo é, contudo, libertar) tem como finalidade servir de repositorium de artigos, excertos de livros, etc, que contribuam para explicar o porquê de ainda hoje, século XXI, no limiar da era pós-humana, a mulher ser constantemente inferiorizada, logo, uma justificação para a condescendência em relação às agressões de que é vítima.
A forma mais ou menos condescendente, como ainda se julga a violência do homem sobre a mulher, e da sociedade sobre a mulher através da cultura e das tradições, não se verifica apenas nos estratos com menos formação ou educação (patente nos comentários tão confrangedores feitos nas caixas de comentários nas redes sociais ). É visível, sobretudo, na forma como a justiça lida com estes casos. Perante o que nos é dado perceber em notícias através dos órgãos de comunicação, não temos outra alternativa que não seja concluir que há muito atavismo nos tribunais, quando o assunto incide na violência sobre a mulher.
Chamo a atenção que, este texto e os outros que se lhe seguirão, serão apresentados com as devidas referências, pelo que podem ser citados, ou reproduzidos em trabalhos académicos.
Temas de Antropologia em Oliveira Martins
“A mulher, servidora do homem, sua escrava, só pelo casamento se enobreceu. Onde este a não dignificou é comum ser imundo, que é o que acontece entre os índios americanos e na China: «Vivem longe dos homens como leprosas, porque as regras tornam-nas impuras. Não podem habitar nas tendas, nem tocar nas armas e utensílios. O parto macula-as por trinta dias, se tiverem um filho, por quarenta, se for uma filha. Separadas, isoladas como lázaras, não toma parte nos banquetes, nas festas, nem nas cerimónias dos homens. Cozinham-lhes o comer, mas não comem com eles. Dançam, cantam a distância, e entre elas, com uma alegria passiva, num isolamento melancólico. Se há fome, são as primeiras a morrer, quando as não matam para alimento. Os trabalhos mais cruéis pertencem-lhes; cabem-lhes os mais abjectos. Desonra ao homem que pôs os beiços onde uma mulher bebeu!”
“Quando na China um pai tem apenas raparigas, alega não ter filhos. A mulher, diz um autor chinês citado pelo padre Huc, deve ser em casa apenas uma sombra e um eco. Nem come com o homem, nem com os filhos varões: serve à mesa em silêncio; tem um alimento inferior. Chega a ser propriamente gente?»”
“Embora assumida a posição mais digna pelo casamento, é ainda um ser subalterno em relação ao homem, mesmo entre os povos arianos, em que «… o espírito doméstico é sempre masculino». Ainda que no seio da civilização é na dependência que está a sua liberdade: obedecendo, manda pela doçura do amor. «A mulher é a auréola do homem». É esta a sua situação no regime patriarcal primitivo. Pelo casamento «… a mulher é consagrada como fonte de geração, medianeira da eternidade e sacerdotisa do amor».”
“No casamento indu a mulher ocupa posição mais ou menos elevada socialmente consoante as castas em que se realiza; no Ocidente o casamento que prestigia a mulher e lhe consagra a maternidade é só um em todas as classes. Por ele o acto natural da cópula quase se diviniza. A viúva torna à situação anterior, desaparece o carácter sagrado de suas funções e não há mais nela a esperança de um segundo casamento. Daí que não fosse raro o suicídio das viúvas e na Índia se deixassem queimar com o cadáver do marido; e entre os Germanos consentia-se que a viúva se deixasse enterrar com o marido.”
“Estes os traços definidores do casamento ariano e de que só alguns vestígios se conservam no matrimónio de hoje, sacramento ainda, sem dúvida, mas em vias de profanação. De todos os povos foram os arianos, insiste-se, quem arrancou a mulher à escravidão, a fez o par do homem e tornou sagrado seu enleio com ele e sua função no lar. Quando modernamente reclama a liberdade do homem, proclama o amor livre, outro futuro não terá que o do abandono, e o de nova servidão” (GUERREIRO, 1986: 79-80).”
Bibliografia
GUERREIRO. Viegas, Manuel. (1986). Temas de Antropologia em Oliveira Martins. Biblioteca Breve. Lisboa.