Violência Doméstica

Publicado por: Milu  :  Categoria: SOCIOLOGIA DA FAMÍLIA, Violência Doméstica

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Segundo Giddens (2004) a violência doméstica é o abuso físico de um membro da família sobre outro ou outros, sejam crianças, idosos, mulheres, maridos, mães, filhas, etc. O principal alvo de abuso físico são as crianças com menos de 6 anos. A violência exercida pelos maridos sobre as mulheres é o segundo tipo de violência mais comum.

 A casa é o lugar mais perigoso da sociedade moderna, já que uma pessoa está mais sujeita à violência dentro da sua própria casa do que numa rua à noite. Além disso, é mais provável uma mulher tornar-se vítima de violência, por parte de homens com quem têm relações familiares ou íntimas, do que por parte de estranhos. A violência também pode ser exercida pela mulher sobre o homem, embora nestes casos, os homens estejam menos dispostos a denunciar essas situações. No entanto, a violência quando é exercida pelos homens sobre as mulheres, tem mais probabilidade de causar danos físicos permanentes (Giddens, 2004).

É importante ter em atenção que o termo “doméstica” é susceptível de trivializar este tipo de violência, remetendo-a para a esfera do privado, quando, na verdade, é imperioso sublinhar que a violência de género não tem carácter privado mas sim público, ainda que ocorra no domicílio. O fenómeno da violência doméstica não é novo, mas só recentemente, à medida que tem sido objecto de novos olhares, se tem transformado num problema social e, por isso, alvo de preocupações e políticas públicas (Portugal, 2000).

O conceito de violência doméstica tem vindo a ser expandido, à medida que, cada  vez mais situações são consideradas como violência doméstica.

A violência pode ser:

  1. Física
  2. Psicológica
  3. Negligência (algo que agride mas não é feito com essa consciência).

Uma questão se impõe: Se a violência pode ser física e psicológica,  como se pode estabelecer a fronteira?
A fronteira da violência flutua muito e depende do que a sociedade tem como tolerável, ou de como entende o que é ser violento. Embora certas coisas sejam violências, o tribunal pode não as considerar como tal, por isso, pode não considerar certos atos como violência doméstica.

Caraterísticas:

  • Invisibilidade
  • Género

Invisibilidade – é à domesticidade da família moderna que se deve a invisibilidade do sofrimento da vítima. Além disso, a percepção do que é ou não violência tem variado ao logo do tempo. Os mesmos factos são julgados de forma diferente, conforme o tempo e o espaço¹. A privacidade e intimidade que carateriza a família moderna tornou mais ou menos ocultas as práticas de sujeição, opressão e agressão. Assim, de acordo com Portugal (2000:236) “a privatização do espaço doméstico contribuiu para a difusão de uma imagem idealizada da família, feliz e harmoniosa, onde não há lugar para agressões. Esta concepção, para além de constituir um mito sobre a família contemporânea que é necessário desmontar, contribuiu decisivamente para a invisibilidade da violência familiar, e do sofrimento das suas vítimas”. Por exemplo, só nos anos 60, quando se começou a falar desíndrome de criança maltratada“, este problema ganhou estatuto de questão médica além de merecer atenção privilegiada por parte das instituições e da sociedade. Já no que diz respeito à violência sobre as mulheres, a história do reconhecimento social deste problema, construiu-se através do sofrimento silencioso de milhares de mulheres e da luta ruidosa de outros tantos milhares – as lutas feministas (Portugal, 2000).

Deste modo,“na actualidade, não é tanto a violência que é recente mas a consciência que dela se tem, bem como a intolerância com que se lida com ela” (Pais, 1996: 31 in Portugal, 2000: 239).

Género – a violência é exercida sobre quem  desempenha os papéis tidos como femininos.

Quando são os homens as vítimas de violência os homens também podem desempenhar papéis tradicionalmente como sendo da mulher, então, serão eles as vítimas. A desigualdade é de género e continua a ser atual. Por conseguinte, a violência doméstica torna-se um fenómeno público e não privado.

 

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As causas da violência doméstica encontram-se categorizadas em dois grupos:

  • Factores internos à família
  • Factores externos à família, seu enquadramento social, cultural e ideológico (Contributo que vem sobretudo da corrente feminista)

Mitos e estereótipos que convém desmontar:

Os relatos de mulheres mal tratadas mostram que façam elas o que fizerem a culpa dos maus tratos é sempre delas, inclusive, a própria mulher dá a entender a interiorização dessa culpa,  quando diz, “não fiz nada para que ele me batesse”, quase dizendo que há situações em que os maridos podem bater. Exemplo: A mulher descuidar-se e não ter feito o jantar, já foi considerada, e provavelmente ainda é considerada, uma razão válida para o marido espancar a esposa.
A violência existe num contexto de profundas desigualdades de poder entre os sexos. Os processos económicos e sociais contribuem direta e indiretamente para a manutenção de uma ordem social e de uma estrutura familiar marcada por uma denominação patriarcal. Quantos mais recursos – sociais, pessoais, económicos – um membro da família possuir maior será a sua capacidade para usar a violência.
Dizer que a violência dos homens sobre as mulheres se deve ao homem ser por natureza agressivo, é dizer que então não há nada a fazer, como se fosse culpa do instinto – teoria que ignora a importância que o pensamento racional pode ter sobre o instinto. Mas dizer, também, que a violência é doença, é mais uma vez  estar a desculpar o homem, que assim passa a ser também ele uma vítima, mas da sua doença (Portugal 2000).

Portanto, considerar que a violência do homem sobre a mulher  é fruto do instinto ou de doença é desculpabilizar o agressor. Por outro lado, há um discurso de naturalização e aceitação da violência doméstica, essencialmente em classes mais baixas. Muitas vezes o casamento nem é posto em causa por causa da violência doméstica, o que é posto em causa são os sentimentos.

 

1 – Exemplo:  Lei inglesa de 1768, que permitia que um homem batesse numa mulher com um pau, desde que este não fosse mais grosso do que o seu polegar – Regra do Polegar.

 

Bibliografia

 GIDDENS, Anthony. (2004). Sociologia. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian.

PORTUGAL, Sílvia. (2000). “Globalização e Violência Doméstica”. Revista Crítica de Ciências Sociais. Nº 57. Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais

 

Um comentario to “Violência Doméstica”

  1. Jose Rosa Diz:

    Milu,
    Essa questão da violência doméstica é triste. Em terras brasileiras isso também ocorre, infelizmente. Ainda penso que é uma questão de evolução (e punição !). Não conhecia essa Lei Inglesa que você citou. Algo inimaginável atualmente, prova mais uma vez do processo evolutivo que passamos.
    Mas o problema, a meu ver, é que alguns homens (e também mulheres) insistem em viver uma vida e um relacionamento com base em atitudes e comportamentos de um século atrás…
    Bjs,
    José Rosa.

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