Rosa Brava
Rosa Brava
De
José Manuel Saraiva
José Manuel Saraiva nasceu na aldeia de Santo António d’Alva e exerceu a profissão de jornalista. Além de ter colaborado em diversas publicações nacionais e estrangeiras, pertenceu aos quadros de o Diário, Diário de Lisboa, Grande Reportagem e Expresso. Os dois comentários sobre a Guerra Colonial, “Madina do Boé – a Retirada” e “De Guilege a Gadamael – O Corredor da Morte”, transmitidos pela SIC, são da sua autoria. O primeiro foi transmitido pelo canal Arte na França e na Alemanha. Autor da história que deu origem ao telefilme a “Noiva“, de Galvão Teles, publicou ainda, as obras “As Lágrimas de Aquiles” (2001) e “Rosa Brava” (2005), também editado em Itália e que atingiu já a condição de best-seller graças às numerosas edições, neste caso a 10ª edição. O seu último livro “Aos Olhos de Deus” (2008), vai na 3ª edição. O romancista José Manuel Saraiva é actualmente um dos escritores que mais vende em Portugal.
“ROSA BRAVA” é um apaixonante romance histórico da autoria de José Manuel Saraiva, que nos traz a narrativa do percurso de vida, algo invulgar, de D. Leonor Teles de Menezes, uma mulher dotada de uma formosura sem igual e de uma ambição insana e desmedida. Facto por si só suficiente, para lhe moldar o carácter, dando vida à velha premissa de que o instinto do mal se acolhe de disfarces, para melhor enfeitiçar tudo e todos e, sub-repticiamente, estender os seus maléficos tentáculos tornando hediondo um ser, que nasceu belo e pleno de encantamento.
A jovem e formosa Leonor Teles sofreu a desdita de ter sido compelida a casar com um nobre, João Lourenço da Cunha, um homem de aspecto horripilante, pelo seu tio, D. João Afonso Telo, conde de Barcelos, que chamou a si a responsabilidade de educar a sobrinha após a morte dos pais, Martim Afonso Teles de Menezes, assassinado por D. Pedro de Castela e de D. Aldonça de Vasconcelos, vítima da Grande Peste que, justiça seja feita, desconhecia linhagens, até a mais fina flor sucumbia de uma doença vinda da imundície. Sem coragem para contestar a vontade do tio, Leonor dá o passo mais amargo da sua vida, ao casar com um homem que a enojava. Dele viria a ter um filho, no qual desgraçadamente, viu reflectida a imagem da feiura paterna, sendo por isso incapaz de amar o fruto do próprio ventre.
D. Leonor Teles
Em Pombeiro, terra natal do seu marido, Leonor afogava a sua revolta e insatisfação num mar de sonhos em que se via envolta nos braços de um belo homem, que faria dela uma rainha. Briolanja, a mulher que a havia criado desde criança, conhecedora dos seus íntimos segredos, até mesmo dos escabrosos, ainda mais lhe alimentou o desvario, ao transmitir-lhe que as estrelas lhe haviam dito, num dos momentos em que auscultara as forças da natureza, que um dia Leonor se casaria com um rei, o que a fez mergulhar num intenso fulgor de fantasia.
Leonor além de pérfida é impressionantemente astuta, sabe, portanto, que tem de agir, decide dar uma ajuda, um contributo seu para a realização da predição anunciada pelos astros. Preconiza que tem de se aproximar de D. Fernando, que além de belo e daí o cognome de O Formoso era rei de Portugal, custasse o que custasse, pelo que se serve do pretexto de uma visita à sua irmã D. Maria, açafata da Infanta D. Beatriz, para se intrometer no Paço de São Martinho, a residência do rei. No fundo, nada mais fez do que escorar a sua determinação na certeza que tinha no seu poder de sedução. Sabia exactamente até onde poderia ir, isto é, sabia-se capaz de tudo, desde que almejasse a satisfação dos seus mais prementes desejos.
Leonor anuncia ao tio e ao marido, ou seja, aos homens da família, que pretende visitar a irmã em Lisboa e fá-lo de uma forma que deixa suspensa no ar a dúvida se tornará a voltar. É neste momento que o tio revela a falta de confiança que deposita na sobrinha ao proferir a palavra – Aleivosa – com a qual Leonor será cognominada no futuro.
D. Fernando
Chegada ao Paço de São Martinho, Leonor encanta todos com a sua beleza, principalmente ao rei D. Fernando. Este mais dotado para a artes da caça do que para as artes da governação, teve um reinado onde frutificou a incúria e a irresponsabilidade que viriam a culminar nas guerras fernandinas, originadas, sobretudo, pelas questões dinásticas de Castela. Os cognomes de Inconsciente ou Inconstante advêm-lhe da reconhecida inépcia nas relações internacionais e da política desastrosa que protagonizou nas três guerras com Castela, que fizeram perigar a independência de Portugal. O carácter irreflectido, imponderado e estouvado do rei português é revelado na sua máxima plenitude ao cometer um acto de enormes consequências, das quais era conhecedor e ainda assim, prosseguiu nos seus intentos – casar com Leonor Teles – depois de negociar com o Papa a anulação do casamento desta, aludindo a uma eventual consanguinidade entre D. Leonor e o marido.
Bem depressa alcançou os seus propósitos! Sempre foi possível negociar com Roma as leis de Deus, desde que se avance com um bom quinhão para troca! Sempre foi assim e há-de ser, enquanto houver mundo!
Se para D. Fernando a beleza de D. Leonor foi suficiente para um tal deslumbre que o levou a um ruinoso casamento, o povo, esse, não se deixou convencer, já que sempre odiou a rainha. Nem mesmo as tentativas que implicavam actos caridosos levados a cabo pela formosa mulher, no sentido de conquistar o povo insurrecto surtiram efeito, pelo que esta lhes devotou sempre um ódio terrível.
Todavia, é provável de que o rei de Portugal, D. Fernando, dentro de si, no mais profundo do seu âmago, alimentasse a suspeita de que a sua deleitosa mulher não era, afinal, flor que se pudesse cheirar sem alguns cuidados. À cautela, o rei havia lavrado um documento, no qual determinava que caso ocorresse a sua morte e não havendo filho varão, D. Leonor seria nomeada regente enquanto a filha, a Infanta D. Beatriz, não atingisse os catorze anos de idade, pretendendo com isto evitar guerras entre os diversos pretendentes ao trono. Ainda assim Leonor tratou de eliminar a sua própria irmã, que poderia vir a tornar-se rainha no caso do seu marido, D. João de Castro, irmão mais velho do rei, vir a reclamar o trono para si após a morte deste. A inveja toldou-lhe o juízo e de tal modo que, rapidamente, se prontificou a urdir uma insidiosa teia de perjúrio, com consequências desastrosas, D. João, ferido de morte e tresloucado pela suspeita de infidelidade por parte da esposa, assassinou-a impiedosamente. Disposta a não perdoar a D. Fernando, seu marido, a traição de não a querer rainha depois da sua morte apesar das juras de amor eterno, torna-se amante de João Fernandes Andeiro, provocando ainda mais a ira e a indignação do povo, que se sentia tão traído quanto o seu desventurado rei.
Morte do Conde Andeiro
Com a morte do rei D. Fernando, vítima de uma doença pulmonar, que progressivamente o vinha definhando, os acontecimentos precipitaram-se. O conde Andeiro, amante da rainha, foi morto à punhalada pelo D. João Mestre de Avis. Profundamente odiada, alcunhada de aleivosa e de outros impropérios que não lhe conferiam dignidade, nem distinção, Leonor Teles acabou encarcerada num aljube nos arredores de Tordesilhas. A crise dinástica provocada pela morte de D. Fernando que deixou a sua filha D. Beatriz, recentemente casada com D. João rei de Castela, como herdeira do trono e D. Leonor como regente é um dos casos mais interessantes da história portuguesa. A morte do conde de Andeiro, a fuga de Leonor Teles, a invasão de Portugal pelo rei de Castela e a nomeação de D. João como Defensor do reino provocaram o nascimento de uma nova dinastia e o aparecimento de uma nova nobreza. “ROSA BRAVA” é por todas estas razões uma obra imperdível!
Maio 17th, 2009 as 19:35
Milu,
A série Duarte & Companhia teve como protagonistas os grandes Rui Mendes e António Ascenção, este último falecido em 1998 e mais conhecido como “O Fradinho”, apresentador de um programa de culinária. Eu vi todos os episódios, porque a minha filhota era pequenina e eles vieram gravar umas cenas ao prédio onde ficava o jardim infantil que ela frequentava e o Rui esteve sentado com ela ao colo. Anos depois, apresentei-lha no teatro a Malaposta e ele ficou deveras comovido com a pitorra.
Maio 17th, 2009 as 19:51
É isso mesmo! A graça que eu achava ao António Ascenção! Sem desprimor para com Rui Mendes, é certo, há que ver que cada um com o seu jeito, logo, o seu mérito! Fazia-me rir, com aquela maneira de ser!
Um beijo.
Maio 17th, 2009 as 20:50
Milu
Antes de tudo obrigada pela simpatia das suas palavras de que não me julgo merecedora embora seja sempre agradável ouvi-las.
José Manuel Saraiva, uma referência no jornalismo português é, sem dúvida, um cartão de visita suficiente para que se leia a obra.
Este post sobre Leonor Telles dá-nos uma real dimensão da capacidade pérfida que muitas mulheres utilizaram para obterem um poder que a sua condição feminina não lhes permitia por mais valores e capacidades que possuíssem.
Ainda nos nossos dias a história se repete. Talvez com outros contornos mas, na essência, terrivelmente parecida.
Abraço
Maio 17th, 2009 as 21:55
Olá Lídia!
A minha opinião sobre si tem sido formada ao longo do tempo, nas várias vezes que pude constatar os seus comentários algures pela blogosfera!
De facto para uma mulher obter sucesso na vida não lhe bastam os valores e capacidades, tem de ser, também, algo pérfida!
Um abraço.
Maio 18th, 2009 as 14:33
Querida Milu
Bela partilha. Uma análise literária e de conteúdo muito bem feita e que a todos que te lerem vem enriquecer.
Beijinhos.
Maio 18th, 2009 as 21:21
Olá Vicktor! Muito obrigada pelas tuas tão simpáticas palavras!
Beijinhos.
Maio 18th, 2009 as 23:05
Muito obrigado pela informação! Até amanhã!
Um abraço entre livros
Maio 18th, 2009 as 23:23
Olá!
Então até amanhã! 😀
Um abraço!
Maio 20th, 2009 as 19:17
Curioso, tenho esse livro em lista de espera já há que tempos! fiquei com curiosidade e vai passar á frente dos outros…
Quando escreves, escreves mesmo…tive que vir cá duas vezes para conseguir ler tudo mas valeu a pena.
Bjs
Maio 20th, 2009 as 20:46
Olá!
É um livro muito interessante e com o qual me foi possível ficar a saber um pouco mais da nossa história! De facto gosto muito de escrever, embora saiba que um texto muito grande pode dissuadir as pessoas de o lerem, mas quando reparo nisso já é tarde! 😀
Beijinhos.
Maio 21st, 2009 as 23:10
Não conheço este autor, mas a sua resenha passa a impressão de um romance “tramoso” e atraente. Além disso este é um dos gêneros de romance que mais aprecio, o romance histórico.
Um beijo!
Maio 22nd, 2009 as 8:38
Olá Oliver!
Pois então fica a sugestão! Boas leituras!
Um beijo.
Maio 22nd, 2009 as 22:42
Olá
E aí está mais um fim de semana, com chuva e frio!!! mas vamos pensar que logo, logo virá o sol…
Mas esteja como estiver é FIM DE SEMANA..
Bjs
Maio 22nd, 2009 as 23:23
Olá! Na verdade estou farta deste tempo tão instável. Anseio por dias soalheiros e quentes, quando assim é, toda eu rejuvenesço! 🙂
Aproveito para actualizar o blog. Tenho uma história que quero partilhar com todos vós!
Beijinhos.
Dezembro 29th, 2009 as 14:58
este livro é de facto extrordinario, princIpalmente para uma pessoa como eu, viciada em romaces historicos, pois penso que com esses romances aprendemos imenso.
para ser sincera, só conheço dois de todos os livros que o blog apresenta. QUIMERA E ROSA BRAVA
fiz este comentario neste blog com o proposito de deixar uma sugestao, ja que como eu a criadora do bolg é muito dedicada à leitura.
a sugestao de leitura é “Papisa Joana” de Donna Cross. o livro é fantastico.
🙂
beijinhos
Dezembro 30th, 2009 as 3:02
Olá Ju.
Adoro ler, mas ultimamente tenho lido pouco, porque me disperso a ler os blogs. Terminei de ler um livro há uns dias e pretendo fazer um resumo para postar aqui. Também gosto muito de ler livros históricos e também penso que são uma boa maneira de aprender história. Aprendemos até sem disso darmos conta. Fiquei curiosa com a sugestão que me deu, vou ver se encontro esse livro. Agradeço muito a sua visita e o seu tão simpático comentário. 🙂
Beijinhos.