“O Assalto ao Poder”
“A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano.”
Voltaire
O post de hoje dispensa quaisquer apresentações… se tivermos em conta os últimos acontecimentos políticos e o agressivo ambiente eleitoral que já se respira…
Todos os dias assistimos estupefactos às cenas mais estúpidas, seja da parte dos políticos, seja da parte de muitos daqueles que estes deviam governar. São tão poucos os políticos e seus eleitores que se preocupam verdadeiramente com o país e as suas gentes! O que é visível é que cada um só pensa em si. Muitos de nós, temos de assistir a este carnaval devastados por um sentimento de impotência, sem podermos fazer nada. Ou podemos?
Para de alguma forma ajudar à compreensão de alguns dos vastos meandros que norteiam a política, socorri-me de um livro cujo título vai ao encontro do sentimento de desolação que se faz sentir em muitos de nós, “A Nova Ordem Estupidológica”, da autoria do Psicólogo Doutorado em Psicologia pela Universidade de Lisboa e Psicoterapeuta desde 1985, Vitor J. Rodrigues, no qual é prometido que o leitor poderá compreender:
. “quais os passos que poderá dar para acelerar a vitória esmagadora da estupidez
. se é uma pessoa fundamentalmente estúpida ou se, pelo contrário, ainda terá de se esforçar para alcançar esse estádio
. quais os estratagemas mais utilizados pela inteligência e qual a melhor maneira de os derrotar
. como identificar um estúpido ou um inteligente, apenas com uma simples observação” (RODRIGUES).
Designação de: C.A.I – Centros Anti-Inteligentes
“Os tempos e os costumes são de crassa magnífica estupidez; contudo não podemos deixar-nos adormecer face às conquistas feitas. Ainda subsistem, em muitos locais do mundo, numerosas bolsas de resistência inteligente e, até, grandes associações ou agrupamentos que pretendem levar as mentalidades a desenvolver-se para além da sua barbárie engravatada. A inteligência não está derrotada e constitui uma ameaça que não pode ser menosprezada. Ainda há religiosos tolerantes e ecuménicos, ecologistas convictos, académicos interessados no progresso da ciência em si mesma, comerciantes honestos e outras aberrações de uma inteligência pateticamente renitente em compreender que o mundo não lhe pertence. Apesar de tudo, até no seio dos governos continua a aparecer, de vez em quando, um governante que faz o jogo da inteligência em lugar de, como seria mais adequado, se juntar à invencível lógica estupidológica que rege actualmente os destinos das nações” (Rodrigues, 1995: 8).
“A conquista e a manutenção do poder político”
“Pressupostos de base da ciência política estupidológica”
- Há pessoas mais caras e mais baratas mas todas podem ser adquiridas. De acordo com este pressuposto, todo o homem tem o seu preço e, quando não aceita ser pago em dinheiro, aceita geralmente ser pago em géneros, compensações afectivas, realização de ambições pessoais e assim por diante; daí que, com o dinheiro e os meios necessários, seja fácil adquirir influências, votos e pessoas. O problema, regra geral, não tem nada a ver com uma raríssima incorruptibilidade destas últimas nem com a pretensão inteligente de que certos valores humanos não têm preço e não são comercializáveis; tem, antes, a ver com a tabela de preços…
- Cada ser humano possui um valor quantificável em riqueza, prestígio e, claro, votos. Isto relega para o plano da inutilidade a ambição de valorizar qualitativamente as pessoas de acordo com a sua competência profissional, integridade ou capacidade cultural e estabelece, como incomparavelmente mais válida, uma perspectiva quantitativa – que é também mais científica, como já vimos. Os homens podem e devem ser exaustivamente avaliados quanto ao seu valor pecuniário e patrimonial (aquilo de que são donos e/ou que podem fazer adquirir) bem como quanto ao seu valor político e social (taxas de audiência, impacto na opinião pública equacionado numericamente na forma do número de intenções de voto, número de associações poderosas que conseguem colocar a seu favor, etc.). O tempo dos estadistas carismáticos, se alguma vez existiu, já acabou: com a Nova Ordem Estupidológica, assistimos ao triunfo dos políticos maquilhados e, numa boa parte dos casos, transaccionáveis (ver ponto 1).
- Os estúpidos são donos da Verdade e proprietários da Realidade. Este facto reiterado e inequívoco fundamenta epistemologicamente o direito dos políticos estúpidos (políticos E) a fazerem da Verdade e da Realidade o que entenderem. Esta é, sem dúvida, uma das razões pelas quais eles preferem largamente vencer um debate a conquistar uma vitória para a Verdade (seria ridículo curvarem-se dessa maneira perante uma subalterna sua). Do mesmo modo, é altamente compreensível que prefiram utilizar, a seu bel-prazer, pequenos fragmentos da Realidade, colhidos com métodos estatísticos, para os transformarem em coutadas pessoais e/ou partidárias (pois podem fazer o que lhes apetecer com a sua propriedade privada).
- Os homens são animais e, além disso, são animais políticos. Graças a esta ideia, cuja primeira parte aparece expressa com grande clareza no dogma da ditadura biológica (um dos dogmas da bibliografia redutora do conhecimento inteligente), ficamos inteirados acerca do que podemos esperar dos seres humanos. Por essa razão os políticos E costumam apelar bastante à animalidade dos seus eleitores e às perspectivas políticas que abre. Conforme sabem os observadores dos tempos e costumes actuais, não se movem grupos alargados de inteligentes com apelos à agressão, à vingança, ao egoísmo, ao racismo e xenofobia, à ambição pessoal, etc. etc.; contudo é exactamente dessa forma que se arrebanham multidões de estúpidos…
- Todos os homens querem ser estupidologicamente felizes. Por isso é fundamental convencê-los de que o partido e/ou os políticos estúpidos a eleger ou a manter no poder são especialmente capazes de assegurar a sua felicidade: (1) por posse mínima, (2) pela realização sexual, (3)
- A gestão do poder é um jogo: o jogo do poder. Devemos, assim, encarar com algum espírito lúdico o facto de estarmos a brincar com a vida de milhões e milhões de pessoas, o que descontrai bastante. Não é por acaso, aliás, que muitos políticos gostam tanto de pensar nos outros como peões no seu xadrez pessoal e na economia como um conjunto de jogadas financeiras.
- Quando não podemos vencê-los, é preferível juntarmo-nos a eles. Sabe-se que, historicamente, os políticos derrotados tendem a perder a cabeça seja no sentido mais real e directo (mediado por machados, sabres ou guilhotinas) ou no sentido figurado. Talvez por essa razão – uma consciência aguda das desvantagens da derrota política – seja tão frequente encontrarmos, da parte de muitos políticos E, uma habilidade excepcional para, antes de serem derrotados, se aliarem ao partido, movimento, ideia ou pessoa que iria derrotá-los. Convenhamos que isto é mais saudável do que a opção dos inteligentes que nunca se rendem perante a estupidez das ideias e procedimentos mesmo quando elas têm por si a força dos tempos e dos apoios eleitorais.
(…)
Propaganda Eleitoral
Uma propaganda adequada deve obedecer a duas grandes linhas:
- Inquéritos de mercado (também conhecidos como pesquisas de opinião pública). É fundamental saber o que é que o público deseja para si, o que considera serem as características daquele ou daquela em quem está disposto a votar e o que gosta que lhe prometam fazer (geralmente é um casamento dos dois primeiros dados). Note-se que, se as ilusões do povo fizerem obter votos, será muito mais profícuo cultivá-las do que desfazê-las – visto que a desilusão dos eleitores costuma modificar as tendências de voto; por esta e por outras razões, a arte do político estúpido assemelha-se, em parte, à do ilusionista: trata-se de fazer as pessoas acreditarem que está a acontecer aquilo que, na realidade, é bem outra coisa. Os políticos estúpidos não costumam tirar coelhos do chapéu mas é bem frequente tirarem dele argumentos que, perante a inteligência, até parecem impossíveis.
- Fabrico de líderes. Conhecidos os resultados da primeira etapa, que pode ser e deve ser feita tanto a nível nacional como local, deve-se maquilhar física e psicologicamente o político E para que pareça ter as características elegíveis e, claro, instrui-lo para que faça convincentemente promessas agradáveis (ver 1). O importante é que as pessoas acreditem que o político considerado possui qualidades e ideias adequadas a um bom governante bem como um programa governativo capaz; se, na verdade, o político é humana e culturalmente inepto, as suas ideias são outras tantas teorias estúpidas e o seu programa é impraticável, isso não tem nada a ver com o caso pois, conforme sabemos, os únicos objectivos políticos dignos da Nova Ordem Estupidológica são a conquista e a manutenção do poder – pagando, por isso, os preços que haja a pagar; ora, nos dias que correm, a inteligência está tão desvalorizada que até sai barato aos políticos sacrificarem os valores dela…
Acção Governativa
Uma vez no poder, cabe aos políticos E perpetuarem-se nesse poder independentemente de acreditarem ou não que são governantes mais competentes do que outros quaisquer (embora seja fácil convencerem-se de que o são graças ao outrismo e à competitividade: no jogo político, o que interessa mesmo é vencer e não tanto jogar bem). Uma das características naturais da estupidez é a de constituir um ciclo vicioso reforçando-se a si mesma, pelo que isto não constitui dificuldade. Por outro lado, um governo de estúpidos não se avalia realmente a si mesmo nem fornece aos outros elementos para que o avaliem: pelo contrário, apresenta dados que convençam os outros de que é um bom governo. A fim de assegurar a perpetuação do poder, é fundamental fazer quatro coisas:
a) consolidar o poder. Acelerar o acesso de primos, conhecidos, comparsas, colegas, enfim, estúpidos de confiança a lugares-chave. Elaborar legislação destinada a favorecer as conquistas de todos os interessados em que o político E continue a governar;
b) convencer o público de que os seus interesses estão a ser objecto de um zelo desvelado. Isto será grandemente facilitado pelo facto de uma parte destes interesses ser de natureza estúpida – o que, nos tempos que correm, é frequentemente o caso;
c) Justificar cuidadosamente as decisões tomadas. O que importa é justificá-las a posteriori, razão pela qual elas podem e devem ser tomadas segundo conveniências políticas momentâneas deixando depois a técnicos esforçados o cuidado de inventarem justificações que pareçam convincentes (até mesmo científicas). Isto costuma ser especialmente interessante e útil na esfera educativa e laboral;
d) afastar do poder as pessoas inteligentes. Este aspecto costuma ser fácil pois essas pessoas tomam frequentemente a iniciativa de se conservarem afastadas – sob o efeito do enjoo – ou, noutra variante, não têm hipóteses pois uma boa parte do mundo está nas mãos dos estúpidos. Além disso, mesmo quando estão dispostos a optar pelos atalhos ditados pela estupidez e, com isso, perdem a vez face aos estúpidos que, graças a esses atalhos, chegam lá mais depressa.
O que fazem os operacionais da estupidez uma vez de posse desta preciosa formação teórica. Evidentemente, passam à acção. Sabedores de que uma pparte bastante vasta do público eleitor é estúpido ou, pelo menos, capaz de estupidez, evitam enfatizar coisas inteligentes nas suas campanhas ou fazer concessões metodológicas à mesma qualidade. Por essa razão, raramente se mostram tolerantes, colaborantes ou complementares face a outros políticos – o que seria inteligentemente possível se o objectivo da campanha fosse eleger o melhor e, sobretudo, as melhores ideias governativas face a uma realidade socio-económica e cultural devidamente investigada. É bom não esquecer que, por detrás da política contemporânea, temos o impulso evidente do Separatismo e do Lucrismo, pelo que se fala na «corrida eleitoral» em que, muito mais do que colaborar inteligentemente com os que podem enriquecer uma perspectiva global (por verem diferentes facetas da realidade), importa vencê-los. Muito mais do que obter melhorias no nível de vida geral importa, em primeiro lugar, lucrar (em votos, dinheiro, poder, fama…).
Ninguém vence uma corrida eleitoral com dados científicos, filosofia política elaborada ou com a busca da verdade. Também não se vence uma eleição com preocupações altruístas e desinteressadas (que levam imediatamente os estúpidos à desconfiança). Há que efectuar boas manobras de bastidores, trabalhos de sapa, fuzilamentos públicos das ideias dos outros. Há que vender os produtos a eleger e, neste aspecto, um político E assemelha-se largamente a um vendedor de banha de cobra na convicção aparente com que se vende e vende os seus produtos quer acredite neles ou não. Um político estupidologicamente carismático é, muitas vezes, alguém capaz de sustentar uma imagem pública de tipo bastante semelhante ao que faz vender uma pasta dentífrica: ideias da moda, sorriso oportuno, argumentos competitivos mas nunca demasiado rigorosos, «sex-appeal»…
Não esqueçamos: um bom comando anti-inteligente na política deve, antes de tudo, assegurar-se do uso dos meios que forem precisos para atingir a finalidade de subir ao poder e ficar lá. Esse objectivo justificará largamente tudo o que fizer pelo caminho. É porém essencial assegurar ainda que, depois, o exercício desse poder privilegie, apoie e subsidie a estupidez nacional e internacional em obediência às instâncias lucristas. Quando, em seguida, mencionarmos diversas grandes áreas de actividade dos C.A.I., será muito importante conservarmos em mente que, desde que haja estúpidos no poder, jamais a inteligência poderá ir muito longe pois, no momento de tentar produzir obra, debater-se-á com uma esperável escassez de meios. Devemos, ainda, realçar um pormenor: existem muitos C.A.I. infiltrados nos partidos políticos com a finalidade subtil de «perpetuarem o poder da estupidez» sem se concentrarem no acesso da estupidez ao poder em si. Assim eles concentram esforços no sentido de apoiar, incentivar e, até, subsidiar todas e quaisquer iniciativas políticas estúpidas sabedores de que, inevitavelmente, elas fortalecerão os políticos E (dando-lhes boas bases). Noutra versão, procuram exercer um efeito estupidificante sobre todas e quaisquer iniciativas políticas susceptíveis de inteligência. Obviamente , uma das suas preocupações dominantes consiste em conservar as pessoas inteligentes fora dos partidos” (Rodrigues, 1995: 83-91)
Bibliografia
RODRIGUES. J. Vitor. (1995). A Nova Ordem Estupidológica. Livros Horizonte. Lisboa.
“Este livro já não tem somente o valor do esclarecimento teórico e prático: ele é também um relato das actividades concretas que têm sido desenvolvidas para boicotar a inteligência do mundo e desenvolver a estupidez alternativa. É, ainda, um manual para todos os que pretendem fazer da sua estupidez uma atividade absolutamente intencional e militante. A aliança da Tradição Estupidológica Secreta e da moderna Estupidez Científica está em vias de concretizar finalmente esse sonho de incontáveis gerações de pessoas cujo comportamento tem contribuído, consciente ou inconscientemente, para isso: A Nova Ordem Estupidológica mundial. Juntemo-nos todos a esta obra colossal e partilhemos do êxito que se manifestará quando, finalmente, o planeta mergulhar na absoluta obscuridade mental tornando-se naquele paraíso que os estúpidos hão-se herdar…”