O Anatomista
O Anatomista
De
Frederico Andahazi
Frederico Andahazi é um escritor argentino, psicanalista e autor do livro “O Anatomista “ lançado no ano de 1997. Esta obra foi finalista do “Prémio Planeta Argentina” e conquistou o “Primeiro Prémio da Fundação Amália Lacroza de Fortabat”, acontecimento que deu lugar a um facto curioso, a “mecenas” aceitou pagar o valor do prémio ao mesmo tempo que se desligava da obra, alegando que esta era imoral e que não contribuía para exaltar os valores mais elevados do espírito humano. O seu segundo livro intitula-se “As Piedosas” editado no ano de 1999.
Assim que li no texto da contra capa que este livro, apesar de premiado com o prémio “Fortabat” foi considerado imoral, entrei num alerta imediato… Influenciada pelo mau prenúncio, disse de mim para mim: Mau!… Era só o que me faltava!… Não é da minha vontade “abandalhar” o trabalho que tenho vindo a desenvolver neste meu blog. Esforço-me para que este sítio tenha um carácter limpo, honesto e autêntico, fruto das minhas capacidades de interpretação, análise e espírito crítico, portanto, longe daqui todo o conteúdo susceptível de aludir, ainda que sub-repticiamente, ao domínio da pornografia. Isto foi o que pensei, mas, não pude deixar de ler a obra, porque entendo que cada livro que se lê, sempre nos deixa alguns ensinamentos, digam lá o que disserem! Ainda que não lhes faça aqui alguma referência, leio-os. Afinal, a obra em causa até é brilhante! Além do seu estilo narrativo algo divertido, enfatiza determinados factos com a intenção de fazer gozar o leitor! Cheguei, portanto, à conclusão que, efectivamente, este romance é chocante pela imoralidade que contém, contudo, o objecto que foquei como imoral, não é o mesmo que o do júri do “Prémio da Fundação Amália Lacroza de Fortabat”. O que me tocou, profundamente, tenho de o dizer, foi o relato do “modus operandi” da malfadada Inquisição ou Santo Ofício. Quantos inocentes terão padecido, amarrados a um tronco, numa horrível fogueira, sofrendo além do fogo as costumadas cuspidelas e insultos de uma assistência que, ansiosamente, esperava para seu deleite, o terrível espectáculo do máximo suplício dos infelizes condenados? Porque gostam as pessoas de observar o sofrimento e desgraça alheia? Bem visível, por sinal, nas ocasiões em que jornais e publicações esgotam as suas edições quando noticiam algo escabroso de uma personagem pública ou mesmo um grande derramamento de sangue num qualquer grave acidente. Quanto mais sangue, mortos e mutilados, melhor, mais atracção exerce. Basta ver nas estradas, após um qualquer acidente rodoviário, o estorvo que estes arraçados de corvo provocam, no intuito de satisfazerem os seus ímpetos de curiosidade mórbida. É esta maldade, a par de outras, do ser humano para com o seu semelhante, que considero incomensuravelmente imoral!
O “O Anatomista” de Frederico Andahazi é um romance cuja acção se passa no Renascimento, em plena Era das Luzes e onde a palavra de ordem é DESCOBRIR! Tem como personagem principal Mateus Colombo, que estudou Farmácia e Cirurgia na Universidade de Pádua, tendo sido um aluno brilhante, encarecidamente elogiado pelos seus mestres, facto que contribuiu para que, apesar de muito jovem, tivesse sido elevado à categoria, por mérito próprio, de Maestro dei maestri.
“il bordello dil Fauno Rosso” é uma casa onde se pratica a prostituição e a mais cara de Veneza. Tem como atracção principal Mona Sofia, a prostituta com maior cotação no “mercado”, sendo que constava no “catalogo di tutte le puttane del bordello com il lor prezzo”, onde se encontrava mencionado, além do nome, o seu preço: dez ducados! Note-se que na época, considerava-se mil ducados, quantia suficiente para viver toda uma vida entregue ao luxo. Esta era uma “indústria” que à época florescia a olhos vistos, havia até uma escola, a “Scuola di Puttanne”, onde Mona Sofia recebeu uma educação envolta de tantos ensinamentos e delicados cuidados que nem uma imperatriz tinha melhor. Foi por esta mulher de «olhos verdes como esmeraldas, de mamilos duros como amêndoas, cujo diâmetro e tesura se diriam os da pétala de uma flor – se a houvesse – que tivesse o diâmetro e a tesura dos mamilos de Mona Sofia», «de coxas suaves firmes e torneadas como madeira» que Mateus Colombo se apaixonou.
Mateus Colombo iniciou então um corrupio de visitas ao bordel carregado com o seu cavalete e demais apetrechos de pintura para retratar a amada, poisava na mesa-de-cabeceira os dez ducados e enquanto ajeitava a tela ciciava-lhe juras de amor e pedia-lhe que fugissem juntos para lá do Mediterrâneo, porém a única observação de Mona Sofia era: O teu tempo acabou.
Pobre, sem dinheiro e humilhado refugiou-se num mutismo total mas, albergando uma convicção, descobrir a chave que lhe permitiria dominar a vontade feminina. Inês de Torremolinos é a mulher através da qual vem, em parte, a concretizar o seu secreto desejo. Ao tentar curá-la de uma estranha enfermidade, descobre no seu corpo um órgão, até então desconhecido, ao qual deu o nome de “Amor Veneris”. À semelhança do seu homónimo, também Mateus Colombo descobriu a sua América, que tragicamente o levaria ao tribunal da Inquisição.
A terceira parte deste livro é composta pelas fases do processo do Tribunal da Inquisição. A declaração das testemunhas, a acusação e a defesa, esta constituída por dezanove partes, onde este homem da ciência revela a sua definição de mulher: Toda aquela carne que circunda o “Amor Veneris“, dando deste modo a este órgão vida, vontade e inteligência própria!!? Vejam só!!? Mateus Colombo, que existiu na realidade, foi o verdadeiro autor da descoberta da circulação sanguínea pulmonar e, antes do inglês Harvey, não chegou , porém, a ver a sua obra “De Re Anatomica“ publicada, pois urgia ter cuidado com os Doutores da Inquisição, todavia, foi no mesmo ano da sua morte em 1559 que finalmente a sua obra foi dada a conhecer ao mundo.
Novembro 9th, 2008 as 22:43
suscitou pelo menos grande curiosidade…
Milu, este blog é realmente muito interessante
abç
Novembro 10th, 2008 as 0:55
Obrigada pelas suas encorajadoras e simpáticas palavras! 🙂
Novembro 12th, 2008 as 10:01
Excelente, este seu blog.
Um espaço onde gosto muito de passar pelo que de bom encontro.
Continuarei a ler e desejo-lhe tudo de bom, sitios destes sao raros
Novembro 12th, 2008 as 10:34
Estou orgulhosa por gostar do que escrevo até porque sou sua admiradora! Também gosto de a visitar e concordo plenamente com as posições que toma em relação à actualidade. Obrigada! 😀
Novembro 13th, 2008 as 12:03
Obrigada!
Que bom saber 🙂 Entao estamos bem porque podemos transmitir-nos boas energias e boas leituras.Adoro este seu sitio e se permitir vou linkar aos meus blogs, assim estarei sempre por perto:)
Grande abraço!
Novembro 15th, 2008 as 23:02
Combinado! 😀
Novembro 16th, 2008 as 18:49
Milu
Há já uns bons anos que não leio livros que não sejam escritos por portugueses ou lusófonos em geral.
É uma fase da minha vida.
Mas é sempre bom estar atento ao que se passa em matéria editorial por esse mundo fora.
Obrigado pelo esforço que está a despender para manter este sítio tão actualizado e arrumadinho (ao contrário do meu…desarrumadíssimo e não vejo cura para este mal).
Um abraço
António
Novembro 16th, 2008 as 19:27
Olá António! Também gosto muito de ler autores portugueses mas agora ando numa de ler o que me vem parar às mãos! 😀
De certa forma até me convém para criar diversidade no blog!
Um abraço!