História com bolinha vermelha!

Publicado por: Milu  :  Categoria: História com bolinha...

historias

“O talento educa-se na calma; o carácter, no tumulto da vida.”

GOETHE

Hoje vou contar outra história badalhoca! Está-me a apetecer! Alguns de vós ao lerem este meu relato poderão ficar chocados! Ainda bem! É isso mesmo que eu quero! Chocar, escandalizar! Antes isso do  que vir para aqui  destilar moral por todos os poros! Também não alinho em conversas do foro íntimo! Nesse aspecto devo ser anormal, porque contrariamente ao que costumo observar, nunca tive o hábito de confidenciar, nem à minha melhor amiga, pormenores sobre a minha intimidade! Penso que essas vivências são tão minhas, têm tanto a ver com o meu interior, que decididamente, sou incapaz de as profanar fazendo delas um circo!

Em vez disso trago-vos, mais uma vez, uma história dos meus tempos de escola! Pretendo salvaguardar o facto de estes meus relatos não pretenderem, de modo algum, amofinar a classe dos professores! Nada disso! São, apenas, histórias que fazem parte do meu património cultural! Neste aspecto um fraco património! É certo! Mas nem mesmo assim deixam de ser um documento do passado! Mostram acima de tudo o género de relação que, naqueles tempos, os adultos costumavam ter com as crianças! Aos professores serve-lhes para exemplo, de como os seus actos podem ser gravados para a posteridade, na memória daqueles que pretendem educar! Que zelem verdadeiramente por uma conduta irrepreensível! Ninguém gosta de ser recordado pelos piores motivos! Vou colocar uma bolinha vermelha na parte nojenta da história! Quem se achar valente que continue a leitura, porém, não me responsabilizo pelos danos causados nos organismos mais delicados!

escola

Ao abrigo de um qualquer decreto, durante alguns anos, houve a possibilidade dos alunos frequentarem o Ciclo Preparatório na mesma escola onde fizeram o ensino primário. Talvez tivesse a ver com a escassez de edifícios escolares, de mais a mais, nesta altura, ainda permanecia como escolaridade obrigatória a quarta classe! Fosse pelo que fosse o certo é que dei por mim na escola da minha infância a fazer o Ciclo Preparatório com apenas uma professora que leccionava todas as disciplinas. Para os parâmetros daqueles tempos era uma professora bem preparada, provavelmente tinha mais estudos do que os necessários para enveredar numa carreira de professora com estes níveis de exigência, acumulava também o cargo de directora da escola! Dela tenho as piores queixas, considero-a até a verdadeira responsável por não ter prosseguido normalmente os estudos, retomei-os mais tarde, aos vinte anos de idade, tenho hoje o secundário ou 12º ano completo, mas poderia ter muitos, muitos mais, não fosse o ódio visceral que desenvolvi à escola e a tudo quanto a ela se relacionava. Esta professora era inflexível e austera, parecia de mal com o mundo, sem sentido de humor e creio que por vezes nos odiava! Rancorosa até mais não poder!

calcas

Um dia chegou à escola com uma revista de moda, perguntou-nos qual de nós tinha uma pessoa de família a trabalhar numa fábrica de tecidos. Pretendia encomendar um tecido igual ao que se encontrava num modelo da revista! Eram umas calças em xadrez médio, nas cores preto e branco. Uma aluna adiantou-se, feliz por ver ali uma oportunidade de puxar o lustro à professora, disse ter a mãe, pelo que levou a revista para casa para servir de amostra! Passados dois dias a miúda apareceu com o tecido, mas de um xadrez com um padrão muito mais pequeno. A professora não o aceitou. No dia seguinte todos fomos testemunhas da mãe lavada em lágrimas e a lastimar-se que não podia ficar com o tecido. Lamentava a sua viuvez que a fazia viver com dificuldade, portanto, não tinha meios para fazer face àquela despesa inesperada. A verdade seja dita, já não era a primeira vez que via aquela senhora a derramar lágrimas! É um hábito que se desenvolve em algumas pessoas, para melhor obterem proventos! Choram para os professores dos filhos, choram para o padre, enfim! O certo é que levam a melhor! Lá diz o velho ditado – “Quem não chora não mama”! Todavia, desta vez as suas lágrimas de crocodilo não resultaram como seria de esperar! A professora ficou com o tecido, que atirou com raiva para o fundo de um saco, mas a miúda, chumbou! O único chumbo num universo de cerca de quarenta alunos, rapazes e raparigas, antigamente as turmas eram assim, enormes! O que deveras me impressionou, foi o facto de a professora ter sido capaz de guardar tanto rancor até ao fim do ano lectivo! Normalmente o tempo dilui os sentimentos negativos, porém esta senhora professora foi disso incapaz, revelando, assim, um carácter abominável!

bolinha

Mas também era uma grandessíssima porca! Badalhoca! Já todos sabíamos que a professora sofria de problemas bucais, apresentava, por vezes, as gengivas roxas e inchadas. Não me recordo como tudo começou, só me lembro quando ela mandou uma aluna à cantina pedir uma caneca e, qual não foi o nosso espanto, quando vimos qual era o fim a que se destinava! Incrédulos e de olhos esbugalhados assistimos à terrífica cena de ver a nossa professora a cuspir grandes borbotões de sangue na dita caneca! Afinal, uma das canecas onde, para nossa indignação, costumávamos  tomar o nosso café com leite! Entretanto estávamos entretidos a fazer problemas de matemática, já que a professora se encontrava incapaz de poder dar a aula decentemente. Em dada altura precisei de ajuda e dirigi-me à professora, sabia que não o devia fazer mas o diabo levou a melhor, aliás, quase sempre leva, e  curiosa olhei  de relance para a caneca. O que vi provocou-me um gigantesco turbilhão nas entranhas! A caneca encontrava-se meia de sangue e até fazia bolhas, instintivamente, veio-me à ideia o sangue que a minha mãe aproveitava, numa caneca, quando matava frangos ou coelhos, para confeccionar um gostoso arroz de cabidela! Escusado será dizer que durante um largo período de tempo fui incapaz de tomar o pequeno-almoço na cantina, assim como não tocava em qualquer arroz de cabidela! Como podem concluir, a escola foi para mim de grande aprendizagem! Das falhas dos adultos, principalmente! Mui grandes e bons exemplos!

caneca

6 Comentarios to “História com bolinha vermelha!”

  1. congeminações Diz:

    Bem minha cara amiga, essa sua professora ultrapassou em larga escala a qualidade em “matéria de porcaria” a da minha professora cujo caso narrei anteriormente. Julgo que a narração deste tipo de experiências de modo nenhum maculam os professores mas que efectivamente revelam que alguns não são uns bons exemplos para ninguém também é um facto.

  2. Milu Diz:

    Eu bem lhe disse, em resposta a um seu anterior comentário, que no domínio das badalhoquices, tinha histórias bem boas! Ainda tenho outra, mas não sei se hei-de escrever sobre ela! Talvez num dia em que esteja com a porrada! Tudo depende da disposição no momento! Nos meus primeiros anos de escola foi tudo um pouco assim! Por outro lado, enquanto frequentei os estudos, na idade adulta, não detectei nenhuma situação que se destacasse pelo carácter negativo, muito pelo contrário, guardo boas recordações!Foi nessa altura reparei que tinha predisposição para o estudo!

  3. flordeliz Diz:

    Ou a imaginação “borbulha como o sangue na caneca” ou então…é nojento demais!
    Em determinada época em que o meu irmão do meio começou a ficar espigadote assistiu a umas sessões de uma igreja qualquer (como era pequerruxa não sei qual era!) em que proibia o uso de sangue na comida.
    Durante uns tempos a minha mãe lá tinha de o aturar a reclamar quando o almoço era arroz de cabidela (é que não comia nem queria deixar comer!) mas como eu nunca gostei, até ficava feliz!
    Quanto à professora, é mesmo roda do tamanho de um camião vermelha.

  4. Milu Diz:

    Quem me dera que tudo isto fosse fruto da minha imaginação! Por muito estranho que pareça foi verdade! Todas estas situações contribuíram em muito para denegrir a minha concepção de escola! Fiquei farta de escola! Quando terminei o Ciclo Preparatório e, em casa, me foi perguntado se desejava continuar a estudar, até me atirei ao ar! Anos mais tarde quando retomei os estudos os professores estranhavam e chegavam a perguntar porque tinha deixado de estudar! Arrumei uma desculpa qualquer, não me senti à vontade para lhes contar os disparates dos seus congéneres! Não quis correr o risco de estragar a boa relação que tinha com eles! Não fossem pensar que eu estava a inventar…

  5. Donagata Diz:

    É absolutamente abominável que existam, ou tenham existido, docentes deste jaez. Absolutamente inqualificável nas suas atitudes bem como factor de risco em termos sanitários.
    Estranho é, que essa senhora se tenha mantido impunemente a dar aulas sem que qualquer atitude tenha sido tomada quer ao nível do estabelecimento de ensino (o que seria difícil uma vez que ela era a directora), quer ao nível dos encarregados de educação.
    E então ainda há quem ache que os professores não necessitam de ser avaliados?
    Acredito que sejam muito poucos os que têm tão baixos níveis, mas, assim, nunca deveria haver nenhum.

  6. Milu Diz:

    Não me lembro se contei aos meus pais, mas talvez não. Naquele tempo uma criança não tinha crédito perante um adulto! Lembro-me de algumas situações em argumentei para me defender, com isso ganhei o epíteto de “respondona”! Era comer e calar! Hoje estas coisas nunca aconteceriam, mas acontecem outras! O meu filho já me contou algumas como estas: “Estou farta disto”, “Maldita a hora em que decidi ser professora”, ou então, dirigindo-se para alguns dos alunos que não progridem como deviam: “Tu nunca vais arranjar emprego”! Na minha maneira de pensar estes desabafos não são construtivos! Uma criança ou um adolescente carecem de modelos, são como uma esponja, absorvem, neste caso coisas sem interesse nenhum! Não são professores destes, que se mostram enfadados, que constituem um bom exemplo!

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