Eu Sou Transgressora!

Publicado por: Milu  :  Categoria: Eu Sou Transgressora!, PARA PENSAR

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“O mundo só poderá ser salvo, caso o possa ser, pelos insubmissos.”

André Gide

Apontamentos que consegui reunir na Conferência “Conceções e Práticas de Mediação Intercultural e Intervenção Social”. Ressalvo que estes apontamentos são uma muito pálida amostra dos temas discutidos na conferência. Uma das aprendizagens que trouxe na minha bagagem foi a ideia de que felizmente EU SOU TRANSGRESSORA! Ou seja, tendo para romper com o estabelecido, romper com o preconceito, romper com o dogma, romper com o slogan. Sou contra a cristalização. Eu transgrido. Sou transgressora, ou seja, mexo com as representações. A evolução faz-se através da transgressão.

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Livro que recomendo para uma boa compreensão da intervenção do professor Adalberto Dias de Carvalho “Antropologia da Exclusão ou o Exílio da Condição Humana.

Repare-se: Exclusão → exílio da condição humana!!!

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Intervenção de Adalberto Dias de Carvalho

Actualmente, e estupidamente, exige-se dos jovens um grande currículo. Mas exigir um grande currículo é uma pressão ilegítima, porque ter um currículo longo exige uma longa vida profissional e muito gosto no seu desempenho. Sem estes requisitos os currículos  são puro lixo. Estudar decorre da nossa própria vida, não deve ser só para fazer currículo. Numa recente avaliação de trabalhos identificou 5 deles como plágios.

A Noção implica falar em termos imprecisos, fluídos.

O Conceito já é uma noção em termos científicos.

O nosso erro é assentarmos o que dizemos em pressupostos que se tornam dogmas, slogans. Não devemos fazer isso – Tudo deve ser questionado! Quando os conceitos se tornam slogans eles fossilizam, tornam-se amarras. Temos de ter abertura e dinamismo. Pensar, abrir a mente. Fazer mudanças.

A pintura Dada, (dada, quer dizer nada) ou  dadaísmo  surgiu para demolir a pintura tradicional, uma vez que aquela era feita ao acaso. Contou-se que se colocou uma tela por detrás de um cavalo e encheu-se-lhe o rabo de tinta, que o animal ao espanejar livremente deixava o rastro na tela – e lá surgia a obra, uma pintura Dada.

Identificamos muito facilmente os erros ou falhas nas culturas de outros povos, mas não estamos dispostos a reconhecer os nossos.

Os grandes expoentes da cultura são normalmente uma transgressão, por isso são por vezes rejeitadas ou ignoradas.

A verdade tem carácter universalista, só assim faz sentido.

Ao estudarmos outra cultura que não a nossa nós vemos os contrastes, vemos bem as diferenças, mas existem milhares de coisas que nos escapam e que podem ser por demais significativas. Ao mesmo tempo, o nosso olhar interfere, pode ofender, pode também influenciar os comportamentos, o que por sua vez enviesa o estudo.

Deve-se evitar a cristalização da cultura. Dizer que os brancos são de determinada maneira, dizer que os pretos são daquela outra, ou que os ciganos são assim, é cristalizar, dogmatizar, rotular e impede-nos de ter uma relação satisfatória com as outras culturas. Da ideia preconcebida ao preconceito vai um instante. Do preconceito ao estereótipo é outro instante. Por exemplo: Para os franceses um português é alguém que só sabe assentar tijolos, um pedreiro.

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Nos tempos da religiosidade, o sofrimento tinha um significado, era redentor e depurador.

“Sabendo-se sofrer sofre-se menos” – Anatole France

Actualmente, nas sociedades laicas, o sofrimento não constitui um valor, por isso não é suportado.

O ser humano para ser Mediador Intercultural tem de ser sensível, culto e reflexivo.

Comentário sobre os acontecimentos em Paris, mais precisamente o caso Charlie Hebdo:

“O que aconteceu é a prova de que não temos respostas para determinadas questões e situações, senão estas coisas não estavam a acontecer. Contudo, é preciso ter presente, que as transformações e conquistas históricas sempre foram acompanhadas de violência. Às vezes são necessários banhos de sangue. Cantamos certos banhos de sangue e condenamos outros. A violência faz parte da humanidade. A violência faz parte do ser humano. A inumanidade surge no cume da humanidade”

Não há culturas puras. Somos, como europeus, uma cultura de uma profunda miscigenação.

Sobre emigrantes: “Acolher não pode ser haver uns in e outros out. Às vezes põe-se fora os que já estão dentro. Temos a tendência para defender o que nos é próprio, mas, neste que nos é próprio, também cabem  os outros.

Sobre os direitos da comunidade e os direitos individuais: “Os direitos da comunidade não vão contra os direitos individuais, pois os pertencentes a uma comunidade tem direito a exercer os seus direitos de acordo com os direitos dessa comunidade.

As culturas não são homogéneas. Nem a cultura portuguesa é homogénea, basta atentarmos nas diferenças entre os nortenhos e os alentejanos, sem desprimor para as duas partes. A alteridade do outro está na nossa cultura. Para além disso não temos necessidade de andar à procura da cultura do outro, das diferenças. Devemos é reparar nas semelhanças, e temos mais daquilo que nos aproxima, do que daquilo que nos afasta.

Representações → a maneira como olhamos para determinadas coisas e  o significado que lhe atribuímos. Exemplo: o português é um povo que bebe muito vinho tinto, por isso é folclorizado através de um garrafão de vinho.

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Folclorização das culturas acontece muito através dos eventos de gastronomia próprias de países diferentes. Mas a cultura não se resume a isto!

Folclorizamos as culturas dos outros mas não a gostamos que façam o mesmo com a nossa. E, depois, conhecemos muito pouco das culturas.

Por exemplo: Uma agência de viagens leva os turistas a visitar uma tribo no Amazonas. A pessoa fica a pensar que ficou a saber o que é uma tribo e o que é viver no Amazonas. Mas aquele lugar é apenas um pálido protótipo das verdadeiras tribos que vivem no interior do Amazonas!

Outro exemplo: O Professor Adalberto contou que um seu primo veio do Brasil visitar Portugal e que quis ir a sítios emblemáticos. Quis ir a Fátima. Quis assistir a espectáculos de danças lusitanas, como por exemplo o Vira. Quis ver aquelas saias rodadas. Quis comer leitão e também, o típico frango de Baltar. Mas com respeito ao frango houve um problema, é que já não foi possível encontrar um restaurante que tivesse na sua ementa a dita iguaria, parece que tinha caído em desuso, pelo que o professor decidiu pedir num dado restaurante que preparassem um frango frito, que acrescentassem alguma criatividade e assim se fez. O primo brasileiro ficou convencido que tinha degustado o tradicional e antigo “frango de Baltar”. De volta ao Brasil não se cansou de narrar as experiências vividas e o curioso é que chegou a dizer “Portugal está na mesma. Está tudo ma mesma”. Ou seja, quis dizer que as tradições continuavam a existir. Aquele Portugal atrasado, tradicional, continuava a existir. Mas, repare-se: não viu as auto estradas! Nem reparou que as pessoas já estavam vestidas de outra maneira.

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“O caminho mais curto de si para si é o outro”. (Fase citada pelo professor Adalberto, mas não consegui perceber de quem foi o seu autor).

Colocar o outro fora de mim é um erro, um entrave para qualquer intervenção intercultural.

Temos um medo atávico da diferença. Os limites estão assinalados para estabelecer as diferenças.

Muito importante:

“A nossa oposição às outras culturas mais não é do que estarmos a querer impor aos outros a nossa cultura”. 

Outra frase citada pelo Professor Adalberto de que não sei o seu autor e num determinado contexto: “”O etnocentrismo desapareceu porque se realizou”.

As posições do outro, que são diferentes das minhas, terão de ter algum sentido, por isso devo procurar entendê-lo, e perguntar ao outro que se explique. E ele deverá fazer o mesmo comigo.

“Não há encontro de culturas. Há encontro de pessoas portadoras de cultura.”

Ao falar com um indivíduo estou a falar com uma pessoa, devo, portanto, esquecer o que nos opõe, porque as diferenças podem interferir, impedir, uma boa relação.

As culturas transformam-se pelo contacto com as outras culturas, por isso evoluem. E essa evolução faz-se a partir das fronteiras e não do centro.

A Mediação Intercultural é a mediação que temos de fazer perante, mediante,  nós mesmos. Não andarmos à procura das diferenças. Há mais coisas que nos aproximam do que aquelas que nos diferenciam.

Intervenção de Cristina Milagre

Mediação Intercultural: Participação dos actores locais para a coesão social.

Nota: as comunidades ciganas vivem entre nós desde o século XV

Exclusão

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Inclusão

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Modelos sócio políticos face à diversidade sócio cultural

Mediação

 

 

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Mediadores nos Serviços Públicos

Objectivo:

“Afirmação do princípio da interculturalidade como um pilar de coesão social através da integração de mediadores interculturais nos serviços públicos. Construção do perfil do mediador intercultural bem como do referencial de formação me mediação intercultural.

Projecto Piloto:

Serviços Públicos          →           Territórios/Comunidades

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Objectivo Geral:

“Contribuir para a coesão social, a melhoria da qualidade de vida e a convivência cidadã intercultural, em municípios com diversidade cultural significativa, mediante uma gestão positiva e preventiva dessa mesma diversidade através da intervenção.”

Princípios da Mediação:

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Intervenção de Natividade Alves:

MISP:

“Programa de Mediação Intercultural de enfoque comunitário, promotor de interculturalidade, contando com a colaboração de serviços públicos e privados, associações locais e, sobretudo, com a participação das comunidades.”

Objectivo Geral:

“Desenvolver uma intervenção com base num modelo de trabalho assente nos princípios da interculturalidade e da mediação em territórios municipais;

Melhorar a qualidade de vida das comunidades, promover novas relações de convivência intercultural construtivas e transformadoras e contribuir para o desenvolvimento local e a coesão social.”

Outra Intervenção (falta nome do orador)

Temos instituições mal preparadas, obsoletas, os profissionais também têm os seus problemas, de forma que, quando o imigrante vai em busca de um apoio para o seu problema, o profissional tende a minorar o problema do indivíduo em vista dos seus próprios, esquecendo-se que não está mo mesmo patamar de possibilidades.

O grande problema dos profissionais da mediação é que há uma grande dificuldade em “entrar” nas instituições internas, ou seja, nas autarquias. Ao contrário, é mais fácil “entrar” nas instituições externas, nas instituições parceiras.

 Comentário de outro orador acerca dos casos práticos em mediação:

Foram feitas  referências à mediação entre as instituições e os seus benefícios. Um exemplo foi a mediação para esclarecer quais os critérios, pelos quais as instituições se guiavam para proceder à distribuição dos bens alimentares, porque havia beneficiários que achavam que os bens eram distribuídos de acordo com a vontade de quem os distribua, ou seja, de acordo com simpatias e preferências.

O resultado de uma ação de mediação:

Em dada altura no espaço para o debate, o professor Ricardo Vieira interviu para declarar que não acredita na neutralidade do mediador. Basta atentar na expressão “Intervenção Mediadora”. Ora, “Intervir é o contrário de ser neutro!” disse e muito bem o professor Ricardo Vieira.

Assim, a Intervenção Mediadora envolve Multiparcialidade. Toda a intervenção tem a mão do mediador.

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Actividade: Acolhimento de Refugiados

→ Tradução e interpretação linguística e cultural;

→ Assessorar o grupo minoritário no acesso aos serviços públicos;

→ Favorecimento da participação social;

→ Sensibilização dos serviços públicos para a diversidade cultural e para a importância do adequado acolhimento deste tipo de cidadãos;

→ Criação de um Guião de Recursos.

A Título de Conclusão

“A Mediação Intercultural é a mediação que temos de fazer perante, mediante,  nós mesmos. Não andarmos à procura das diferenças. Há mais coisas que nos aproximam do que aquelas que nos diferenciam.” 

 

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4 Comentarios to “Eu Sou Transgressora!”

  1. Hélia Diz:

    Viva Milu!
    Permita-me parabeniza-la por este excelente trabalho, 🙂
    Ontem um dia de aprendizagem e de conhecimento de projetos a serem seguidos, para que se consiga o encontro saudável e proveitoso de pessoas que com a sua cultura não subjugam outras a sua cultura tornado as demais como subculturas, ou até mesmo um ponto mais limítrofe ver o outro como “subpessoas”

    Um encontro de pessoas que interpretam culturas e se permitem a mestiçagem cultural …

    Abraço

  2. Milu Diz:

    Muito obrigada Hélia! 😀 Pelo incentivo, pelo encorajamento, e pela visita! Abraço.

  3. Jose Rosa Diz:

    Excelente o post. Gostei mais da primeira parte. Sempre fui um tanto transgressor também. E sempre procuro enxergar mais as igualdades que as diferenças. As diferenças são logo postas, as igualdades muitas vezes ignoradas.
    O exemplo do turista no Amazonas foi perfeito. Assim como o do brasileiro em Portugal dizendo que tudo se encontra como antes. Exemplos de miopia cultural ? Acho que sim. Falta uma lente de aumento para se ver e sentir os aspectos culturais da sociedade.
    Abs,
    José Rosa.

  4. Milu Diz:

    Obrigada José Rosa, pela visita e pelo tempo que lhe dedicou. Na verdade, o que o brasileiro pretendia mesmo ver era as representações de Portugal, que ainda guardava na memória. Afinal, quando revisitamos um lugar, o que queremos é reviver o que lá experenciámos. Por isso até ficamos um tanto frustrados, quando constatamos, que determinadas coisas já não existem. É um bocado de nós que se vai. Por isso, o brasileiro “não quis ver” as auto-estradas e outros símbolos do Portugal moderno, porque não quis morrer um pouco. Beijinho.

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