ENQUANTO ESTA MÚSICA DURAR ÉS SÓ MINHA
ENQUANTO ESTA
MÚSICA DURAR
ÉS SÓ MINHA
De
Margarida Brum
Margarida Brum nasceu nos Açores e licenciou-se em História na Faculdade de Letras em Lisboa. É professora, orientou estágios e colaborou com vários departamentos do Ministério da Educação. Foi co-autora na elaboração de vários programas do Ensino Secundário.
“Enquanto esta música durar és só minha”, é um livro que nos revela a forma de sentir das mulheres de uma geração que vivenciou, na sua juventude, os tempos que antecederam a Revolução dos cravos. Ei-las aqui representadas! Um pequeno e unido grupo que se conhece desde os seus primórdios, indo além dos estudos Universitários, casamentos, divórcios e separações até à idade dos “enta”, então, já com filhos criados e, por conseguinte, aumentados os cadilhos. Movidas por um sentimento fraternal, vêm mantendo ao longo dos anos, o hábito regular de se reunirem alternadamente em casa umas das outras, no intuito de viverem uns instantes agradáveis, entregues à conversa e coscuvilhice, tal e qual como manda a praxe, exorcizando assim, antigas maleitas e amarguras recentes! Por entre cascatas de chá e uns biscoitos, para ensopar, rindo das suas pequenas desgraças, relembram e troçam dos seus defeitos e pontos fracos, das lutas político-partidárias que um dia travaram, mormente os seus ímpetos revolucionários, tão majestosamente imbuídos de ideais próprios da sua condição, estudantes universitárias! Tudo vem à baila, os antigos namorados, as antigas colegas do percurso escolar, aqui e ali um episódio rocambolesco, envolvendo alguma outra colega, mais prepotente, com a qual nunca simpatizaram e que, comummente, designam como detestável. Como não poderia deixar de ser, sobressai todo um contraste educacional entre mães e filhas. Foram meninas estudantes cujos horizontes não se compadeceram com os atávicos preconceitos das suas progenitoras, situação que frequentemente deu azo a encarniçadas discussões verdadeiramente reveladoras de algumas incompatibilidades! Rute, uma das amigas, nunca esqueceu, apesar de na altura, ter apenas 12 anos, uma conversa que ouviu à irmã, casada há dois anos, para com a mãe:”Mãe, mãe! O confessor dos Olivais, (um padre novo), disse-me que não era pecado gostar…”, hesitou à procura das palavras, para então continuar: “gostar de estar na cama com o nosso homem”. Resposta pronta da mãe: “Pois não, filha. É a nossa obrigação”. Bolas! Parece que, para a mulher, afinal, tudo se resume a um dever!!! Aquela jovem terá sofrido agruras, julgando-se em pecado, imunda e indigna! Todo este mal-estar teve origem na formação da sua personalidade, resultante das quantidades maciças de catequese e missas que “papou”, ao longo da sua vida, logrando deste modo, uma imagem distorcida da realidade, impedindo-a de descortinar, com conhecimento, “onde mora” o verdadeiro mal…
Foi, também, esta geração que inaugurou uma nova forma de estar na vida, já não se namorava para casar. As raparigas, sempre que podiam, “enfiavam-se” nos quartos dos respectivos namorados que viviam em apartamentos alugados. Elas, por sua vez, pernoitavam em Lares de freiras, condição imposta pelos pais, convencidos de que, deste modo, as filhas estavam mais acauteladas e resguardadas… de tentações!… Mas que ironia…
Madalena é uma personagem que tem nesta obra, a distinta e nobre missão, de personificar a mulher actual, que vive só, por seu livre arbítrio. Casada com Francisco, tem um sonho antigo que a acompanha desde os mais verdes anos, ainda era criança e já dizia que, quando fosse grande, queria ter dez filhos. Cedo se apercebeu das inconstâncias do marido que, amiudadas vezes lhe fazia perceber que, o seu casamento, não duraria até a morte os separar. Grávida da sua filha Diana, decidiu, num acesso de pura sensatez, não tornar a engravidar! Ratoeiras, bem bastam as que a vida, de tão traiçoeira, nos vai armando… Cansada de aturar aquele bebé grande que era seu marido, divorciou-se! Dedicou-se com aprumo à sua profissão de professora, à filha, e aos amigos, a quem prestava apoio, quer cuidando das suas crianças quer emprestando o ombro para desafogo das suas mágoas. Pedro, divorciado e pai de três crianças a seu cargo é um dos amigos e grande admirador de Madalena. Morando em apartamentos distintos mas, sitos no mesmo prédio, as oportunidades para encontros eram frequentes, quanto mais não fosse, por motivos ligados às crianças. É neste contexto que nasce um sentimento profundo entre os dois, vivido a medo, por Madalena. Já se enganou uma vez!… No entanto, num supremo esforço, usa no dia-a-dia de bom senso e pragmatismo, esquecendo tudo o que ficou para trás, abrindo de par em par as portas do seu coração. Ao longo do tempo Madalena e Pedro, sempre fizeram as suas vidas mantendo-se parcialmente separados, cada um no seu apartamento, unindo-se apenas quando era necessário ou quando o desejavam. Sempre próximos um do outro, sempre disponíveis um para o outro, mas, sem se sufocarem! Muito bem! Concordo plenamente!
Outubro 29th, 2008 as 19:25
grato pela visita e sem dúvida, no fundo, se mais ninguem quiser ler , gostar ou não gostar, cada um é dono do seu próprio espaço e no mínimo pode servir de armazem…
Outubro 29th, 2008 as 20:22
Obrigada pela visita! Um dos objectivos que pretendo com o meu blog não é, propriamente, fazer dele um armazém, é, tão só, a minha firme vontade em construir como que uma espécie de registo da minha linha de pensamentos. Em cada post, logo nos meus comentários, inevitavelmente, coloco um pouco de mim, será por aí que, futuramente, me será possível observar a minha evolução como ser humano dotado de uma psique. Progressivamente, a minha percepção,emoções e aprendizagens poderão ser assim percepcionadas, aqui, neste meu cantinho por mim e para mim alcandorado, :;
Milu
Outubro 29th, 2008 as 21:19
nada de mal entendidos quanto ao armazem, o que pretendi dizer é que é bom decidir e continuar com ideias próprias sem que as influências alheias nos alterem os propósitos… as palavras às vezes dizem mal com os pensamentos.
Janeiro 26th, 2010 as 17:19
http://www.emma-actividades-musicais.pt