AOS OLHOS de DEUS

Publicado por: Milu  :  Categoria: Aos Olhos de Deus, LIVROS

AOS OLHOS de DEUS
De
JOSÉ MANUEL SARAIVA

José Manuel Saraiva nasceu na aldeia de Santo António d’Alva e exerce a profissão de jornalista. Além de ter colaborado em diversas publicações nacionais e estrangeiras, pertenceu aos quadros de o Diário, Diário de Lisboa, Grande Reportagem e Expresso. Os dois comentários sobre a Guerra Colonial, “Madina do Boé – a Retirada” e “De Guilege a Gadamael – o Corredor da Morte”, transmitidos pela SIC, são da sua autoria. O primeiro foi transmitido pelo canal Arte na França e na Alemanha. Autor da história que deu origem ao telefilme a Noiva, de Galvão Teles, publicou ainda, as obras “As Lágrimas de Aquiles” (2001) e “Rosa Brava” (2005), este último, também, editado em Itália, tendo atingido a condição de best-seller devido às suas oito edições e mais de trinta mil exemplares vendidos.

“AOS OLHOS de DEUS” a mais recente obra do autor José Manuel Saraiva é um romance histórico cuja leitura nos compraz e delicia, devido a um admirável estilo narrativo, pautado por uma constante e subtil ironia, na descrição dos acontecimentos que tiveram lugar nos primórdios do século XVI, em plena era dos Descobrimentos. D. Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves de Aquém e Além-Mar, Senhor da Conquista, da Navegação e do Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia decidiu, num belo dia, enviar uma embaixada a Roma, composta por cinco naus cuja finalidade se destinava a honrar o Papa Leão X, com a oferta de valiosos presentes nos quais se incluíam animais exóticos e um tesouro de valor incalculável. Disfarçado havia, também, o firme propósito de impressionar a cúria de Roma e o mundo, numa demonstração que, pretendia deixar adivinhar, o poderio económico de um Portugal enriquecido, devendo-se essa bem-aventurança, aos navegadores portugueses que, temerários partiam para o desconhecido, desbravando oceanos, conquistando terras e tesouros nunca antes vistos. Como com papas e bolos é que se enganam os tolos, o rei de Portugal, tinha como certo que, visto assim aos olhos do mundo, rico e cheio de poder conquistaria as boas graças do Papa, que lhe permitiriam gerir a granjeada influência, encaminhando-a com primor na satisfação de algumas prementes vontades que vinha acalentando. Giovanni di Lorenzo de’Medeci, eleito Papa aos 37 anos, cedo revelou um carácter propenso à estroina e ao esbanjamento, pelo que, durante o seu pontificado dedicou-se com esmero à tarefa de esvaziar os cofres da Igreja. Por fim, com os cofres depauperados, havia que criar receitas, pelo que, o Santo Padre instituiu o pagamento das indulgências, uma forma de almejar o perdão dos pecados. O mesmo será dizer que, ele próprio tinha o poder de abrir as portas do céu a qualquer pecador, fosse qual fosse o delito, mediante uma determinada quantia, estipulada conforme a sua gravidade! Pagas as indulgências era-se absolvido, podendo-se de seguida morrer em paz, que o seu lugar no céu estava mais que afiançado!…  Ora com um Papa deste calibre, a quem tanto apeteciam as riquezas, não admira, portanto, que o rei português confiasse no bom termo da incumbência da sua prodigiosa embaixada!

Diogo Pacheco, fidalgo e amigo próximo do rei, demasiado próximo até, ao ponto desta relação não ser considerada saudável e, por conseguinte, susceptível de gerar comentários maliciosos que, à boca pequena circulavam por entre a nobreza e o clero, foi nomeado pelo rei para levar a cabo a nobre e distintíssima tarefa de redigir e, perante o Santo Padre declamar a Oração de Obediência. Depois da insegura e longa viagem, assolada por uma terrível tempestade, ei-los chegados a Roma! D. Diogo de Pacheco, não obstante a importância e urgência da sua missão, ansiava fervorosamente por se encontrar com a jovem e bela judia, de quem se apaixonara, e que partira mais cedo, integrada num grupo de portugueses destinados a ajudarem nos preparativos da recepção da embaixada portuguesa, em Roma. Há alguns anos atrás, a jovem, Raquel Aboab, tinha sido salva por Diogo Pacheco, do massacre dos judeus em Lisboa na praça de São Domingos no ano de 1506, onde pereceram cerca de 2000 vidas, vítimas das maiores atrocidades. Uma massa de cristãos, instigados pelo ódio aos não seguidores de Cristo, lançaram-se em perseguição dos judeus e mataram uns à punhalada, outros foram desmembrados ou atirados vivos para grandes fogueiras!  Às inocentes crianças pegavam-lhe pelos pés e batiam-lhes com as cabeças nas paredes, um verdadeiro inferno que se arrastou por três longos dias! E tudo isto em nome de Deus! A profunda ignorância era o pão de cada dia daquelas gentes, tornadas bestas pela dureza de uma vida cheia de miséria, fome e injustiça. Alguns dos acontecimentos que fazem parte da história da humanidade, por muito terríveis que nos possam parecer, carecem de uma análise à luz do contexto temporal. Em tempos que já lá vão, quando eu era uma inocente criança, a quem foi imposto a frequência regular do ofício da catequese, foi-me dado ou vendido um catecismo, em cuja contra capa estava representada uma fogueira de enormes labaredas e seres humanos a serem arremessados para dentro dela!…  Com um Deus assim, valha-nos Deus!

(clique nas fotos para obter informação correspondente)

2 Comentarios to “AOS OLHOS de DEUS”

  1. antónio Diz:

    Viva Milú
    Não li este livro, nem conheço a obra do autor. Da apresentação que faz deste livro, ressaltam a vida hipócrita do Vaticano em geral e da época horrenda do massacre de Judeus, só por não serem seguidores de Cristo.
    Como se possa conceber, com um mínimo de racionalidade, que só existe uma religião que deve orientar a vida de todos os homens!
    Agradeço-lhe muito não só este seu trabalho, óptima ajuda para quem gosta de livros, e as visitas judiciosas que tem vindo a fazer ao blogue, “Dispersamente” disperso, tal como o titulo.
    Não tenciono tratar de nenhum assunto em particular com profundidade. Penso que não é a função de um blogue aberto ao público ser muito minucioso nos assuntos que aborda. O que não significa que o possa ser. É tudo uma questão de senso e de mérito.
    Tenho momentos em que me deixo abater pelo cansaço de já andar com este blogue há 3 anos. Além disso já ando na internet desde os primórdios, praticamente. mas cá me vou aguentando. E é muito graftificante quando conseguimos cativar a atenção e o interesse de alguns bloggers que sejam.
    Receba uma abraço amigo, desde Leiria. Afinal vivemos a dois passos de distância!
    António

  2. Milu Diz:

    Olá António!
    Também não conhecia este autor, mas pelo que já vi tem mais obras deste género, ou seja, romances históricos. Ler estes livros é uma boa forma de abordar a história da humanidade, até porque os factos e a compreensão dos mesmos são, assim, melhor assimilados! E mais agradável, sem dúvida! Este autor, José Manuel Saraiva faz uso de uma ironia velada, como quem não quer dizer nada, mas, já disse ou insinuou, além de uns trocadilhos muito a propósito! A tolerância é um sentimento que devia caracterizar o cristão mas, pelo que nos é dado ver, ao logo da história da humanidade até aos nossos dias é frequentemente ignorado!…
    Não sei se seria capaz de ter um blog do género do do António, porque acho que exige criatividade, haveria alturas que não saberia o que havia de postar, assim, como eu faço, sei sempre, leio um livro e pronto, por isso só me resta dar-lhe os parabéns pela coragem e pela sensibilidade em saber captar tão bem imagens do quotidiano!
    Um abraço! 😀

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