A todo o tempo dar tempo

Publicado por: Milu  :  Categoria: A todo o tempo..., FLAGRANTES DA VIDA

“A única pessoa que pode mudar de opinião é aquela que tem alguma.”

EDWARD WESTCOTT

A singela e despretensiosa abordagem que efectuei acerca do livro “O Esplendor de Portugal” de António Lobo Antunes, publicado no post anterior, suscitou alguns comentários que considero bastante interessantes, na medida em que representam o importante universo das pessoas que fazem da leitura um hábito salutar nas suas vidas. E como gosto de dizer coisas, decidi aproveitar esta oportunidade   inesperada, para fazer o gosto ao dedo e vir para aqui escrevinhar sobre os meus pensamentos, tal como já vem sendo habitual.

Ora bem, o que tenho hoje para dizer?:

Muito se tem escrito sobre António Lobo Antunes e acerca do seu talento como escritor. É uma verdade insofismável, já que reúne o consenso de todos, que as suas crónicas são  francamente apaixonantes e que  nos enlevam a alma tão alto que  quase deixamos de respirar, enquanto as lemos extasiados. Contudo, as opiniões exteriorizadas a respeito dos seus livros são controversas, algumas pouco  abonatórias. No meu simples e modesto jeito de ver as coisas, julgo que podem ser destacados diferentes tipos de reacção perante a alusão à densa e labiríntica prosa que caracteriza o escritor. Há quem demonstre conviver grandemente com a obra do escritor, daí o notável à-vontade na elaboração do comentário. No lado oposto estão os que nada querem com a escrita de António Lobo Antunes, que consideram enfadonha e nada estimulante. No ponto intermédio, encontram-se todos aqueles que já tiveram um qualquer desencanto com o estilo literário deste autor,  do qual até certo ponto se mantiveram arredios, mas que, ainda assim, estão na disposição de mudar drasticamente de ideias. É neste ponto que eu própria me encontro, embora esta minha postura seja devida a um recente acontecimento que me levou a essa conclusão. Eis então:

O primeiro livro do autor que li sem esforço foi “As Naus”, se digo que foi sem esforço é porque disso tenho a certeza, se não tê-lo-ia posto de lado, tão certo como dois mais dois serem quatro. O segundo livro que li, vorazmente, que disso também tenho a certeza, porque me escangalhei a rir com ele, foi “Memórias de Elefante. Quanto ao terceiro “O Meu Nome é Legião”, simplesmente não fui capaz de o ler. Ao cabo de algumas páginas fiquei com a sensação de que andava por ali a patinar sempre no mesmo, ainda para mais o livro é um autêntico calhamaço, o que além de não acrescentar qualquer entusiasmo, ainda acabou mas foi por tirar o pouco que ainda restava para poder prosseguir. Por fim desisti de uma vez e fiquei sem vontade de tentar ler mais algum livro do mesmo autor. Até que um dia destes,  alguém me emprestou “O Esplendor de Portugal”, a cuja leitura dei início, até porque sou uma pessoa que nunca toma decisões definitivas praticamente acerca de nada. Quanto a mim é sempre tempo de arrepiar caminho, quando se trata de mudar de ideias. Escusado será dizer que mais uma vez pensei desistir, principalmente no início, mas como não havia por que ter pressa, fui lendo sempre mais um pouco, até que me adaptei a este estilo de escrita densa e pesada que é a do escritor António Lobo Antunes. E acabei a leitura deste livro com a sensação que travei uma dura batalha mas da qual saí vencedora. Mas a noção de que verdadeiramente tinha terminado de ler “um peso pesado” da literatura mundial contemporânea, foi-me dada sentir quando constatei por estes dias, que ao folhear uns quantos livros relativamente recentes, de outros autores, muitos deles assomaram-se-me aos olhos como uns livrinhos de histórias de cacaracá!  Histórias sem grande substância e nem sempre muito bem escritas! É que isto de escrever bem, é exactamente como diz o autor aqui citado – “É preciso ter sofrido muito”!  Faço minhas estas palavras, porque na verdade, é preciso levar muita lambada da vida e muito pontapé, uns daqui e outros dacolá, para ganhar alma e assim ter algo que dizer ao Mundo! E foi nesses instantes que me ocorreu à ideia, que terei muito a ganhar se continuar a ler António Lobo Antunes, embora ainda não me sinta suficientemente segura para afirmar, que tornarei a tentar ler “O Meu Nome é Legião”. Mas há mais livros deste escritor!  Muitos mais! Quando hoje me aprestei aqui a contar esta minha experiência foi no intuito de incentivar outras pessoas a desejar sentir o mesmo que eu! É que depois de lermos uns quantos livros de António Lobo Antunes, não há mais livro nem autor  que meta medo!

40 Comentarios to “A todo o tempo dar tempo”

  1. ze do cão Diz:

    Não será por me levantar cedo que sou dos primeiros a fazer o meu comentário. Também podia ser é certo, porque ás 7 salto do vale de lençois. É sim, porque me deito também tarde.
    Tenho horror aos calhamaços. Será por andar sempre rodeado deles? É a “Dona” que todos os dias pega neles, foi os filhos que nunca fizeram mais nada do que ler calhamaços. Estes que falo, são de estudo.
    Já me aventurei a pegar e iniciar a leitura de um livro deste ilustre Dr. (creio que a minha “Dona” os tem todos; colegas de profissão são assim) mas só desisti pelo incomodo do seu volume. Acho que estou tentando a reiniciar a leitura depois de ler este comentário tão esclarecedor.
    bjs.

  2. Diamantino Diz:

    Olá! Milu

    Desejo voltar um dia destes, a ler António Lobo Antunes, os seus comentários (da Milu), suscitam-me esse desejo. Prometo a mim mesmo fazê-lo, quero ler “O Esplendor de Portugal”que me parece ser, pelo resume que você fez, uma empolgante história familiar (de ficção, presumo) sobre os períodos: durante e pós-colonial. Foi a temática da guerra em Angola, que me fez ler “Os Cus de Judas”. Irei brevemente, possivelmente na próxima semana, inscrever-me na Biblioteca Municipal cá do burgo, para poder sem custos, abordar melhor o escritor e, quem sabe, apaixonar-me pelo seu estilo. Com Saramago, isso aconteceu-me. Um dia, passeava eu, numa Feira do Livro, encontrei um idoso, a autografar um livro da sua autoria, com um título apelativo «Levantado do Chão». Comprei o livro e fui solicitar ao autor uma dedicatória. Quanto a mim «Levantado do Chão», é um livro difícil de ler, na verdade não o li todo, fiz-lhe duas abordagens, na primeira li talvez um terço, na segunda outro tanto. Depois guardei-o algures, reservado para uma terceira. No entanto, Saramago é o meu escritor de eleição, foram oito, os seus livros que li do princípio ao fim. Não o acho um escritor particularmente excepcional, simplesmente gosto das suas histórias incomuns. «Caim», apesar da sua temática me suscitar interesse, desiludiu-me, não o terminei.

  3. Milu Diz:

    Sempre admirei as pessoas que sentem aquele alor de se impelirem da cama cedo, talvez porque nunca fui assim, excepto durante a semana, quando tenho de ir para o emprego, mas aí funciono como se estivesse hipnotizada. Não sou eu, que me estou a levantar cedo, é antes o meu instinto, que me obriga a tal, e olha que costumo ser das primeiras a chegar ao trabalho. Esta semana, por exemplo, levantei-me sempre às três horas da madrugada, ainda por cima com este tempo medonho. Uma das vantagens deste horário é o facto de um pouco depois das treze horas já estar em casa e com o dia ganho, mas é tão difícil! Assim que chega o fim-de-semana, outra ordem entra neste reino. Lá, pelas sete da manhã, quando já se percebe algum reboliço nos apartamentos vizinhos, a minha casa permanece mergulhada no mais profundo silêncio. Tudo dorme! As pessoas e as coisas!
    Também não gosto nada de livros a atirar para o calhamaço, olho-os com alguma desconfiança. É certo que os livros técnicos ou de estudo têm o tamanho que precisam de ter, já sabemos que assim tem de ser, porque contêm muitas matérias, mas para ter na mesa de cabeceira, o tamanho do livro pode ser desmotivante, por levar muito tempo a ler e assim poder-se correr o risco de perder o fio à meada.
    Da próxima vez que ler um livro do escritor em questão, vou tentar que seja maneirinho, para ver se continuo neste estado de graça. Depois, faço intenção de, gradualmente, subir o degrau de dificuldade, já que irei beneficiar de uma melhor adaptação ao género de escrita.
    Então a tua Dona é médica ou escritora? É que se for escritora, gostava bem de conhecer a sua obra, e nesse caso até me podias levantar um bocadinho da pontinha do véu, para eu ficar a saber quem é. Se assim for, podes dizer-me só para mim, directamente para o meu e-mail! 🙂
    Um beijinho.

  4. Milu Diz:

    Diamantino.

    É isso mesmo. No fundo o que devemos fazer é adoptar uma atitude de receptividade ao diferente. Ler também se aprende e julgo que foi isso que me aconteceu, aprendi a ler o António Lobo Antunes. Neste livro ele usa de expressões magníficas, que nos causam admiração e até um sorriso, porque são tão evidentes que até nos surpreendem. Não transcrevo algumas delas, porque receio ferir susceptibilidades. A última coisa que desejaria, é que alguém saísse daqui magoado por algo que inadvertidamente eu escrevesse, ainda que esteja ciente de que isso possa acontecer, porque sou muito franca e espontânea. Quando a intenção não é a ofensa, como se consegue cuidar do alcance das palavras que fluem naturalmente?
    Ainda não li todos os livros do Saramago, porque vou variando, mas uma vez comprei “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e desisti da sua leitura, até dei o livro a uma colega, veja lá, Diamantino. Mas hoje reconheço que na altura ainda não estava preparada para aquela leitura. Na vida vamos evoluindo e eu ainda estava com a cabeça cheia de saberes feitos. Quando assim é dificilmente conseguimos ser receptivos a novas ideias. Lembro-me ainda de algumas coisas que li nesse livro, e actualmente penso que são muito mais verosímeis do que aquelas “verdades” que a igreja nos conta com a intenção de nos manobrar. Mas se nada se constrói de verdadeiramente sólido com base na mentira, um dia há-de chegar em que a igreja terá de ir pregar para o deserto. Ou talvez evangelizar os habitantes de outro planeta, à semelhança das cruzadas que irremediavelmente destruíram civilizações. Todos aqueles que se atreverem a resistir atiram-se directamente para uma fogueira bem ateada. Curiosamente um dos livros de que mais gostei do Saramago foi o “Ensaio sobre a Cegueira”, talvez por já estar mais madura, logo mais apta a compreender melhor as ideias do autor! Acerca de “Caim”, estou com imensa curiosidade!

  5. Diamantino Diz:

    Desculpe-me por voltar à «vaca-fria», mas quero lhe dar a saber, que comecei hoje a reler: “Os Cus de Judas”, e estou a gostar. Leio agora com uma perspicácia, que não detinha na outra vez, encontrando nele uma riqueza inesperada.
    Parece-me, acontecer com a escrita de Lobo Antunes, o mesmo com a de Saramago, que como diz o slogon publicitário atribuído a Fernando Pessoa: «primeiro estranha-se depois entranha-se».
    Na minha juventude, o que mais li, foram textos de carácter cientifico ou informativo, onde não existe propriamente um estilo literário, daí o meu problema com a literatura propriamente dita, obviamente originado pelo excesso de adesão àquele tipo de escrita. Há dez anos para cá, comecei a ler ficção. Pouco e devagar, às vezes na falta de outros, relendo os livros antigos, é o que faço agora.
    Também neste Lobo Antunes, usa e abusa de expressões e analogias magníficas. Algumas também me fizeram sorrir, com a sua licença, transcrevo duas, que de tão inocentes, não ferem suscetibilidades.
    Na primeira, o narrador ao descrever alguns animais do jardim zoológico, diz:
    – As cobras enrolavam-se em espirais moles de cagalhão – noutra, descreve a decoração da messe dos oficiais, em Santa Margarida dizendo:
    – cadeiras hirtas semelhantes a quadrúpedes desirmanados pastando num acaso sem simetria as franjas gastas dos tapetes.

    Até breve.

  6. Milu Diz:

    Diamantino!

    Eu não podia estar mais satisfeita, porque tal como eu, o Diamantino chegou à conclusão de que o leitor em dada altura descobre que gosta da escrita do António Lobo Antunes. É caso para nos congratularmos, porque assim temos garantidamente uns bons livros para ler e com eles aprender mais um pouco. O segredo é partir para uma entrega total e sentir o narrador, para melhor percebemos as emoções, atitude esta que é bem diferente de quando estamos a ler uma história onde os acontecimentos são lineares e obedecem a uma lógica.
    Sem dúvida que os homens lêem mais livros de cariz científico e de informação do que as mulheres. Eu sempre li literatura, quando esporadicamente lia livros sobre ciência é porque me tinha vindo parar às mãos através de algum dos meus irmãos.
    E já agora que transcreveu estas duas pérolas do escritor, vou também deixar aqui um pequeno excerto do “O Esplendor de Portugal”, que diz respeito à Clarisse, de quem o pai gostava muito, apesar de esta só pensar em sedução e costumar sair de casa respondendo ao chamamento de assobios vindos da rua:

    “…a Clarisse a enroscar o segundo brinco, a procurar um tampo envernizado a fim de se orgulhar dos caracóis, do bâton, das pulseiras, a atentar no meu pai, a roçar-lhe de leve a bochecha na bochecha de forma a não perder o pó-de-arroz, a não desarrumar as madeixas, a não estragar o creme da pele, esporeada por um novo assobio,uma nova debandada de horas, um novo esguicho de campainha”

    Enfim, Diamantino, este livro está escrito todo ele de uma forma muito bela, só de pensar que de início não consegui ver esta verdade até me causa estranheza!
    Vá dando notícias!
    Até breve!

  7. José Pinto Diz:

    Sendo um grande admirador de Lobo Antunes, compreendo os argumentos dalguns críticos. O estilo do escritor obriga-nos, por vezes, a um golpe de rins para o interpretar. É recomendável uma leitura contínua, sem grandes pausas. É um autor multi-facetado. No livro “Os Cus de Judas” onde, por sinal, também aborda a guerra colonial de Angola, ele próprio assume a posição de narrador e personagem. A verdade é que ele escreve muito bem!
    E que dizer de José Saramago? O que é feito dos parágrafos? No campeonato nacional de língua portuguesa levaria uma nota sofrível. Os períodos extensos e emaranhados são uma grande maçada. Sou adepto da clareza da linguagem, na medida em que traduz fielmente o pensamento de quem escreve e facilmente o dá a perceber. Uma boa narrativa também não deve confundir enredo com anarquia.
    O mesmo se passa com a pintura abstracta. Há telas tão enigmáticas que só as entendo com uma boa palestra do pintor. O problema é quando ele argumenta que cada um as interpreta como entender. Neste caso, agradeço o “elogio”. Não tenho é a obrigação de ser actor duma cena em que “O Rei vai Nu”.
    Sempre a considerá-la, Milu.
    Um beijinho.

  8. José Alexandre Ramos Diz:

    Boa tarde

    É opinião muito importante, que muita gente deveria considerar. Espero que não se incomode que transcreva partes deste seu post para o blogue do site António Lobo Antunes. Chegará assim a mais ouvidos. Obrigado.

  9. lino Diz:

    Os meus pêsames e desejos de melhoras rápidas. Verdadeiramente sentidos!
    Beijinhos

  10. Milu Diz:

    José Pinto.

    Através do seu comentário ao post onde comentei o livro de António Lobo Antunes, concluí que o José Pinto tem uma grande familiaridade com a obra deste autor. Concordo consigo, quando diz que não devemos fazer grandes pausas durante a sua leitura, para mais facilmente nos integrarmos no contexto, no qual quase sempre domina o drama humano.Quanto ao José Saramago, tomei contacto com a sua obra há imenso tempo. No primeiro livro estranhei um pouco as frases grandes e as diferenças de pontuação, mas logo me habituei, contudo, mais uma vez estou consigo, por apreciar um tipo de escrita clara e escorreita, eu diria, que o exemplo seria a escrita de Miguel Sousa Tavares, que tem uma escrita impecável. Mas do ponto de vista literário já não é bem assim.

    Literatura é outra coisa, que também descobri agora no António Lobo Antunes. Ainda hoje folheei o livro “O Esplendor de Portugal” e dei de caras com passagens tão belas, que não pude deixar de me sentir intrigada porque é que não cheguei a essa conclusão mais cedo. Será que se deva ao primeiro impacto que o início da leitura dos seus livros no causam? Por ser muito diferente dos demais? Ainda estou para tirar isso a limpo nas próximas leituras.

    De pintura nada percebo, ó José Pinto! Sei quando uma pintura é bonita mas lá saber avaliar até que ponto estou perante uma obra inaudita, isso nem de longe. Não fosse o facto de eu saber que existem certos pormenores técnicos ou outros pormenores reveladores de grande sensibilidade e eu diria que nem os críticos terão alguma vez certezas, isto é, se lhes desse para dizer que uma coisa é arte, esta sê-lo-ia, mas se lhes desse para dizer o contrário, seria isso mesmo a ser considerado. E tudo isto, porque sempre me intrigou como foi possível a Van Gogh nunca lhe ter sido reconhecido o talento. Só depois de morrer foram capazes de olhar para a sua obra com olhos de ver. É sempre assim, depois de se morrer há sempre quem apareça a dizer “era tão boa pessoa”, e isto é tão verdade que até sei o que vão dizer de mim, quando chegar a minha vez: “era tão boa rapariguinha, fazia a vidinha dela e não se metia com ninguém”. Estou a brincar, mas às vezes dá-me vontade de criticar certos costumes que em nada nos enaltecem, mas que são comuns do dia-a-dia.
    Também tenho muita consideração por si, pois é uma pessoa muito atenta! 🙂
    Um beijinho

  11. Milu Diz:

    José Alexandre Ramos.
    Não me incomodo absolutamente nada que transcreva tudo o que pensar ser útil, no sentido de melhor esclarecer sobre o estilo literário de António Lobo Antunes. Acredito bem que haja mais pessoas a quem poderá acontecer a mesma situação, isto é, comecem a ver a obra deste autor com olhos de ver, porque me parece que o primeiro contacto nem sempre foi esclarecedor. Obrigada eu!

  12. Milu Diz:

    Lino.

    Ó Lino, também já pensei como tu! Mas, quis Deus que eu me tivesse iluminado! Palavra de honra que estou intrigadíssima, de como foi possível eu não ter descortinado há mais tempo, por entre a densidade daquela escrita, episódios com tanta beleza. Penso que pelo facto de ser muito diferente do comum nos faz reagir negativamente.
    Um beijinho.

  13. lino Diz:

    Eu sou desmancha prazeres. Crónicas, conheço há anos as da “Visão” e, depois de várias tentativas, passo à frente. Livros, fiquei-me pelo “os cus de judas”. Não há, portanto, unanimidade insofismável.
    Beijinhos

  14. António de Almeida Diz:

    Presentemente não consigo ler, ando às voltas e não saio da mesma página, qualquer que seja o livro, a única excepção foram as 3 noites para ler o último do Agualusa, mas isso são pormenores pessoais que não vêm ao caso. Está a obrigar-me a ir pegar no A. Lobo Antunes, logo que passe esta fase é claro, pois deito-me tardíssimo e levanto-me cedíssimo, noite após noite…

  15. CybeRider Diz:

    De facto não é fácil entrar no cérebro de alguém. Máquinazita complicada. É necessária uma disponibilidade, não apenas de tempo, emocional que nos predisponha para o desconhecido. Como previa no meu comentário anterior estou com “Que Cavalos…” na cabeceira. É denso, é profundo, sinto que o autor nos tenta expor o mecanismo da sua própria caixa, sem que nos dê as ferramentas, as chaves têm de ser nossas, e sentimo-las desadequadas… É um brutal desafio, mas nisso estará o prazer, mas tem de ser com tempo, sem dúvida, e os dividendos são também tremendos. Acabei há dias o “Caim” do Saramago, autor que já me tinha deixado alguma apreensão; mas lá está comecei-lhe logo pela “Jangada…” devia ter começado pelo “Memorial…” sei que sim, mas já descobri isso tarde. Depois deu-se aquilo no Haiti, e fiquei a pensar se não será a resposta do divino ao que os homens possam escrever em seu desprazer. Fiz um exercício, para afinal descobrir que também não me faço entender. O António Lobo Antunes, como Saramago, já não deve ficar muito inquieto com essas alergias, por esta altura já estará, como aquele, entre os que se darão ao luxo de escrever o que lhes dá prazer. Cabe-nos ajustar as definições à pontuação egocêntrica e à crueza com que as ideias nos são servidas. Em relação a este autor tenho a agradecer o facto de se antever nas crónicas o ensejo de comunicar, que as torna menos herméticas, quanto aos livros, vou continuar a esforçar-me por limar as minhas chaves para que abram as fechaduras, porque isso me fará crescer e distanciar dos leitores que vêem no Código Da Vinci (sim, perdi aí o meu tempo) e quejandos, peças de literatura. Arte continuará a ser-me o que me abra a cabeça (venham de lá vergastadas de quem não concorde…).

    Beijinhos

  16. flordeliz(dida) Diz:

    Ainda não é desta que vou deixar o meu olhar recair sobre a prateleira dos livros dele.
    Um dia…um dia?!
    Custou pegar no Saramago e agora gosto. Portanto, vou continuar por agora no Caim, e mais uns que foram oferta de Natal e outros que o meu filho trás para casa (parece ter medo que esgotem)e que são imensos.

    Gosto da tua forma de “vender” sem pintar em demasia o quadro lindinho 😉

  17. Jose Rosa Diz:

    Milu,

    Este escritor, o António Lobo Antunes, é no mínimo polêmico. E sua leitura pelo que você me diz não me parece fácil. E seus livros são grandes (os calhamaços que você diz no post). Mas quem disse que apenas os livros fáceis e pequenos são os bons ? Fiquei novamente curioso para ler este autor. Vou ver se o encontro por aqui.
    E concordo com você quando diz que “é preciso levar muita lambada da vida e muito pontapé, uns daqui e outros dacolá, para ganhar alma e assim ter algo que dizer ao Mundo!”. Os melhores escritores são os mais experientes.

    um bj.

  18. lilás Diz:

    Não há duvida que o teu poste é extremamente esclarecedor mas, tenho dois livros do Lobo Antunes na prateleira á espera de tempo…talvez nas férias..hum férias, falta tanto…
    Bjs

  19. Diamantino Diz:

    Concluí hoje, a leitura de “Os Cus de Judas”, com vontade de o voltar a ler, e talvez um dia destes o faça, porque ainda nem tudo foi assimilado. Algumas vezes, depois de uma pausa, ao reiniciar a leitura no inicio da página onde pus o marcador, aconteceu-me encontrar saborosos períodos que me tinham passado despercebidos.
    Estou certo, que “Os Cus de Judas”, é um livro que lhe agradará ler e até tem o formato ideal para quem gosta de ler na cama (o que não é o meu caso).

  20. Milu Diz:

    Lino.

    Não és nada desmancha prazeres! Estás no direito de não apreciares este autor. A mim aconteceu-me o que aqui contei, de rompante apercebi-me que este género literário é de uma densidade e profundidade tal, que fez com que achasse outros livros um tanto patetas.
    Um beijinho.

  21. Milu Diz:

    António de Almeida.

    Também já me aconteceu não conseguir ler mais de uma página por me perder nos pensamentos. Desconcentro-me da leitura porque a ideia me foge para outra coisa e por norma não é bom, quase sempre é algo que me anda a apoquentar. Enquanto o António andar assim é melhor não tentar ler este autor, se não estivermos atentos, então é que se torna enfadonho. 😀

  22. Milu Diz:

    CybeRider.

    Também li o Código Da Vinci e até gostei, mas é como tu mesmo disseste, este e outros livros do género nada têm a ver com a profundidade dos livros de grandes autores tais como António Lobo Antunes, Saramago e ainda outros. Esta minha última experiência, que falei no post, fez com que não esteja mais disponível para ler certos livrecos, decidi esforçar-me para ser mais criteriosa nas minhas leituras. Quanto ao José Saramago desde sempre que gostei dele, há nele uma fina ironia e um espírito deveras acutilante, basta ter vindo do nada. Quando se sobe a corda a pulso sobram-nos as dores do esforço… Ainda não li o livro “Caim”, mas estou com muita curiosidade, não escondo que me identifico bastante com o seu autor, nutro-lhe uma grande admiração. Sei que estes dois autores alimentam entre eles uma certa antipatia, ou mesmo, até, um ódio de estimação, mas pela parte que me toca sou indiferente a esta guerra, gosto dos dois e apenas isso me interessa.

    Quanto ao que aconteceu e ainda está a acontecer no Haiti, nada vejo de divino, o que aconteceu obedeceu às leis da natureza. Porque para castigo, que não chego a compreender que tão grande mal teriam feito para o merecer, já lhes chegava a miséria e a fome! Porque será que quando acontecem infortúnios aos pobres têm logo de ser considerados como um castigo de Deus? Em contrapartida, parece que para todos os que exploram o ser humano não existe castigo divino. Eles por aí andam cada vez mais ricos sem que nada de mal lhes aconteça, a não ser morrerem podres de velhos. Não vou muito com esta fé ou crendices cegas, fartei-me de ver sempre os mesmos a sofrer.
    Beijinhos.

  23. Milu Diz:

    Dida

    Quando decidires enveredar por António Lobo Antunes opta por um dos livros dele com menos páginas! 😀

    Penso que enquanto não nos habituarmos ao estilo do autor, não é fácil ler-lhe os livros, se forem muitos extensos, pode ser um convite à desistência.
    Eu mesma, que penso ter já tomado a vacina, tenho a intenção de continuar a ler este autor primeiro nas suas obras mais maneirinhas. Entretanto vou subindo no grau de dificuldade.
    Um grande beijinho.

  24. Milu Diz:

    José Rosa.

    Encontras aí livros deste autor com toda a certeza. Um dos livros que fez um sucesso danado no Brasil foi o “Memórias de Elefante”, contudo, este romance ainda não obedece aos traços literários que agora caracterizam este autor. Mas nem todos os livros dele são calhamaços, tens alguns mais pequenos, experimenta um desses, para ires tomando o pulso a este género literário, bastante denso e intenso, mas que nos vacina contra outras leituras menores, que só servem para nos fazer perder tempo. 🙂
    Um beijinho.

  25. Milu Diz:

    Lilás
    AH! Férias!
    Pois falta! Eu já só queria era uns diazinhos de sol, para ver se arribo. Este Inverno tem dado cabo de mim. Ainda ontem passei um dia terrível no emprego e suspeito que hoje não vai ser melhor, devido a estar muito constipada, devia ficar em casa, mas este meu espírito não me permite essa liberdade, não fui habituada a lamechices, para meu mal, às vezes! 🙂
    Um grande beijinho.

  26. Milu Diz:

    Diamantino.

    É curioso que também aconteceu isso comigo, de repente tomava mais atenção a certas partes do livro que já havia lido, tive até pena de no início não ter tido a mesma atenção que já tive do meio em diante. Mas a verdade é que não me sinto com coragem para o ler outra vez. Para mim, um livro lido é um livro arrumado, a não ser que necessitasse estudar sobre ele… Estou muito contente, por de certa forma, eu ter contribuído para que o Diamantino se debruçasse sobre este autor com uma perspectiva de total aceitação, porque a verdade é que estes é que são livros a sério! Ler este autor dá-nos uma “endurance”, que não é brincadeira! Ainda não pensei sobre qual o livro que lerei da próxima vez, mas também já dei uma espreitadela ao “Arquipélago da Insónia” e às primeiras impressões até fiquei agradada. Mas logo verei! 🙂
    Ah, sim! Sim! Gosto de ler na cama. Foi assim que comecei em criança, naquelas noites de invernia, lia horas seguidas no conforto da minha camita, à luz do candeeiro a petróleo que se fartava de esfumaçar, amarelecendo a chaminé e empestando o pequeno quarto mas era o que havia na altura, afinal, nem tudo era mau, ao menos tinha livros! 😀

  27. Jose Rosa Diz:

    Milu,

    Resumindo então:
    O ‘Memórias de Elefante’ pelo que você disse tem um estilo literário que não é o atual do autor. O “O Meu Nome é Legião” é um calhamaço. Entçao você recomenda para iniciar o ‘O Esplendor de Portugal’ ou o ‘A Nau’ ?

    um bjo.

  28. Milu Diz:

    José Rosa.

    Uma coisa é certa: Foi o livro “O Esplendor de Portugal”, que me despertou, digamos assim, para o encanto que há na escrita de António Lobo Antunes, por isso aconselhar-to-ia. A história do livro tem como pano de fundo a colónia portuguesa de Angola, nos períodos da colonização e o após independência, altura em que deflagrou a guerra civil. Mas todos os acontecimentos nos são dados saber através das falas das personagens, que se vão revezando umas às outras no papel de narradores. É através dos seus olhos, das suas emoções, dos traumas e seus desencantos que vamos conhecendo este período da história de Angola. Portugal surge assim como um país com mais olhos do que barriga, esta expressão utiliza-se quando nos envolvemos em situações para as quais não detemos a mínima “estaleca”. Um país onde grassava a miséria e a ignorância a querer governar outros e logo com aquelas dimensões, já reparaste nisto?
    Um beijinho.

  29. Lídia Soares Diz:

    Miluzinha

    Tenho que te confessar que os últimos anos da minha vida não têm sido pródigos em leituras de romances mesmo os de bons escritores que há mais de duas décadas fizeram o meu enlevo.
    Aprecio alguns contributos apaixonantes de Lobo Antunes como também me acontece com Saramago mas não sou fã nem dum nem de outro.
    Apesar das mensagens fortes construídas com saber e mestria há passagens dos seus livros – na sua maioria – que me cansam. Não obstante acho que fazem parte de todo um património cultural que devemos preservar, conhecer melhor e retirar daquela experiência humana única e irrepetível o complemento que precisamos para crescermos ainda que possamos estar no Outono da vida.
    Abraço

  30. Jose Rosa Diz:

    Valeu Miluzinha,

    Agora já me decidi. Vou procurar “O Esplendor de Portugal”.
    Sem querer polemizar muito (e já polemizando), sobre o que você disse “Portugal surge assim como um país com mais olhos do que barriga, esta expressão utiliza-se quando nos envolvemos em situações para as quais não detemos a mínima “estaleca”. Um país onde grassava a miséria e a ignorância a querer governar outros e logo com aquelas dimensões, já reparaste nisto?”, não sei se concordo muito…
    E isso me faz lembrar aqui do Brasil, da vinda da família real portuguesa, por exemplo, em 1808, todo o progresso que trouxe para nossa terra, tão bem retratada em livro de Laurentino Gomes, escritor brasileiro (http://pt.wikipedia.org/wiki/1808_%28livro%29).
    Um país do tamanho de Portugal de certa forma ‘criando’ outro do tamanho do Brasil ? É algo para se pensar. Mesmo acreditando, como alguns sociólogos daqui, que somos um povo com três raízes: européia-portuguesa, indígena e africana, a contribuição da matriz branca (portuguesa) é fortíssima, refletindo-se na língua que é um dos maiores fatores de integração nacional, quase um milagre no meu entendimento, em se tratando de um país continental como o nosso.

    um beijo.

  31. Milu Diz:

    Olá Lídia.

    No início do livro “O Esplendor de Portugal”, também me pareceu cansativo, o autor repete imensas vezes a mesma frase, querendo com isso enfatizar a ideia, mas a verdade é que fui vencendo as páginas e uma vez chegada ao fim, senti que tinha lido uma epopeia. E o que aconteceu a seguir foi uma revelação: Fui à Biblioteca Municipal e procurei pelas últimas aquisições, haviam vários livros novos e de diversos autores, folheei um, folheei outro e ainda outro. E não lhes consegui encontrar conteúdo. Aqueles diálogos pareciam-me tão insípidos, então compreendi, que ao ler o António Lobo Antunes eu havia colocado a fasquia bem mais alto.
    Um beijinho.

  32. Milu Diz:

    José Rosa.

    Não sei se foi esse livro que li, mas se foi é realmente muito interessante e muito me ensinou. Pois não se esqueça que a família real portuguesa e a corte, demandaram numa vergonhosa fuga para o Brasil, fugindo assim às invasões francesas, comandadas por Junot. Deixaram Portugal à míngua e completamente indefeso. Os alimentos escassearam drasticamente, porque todos foram poucos para embarcar naquela que foi, ao fim e ao cabo uma audaciosa viagem. A grande prestação que a colonização portuguesa foi para o Brasil deveu-se provavelmente ao facto da família real se ter implantado de armas e bagagens nesta prometedora colónia, por pouco já nem retornavam a Portugal. Estabeleceram-se muitas relações comerciais nas quais como sempre a Inglaterra se fartou de lucrar, na medida em que os ingleses tinham uma relação com os portugueses bastante privilegiada, eram eles que nos ajudavam a defender as concessões já que tinham uma poderosa armada. Mas enquanto o Brasil prosperava, Portugal estava entregue aos bichos. Mas com Angola foi diferente, houve uma guerra que deixou chagas para todo o sempre, muitos foram os jovens que perderam a vida ou ficaram estropiados. Mas, José Rosa, se vais ler o livro, tu mesmo irás tirar as tuas conclusões.

    Tenho um comentário sobre um livro que narra a fuga da família real portuguesa para o Brasil. O livro tem o título de “Meu Portugal Brasileiro” Está aqui http://www.miluzinha.com/?cat=38
    Um beijinho.

  33. dida(flordeliz) Diz:

    Olá Milú!
    Porque hoje (era) sexta, vim deixar-te um beijinho e desejar que tenhas um belo de um fim de semana.
    Pk?
    Porque sim! Chega? 🙂

  34. Milu Diz:

    Olá Dida!
    E para ti também um excelente fim-de-semana. Um beijinho. 🙂

  35. lilás Diz:

    Olá Milu
    Vim á procura de mais uma daquelas coisas lindas que costumas contar, então aproveito para te desejar mais uma 2ª feira cheia de genica…( a minha é pouca).
    Bjs

  36. Milu Diz:

    Olá querida Lilás.
    Já está! Já contei mais uma história, mas não me parece muito bonita, mas, acima de tudo, ela descreve factos que um dia aconteceram, bonitos ou não!
    Também não ando com grande genica, é do tempo, digo eu! 😀
    Um beijinho.

  37. opolidor Diz:

    Milu
    um bj para começar porque assim não me esqueço…
    “O pão que o diabo amassou…” funciona, normalmente, como uma bagagem infinitamente pesada como estímulo(?) para muitas ideias. O que faz doer é frequentemente mais criativo do que a graça mais fácil, talvez porque transporta vivências mais profundas e essa parece ser a experiência de vida de A. Lobo Antunes. Diria que se “perdeu” um psiquiatra e se ganhou um bom escritor.

  38. Milu Diz:

    opolidor.
    Sem dúvida que as vivências doridas dão histórias bem bonitas, porque há sempre nelas uma certa dose de drama que adensa a narrativa. António Lobo Antunes não passou por dificuldades económicas tal como eu e muitos outros, mas deve de ter tido alguns desgostos e sofrimento, para tão bem saber escrever, quando se trata de emoções!
    Um beijinho

  39. opolidor Diz:

    Milu
    escrever bem tambem se aprende, mas o “resto” tem que existir por acréscimo de talento, não é sem motivo que A.L. Antunes diz que nunca se viu tanto “livro” publicado…
    bj

  40. iolanda Diz:

    amigas visitem este link vendo artigos bem baratos para decorarem os vossos quartos de bebe ou casa , caixinhas de cha, cafe, quadros, molduras… tenho mais artigos do que estao no blog visitem nao perdem em ver http://demaeparamae.pt/directorio/forum-comercial/decoracao-infatil-mae-barato-ate-5-euros-maximo

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