A mosca morta

Publicado por: Milu  :  Categoria: A mosca morta, FLAGRANTES DA VIDA

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Ler este livro perturbou-me!… Os Amantes da Liberdade de Claudine Monteil foi o livro que comecei a ler no último fim-de-semana e acabei de ler esta madrugada de terça-feira de Carnaval. Li-o, portanto, em quatro dias. Este livro faz-nos o relato em traços largos do que foi a vida  de Jean-Paul Sartre e de Simone de Beauvoir, incluindo a descrição do ambiente das suas mortes e respectivos enterros. É aqui que reside o busílis da minha perturbação, porque se de início, os acontecimentos descritos puseram em evidência os seus extraordinários talentos e vocação para o trabalho, que os levou à notabilidade, por outro lado, quase no fim do livro somos levados a assistir ao declínio e à degradação destes dois ícones da liberdade. O fim do livro é mesmo deprimente. De de tal forma me entristeceu que acabei por me deixar afectar por um episódio, que só foi possível devido ao estado emocional em que me encontrava por influência do final do livro. Ou então, é a pieguice da velhice. O que aconteceu foi o seguinte:
Estava eu a ler o relato pungente de um dos enterros, quando se levantou, vinda não sei de onde, uma mosca preta e enorme, que esvoaçava feita uma doida, pelo meu quarto fora, batendo-se contra as paredes com um vigor tal que até me impressionou. Ora, uma coisa destas a altas horas da noite, fez com que me sentisse assolada de maus presságios. Pensei de mim para mim: Será que esta enlutada mosca, me quer dizer alguma coisa? Fiquei logo preocupada com o puto, que andava não sei por onde, vestido de noiva,  a festejar o Carnaval. Tal como sempre faço, quando por algum motivo fique inquieta, aliás, basta-me ouvir a sirene de uma ambulância, que funciona como marcador somático desde o acidente que envolveu o meu pai, peguei no telemóvel e enviei uma mensagem: Está tudo bem? Ele que sabe deste meu problema não demorou a responder-me, como faz habitualmente:  “Ya“. Só isto e apenas isto.  Mas este “Ya” é tudo para mim, tem o condão de me sossegar… Entretanto, apaguei a luz do meu quarto e abri a porta  que dá para o corredor do qual acendi a luz, numa tentativa de fazer com que a mosca saísse do quarto atraída pela luz. Quando me pareceu que já tinha passado tempo suficiente mergulhei novamente na cama a ler o livro. E a mosca tornou a fazer a sua infernal aparição, parecia uma avioneta em voos picados pelo quarto fora. Instantaneamente, quando eu já rangia os dentes de raiva desapareceu do mapa, só a tornei a ver hoje de manhã, que é como quem diz, lá pelo meio-dia quando acordei, que hoje foi dia de preguiçar. Estava ela muito sossegadinha, plantada na parede a esfregar vigorosamente as patas dianteiras, e eu, que ainda não me tinha esquecido do incómodo que me havia causado durante a lúgubre noite, deixei-me levar por instintos assassinos. Vingativa, fui buscar um pano encharcado, e com toda a força de que fui capaz dei-lhe com ele. Toma que é para aprenderes!  Depois, esfreguei as mãos satisfeita e fui lavar  a parede.
Depois desta narrativa criativa, inspirada no carnaval da vida, vou escrever sobre as impressões que colhi na leitura deste livro. Não serão, com toda a certeza, os aspectos mais importantes nele contidos, que isso deixo para os experts no métier, o que me interessa mesmo referir deste livro são apenas alguns aspectos que achei curiosos. Só isso. Contudo, por uma questão de não misturar estilos, fá-lo-ei num outro post que ficará na categoria livros. Quem estiver interessado em ler poderá aceder no separador Livros, ou a partir do link que se segue.

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8 Comentarios to “A mosca morta”

  1. Jose Rosa Diz:

    Querida Miluzinha,
    Fico muito feliz com a volta dos seus posts, dos seus relatos, das suas leituras e experiências de vida.
    Essa da mosca, no meio da noite, e você acabando um livro dessa profundidade foi de assustar mesmo.
    um bjo,

    José Rosa.

  2. Milu Diz:

    Eheheh já me ri com isto. Eu e as minhas aventuras 😀 mas a mosca estava endiabrada 😀
    Um beijinho

  3. lino Diz:

    Raios partam a mosca!
    Beijinho

  4. Milu Diz:

    Oi Lino 😀

    Só querias que visses a fúria com que ela fustigava as paredes ;D
    Um beijinho

  5. Dida/flordeliz Diz:

    E depois…
    O bicho não tinha sido convidado para o serão de leitura carnavalesca, a não ser quando recebeu ordem: dar de frosques -sair!

    Por aqui imaginou-se um baque violento de pano molhado esborrachando a pobre mosca deixando-a melada escorrendo (pouco) sangue na parede do quarto. Qual viatura que após corrida desenfreada na auto-estrada fica salpicada de restos de imprevidentes e mesmo incautos insectos que ousam atravessar locais proibidos a viagens a menos de 50 km/h.
    Olha Milu, pensando bem, há que acautelar estas situações com sinalização adequada a animais de asas.
    E não me venhas lembrar que talvez não saibam ler…
    Na praia também os cães não sabem, mas o sinal está lá. E não me parece que os que frequentam as “ditas” o façam por não saber ler, até porque normalmente vão acompanhados por gente letrada.

    Oups…perdi-me e já nem sei bem de que estou para aqui a tagarelar 😉

    Esta mosca faz-nos soltar a imaginação.
    Beijinho

    BFDS
    Dida

  6. lilá(s) Diz:

    Milu, estás de volta e eu distraida não dei por nada! saudades amiga
    Beijinhos

  7. Milu Diz:

    Oi Dida 😀

    A mosca era enorme… e preta… parecia um mau agoiro. Repara bem nisto: eu estava há horas no quarto, com a porta fechada, não dei por mosca nenhuma. Nisto, quando estou a ler sobre os funerais, descritos de uma forma que me impressionou, eis que aparece a mosca a voltear com tal fúria que ia estatelar-se nas paredes! E eu a ver aquilo só pensava: Que é isto? 😛
    Beijinhos 😀

  8. Milu Diz:

    Olá Lilás 😀

    Estou de volta e com vontade de permanecer. Beijinhos

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