A “Dama de Ferro”

Publicado por: Milu  :  Categoria: A "Dama de Ferro", SOCIEDADE

mulher-poder

“Nem bela, nem adormecida, muito menos gata borralheira.

Adelsa Cunha

 

Estava eu muito bem a ler o livro intitulado “Os Líderes do Século”, da autoria de Manuel José Homem de Mello, mais precisamente na parte que coube a Margaret Thatcher, quando mais um vez constatei que existem provavelmente muito poucas diferenças entre o homem e a mulher. Tudo depende da forma como a mulher  é educada e para o que é educada. Algumas conseguem romper com o estabelecido e ser até “mais homens do que os homens”, ou seja, conseguem desempenhar os papéis que foram culturalmente atribuídos aos homens bem melhor do que a maioria deles.  A igualdade entre os sexos será possível quando deixar de haver papéis destinados «à priori». Quando a mulher  menina for educada  nos mesmos moldes que o homem menino. Sem diferenças. O excerto que apresento abaixo demonsta claramente o que tem sido a questão feminina. É preciso romper com a anacronia que teima em amarrar as mulheres.

Sociologia do Casamento

 Anália Torres

“(…) a igualdade dos sexos não pode tornar-se maior senão quando a mulher se envolver mais na vida exterior; mas então como deverá transformar-se a família? Serão necessárias mudanças profundas, perante as quais não há talvez modo de recuar, mas que é necessário prever” (Durkheim, 1901, 1975: 131) in Torres (2001: 25).

“Durkheim achava mesmo que [as mulheres] só seriam iguais aos homens quando desempenhassem funções idênticas, isto é, quando fossem para o «exterior». Posição que, como sabemos, lhe confere inteira razão. Mas as preocupações «naturalistas» sobrepõem-se logo às outras: e a família? E quem cuidará? Não estarão as mulheres «naturalmente» preparadas para estas funções? Começa então tudo de novo, remove-se a ambiguidade aparente e aceitam-se os entraves à independência e autonomia femininas. Estes argumentos, apesar da sua respeitável idade, vão recorrentemente reaparecer ao longo do século XX sempre que a questão feminina é colocada, sempre que se dá um passo no sentido de maior cidadania.

Constantemente se relembra às mulheres e, normalmente são ideólogos homens a fazê-lo, que não podem ter plena cidadania porque lhes cabem atributos, obrigações, deveres especiais. As mulheres são pessoas sempre com família – ou não são bem mulheres… – os homens são sempre homens sozinhos. Sobre elas recaem ameaças, culpabilizações, sacrifícios. Parsons, como veremos à frente, depois de mostrar algumas das tensões e dificuldades originadas pela divisão e diferenciação dos papéis sexuais, acaba por concluir pela necessidade do sacrifício das mulheres casadas em relação a ambições de realização pessoal e profissional. A não existir esse sacrifício, estariam ameaçados o bem estar e harmonia da família” (Torres, 2001: 25).

Os Líderes do Século

Manuel José Homem  de Mello

“Segundo confissão da própria Margaret Thatcher a sua divisa, embora guardada «in pectore», foi a mesma que a adoptada por Chathan – primeiro ministro britânico entre 1764 e 1768 – adoptou, ao assumir o cargo: «I know that I can save this country and that no one else can.» («Sei que posso salvar este país, o que mais ninguém poderá fazê-lo»).

Esta indómita, messiânica, quase petulante vontade de vencer, tinha que dar resultado.

O posterior desenrolar dos acontecimentos viria a provar, inequivocamente, que Margaret Thatcher era a pessoa certa para o cargo que lhe estava destinado e que se propunha assumir.

Maquiavel que me desculpe, mas a ambição política só é ilegítima quando não se levam em conta os meios utilizados para a prossecução dos objectivos que se desejam alcançar.

Eleita, entre os seus pares, membros da Câmara dos Comuns, líder dos Conservadores, em 1975, Margaret Thatcher não tardaria a dar inequívocos sinais de que viria a ser, rapidamente – na feliz expressão que Ronald Reagan tornaria célebre – o primeiro «homem» da Grã-Bretanha.

Eram três os objectivos prioritários:

  1. Inverter a estratégia que conduzira a Grã-Bretanha ao declínio financeiro, industrial e comercial.
  2. Reduzir as despesas públicas de forma a não aumentar a dívida externa e interna do Estado, sem que o primeiro item estaria, desde logo, comprometido.
  3. Preservar nessa orientação tanto tempo e tão afincadamente quanto se revelasse necessário.

Obtida a aquiescência dos colegas de gabinete mais proeminentes, Thatcher partiu para a luta. Pouco mais de dois anos volvidos a economia dava mostras de inequívoca recuperação. O Estado tendia a ficar reduzido ao estritamente necessário. Bem cedo os ingleses se apercebiam que voltavam a ser governados com eficiência e tenacidade.

Em termos exclusivamente políticos Margaret Thatcher decidiu seguir dois caminhos: não transigir com o terrorismo desencadeado pelo IRA; colocar os maiores obstáculos não só à continuidade da integração do Reino Unido na CEE, como também no próprio aprofundamento da Europa política que os demais países da comunidade se propunham – e é de crer que ainda se proponham… – incrementar.

Quanto ao IRA, a intrânsigência revelada por Thatcher – que chegou a revestir aspectos de crueldade extrema ao não evitar a morte, resultante de uma greve de fome, de dois jovens membros da organização, presos numa cadeia britânica – acarretou-lhe diversas tentativas de extermínio, a mais espalhafatosa das quais foi a de Brighton, em 1984, por ocasião do congresso do Partido Conservador, quando uma bomba colocada no andar do hotel onde a senhora Thatcher pernoitava explodiu sem a atingir, embora matando diversos elementos da sua segurança. (Ver Nota de Rodapé).

No que toca ao antieuropeísmo militante, que manifestou no decurso do seu consulado, Margaret Thatcher tornou-se responsável, mercê das suas intransigências e exigências, por alguns dos mais significativos atrasos sofridos pela concretização da União Europeia. Sob este aspecto, tenho para mim que foi nefasta a actuação que desenvolveu, mas a  história apreciá-la-á mais serena e objectivamente do que qualquer observador contemporâneo, ainda influenciado pela proximidade dos acontecimentos e pelas sequelas das paixões políticas que se desencadearam.

Uma referência, ainda que muito breve, deverá ser feita à chamada guerra das Malvinas (Falklands para os ingleses), que permitiu à senhora Thatcher – face à determinação e presteza com que reagiu à invasão argentina – manter a flutuar naquelas inópspitas paragens do Atlântico Sul a velha (e gloriosa) Union Jack.

Independentemente das dúvidas e até das críticas que a sua orientação suscitou ou ainda suscite, a verdade é que Margaret Thatcher foi um primeiro-ministro fora de série e um dos raros estadistas de sexo feminino ao longo deste século.

A firmeza das convicções, a coragem das atitudes, a capacidade de liderança, a defesa intemerata do que considerava ser os superiores interesses do seu país, merecem nota alta, mesmo muito alta.

Admirá-la há-de ser o mínimo dos mínimos quando nos debruçamos sobre o seu percurso. Para aplaudir, de mãos ambas, a trajectória que percorreu e os sucessos que alcançou.”

Nota:

“Um comunicado do IRA a propósito desta tentativa de assassinato político dizia, perfidamente, o seguinte: «Felicitamos a senhora Thatcher pela sorte que hoje teve, não se esqueça, porém, que a senhora precisa de ter sorte todos os dias, enquanto a nós basta tê-la uma vez…».”

Bibliografia

DE MELLO, M. J. H. (1998). Os Líderes do Século. Gradiva. Lisboa. pp. 125-126.

TORRES, Anália. (2001). Sociologia do Casamento. Celta Editora. Oeiras. p. 25.

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