A República dos Corvos

Publicado por: Milu  :  Categoria: A República dos Corvos, LIVROS

14

José Augusto Neves Cardoso Pires nasceu no dia 2 de Outubro de 1925 em São João do Peso, Vila de Rei, distrito de Castelo Branco. Era ainda criança quando os pais se fixaram em Lisboa e foi nesta cidade que frequentou o Liceu  Camões e iniciou o curso de Matemáticas  Superiores na Faculdade de Ciências. Após ter desistido do curso dedicou-se à tradução e ao jornalismo, começando na revista Eva no ano de 1949. Depois de passar por outras publicações tornou-se director do Diário de Lisboa. O seu primeiro livro, “Os caminheiros e outros contos” (1949), foi retirado do mercado pela Censura. Em 1963 ganhou o Prémio Camilo Castelo Branco da Sociedade Portuguesa de Escritores com a novela “O Hóspede de Job”. Foi autor do romance “Balada da Praia dos Cães” com o qual foi feito um filme realizado por José Fonseca e Costa. Com este romance ganhou ainda em 1982 o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. No ano de 1997 foi distinguido com o prémio Fernando Pessoa. Além das  obras já citadas escreveu “Histórias de amor” (1952), “O Anjo Ancorado” (1958), “O Render dos Heróis” (1960), “Cartilha do Marialva” (1960), “Jogos de Azar” (1963), “O Delfim” (1968), “Dinossauro Excelentíssimo” (1972), “E Agora, José? (1977), “O Burro-em-Pé” (1979), “Corpo-Delito. Na Sala de Espelhos” (1980), “Alexandra Alpha” (1987), “A República dos Corvos” (1988), “A Cavalo no Diabo” (1994), “De Profundis, Valsa Lenta” (1997) e “Lisboa, Livro de Bordo” (1997). Foi um dos autores mais conceituados do neo-realismo. Faleceu no dia 26 de Outubro de 1998.

A “República dos Corvos” é uma obra do já falecido escritor José Cardoso Pires. Foi a segunda vez que li este livro.  Um dia destes, ao consultar a herança literária que nos deixou, pude constatar  que já tinha lido outras obras do mesmo autor. Mas, a verdade, é que nem disso tinha consciência. Durante muitos anos li que me fartei, sem no entanto, prestar grande atenção quem eram os autores,  não que me fossem completamente indiferentes, não era bem isso, somente  não dava importância por aí além. Nunca fui dada à idolatria e  actualmente assim permaneço, sem ídolos. Já disse algures por aqui, que costumo ler por prazer, procuro antes de mais, a vertente  lúdica que encontro no acto da  leitura. Não me preocupo, nem envido esforços  dignos de nota, para reter na minha estrutura cognitiva, quaisquer conceitos ou ensinamentos contidos nos livros. Vou antes retendo, ao acaso, aqui e ali, algumas ideias  que  no seu todo vão formando o meu pecúlio cultural. E assim sou!

Este é um livro composto por sete contos, não vou explanar ou fazer qualquer resumo porque não se trata de uma história mas sim de várias, ou melhor, são caricaturas dos tempos e da sociedade portuguesa. O conto Dinossauro Excelentíssimo cheira a política que tresanda! Trata-se de uma alegoria ao Salazar e, também, ao mutismo e ataraxia de um povo que transbordava de ignorância. Este conto foi publicado no ano de 1972. Durante uma discussão na Assembleia Nacional acabou por ser dado como exemplo de que havia liberdade em Portugal. Que hipocrisia!

im

Tenho de dizer que fiquei deveras agradada por ter ocasionalmente  pegado neste livro e de mais uma vez o ter lido. Foi importante  para mim porque serviu para me dar confiança na minha escrita. Por vezes enquanto escrevo, é frequente ocorrerem-me à ideia, espontaneamente, determinadas expressões que me soam familiares, ainda assim tenho evitado usá-las por chegar a duvidar que sejam correctas, receio  bastante fazer má figura!  Eis que, parte dessas expressões e alocuções estão presentes na República dos Corvos! Afinal, a minha apreensão parece ser de certa forma infundada. Nesta obra o discurso é abundantemente irónico e de uma expressividade extraordinária! Como eu gosto! Cheguei também à conclusão que devo de prosseguir na mesma linha que iniciei, ou seja, ser eu mesma, sem disfarces e  sem vaidades bacocas, para assim ficar a salvo de cair numa humilhante vulgaridade. Acima de tudo sou lúcida! Mostrar-me como sou é a prova insofismável de que me sinto bem comigo própria, que convivo bem com os meus defeitos e limitações.

corvos