“O estudo, a busca da verdade e da beleza são domínios em que nos é consentido sermos crianças por toda a vida.”
ALBERT EINSTEIN
Foi com alguma apreensão que publiquei o texto anterior com mais uma das minhas histórias. Ao vir para a net, para o mundo afinal, contar um dos episódios da minha juventude, onde revelo que naqueles tempos de probidade eu era senhora para despejar um caneco e esfumaçar os meus cigarritos, fez-me recear que pudessem pensar, quem eventualmente me viesse a ler, que eu fui uma maluca, uma daquelas jovens totalmente passadas da cabeça, que só sabem alinhar em tontarias.
Mas depois, pensei melhor e disse de mim para mim: Que se lixe! Que se lixe pois, se fui maluca ou não, se calhar fui, contudo, julgo que o valor destas minhas histórias, se é que algum valor têm, está precisamente no cunho da sua autenticidade. Elas são representativas de um tempo, são portanto e em certa medida, um documento do passado. Mal sabia eu de que me haveria de congratular pela minha boa-fé. É que foi precisamente o post anterior, que motivou e inspirou, além de outros, estes dois majestosos comentários, que tão bem ilustram e abrilhantam este meu cantinho no vasto oceano que é a blogosfera. Um muito obrigada a todos os visitantes do Blog da Miluzinha!
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José Pinto
cabecaweb.blogspot.com
“O texto que escreveu traz à minha memória, em primeiro lugar, uma “Lisboa de outras eras”. No meu entender, o incêndio do Chiado, em 25 de Agosto de 1988, destruiu muita da sua magia. Tinha um certo fascínio pelos Armazéns Grandella onde costumava ir com a minha família às compras! Naquela manhã, estávamos em Almada. Havia chamas enormes sobre o coração de Lisboa. Turbilhões de fumo amarelo, helicópteros em volteio frenético e sirenes de ambulância são imagens e sons que guardo daquele pesadelo! Feito parvo, arranquei de carro para o local e, pior, fui pela Ponte, como se não fosse mais prático apanhar o barco em Cacilhas até à Praça do Comércio! Escusado será dizer que tive de estacionar muito longe e, mesmo a pé, não passei do fundo da Rua Nova do Almada, porque a Polícia e os bombeiros tinham bloqueado o acesso àquela zona. Como tantos, só fui estorvar! Foi um impulso irreflectido que não consegui controlar.
Vou agora abordar a história do seu almoço na Baixa. É bem verdade que, num país recente, havia normas virtuosas de conduta que não passavam duma discriminação descarada sobre as mulheres. Não passou muito tempo, usar calças era um exclusivo masculino. Do mesmo modo, era privilégio dos homens beber álcool em público. Fumar constituía um sacrilégio, uma desonra, uma depravação para as senhoras. Era patético ver mulheres do campo, habituadas a beber a sua pinguita às refeições em casa, terem de pedir no restaurante uma triste laranjada. Vinho?! Nem pensar! Que vergonha! Havia um desconsolo indisfarçável no seu rosto! Ao lado, o marido bebia, refastelado, a sua litrada e rematava a refeição com café e bagaço! Pelo meio, ainda lançava umas baforadas de tabaco sobre a mesa. A mulher nem sequer poluía! Quem não se lembra disto?
O direito a ser pessoa passa pela partilha de direitos, deveres, tarefas e costumes. Felizmente, o país evoluiu e, apesar de alguns focos de resistência, temos agora uma sociedade mais equilibrada. Em muitas áreas, as mulheres até já vão muito à frente, por mérito próprio. No que toca a vinho, também há mulheres enólogas profissionais, muito prestigiadas, que dão cartas a muitos homens.
Vem a propósito lembrar que, até há pouco tempo, era politicamente correcto oferecer, nas relações sociais, uma garrafa de whisky. Esse hábito está hoje ultrapassado pela própria etiqueta. Receber whisky constitui, hoje, um verdadeiro pesadelo. A um bom amigo dá-se uma boa garrafa de vinho! Até porque, “ in vino veritas!”
Feliz 2010! Um beijinho!”
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Diamantino
A sua história dá-me oportunidade para dizer que não bebo, até poderia dizer que nunca bebi, mas isso não seria absolutamente verdade, porque quando jovem, bebia às vezes um pouco à refeição. Deixei de beber mesmo esse pouco, num determinado dia do ano de 1963. Foi no dia das sortes, no dia da minha inspecção militar, quando fiquei apurado para todo o serviço. Começamos a beber, eu e outros mancebos, na cantina do Quartel, para depois continuarmos nas tabernas que encontrávamos na errância que empreendemos, pelas ruas da grande cidade. Naquele dia apanhei cá uma perua, que me prostrou sem decoro numa esconsa ruela, durante algumas horas. Foi remédio santo, nunca mais bebi.
Com o tabaco poderei ser mais afirmativo e dizer que nunca fumei, ou quase. Há trinta e poucos anos, numa festa de casamento, alguém, aproveitando-se da minha passividade, me enfiou um charuto entre os dentes e pegou-lhe fogo na ponta que ficou de fora, devo ter chupado uma ou duas vezes, antes de me engasgar com o fumo daquela coisa. Já antes, teria eu doze anos, tinha passado por outra experiência, não menos estúpida. As barbas de milho secas e picadinhas, assemelham-se ao tabaco vendido em onças, isto no tempo em que os fumadores faziam os seus próprios cigarros. Não será difícil adivinhar a ideia que saiu desta cabecinha, fiquei com um amargo de boca, que ainda hoje perdura a sua recordação. Creio que devo a esta experiência tão pueril, o hábito tão salutar, de não fumar.