“A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte.”
Albert Einstein
“«Quem lê a história desta faixa da extrema península banhada pelo Atlântico, cuja vida autónoma e independente tem sido o milagre da energia de um povo e um dos factos mais interessantes para apontar-se ao mundo, não pode deixar de ficar surpreso pelas vicissitudes estranhas pelas quais o nosso Portugal tem passado.
Diz-se que o povo português vive dominado pelo eterno messianismo; que a sua fraqueza (ou a sua força) consiste em confiar sempre da Providência, do Acaso, do Destino e nunca de um plano racionado e assente».
Assim começava, em 1920, Maria Amália Vaz de Carvalho o seu livro Páginas Escolhidas. Passados mais de setenta anos, podemos considerar estas linhas actuais. E talvez seja oportuno meditar um pouco no que elas nos transmitem.
Os portugueses souberam ser enormes em determinados períodos da história deste país.
Sem dúvida.
Mas, também se deixaram mergulhar em negros períodos de enorme devoção a conceitos irrealistas, com perda de eficácia, de credibilidade e até de respeito no contexto internacional.
Talvez porque aqui ou ali tenha existido, e ainda persista, alguma confusão quanto a essa força que nos anima, capaz de nos fazer vencer os maiores obstáculos quando dela somos convictos e, por isso, procuramos sintonizar com a Natureza, raciocinando, trabalhando, esforçando-nos e procurando construir o nosso Destino. Força que deixamos de utilizar (por nossa opção) quando ficamos à espera que as coisas nos aconteçam, que a Providência ou o Acaso nos levem ao caminho do sucesso, ou que o messias (rei, presidente ou primeiro-ministro) nos resolva os nossos problemas.
Parece razoável admitirmos que cada povo tem os líderes que merece e que cada líder vai realizando uma determinada obra de acordo com as suas características pessoais, mas também de acordo com a vontade do povo.
Seria útil que os portugueses não acreditassem mais em governantes iluminados, capazes de tudo realizarem, enquanto o povo aguarda e descansa. Seria muito bom que os portugueses entendessem que só foram governados em ditadura quando o desejaram e consentiram. Seria óptimo que todos os portugueses (governados e governantes) se dispusessem a construir um Portugal enorme em realizações úteis para os portugueses e para a humanidade.
Porque, como dizia Maria Amália Vaz de Carvalho, mais adiante no mesmo livro,
«os homens valem pouco individualmente e cada um de per si; mas todos juntos, eles vão formando gerações cada vez mais esclarecidas, embora porventura cada vez menos brilhantes, cujo trabalho colectivo fará a humanidade gradualmente mais feliz e melhor.
É o trabalho de todos, é a obediência às leis naturais, é a disciplina do espírito, que lentamente forjam este trabalho gigante, tecido de fios muitas vezes invisíveis, que se chama a civilização».”
Bibliografia
PORTELA, Luís. (1994). Para Além da Evolução Tecnológica“. Edições Asa. Porto. pp. 84-85.