“Não é porque certas coisas são difíceis que nós não ousamos. É justamente porque não ousamos que tais coisas são difíceis !”
Séneca
“Parece ser relativamente vulgar para o Homem identificar algum ou alguns dos seus defeitos, quer por ser confrontado com críticas de terceiros, quer por vivenciar situações difíceis provocadas pelos seus próprios erros, quer por recurso ao exame de consciência.
E será bom que nos preocupemos com essa identificação, evitando viver distraídos ou enganando-nos a nós próprios. Só assim poderemos criar condições para o auto-aperfeiçoamento. Embora sendo, naturalmente, de evitar as permanentes e atrofiantes auto-análises de culpabilização por tudo o que acontece de menos bom à nossa volta. Como sempre, será apropriada a autocrítica equilibrada e construtiva.
Mas, identificados os defeitos, surgem frequentemente observações ou argumentos do tipo: «ninguém é perfeito…», «não é assim tão mau…», «fulano também é assim…», «hei-de-me modificar…», etc.
Parecem ser poucas as vezes em que cada um de nós procura serenamente, sem desculpas ou subterfúgios, seleccionar o seu maior defeito e decide, de si para consigo, corrigir-se de imediato, a partir desse momento, sem mais delongas.
E, no entanto, talvez possa ser esse o método adequado ao auto-aperfeiçoamento: analisar todos os nossos defeitos e escolher o que mais nos preocupa ou envergonha para o corrigirmos. Embora mantendo-nos atentos e actuantes em relação aos restantes, concentrarmos a nossa energia na eliminação do mais grave, de forma decidida, sem qualquer dúvida de que o vamos superar e de que o vamos conseguir o mais depressa possível.
Quando assim procedemos, podemos levar mais ou menos tempo,
mas conseguimos.
Até podemos falhar de novo quando julgávamos que já estava resolvido e que não era o caso; situação em que é importante não desanimar, recomeçando vigorosamente quantas vezes for necessário até à vitória, talvez pequena mas muito saborosa e motivadora para enfrentarmos outros defeitos com redobrada energia.
É normal ao corrigirmos um nosso grande defeito, estarmos já a pensar na correcção do seguinte, sem perda de tempo, aproveitando a capacidade de que dispomos e que estava algo adormecida. De novo seleccionando o então maior defeito e concentrando a nossa energia na sua eliminação tão rápida quanto possível. E assim sucessivamente, na busca de um cada vez maior aperfeiçoamento individual.
Este será um método apropriado para os homens públicos, para os nossos conhecidos, amigos e familiares, mas sê-lo-á também para nós, leitor e autor. E os seus resultados serão globalmente tanto melhores quanto mais rapidamente começarmos: não em breve, nem amanhã, nem mais logo, mas já, agora mesmo.”
Bibliografia
PORTELA, Luís. (1999). Esvoaçando. Edições Asa. Lisboa. pp. 155-156.