o olhar dos outros…

Publicado por: Milu  :  Categoria: CORRENTES, O olhar dos outros...

olhar

Ora bem! Em resposta ao desafio  que foi dirigido pelo blog Direito de Opinião ao meu modesto cantinho, ínfima gota  no imenso mar do oceano da blogosfera, eis-me aqui, prazenteira e de boa vontade, para dar prosseguimento à corrente, que sabe lá Deus, quantas voltas  já deu ao mundo! Basta citar o trecho correspondente à 5ª frase da página nº 161 do livro que tiverem em mãos.
Sendo assim, decidi optar pelo livro que ultimamente ando a ler. Ora aí vai!


– “Acho que o olhar dos outros é uma arma mortífera.”
Total khéops – Jean-Claude Izzo

Vá lá, vá lá, não é uma frase que se despreze! Claro, não tem a pujança da citação do meu “mandatário”, mas foi o melhor que se pôde arranjar, mormente as circunstâncias!

E porque vou ter de indicar outros blogs, para a continuação desta corrente, vou enumerar alguns. Não pretendo  ser indelicada, mas, os distintos cavalheiros, que tenham paciência, primeiro estão as senhoras!

a alma da flor
a pomba livre
Ponto de Cruz
congeminações
O azereiro

Até onde se pode ir?

Publicado por: Milu  :  Categoria: Até onde se pode..., LIVROS

ate-onde-se-pode-ir

Até onde se pode ir?

De

David Lodge

David Lodge nasceu em Londres no ano de 1935. Traduzido em 25 línguas é considerado um dos maiores autores da moderna Literatura  Inglesa, que veio a ensinar, quando foi professor  na Universidade de Birmingham. Além dos seus  romances “Notícias do Paraíso” e “Terapia”, foi autor de obras importantes de ensaio na área da literatura e de séries de televisão, entre as quais da adaptação  de “Um almoço nunca é de graça”, que ganhou o prémio para a Melhor Série de Televisão de 1989 da Royal Television Society.

“Até onde se pode ir”  é uma obra satírica e bem-humorada, brilhantemente escrita pelo autor David Lodge que nos elucida  do alcance da influência exercida pelos dogmas  da religião cristã, sobre um grupo de católicos ingleses, acompanhando-os ao longo das suas vidas, desde os primórdios da década de 50 até aos finais da década de 70.

A acção tem início com a descrição do ofício de uma missa na igreja de Nossa Senhora e São Judas, na presença de um escasso número de fiéis, que se restringe a um grupo de estudantes da Juventude Universitária Católica e a um par de idosas que, apesar das iminentes  ameaças de  perigosas quedas impostas pelas já tão trôpegas e decrépitas pernas, teimam em arrastar-se, amparadas uma à outra, ao altar do Senhor implorando a misericórdia para os seus pecados. Através das personagens podemos testemunhar  a consequente  involução espiritual, operada nas mentes destes jovens, mormente uma  ideologia religiosa cristã, que cega de atavismo, espartilha  no colete de forças  da ameaça do inferno, os  ímpetos e os desejos mais intrínsecos do ser humano.

pecado

A terrífica imagem do Inferno, caracterizada pelo extremo sofrimento do fogo eterno, impingida pela igreja e cujos tentáculos nos chegam até hoje, vislumbrou ter sido uma campanha fortemente eficaz, que ao longo dos séculos, logrou manter o rebanho ordeiro, prevenindo o tresmalho das ovelhas menos obedientes,  ao mesmo tempo que as hipnotizava com pródigas promessas, de uma seráfica vida eterna ao lado do Senhor. Uma insidiosa concepção do pecado permanece na mente destes jovens e no futuro persegui-los-á, incansavelmente, exercendo uma infausta repressão sexual, que dificilmente os irá abandonar, mesmo depois de casados. Impedidos de desfrutar de uma sexualidade plena e satisfatória, lutam consigo próprios, num mar de angústia, na procura de uma justa compreensão dos tão misteriosos desígnios de Deus, que cada vez mais, lhes parecem descabidos. Perguntam-se amiúde – até que ponto, a religião católica cristã vai ao encontro do sentir e do entendimento das leis da natureza humana?  Até que ponto  serve ao Homem? Durante os primeiros anos de casados, as personagens seguiram temerosamente, a doutrina dos altos dignitários da igreja, usando o falível método das temperaturas para gerir e controlar a natalidade. Mas nada resiste à erosão provocada pelo avanço  dos anos! Viviam-se, então, tempos de mudança, onde a irreverência marcava o passo. O aparecimento dos Beatles e o recurso à pílula anticoncepcional, recentemente descoberta, contribuíram para inaugurar um novo ciclo, reformador e incentivador de inovadoras formas de encarar a fé, abolindo definitivamente das suas vidas o estigma do pecado, que lhes agrilhoava as consciências. Embora o narrador, no desenrolar da acção, oportunamente e com relativa facilidade consiga desmantelar, alguns seculares dogmas da igreja, a verdade é que no términos da obra, não se coíbe de deixar, bem  explícito, que é católico e que permanece crente. Ora fé é fé!

liberdade