Max Weber

Publicado por: Milu  :  Categoria: Max Weber, SOCIEDADE

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“As preocupações fundamentais de Weber são o poder, ou seja a política, a religião e o capitalismo, acompanhando tudo isso por um aparelho metodológico e científico que de modo algum pode separar-se daquelas preocupações valorativas substanciais. (…). A vocação política vem-lhe da inclinação paterna, a religiosa da piedade materna, e o seu interesse pelo capitalismo da sua condição de alemão inserido no momento de maior crescimento do capitalismo alemão, com certo atraso em relação à Europa” (p. 18-19).

“A paixão metodológica e cientifista de Weber, por outro lado, liga-se directamente com o mundo cultural alemão que à altura se batia com o positivismo” (p. 19).

“Devemos dizer logo de início que a concepção que Weber tem do poder é de uma crueza absoluta, separando-se assim de qualquer aparência jurídica ou ideológica. Está na tradição da “razão de Estado” ou do “Estado de poder” alemão (Machstaat). O poder assenta para Weber em última análise na força, como a lei, o Estado ou a liderança política. A sua definição não deixa lugar a dúvidas a este respeito. Poder é, para Weber,“a possibilidade de que uma pessoa ou um número de pessoas realizem a sua própria vontade numa acção comum, mesmo contra a resistência de outros que participam na acção.”
Weber acreditava na democracia como um instrumento útil de minimização do poder, como o único freio eficaz ao autoritarismo do Kaiser e da burocracia alemã; isto constitui uma das obsessões de toda a sua vida. Weber estava preocupado pelo processo que ele considerava, como muitos outros processos históricos, irremediável, “de expropriação política”, no sentido de que os súbditos ou os cidadãos eram separados não só dos meios de produção, mas também da investigação científica e do poder político” (p. 22).

“Ante o processo de burocratização – Weber chama “a nova servidão” -, ele adota no entanto uma atitude que poderíamos qualificar de ambígua. Por um lado, acha que é a expressão da marcha racionalizadora do mundo ocidental, mas, por outro lado, considera-o uma verdadeira ditadura, a “ditadura do funcionário”, que, em sua opinião, era a ditadura do futuro, e não a ditadura do proletariado, como diziam os marxistas” (p. 22).

“O puritanismo é o tema central da sua obra. A ética protestante, a ética das seitas protestantes (não da ortodoxia protestante como o anglicanismo), é para Weber a única moral das grandes religiões conciliável com o êxito neste mundo, com o êxito económico” (p. 23).
“O único caminho viável é para Weber o processo de racionalização (que para ele significa sobretudo seguir uma lógica instrumental de meios a fins) em que os meios estejam adequados aos fins, representado, sobretudo, pela ciência. Weber era um cientista convencido, seguro do valor racional da ciência, embora o seu raio fosse limitado; na tradição liberal dos filósofos da Ilustração, estava convencido de que a religião, que às vezes tinha contribuído com porções de liberdade (como no caso do cristianismo perante a divisão em castas), exigia no entanto o “auto-sacrifício do intelecto” O que era absolutamente inaceitável. Não assim a ciência. Em palavras suas:

“A ciência é uma vocação organizada em disciplinas especiais ao serviço de uma autoclarificação e de um conhecimento de factos inter-relacionados. Não é o dom de graça de adivinhos e profetas que dispensam valores sagrados e revelações, nem sequer corresponde à contemplação de sábios e filósofos sobre o sentido do Universo.”

“Apesar das limitações auto-impostas pela sua metodologia, a ciência é para ele o único saber capaz não só de dar conhecimentos práticos para resolver os problemas do homem no presente, como capaz de oferecer o caminho que possa encontrar a resolução dos problemas do futuro” (p. 25).

“Para Karl Marx o capitalismo era irracional e indesejável, para Weber o capitalismo era a forma universal de modernização e a expressão mais alta de racionalização do homem ocidental” (p. 26).

“Uma das razões políticas da influência de Weber é o facto de ter sido uma das bases europeias de lançamento do estrutural-funcionalismo norte-americano, corrente que domina as ciências sociais até meados dos anos 60 numa tentativa de construir, como Comte um século antes, uma única ciência social válida de carácter universal. Esta tentativa é destruída intelectualmente pelas crises internas do mundo capitalista dos anos 60. Na realidade, o projecto funcionalista norte-americano não é mais do que a culminação de todo o esforço da sociologia da ordem que nasce com o desaparecimento do absolutismo durante a Revolução Francesa. Há que ter em conta que a sociologia nasce oficialmente com Comte, que recolhe parte do pensamento revolucionário dos filósofos da Ilustração através do magistério do seu mestre Saint-Simon, mas com ele nasce também a tentativa do pensamento contra-revolucionário de reconstruir a ordem que fora varrida pela Revolução Francesa” (p. 31).

“As bases europeias do funcionalismo norte-americano são fundamentalmente a sociologia do francês Durkheim, ao qual toma a necessidade da separação da sociologia da psicologia e a ênfase nos aspectos normativos da sociedade; a antropologia inglesa, como a de Malinowski e Radcliffe Brown, da qual se tomam os conceitos centrais de estrutura e função; e, sobretudo, no que mais nos interessa aqui, a teoria weberiana. De Weber, do mar tempestuoso do pensamento Weberiano, recebe-se apenas o que é conveniente para o grande projecto renovado da teoria da ordem. Passa assim através da tradução e da selecção que fez Talcot Parsons ao montar um Weber simplificado e unitário, o Weber da chamada teoria da acção social, que é o que vão conhecer milhares de estudantes das ciências sociais de todo o mundo no período de grande influência norte americana, política, militar e ideológica, dos anos 50 e 60″ (p. 32-33).

“O positivismo cientifista pressupunha a extensão dos princípios da lógica da investigação científica às ciências do homem perante a tradição idealista de separar as ciências do homem das ciências naturais ou as ciências do espírito das ciências da natureza, como lhes chamavam os neokantianos” (p. 34).
“Um ponto forte da interpretação funcionalista e um dos pontos mais debatidos da, agora sim, filosofia weberiana das ciências sociais é o da chamada “neutralidade valorativa” (p.36).

“Só a acção orientada para objectivos é uma acção propriamente social; o resto é uma acção natural ou reflexa” (p. 43).

Bibliografia:

MARSAL, F. Juan. (n.d). Conhecer Max Weber. Lisboa. Editora Ulisseia.