“Quanto mais velho o apito, mais doce é a música.”
(Papa Paulo VI)
Ehehehe!
Hoje é o dia do meu aniversário, e como tal, não quis deixar passar em branco esta data memorável, aqui me tendes, pois, com mais uma das minhas histórias, que sempre acompanho com algumas divagações, que mais não são do que o fruto do espírito que me ilumina.
Já lá vão 49 anos, mas mantenho ainda alguma da irreverência que caracterizou a minha juventude, pois custe o que custar, não costumo amochar, nem dobrar a espinha dorsal, assim sem mais nem menos. Seja consequência dos anos que por mim já passaram ou antes a tal irreverência que traça a minha personalidade, o certo é que em vez de me ter tornado condescendente e tolerante, dou por mim a sofrer de uma crescente falta de paciência para com a estupidez, a falta de honestidade e hombridade de certa gente.
Pode parecer desapropriado, que num dia destes, que se deseja festivo, eu venha para aqui com tais desabafos, mas a verdade é que já estou naquela idade em que se deixa de achar graça ao dia do aniversário, além disso, estou a ver se mato dois coelhos com uma única cajadada, isto é, pretendo dar sinal de vida neste dia, do meu aniversário e, ao mesmo tempo, dar continuidade ao post anterior, no qual prometi publicar um insólito e inesperado e-mail, que recebi na minha caixa de correio, e que durante algum tempo abalou o sossego e o ramerrame do meu viver. E o caso não era para menos, afinal, aquele e-mail funcionou para mim, como um prenúncio de aborrecimentos que se avizinhavam, ameaçando a calmaria dos meus horizontes. Senão veja-se:
Tudo teve origem na falência do condomínio do meu prédio, cuja administração foi tomada pelos condóminos após se ter verificado que não havia mais condições para manter a contratação da empresa especializada no ramo. Uma vez a gestão do condomínio por nossa conta, houve alguém que teve a ideia peregrina de aproveitar o ensejo para melhor aconchegar as brasas à sua sardinha, os outros que se lixassem, e vá de sugerir algumas alterações, numa das quais se pretendia que a prestação do condomínio passasse a ser paga em quotas de valor igual para todos, independentemente do valor da permilagem das fracções. Tudo seria muito bonito, se com esta medida, eu não visse a minha quota agravada, enquanto alguns outros iriam ver a sua aliviada exactamente no valor correspondente, apesar de os seus apartamentos terem o dobro das dimensões do meu. Como não me deixei levar na esparrela e até fui a única na barricada do contra, num universo de 12 condóminos, podem imaginar as cenas que tiveram lugar, nem as mulheres, que foram duas, foram capazes de comigo serem solidárias, em vez disso, olhavam-me com um semblante que reflectia a mais profunda indignação. Mais tarde, quando eu pensava que não mais tentariam outro arremedo susceptível de lesar os meus legítimos interesses, eis que decidiram fazer uma nova investida, desta feita acerca do empreendimento da pintura do prédio, cujo valor queriam, à viva força, que fosse pago em partes iguais por todos os condóminos. Mais uma vez tive de puxar dos galões, e deixei bem claro que à má fila de mim ninguém leva nada, atitude que me valeu rodas de filha da puta! Foi isso que um deles, de cabeça perdida, me chamou, quando chegou à inevitável conclusão de que não ia conseguir levar a água ao seu moinho.
Resultado: Dois dos vizinhos não me falam. Que alívio! Um terceiro até parece que tem medo de mim, cumprimenta-me de uma forma arrevesada, melhor seria que passasse sem nada dizer, que isso não me incomodaria, já que saudações não me enchem a barriga. Contudo, nem todos os meus vizinhos estiveram contra mim, apesar de nas reuniões não se terem posicionado declaradamente do meu lado, já que lhes faltou a coragem e a frontalidade que a mim me sobra, tudo por uma questão de quererem manter as aparências, como se todos fossem amigos, que amigos destes dispenso-os, que deles está o inferno a abarrotar. Posto isto, julgo ser compreensível que me tivesse sobressaltado, quando deparei com este e-mail ao qual de imediato dei resposta, numa atitude de conter a borrasca que se adivinhava.
“Cara “Miluzinha”,
antes de mais os meus respeitosos cumprimentos.
Moramos no mesmo prédio mas eu preferia não me identificar para evitar futuras chatices ou situações de constrangimento.
Eu simpatizo com a vizinha e parece-me que sou um dos poucos moradores deste espaço que a “Miluzinha” não abomina.
Desculpe colocar o seu nome entre “” mas acabei de descubrir que assim é tratada ao ser confrontado com o seu blogue o qual aproveito desde já para dizer que é bastante bom tirando obviamente umas referencias que faz a alguns vizinhos…Mas não se preocupe que eu concordo completamente com o que diz.
Tomei conhecimento da existência do mesmo precisamente após um comentário de alguém do prédio que se queixava esta manhã do barulho que alguém faz a teclar durante toda a noite.
Confrontei os dias em que colocou textos e de facto correspondem aos dias em que se ouve teclar no prédio todo pelo que não podia deixar de lhe pedir que sempre que fosse escrever algo saisse do prédio pois as pessoas aqui trabalham e têm que dormir durante a noite.
Quando o fizer espero que não faça depois muito barulho ao voltar a entrar no prédio.
Caso não tenha portátil podemos estabelecer uma hora durante a tarde em que pode escrever à vontade desde que poucas pessoas estejam no prédio para que o incómodo seja os menor possível.
Estava a pensar numa happy hour das 13 e 30 às 14 horas. Que acha?
Certamente que cumprindo estas regras todos viveremos melhor em comunidade.
Agradecia que a vizinha me dissesse algo para que possa ficar mais sossegado.
Obrigado,
o vizinho.”
Estimado vizinho,
Antes de mais agradeço o tom cordial com o qual se me dirigiu para me dar conta de algum mal-estar que diz haver no prédio, devido ao som de um teclar que se prolonga durante toda a noite. Desde já agradeço o aviso, mas acontece que não sou eu, pois tenho portátil e o teclar é praticamente inaudível. Julgo antes que é o meu filho, até porque ultimamente também me queixo, pelo que tenho de fechar a porta do corredor para não ser incomodada, portanto, concordo inteiramente consigo. Para resolver esta situação o ideal seria alguém falar com ele, porque os miúdos tomam mais facilmente um aviso vindo da parte das pessoas exteriores à família, contudo, estou ciente de que o vizinho não deseje identificar-se, resta-me então mostrar ao meu filho este e-mail que me enviou. Quanto à nossa situação como vizinhos e toda a questão referente ao condomínio, toda a gente sabe que estou a exercer o meu direito de cidadania, mas preferem fazer de conta que não sabem de nada, para melhor servir os seus intentos. Todavia esbarraram com alguém que sabe procurar e exercer os seus direitos assim como os deveres e além de mais sou muito casmurra, que é mesmo este o termo. Mas também sou boa pessoa, simples, humilde e esforçada, só não quero é que façam pouco de mim. Por fim vizinho, vou falar com o meu filho acerca deste inconveniente do teclar, pois aqui os vós tendes toda a razão para protestar.
Muito obrigada pela sua atenção.
Afinal não houve borrasca nem constrangimentos com os vizinhos, porque o e-mail que recebi fazia parte de uma tramóia entre o meu filho e o autor do blog MAIL DE UM LOUCO, na qual caí que nem uma patinha! 😀