AS FOGUEIRAS DA INQUISIÇÃO

Publicado por: Milu  :  Categoria: As Fogueiras da Inquisição

As Fogueiras da Inquisição
De
Ana Cristina Silva

Ana Cristina Silva é Doutorada em Psicologia da Educação e docente universitária, lecciona as cadeiras de Psicologia da Educação e da Linguagem e de Seminário de Estágio no Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Especializou-se na área da aprendizagem da leitura e da escrita, desenvolvendo investigação neste domínio com obra científica publicada em Portugal e no estrangeiro.

“As Fogueiras da Inquisição”, um romance histórico da autora Ana Cristina Silva é uma obra verdadeiramente fascinante! Nela podemos encontrar não só a descrição de factos que caracterizaram toda uma época, como também, uma vasta nascente de emoções e sentimentos que o narrador, incansavelmente, perscruta nos meandros da alma das personagens! Fá-lo de uma forma tão sublime que torna impossível ao leitor, subtrair-se à pertinente percepção da existência de uma evolução constante das personagens, facto que as eleva a um patamar que apenas é acessível ao mito! Temos assim, uma excelente narrativa da odisseia de três gerações de judeus que, corajosamente, foram capazes de cometer a proeza de serem felizes, lado a lado, com a constante ameaça da insana fereza da Inquisição e seus algozes! O físico Samuel Abecanar, a sua filha Ester de quatro anos e a ama desta, Rana, fugidos da Inquisição espanhola, tinham encontrado refúgio na Judiaria de Lisboa. Rana era uma mulher aparatosa e desempoeirada, de gargalhada fácil e sonora, ostentava orgulhosamente o generoso e rasgado decote, servindo assim, de alimento às más-línguas da vizinhança que, para ocupar tão desguarnecida vida, entretinham-se deitando-se a adivinhar, até onde se estenderiam os serviços desta dama ao pai da menina, insinuando intimidades que presumiam existir! A suspeição era, no entanto, infundada e injusta! Samuel Abecanar era um homem morto para a vida! O sofrimento causado pela morte da mulher, a quem tanto queria e que, para seu infortúnio, não conseguiu salvar da doença, prostrou-o em tal letargia e estado de espírito que, o mais certo era a sua vida se encontrar sustida no nível de um plano inclinado, mais para lá do que para cá! No mês de Março de 1497 a mando do rei, os soldados procederam ao rapto de crianças judias, arrancando-as dos braços das mães, para que, longe da influência dos pais, fossem educadas na fé cristã! Ao longe ouviam-se gritos de uma pungência alarmante, reinavam o desespero e os actos desatinados! Houve quem se atirasse da janela com o filho recém-nascido ao colo! Num desvario, uma mãe atirou-se com ímpeto à lança do soldado que lhe roubara o filho, encontrando na morte o alívio para tão atroz sofrimento! Correndo o risco de ser condenada à fogueira, Rana, esconde Ester, a criança que, em boa hora, tomou o lugar deixado vago pelo filho que lhe morrera, quando ela ainda não tinha vinte anos!

É Rana, que depois de casada com o judeu Fernão Rodrigues, um dos principais intendentes do riquíssimo mercador Francisco Mendes, quem vai exercer importante influência nos destinos de Ester e seu alheado pai, integrando-os no restrito círculo de íntimos do mercador! Debaixo da alçada protectora deste homem, Ester cresce educada de acordo com os ensinamentos da Lei de Moisés, embora, para evitar perseguições se tivesse deixado baptizar tornando-se na Ester Baltasar. Casa com Diogo Gaspar, filho de um dos procuradores de Francisco Mendes e têm um filho a quem dão o nome de José Diogo, que no futuro virá a revelar uma inteligência rara! Francisco Mendes ao ver crescer esta criança, sentiu nascer em si um premente desejo de ser pai, pelo que, decidiu casar-se novamente. Beatriz Luna é a eleita do seu coração, mulher jovem e de um altruísmo sem par dedica a sua vida a ajudar judeus. Após a morte do marido, decide sustentar um plano que consiste num esquema que contribuiu para a fuga de centenas de judeus, salvando-os da eterna perseguição! Ficará na História conhecida pela “Senhora”! Todavia, a estratégia, impunha a separação destas pessoas que tanto se queriam, Ester Baltasar e o marido ficaram em Portugal para cumprirem a parte que lhes estava reservada, encaminharem os judeus fugitivos que partiam de Santarém rumo a Galiza, incorporando uma pretensa peregrinação a Santiago de Compostela duas vezes por ano, num ritual que se cumpriu durante cerca de dez anos! Foi numa destas expedições que Diogo Gaspar encontrou a morte. Ester caiu num mutismo prolongado e só não sucumbiu à dor porque o seu filho, que em tempos tinha partido para estudar medicina na universidade de Lovaina, regressou acompanhado da sua pequena filha Sara, fugido às consequências de contratempos que tiveram origem numa daquelas ratoeiras que, a má sorte tão prodigamente sabe armar! Tinha, então, Sara dois anos e foi a sua terna presença, que devolveu Ester Baltasar à vida! Com Sara de Leão terminou a saga desta família, viúva e sem filhos, foi denunciada por familiares do marido. Nos calabouços, para se evadir da triste situação que o cruel destino lhe reservou, refugia-se nas recordações que preserva da sua avó Ester Baltasar!

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