Uma manhã de Natal

Publicado por: Milu  :  Categoria: FLAGRANTES DA VIDA, Uma manhã de Natal

“Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

No dia 25 de Dezembro de um já longínquo ano, uma menina de seis anos e o seu irmãozinho de dois dormiam complacentemente na cama que era dos seus pais. Assim que o dia amanheceu e os pais se levantaram haviam posto o menino a dormir junto da irmã, todavia, a menina já lá permanecia desde o meio da noite, altura em que havia acordado em sobressalto, assustada com um sonho mau, ou talvez nem fosse isso, talvez o medo lhe tivesse advindo da imaginação, que lhe fazia crer que as sombras que povoavam o seu quarto ganhavam vida e se agigantavam ameaçadoramente perto da sua pequena cama. Aos berros havia acordado os pais, que como já vinha sendo habitual, logo acudiram pressurosos e a salvaram de tão desalmado pranto, levando-a ao colo para a cama do casal. Uma vez afundada no conforto e na segurança que o ninho formado entre o pai e a mãe lhe conferia, com as costas quentes, tal como se costuma dizer, dava-se agora a ares de valente, fanfarrona e sobranceira ousava desafiar os difusos vultos que pairavam diluídos na penumbra do quarto. Pois agora que se avultassem à vontade e viessem ter com ela!…  Mais protegida do que nunca, aninhada entre as duas pessoas que no mundo mais a amavam, reconheceu que, estranhamente, nada  perturbava a santa placidez que naquele quarto reinava.

Na manhã desse dia 25 de Dezembro, estas duas crianças foram acordadas em simultâneo para lhe serem colocadas nas mãozitas as suas prendas de Natal. A menina olhava para os embrulhos sem mesmo entender o que eram prendas de Natal, pela primeira vez na sua curta existência tomava a noção de que o dia de Natal era um dia diferente de todos os outros, pois estavam-lhe a ser dadas prendas, ela que até agora não sabia o que era uma prenda, mas sabia o que eram brinquedos, por os já ter visto nas mãos de outras crianças. Abriu uma das prendas e descobriu maravilhada um pequeno ferro e uma tábua de engomar. O ferro era quase como o da mãe, que era aquecido com brasas, que electricidade era um luxo a que ainda não haviam tido direito. Pegou na segunda prenda, devagar e com muitas cautelas começou a  desembrulhar e viu extasiada uma fina e delicada tablete de chocolate, que desprendia prodigamente um doce, inebriante e aveludado aroma que lhe turvou os sentidos, entontecendo-a! Jamais esta menina iria esquecer o enlevo daquele momento único, passados anos e já adulta compreendeu que nenhuma tablete  do mundo valerá tanto como aquela, porque foi o seu primeiro chocolate.

Olhou para o seu irmãozinho, aquele bebé adorável que nunca chorava, e viu-o a braços com  idêntica surpresa, as suas minúsculas mãozinhas seguravam um carrinho de plástico e uma tablete igual à dela. Nos dias que se seguiram as duas crianças não deram tréguas aos seus brinquedos, afinal, os seus primeiros brinquedos. O  carrinho de vez em quando já sem rodas, até que as perdeu definitivamente, desaparecidas sabe lá Deus onde, pois que nunca mais foram vistas. Por seu lado a menina insistia que queria brasas no ferro, queria brincar a sério, isto é, queria verdadeiramente engomar roupa para ajudar a mãe. Também queria assar caracóis, como uma vez havia visto a mãe fazer, quando da rua num chuvoso dia a menina havia trazido para casa um grande caracol, que a mãe polvilhou com sal e meteu dentro do ferro de onde começou a ouvir-se um chiado, a menina pensou ser o choro do caracol a morrer queimado, o que lhe fez ficar com pena do azarado caracol, mas comeu-o na mesma! Não foi lá grande petisco… mas não havia mais tabletes…

Esta menina era eu…
A todos quantos me visitam desejo que tenham um Natal tão feliz quanto o fui neste dia!

46 Comentarios to “Uma manhã de Natal”

  1. zé do cão Diz:

    Ui, minha amiga.
    Fui menino como todos. Não fui todavia menino com dificuldades. Meus pais eram remediados, não tinham “cheta” mas tinham bens, quintas,pessoal e isso faziam deles…
    Brinquedos, tinha é certo, mas nunca lhes dei grande atenção e nem lembro como teria sido a primeira vez. Só recordo, ano após ano, receber no sapato, um avião amarelo de combate, que colocava na pernada mais alta da figueira que havia no quintal da minha avó. (era o tempo da 2ª guerra mundial). Não tenho por isso, o que lamento uma historia com humor para contar.
    Mais tarde, isso sim tive uma, na noite de natal, que escrevi e será publicada a 28 de Dezembro, penso pelo blogue da aldeia da minha vida, sem direito a concurso a meu pedido.
    Mas adorei esta, aliás como todas que aqui são descritas.
    Aproveito para desejar o natal mais feliz de sempre da tua existência.
    beijokitas

  2. lino Diz:

    Eu já quase estou na segunda fase, embora não possa abusar.
    Beijinhos

  3. flordeliz Diz:

    Ainda bem que o pc “é cego”.
    Arre…Isto é um verdadeiro conto de Natal.

    A doçura do teu chocolate deve ter sido finamente confeccionado com açucar de carinho e embrulhado com laços de ternura.
    E por isso te soube tão bem!

    Felicidades e… foi bom ficar por aqui, estava lindo e quentinho.

    Bom Natal para ti Milú

  4. António de Almeida Diz:

    Em criança fui tendo brinquedos, nem sempre os que queria, mas aqueles que os meus pais podiam. Recordo um triciclo e uma pista de automóveis, os outros sinceramente já me esqueci. No entanto gozo mesmo deu a mim e ao meu irmão a primeira vez que oferecemos algo aos meus pais, era hábito eles pagarem a nossa prenda para darmos ao outro, mas tinha eu 14 anos e o meu irmão 12, poupámos uma semana das respectivas mesadas e oferecemos 1 caixa de bonbons à minha mãe e uma garrafa ao meu pai, o dinheiro não dava para mais. A surpresa que eles tiveram por receber 2 prendas extras com que não contavam, e que até nem eram as mais caras, mas foram as mais apreciadas…

  5. Milu Diz:


    Apesar das fracas posses dos meus pais, suspeito que não tive brinquedos mais cedo, porque os meus pais não os tinham como indispensáveis ao saudável crescimento dos filhos. Se eles mesmos haviam sido criados sem brinquedos e aparentemente nenhuma falta lhe fizeram, como haviam de compreender o quanto eles nos poderiam ser importantes? Passava-lhes ao largo o facto de nós, filhos, já estarmos a viver outros tempos, nos quais qualquer criança tinha brinquedos…menos nós!

    Essa da figueira fez-me lembrar que, em criança, tive uma temporada em que fiz de uma figueira perto da minha casa um autêntico baloiço. Tenho a ideia que os ramos das figueiras vergam mas não partem, porque eu sentava-me numa pernada e impulsionava-me para baixo, o ramo, então, atirava-me para cima e assim ficava horas a balouçar. Abaixo, acima, abaixo, acima, enquanto ia comendo uns figuinhos, os melhores que já comi na minha vida, porque eram grandes, tinham verdadeiramente o que comer e, também porque tinham uma consistência que não era mole, mesmo estando bem maduros, enfim, foram um figo para mim.
    Tenho de ler essa tua história de Natal!
    Um beijinho.

  6. Milu Diz:

    Lino.

    Confesso que actualmente não sou amante de doces, prefiro uns salgadinhos… e uma bejeca.
    Mas, nos meus tempos de criança não era assim. Perdia-me por doces, mais por bolos. A vida é lixada! Enquanto não tive dinheiro para comprar bolos, não deixava de pensar neles, mas logo que comecei a ter o meu dinheiro deixei de lhes ser sensível… por medo de engordar, principalmente. Depois com os anos, fui modificando os gostos, agora se não como mais doces já não é pelo receio de engordar, mas mais porque não me tentam, não me apetecem. Estou mais virada para o pastelinho de bacalhau! 😀
    Um beijinho.

  7. Milu Diz:

    Flordeliz.

    Não me digas que te veio a lágrimazita ao olho! Não me admiraria nada se tal te tivesse acontecido, porque depois de ter escrito este texto eu mesma senti alguma comoção, por me lembrar do meu irmãozito. Em criança era mesmo adorável, parecia que a última coisa que desejava era incomodar fosse quem fosse. Sentavam-no no bacio e ele ali ficava horas esquecidas, entretido com alguma coisa a que ele dava voltas e mais voltas nas pequeninas mãos. Ainda hoje é muito calmo, pode estoirar uma bomba perto dele que ainda assim se manteria calmo, somente a olhar. 😀
    Um bom Natal para ti e para os teus!
    Um beijinho.

  8. José Pinto Diz:

    Que belíssima história de Natal! Suavidade na mais pura inocência de duas crianças, num tempo de coisas simples! Aquele ferrinho de engomar para a menina e um carrito para o garoto retratam fielmente uma época de discriminação civilizacional que todos compreendemos à luz do conceito familiar de então. Que os ditos brinquedos tinham muita magia, lá isso tinham! E um chocolatinho a acompanhar… ui, que bom!

    Esta história de vida tão bonita fez-me suspirar de alívio, ainda mal refeito do estertor da saga duma certa “condessa” que pagava trabalho infantil com uma sandes de pão com um desgraçado pastel de bacalhau enfiado lá dentro. O problema é que, hoje, ainda há muita gente a pôr no sapatinho um par de meias e umas cuecas, na maior parte das vezes por falta de imaginação! O mais caricato é termos de agradecer a roupa quando ela curta e nos vai apertar as virilhas, ou quando é demasiado longa e nos vai pendurar nuns alforges! E depois? Quem tem coragem de pedir a troca na loja?
    Feliz Natal! oh oh oh!
    Um beijinho.

  9. CybeRider Diz:

    É notável como nos consegues dar estas imagens absolutamente vívidas dos momentos da tua infância. Debato-me noutro ano por tentar fazer desta uma época feliz para quem me rodeia. Para mim será sempre ocasião para recordar que já tive uma família só minha, uns destruíram a parte que lhes cabia, outros ausentaram-se por contingência fatal. Enfim, acabo por concluir que os natais mais felizes me foram aqueles em que o meu filho acreditava no pai-natal. Que recordo de facto os meus natais de criança, algumas birras por brinquedos que partia por curiosidade mórbida de ver o maquinista lá dentro, e recordo que os espalhava, na noite mágica, pela cama antes de dormir. Mas sou tentado a crer que já aí me faltava algo melhor que brinquedos. Havia algo de estranho na interacção intrínseca de quem mos dava: uma família desavinda. O Natal não passava assim de uma data em que aumentava o pecúlio de futilidades ou roupa interior. Ainda busco hoje, uma forma de mostrar aos que me rodeiam que as prendas são fraco substituto para o que de facto conta, no Natal mas também no resto do ano, mas não encontro.

    E perdido entre a nostalgia e a realidade natalícia, que interpreto como uma passagem a cumprir, delicio-me com os contos de Natal que me aquecem a alma, por ver que há quem acredite que esta seja de facto uma época importante para unir as pessoas que tiveram o bom-senso de valorizar algo mais eminente que as trocas simbólicas que a quadra implica: o amor. Outro ano terei de enfrentar a ausência de alguns, que apesar de tudo existem, e partilhar uma alegria, parcialmente fabricada, com os que me acolhem por tradição. E no final expurgarei a minha culpa, talvez melhor que antes, porque já tenho mais prática.

    Que tenhas um Natal muito feliz, e obrigado pelos teus votos!

  10. Milu Diz:

    José Pinto.
    Ri-me com o seu comentário, por ter dito que suspirou de alívio por nada ter a ver com a condessa! 😀

    Além deste Natal, que aqui descrevi, houve um outro em que a nossa prenda, minha e dos meus irmãos, foi um pequeno pai natal de chocolate, e se a isso tivemos direito, foi porque nos fartamos de apelar à nossa mãe, para que na nossa casa o Natal fosse mais Natal, com sapatinho na lareira. Eu via filmes que tinham cenas de Natal e via os sapatinhos na lareira. Eu lia livros com histórias de Natal e, mais uma vez, os sapatinhos na lareira. Parecia que só na minha casa não havia sapatinhos na lareira, nem nada. Escusado será dizer que adorámos aquele pai natal, foi para mim tão importante como o pão para a boca.

    O José Pinto fez uma referência sobre um facto que não lhe passou despercebido – o pormenor dos brinquedos próprios para meninos e brinquedos próprios para meninas. Para os rapazes eram sempre carros, para as meninas eram bonecas, que serviriam de treino para o papel de mães, e o pior de tudo eram os brinquedos que representavam a lide doméstica. Quer queiramos, quer não, era uma discriminação.

    Quanto às prendas, os peúgos e cuecas são artigos que costumam oferecer mais aos homens. Não é fácil oferecer uma prenda a um homem, até porque é tudo muito mais caro do que para uma mulher. Agora ri-me outra vez! Mas é verdade o que estou a dizer! 😀
    Além disso os homens são um pouco esquisitos porque dão muita importância à qualidade e comodidade, logo, o melhor é investir com cautela, isto é, em peúgos e cuecas, o único problema é o tamanho.

    Um Feliz Natal também para si!
    Um beijinho.

  11. Milu Diz:

    CyberRider.

    Li o teu comentário com muita atenção e nem imaginas o quanto te compreendi, porque já vivi e vi muito mundo. Talvez por isso, há uns tempos que comecei a pensar que o Natal deveria acabar – porque muitas vezes deprime as pessoas. Fomos habituados a idealizar um Natal perfeito, em que as famílias se unem e são muito felizes, mas nem sempre assim é, podemos estar rodeados de pessoas e mesmo assim sentirmos a maior solidão do mundo, basta não estarmos com quem queríamos e essa ausência nenhum dos presentes conseguirá colmatar. Mas se analisarmos bem, este estado de espírito pode acontecer em qualquer data, sendo assim, facilmente chegamos à conclusão que é o peso da tradição que nos esmaga. Então, o melhor mesmo é deixar de dar valor à tradição, ou seja, ao Natal, foi isto que passei a fazer, já não dou valor ao Natal. Afinal o Natal é das crianças, foi importante quando fui criança e tornou a ser importante quando o meu filho também o era. Jamais esquecerei os seus olhos brilhantes ao desembrulhar as prendas, que eu dava-lhe várias, de reduzido ou moderado valor monetário, é certo, no fundo era tudo para partir mais cedo ou mais tarde. Ele gostava era de ter muitas, além de que, eu tinha assim mais oportunidades para me deliciar com as expressões de expectativa que o seu rostinho reflectia.

    Actualmente é um rapaz que só quer saber do mundo dele. E eu do meu, que é mesmo assim. Ele cresceu e eu recuperei a minha identidade, não vivo apenas para ele, vivo para nós os dois. Não sei se as minhas convicções estarão certas, sei apenas que me sinto bem a viver assim e isso basta-me. Não sou eu que vou andar em corridas desesperadas nas lojas a abarrotar de gente, a gastar o dinheiro ainda não ganho, querendo com essa loucura perseguir um ideal de felicidade prometida pelos interesses comerciais, nem pensar, não prescindo da paz e do sossego, mas, uma coisa é certa, durante as minhas férias de Natal penso vir a estar com algumas pessoas de quem gosto, porque o Natal pode acontecer em qualquer dia. Mas isto sou eu, que assim penso porque sou muito prática, a tudo me adapto, conforme as circunstâncias do momento. Contudo, entendo perfeitamente que para ti o Natal ainda seja um dia carregado de significado e sentimento, por isso desejo-te um Natal, verdadeiramente Natal.
    Um beijinho!

  12. Milu Diz:

    António Almeida.

    Você, António, teve uma das coisas que eu mais queria ter tido, quando criança. Um triciclo!
    Mas nunca nenhum me veio parar às mãos, em vez disso tive um carro de rolamentos de esferas, que aprendi a fazer com o meu irmão mais velho. Naquela altura comprávamos as rodas ou rolamentos no ferro velho. Ainda me lembro de descer as ladeiras cheia de embalagem e quando queria travar colocava um pé no chão, que devido aos botins de de borracha que eu usava, por causa da chuva e poças de água, até aquecia os pés, devido à fricção. Um dia fizemos um carro com uma grande placa de madeira e grandes rolamentos para imitar um autocarro. Montámos-nos todos nele e ao mesmo tempo, com tanto peso, a madeira no meio do autocarro começou a fazer uma barriga até tocar no chão, e lá íamos aos solavancos, o que nos fazia rir imenso, porque esta situação assemelhava-se aos velhos autocarros a cair de podres, que então circulavam nas nossas estradas.
    Não me lembro de ter dado prendas aos meus pais quando ainda era criança, mas é certo que também nunca tive mesada, nem nada! Só comecei a dar prendas à minha mãe depois de já trabalhar, mas ela repreendia-me, dizendo que não me estivesse a incomodar, que isto e que aquilo. Foi sempre assim, a minha mãe! Nem se ia abaixo por dá cá aquela palha, nem se entusiasmava por aí além, com o que quer que fosse!

  13. Pata Negra Diz:

    Não há dois Natais iguais. Vive o 2009! Também vai ser bom!

  14. Milu Diz:

    Pata Negra.
    Necessariamente diferente, até porque já não vou lá com tabletes, e quanto a engomar roupa, agora que já nem preciso de espevitar as brasas, raramente me apetece! Só me apetecem os caracóis, perdão, camarões! 😀

  15. congeminações Diz:

    Minha amiga, mais um retrato do início da tua vida ao qual emprestas um colorido que eu não seria capaz mas que compõe muitíssimo bem este enternecedor flash. Pois lembro-me muito bem desses ferros de engomar (miniaturas) dos verdadeiros ferros a carvão que as minhas irmãs mais velhas também tiveram, porque na altura não havia esta diversidade de brinquedos inicialmente eléctricos e made e japan e ultimamente doutros países asiáticos como a China que também está bastante desenvolvida nesta industria. Ainda me lembro dos carrinhas de lata extremamente perigosos produzidos em Portugal e doutros feitos em madeira de pinho muito engraçados. Curiosamente nas nossas conversas em família quando festejamos o Natal um dos temas é exactamente aquilo que hoje as crianças podem desfrutar em termos de brinquedos e o que no nosso tempo se limitava a haver no mercado, razão porque dava-mos muito mais valor aos nossos brinquedos que conservava-mos por longo período.
    E já agora aproveito o ensejo para te desejar um Natal cheio de felicidade e muita saúde o essencialmente para se gozar essa felicidade.
    Um beijinho
    do Raul

  16. Milu Diz:

    Raul.
    Frequentemente, em conversas com amigos e conhecidos também abordo o tema dos brinquedos e das diferenças neste contexto entre os tempos antigos e os de agora. Apesar de actualmente a variedade de brinquedos ser vastíssima e até em todos os artigos de elevada tecnologia, (gadgets), que fazem as delícias de crianças e dos jovens, duvido que estes sejam tão felizes ao recebê-los como prenda, como nós já fomos no nosso tempo de crianças, ao oferecerem-nos brinquedos onde a simplicidade dominava. E que dizer da situação em que os pais se deslocam acompanhados pelos filhos aos centros comerciais, para logo ali lhes comprarem a prenda de Natal? Inviabilizando desta forma o factor surpresa, que quanto a mim, também é muito importante.
    Ainda guardo a memória desses carros de lata de que falas, havia até uma carrinha volkswagen muito engraçada. Eram realmente brinquedos perigosos porque podiam cortar, além de que os acessórios facilmente se desmontavam, podendo ser engolidos pelas crianças. Nunca tive os brinquedos que desejaria ter tido, mas brinquei imenso na rua, a jogar à cabra cega, que adorava, a saltar à corda, a fugir à frente de cães que antes tínhamos atiçado, enfim, raramente estava parada! 😀
    Também te desejo um Natal imensamente Feliz na companhia de todos os teus e muita saúde para todos.
    Um beijinho

  17. Pascoalita Diz:

    … e a menina cresceu e tornou-se numa “contadora de histórias” nata! Adorei ler, como sempre.

    Tens um jeitinho tão especial de contar as coisas, que chegamos a ter pena de chegar ao fim eheheh

    Feliz Natal

    Um beijinho

  18. Jose Rosa Diz:

    Lindo Milu, este seu conto de Natal.

    E você cita logo de início o nosso Drummond. Tendo tantos outros poetas de Portugal para você lembrar, o fato de ter colocado nosso poetinha traz alegria a nós brasileiros.

    É mais uma poesia sua em forma de prosa. Um texto encantador !

    Desejo que tenha um bom Natal este ano, se não com o mesmo sentimento daquele já longínquo (como você disse), pelo menos que se aproxime dele.

    Um beijo.

  19. Pata Negra Diz:

    Só passei para reforçar botos de vom Natal

  20. Milu Diz:

    Pascoalita.

    Não sei se tenho jeito para contar histórias, porque até agora só contei factos por mim vivenciados, portanto, envoltos por uma genuína carga emocional, e isso ajuda muito! No fundo é como sentir uma dor, só sentindo-a a somos capazes de a descrever!

    Um Feliz Natal também para ti e para os teus.
    Um beijinho.

  21. Milu Diz:

    José Rosa.

    Seleccionei esta citação do poeta Drummond porque achei que se enquadrava perfeitamente no espírito desta minha história de Natal, mas pude verificar que Drummond fez citações brilhantes, que revelam um grande poder de observação aliado a uma grande capacidade de reflexão. Algumas citações são tão verdadeiras que até dói.

    José Rosa, o que eu mais quero agora é passar os Natais com muita saúde,tudo o resto são acrescentos, porque há tanta coisa que não me faz falta, apesar de essas coisas a que não dou valor serem importantes para muitas pessoas. Uma dessas muitas coisas de que prescindo de boa vontade é o trabalho que esta tradição dá. Há mulheres que passam horas seguidas na cozinha a fazer cozinhados, ora, já não estou para isso! Além disso, depois do Natal fica a casa toda suja e espezinhada pelos convivas, ora, também prescindo dessa trabalheira. Enfim, cada vez me torno mais prática.
    Estou convencida de que já ninguém sente o Natal como antigamente, nem as crianças, porque actualmente não precisam de esperar pelo Natal para terem prendas e muito menos roupa nova.

    Quanto a mim, que nos últimos tempos não ando com grande espírito de Natal, o melhor mesmo são os feriados, as férias e o subsídio de Natal. Só por causa disto acho bem que se vá mantendo a tradição! 😀
    Um beijinho.

  22. Milu Diz:

    Pata Negra!
    Muito obrigada!Também lhe desejo um Natal muito Feliz!

  23. lilás Diz:

    Vim deixar um beijinho e desejar um Feliz Natal.obrigada pelos bons momentos que aqui passo.

  24. Jose Rosa Diz:

    Miluzinha,

    Drummond é um dos nossos maiores e mais queridos poetas. Um detalhe que talvez você não saiba: ele NUNCA quis entrar para a ABL – Academia Brasileira de Letras, que, apesar de ter sido criada por um dos maiores escritores da língua portuguesa, o nosso Machado de Assis, tem recebido algumas personalidades que não honram a casa e sua tradição, como o ‘escritor’ e atual Senador José Sarney, infelizmente para nós brasileiros o atual Presidente do Congresso Nacional.
    Bem, voltando ao Natal, você tem razão, a trabalheira é grande, e sempre sobra para a mulher dona da casa, o que é errado. Esta tradição anda mudando um pouco aqui no Brasil, cada vez mais os homens participam das coisas da cozinha.
    Um beijo para você e um bom Natal, com saúde e paz !

    José Rosa.

  25. António de Almeida Diz:

    Desejo-lhe também um feliz Natal.

  26. A. Moura Pinto Diz:

    E aqui volto, agora para desejar um Feliz Natal, com sonhos que nos sustentem, para que possamos continuar a voar. E que, assim, nos matenham agarrados á vida.
    Um abraço

  27. José Pinto Diz:

    Está um frio brutal
    Mas não te esqueci
    Porque hoje é Natal
    Lembrei-me de ti.
    ***BOAS FESTAS***

  28. flordeliz Diz:

    Não me esqueci de ti.
    Agora que o jantar terminou. A família joga às cartas, tinha de vir retribuir o carinho das tuas palavras, a tua atenção e desejar que a noite de Natal (sim hoje é noite de Natal!) esteja quentinha e como gostas.
    Obrigada
    Obrigada
    Obrigada
    Boa noite
    Noite Feliz
    Beijinho enorme

    dida/flordeliz

  29. Milu Diz:

    José Rosa.

    Em Portugal também as mentalidades têm vindo a alterar-se a respeito da gestão doméstica, mas ainda assim, esta responsabilidade continua a ser delegada nas mulheres, até porque elas mesmas o assumem como um dever, entretanto, vivem a lamentar-se.Bem, pelo menos a consoada passei-a eu na maior! Portei-me bem! Nada de desbragamentos alimentares, nada de excessos em coisa nenhuma. 😀
    Para si desejo a continuação de umas Boas Festas!
    Um beijinho.

  30. Milu Diz:

    Moura Pinto!

    Sobretudo que não nos faltem as asas, ou seja, a saúde, força e determinação para prosseguirmos a nossa caminhada. Desejo-lhe a continuação de Boas Festas!
    Um abraço.

  31. Milu Diz:

    José Pinto!

    Ui! Faço ideia do frio que por aí estará, de bater o dente! 😀

    Olhe, não nos lembramos antes desta expressão: ” um frio de bater o dente”! 😮
    Muito obrigada pela linda e inspirada quadra, desejo-lhe o melhor do mundo e a continuação de Festas felizes!
    Um beijinho.

  32. Milu Diz:

    Flordeliz.

    Ó minha querida Flordeliz! És mesmo muito querida! Desejo do fundo do coração que tudo te corra conforme os teus desejos. Continuação de um Natal cheio de saúde, de paz e outras coisas boas, que também são precisas, embora menos importantes!
    Um grande beijo.

  33. Jose Rosa Diz:

    Miluzinha,

    Ainda sobre o que você disse no último comentário, sobre as obrigações (e competências) domésticas, com disse antes, aqui no Brasil isso tem mudado muito.
    Os homens, pelo menos os que convivo mais, os parentes e amigos, têm gostad de cozinhar e tratar das coisas da cozinha. Eu mesmo me incluo nesse grupo, mesmo não sendo muito prendado e ter um cardápio limitado de pratos que sei fazer.
    Acho que isso é uma evolução normal da sociedade. Assim como hoje a mulher trabalha e contriui, e muito, no orçamento familiar, também é papel do homem ajudar compartilhar os afazeres da casa.

    um bj

  34. Milu Diz:

    Lilás!
    Para ti os meus desejos de Festas Felizes e um Ano Novo cheio de aventuras, na companhia de todos os teus, assim como para a tua adorada Aldeia!
    Um grande Beijinho.

  35. opolidor Diz:

    um pouco atrasado, mas ainda a tempo- boas festas e um beijo

  36. Milu Diz:

    opolidor

    Ainda temos a passagem de ano! 😀
    Também para ti a continuação de Boas Festas.
    Um beijinho.

  37. Diamantino Diz:

    Não dou nenhuma importância ao Natal, aceito-o como uma simples tradição, apenas janto e ceio com a família, mas não dou presentes, nem tão pouco às crianças. Tenho quatro netos, dois rapazes e duas raparigas. Na verdade, não acho graça afogar as crianças com tantas prendas no mesmo instante, algumas depois de desembrulhadas são postas de lado, como coisas desinteressantes, que de facto são.
    Hoje convidei as duas netas (uma tem doze anos e a outra sete). para ir-mos ver um filme infantil no cinema de um grande Centro Comercial. Além de suportar o custo dos bilhetes, das pipocas e coca-cola, dei a cada uma delas um valor em dinheiro e aconselhei-as a guardá-lo para posteriormente comprarem o precisassem. Mas elas preferiram gastá-lo logo ali no Centro, deixei-as por isso entrar sozinhas nalgumas lojas, onde compraram o que gostaram para elas e para oferecer. A mais pequena ao dar-me a mão ao sair da loja disse-me: “é tão bom comprar-mos o que queremos”.

  38. Milu Diz:

    Diamantino
    Achei graça a este seu comentário e até sorri. Tenho para mim que as suas netas jamais irão esquecer este dia. Sou perfeitamente capaz de imaginar a alegria e satisfação que as suas netas puderam sentir, quando assim se viram às compras como gente crescida. Você, Diamantino, não podia ter-lhes dado melhor prenda.

    O Natal já foi para mim uma época muito importante, na minha meninice e na infância do meu filho. Confesso que gostava, sentia um enorme prazer em decorar a casa, o interior e o exterior, assim como passava tempos infinitos a elaborar as possíveis ementas, mas já lá vai tempo. Julgo que evoluí e que me instruí no sentido de me libertar de instituições, quer sobre o Natal, quer sobre outras tradições. Tanto assim é que há anos andava a prometer a mim mesma que faria tábua rasa do próximo Natal, contudo, à última da hora alguém gorava as minhas expectativas. O ano passado, por exemplo, foi o meu irmão mais novo que inesperadamente me caiu no regaço, vindo do estrangeiro. Mas este ano, finalmente, pude cumprir a minha promessa. Jantámos, eu e o meu filho, um jantar no qual caprichei um bocado, é certo, mas foi só, além de que passámos um bom bocado à conversa, o que é raro, porque este miúdo vive colado ao computador. É em frente ao computador que faz tudo. Tal como eu previa passámos a consoada bastante bem, de mais a mais tive assim oportunidade para demonstrar ao meu filho que o Natal é um dia como os outros e que o sentimento de nostalgia atribuído a esta quadra está apenas na cabeça das pessoas. Para o próximo ano já pode ser bem diferente, tudo depende das circunstâncias do momento.

  39. Diamantino Diz:

    Também eu, na infância dos meus filhos, dei demasiada importância à época (consumista do Natal). Mas obviamente, os progenitores são mais selectivos na escolha das prendas que oferecem aos filhos, porque lhes conhecem as necessidades e expectativas. Tenho na memória, a imagem da cara de espanto e satisfação da minha filha, tinha ela 10 anos, quando numa noite de Natal, desembrulhou uma máquina a sério, de escrever. Isto foi há 24 anos, quando ainda ninguém imaginava ter um computador pessoal.

  40. Milu Diz:

    Diamantino

    Quando criança os meus natais foram sempre pobres, vivíamos com o essencial, mas foi precisamente nesses natais que fui mais feliz, ou seja, em que me foi dado sentir o verdadeiro espírito de natal. Era eu quem fazia a árvore de Natal, um pinheiro que cortava num pinhal que ficava para lá das traseiras da minha casa, tantas vezes palco das minhas aventuras, inspiradas na série televisiva “Os pequenos vagabundos”, e também fazia o presépio com musgo que eu mesma desencantava pelos campos fora. As prendas? Quais prendas? Uma ou outra peça de roupa, que estreava logo na missa do galo. Lembro-me de uns sapatos que a minha mãe me deu, que me iam matando de dor, por na sua compra ter passado despercebido que me eram demasiado justos. Estive toda a santa missa com os pés a latejar. E para cúmulo do meu infortúnio não tinha onde me sentar! Também tenho recordações de outros natais que passei com a família, nos quais, embalados pelo sentimento, dávamos em fazer confissões uns aos outros. Foi num destes natais que fiquei a saber que, quem um dia me partiu a cabeça foi o meu irmão mais velho, que me havia atirado um pedregulho sem o intuito de me acertar, mas acertou! Mas também já tive natais onde me deixei levar pela onda do consumismo desbragado. Só parava de comprar ao final da tarde, um pouco antes da consoada, contudo, não deixaram rastro, não me lembro de nada em especial, apesar da abundância. Dá que pensar!

  41. Diamantino Diz:

    Fiz uma pausa na leitura para vir aqui desejar-lhe um bom Ano Novo, porque amanhã não terei tempo, visto sair para fazer a passagem de ano em casa de familiares.
    Estou a ler o «Equador». Devo confessar, que não sou grande espingarda em leituras, leio muito pouco, no entanto, já li alguns bons livros, cujos títulos e autores não fixei, de outros, não passei dos primeiros capítulos, por ter sido errada a escolha, minha ou de quem mos ofereceu. Agora, como já estou reformado, o caso está a mudar de figura, porque tempo para ler, é o que mais tenho. Como estou a iniciar-me no uso do computador, posso procurar referências a bons livros, curiosamente, por vezes ao navegar na net sou levado para sítios inesperados. Nunca chegarei a saber como fui parar ao seu blog, onde no primeiro contacto, fiquei a bem dizer, fascinado com suas crónicas (não sei se é correcta, esta classificação), quase sempre acompanhadas por ilustrações a reforçar o entendimento das histórias. Depois, nas outras visitas, encontrei nele um possível guia para procurar boa literatura. No seu blog, não só, poderei saber antecipadamente como se desenrola a trama como quem a urdiu. Ando por isso com uma lista no bolso, com os títulos obras por si sugeridas. Quero dizer, por si comentadas. O livro, que estou quase a terminar a leitura, nunca o leria, se não tivesse lido antes sobre ele, o seu comentário, isto porque não simpatizo nada com o autor e a série que passou na televisão não me agarrou.
    Como curiosidade, cabe aqui dizer, que tal como você, também eu fui leitor da biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, mas isto aconteceu, creio, em 1958 ou 1959, teria eu doze ou treze anos. Seria talvez o inicio de um hábito leitura se fosse continuado.

    Um novo ano muito bom para si e para os seus.

  42. Milu Diz:

    Diamantino

    Em primeiro lugar quero agradecer-lhe os votos de bom ano que me desejou a mim e à minha família. Também desejo para si um Novo Ano com tudo de bom assim como para a sua família.
    Você deixou-me um tanto aflita ao dizer-me que pensa seguir os meus critérios de leitura. É que não uso de grandes critérios nas escolhas que faço para as minhas leituras, todavia, quando um livro não presta, de imediato o coloco de lado. Nego-me terminantemente a ler determinados livros, alguns deles escritos até por pessoas bem conhecidas da nossa praça. Só não lhe digo aqui quais são porque não acho isso justo, até porque haverão pessoas às quais eles, os tais livros, lhes assentaram que nem luvas. No seu lugar eu optaria pelo romance histórico. Tal como o Equador, há aqui mais referências de outros, como já pôde ver, aliás. E digo-lhe isto porquê? Porque se queremos aprender algo com as nossas leituras, então este género é de aprendizagem garantida. E olhe que já li livros ainda mais interessantes, mas, nessa altura, ainda não tinha o blog, é muito pouco provável que os torne a ler, por norma não leio um livro duas vezes, a não ser que me fosse necessário.Não sou pessoa para me deixar levar pela publicidade que anuncia a publicação de um livro de determinado autor.Por exemplo: Gosto de ler José Saramago, digam lá o que disserem dele! Ele é um homem que veio do nada, sentiu na carne o que é ser filho de ninguém, enquanto a muitos outros que o criticam, que pretendem desfazer do seu talento, nunca lhes faltou nada, já que nasceram em berços ourados, deve ter sido muito difícil para estes, que alguém que já havia sido um pé descalço, tenha sido galardoado com tão prestigiado prémio. Contudo não fui logo a correr ler o seu último livro, Caim, hei-de lê-lo, se Deus quiser!
    Quanto ao autor do Equador, direi apenas que até gosto de lhe ler as crónicas e também o apreciei em algumas intervenções que teve no Jornal da TVI. Para além disto não o conheço, nada mais poderei ajuizar com justiça acerca dele, porque há tanta coisa que se diz e que não é verdade.

    Muito gostava de saber qual a crónica, que esta classificação está correcta, já que crónica é uma narrativa simples onde os factos estão ordenados cronologicamente, (fui ver ao dicionário na net) 😀
    Estava eu a dizer, que muito gostava de saber qual foi a crónica que lhe chamou a atenção, e que fez com que prosseguisse na leitura do meu blog. No fundo, é sempre bom saber essas coisas, mas provavelmente o Diamantino já não se lembra.

    Como na biblioteca da Calouste Gulbenkian, devido à minha tenra idade, não me deixavam trazer qualquer livro que não fosse apropriado à idade, inventei um estratagema: Disse-lhes que tinha um irmão mais velho, que também pretendia ser leitor mas, como trabalhava, estava impedido de se deslocar à carrinha. Fizeram então um cartão para ele e eu é que lhe levava livros, o mesmo será dizer, que nem o meu irmão sabia o que se passava, pois os livros eram para mim. Por vezes, são os adultos que obrigam as crianças a mentir! 😀

  43. Diamantino Diz:

    Lembro-me perfeitamente qual das suas crónicas, chamemos-lhes então assim, que primeiro me fascinou (correto, seria usar o verbo emocionar), mas a essa, outras se seguiram. Mesmo agora fui reler essa primeira, e mais uma fez com ela me emocionou. Sabe, sempre fui muito emotivo, e a idade tem aguçado esta fraqueza.
    Se eu fosse capaz de escrever, os episódios da minha infância, um poderia começar assim: «Tinha sete anos quando entrei para a escola primária. Fui lavado pela mão de uma vizinha, alguns anos mais velha …». Mais não acrescento por ser desnecessário.
    Além da diferença do género, temos uma diferença de idade, de alguns anos, por isso acho espantoso, haver tanta parecença nas nas nossas vivências. Isto serve para justificar a referência que fiz à biblioteca itinerante da Calouste Gulbenkian, onde me era permitido levar alguns livros das prateleiras de cima, livros de divulgação. Lembro-me até de alguns títulos.
    Deve esclarecer que na escola, nunca fui agredido a soco pela professora, valha-me ao menos isso, mas com uma barra de madeira a que chamavam palmatória. Papo-seco, não sabia o que era, Planta também não, mas levava para a escola uma fatia de casqueiro barrada com «manteiga moura», era uma manteiga avermelhada com sabor a chouriço, por vezes rançosa, feita na altura da matanças dos porcos. Porcos dos outros, porque a minha família era mesmo muito pobre. Levava também uma garrafa com água, porque a escola não a tinha.
    Na verdade, não penso seguir os seus critérios de leitura, penso sim avaliar o interesse de alguns livros que você comenta por os ter lido, é diferente, não é?.

    Hoje, primeiro dia do ano, está, um sol radioso por estas paragens. Espero que também por aí, algures. Que ele seja o prenúncio de boas coisas para si.

  44. Milu Diz:

    Diamantino

    É uma pena o Diamantino não querer ou não sentir o apelo para contar algumas das suas memórias, porque se expressa divinalmente bem, coisa que nem todos conseguem, porque lhes falta a capacidade de se emocionarem. Não imagina o meu espanto, o meu assombro e a minha dor, quando naquele dia fui alvo de um acto tão insano da parte daquela professora, que recordo como uma senhora de ancas roliças, sem no entanto ser gorda, trajada de uma saia preta e com o cabelo preso num totó, que era assim que naquela altura as mulheres mais velhas usavam.

    Também muito me intriga o facto de algumas pessoas minhas conhecidas, que frequentaram a escola muito antes de mim e, ainda assim, guardarem boas recordações dos professores, há até quem me diga, que chegou a nutrir um sentimento de gratidão, quase idêntico ao que sente pelos pais! Quanta inveja da minha parte, Diamantino, poder assim sentir, teria sido de uma vital importância para mim. Nos meus tempos de escola em criança, porque quando mais tarde retomei os estudos, já era adulta e tive excelentes professores,fui testemunha de factos incríveis. Calcule que tive uma professora na segunda classe que estava grávida e que por isso levava para as aulas o tricô, durante as quais não parava de tecer fofas botinhas e casaquinhos para aquele que ainda havia de nascer. As aulas e correcções dos trabalhos de casa eram corrigidos por duas alunas, das quais ainda me lembro quem eram incluindo os seus nomes, que estavam a repetir o ano já que haviam chumbado! Alguma vez você foi capaz de imaginar uma coisa assim? Isto, que acabei de contar é rigorosamente verdade! A mim acontece-me de tudo! 😀
    Bonita a descrição que fez do seu lanche! Exceptuando o ranço, a sua manteiga devia ser melhor do que a minha! Pelo menos sabia a chouriço! A minha manteiga nem sei que sabor tinha, se é que aquilo era algum sabor, servia para engordurar o pão, isso sim!

    O meu pai de vez em quando engordava um porquito, mas com o fito de ganhar algum dinheiro, já que o vendia. Vezes houve em que insisti com a minha mãe, para que convencesse o meu pai a fazer uma matança, mas ela nem queria ouvir falar nisso, argumentava que dava muito trabalho, contudo, desconfio que era por uma questão de dignidade, ela não queria dar a entender que não era capaz de organizar um acontecimento desses. Tinha razão, afinal, no seu lugar eu não me meteria em tamanha alhada! Bem basta o que basta, ou seja, as canseiras do dia-a-dia.

    Curiosa essa sua intenção de avaliar o interesse dos livros que já li, no fundo, podemos avaliar as pessoas pelo tipo das suas leituras. Eu faço isso!
    Esteve realmente um dia de sol resplandecente, mas já se foi… Mas outros virão! 🙂

  45. Mário Rodrigues Diz:

    Olá Milu,

    Que bela e historia! Mais uma das belas histórias, que podem ser contidas nas nossas vidas. A simplicidade dos dias de ternura. O cheiro da cama de nossos pais e a paz que isso nos trazia… Felizmente…
    Lembro-me muito disso, sempre que os meus rebentos correm para junto de mim e da mãe…

    Um beijo Milu

  46. Milu Diz:

    Olá Mário!
    É por isso que imensas vezes sentimos que a felicidade está nas coisas mais simples. Sei o que é a sensação de conforto e de segurança que uma criança pode sentir quando lhe é possível dormir aninhada entre os pais, porque foi uma coisa de que desfrutei bastante, já o meu filhote foi igual. Já era bem grandito quando deixou de dormir comigo! Às vezes tenho saudades desse tempo! Nunca devíamos ter pressa para os filhos crescerem…
    Um beijinho.

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