E o carocha a fazer das suas!

Publicado por: Milu  :  Categoria: E o carocha a..., FLAGRANTES DA VIDA

volkswagen

“O que viveu mais não é aquele que viveu até uma idade avançada, mas aquele que mais sentiu na vida.”

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Hoje estou um bocado em baixo. Pela primeira vez o meu filho decidiu dar uma sacudidela à asa materna e embarcou  num avião rumo à Alemanha! Foi ter com a namorada! O que faz um jovem apaixonado! Se a estória que aqui vos conto lhes parecer triste, já sabem qual foi a causa. O meu estado de espírito não está no seu melhor…

Quero também desejar aos meus queridos visitantes uma boa Páscoa.

Ora aqui vai a continuação de um acontecimento da minha vida que me ficou guardado na memória por ter sido especial. Comprei o meu primeiro carro e com isso dei início a um extenso rol de vergonhas das quais fui vítima por não saber fazer marcha-atrás. Depois de sair da cidade de Tomar, a viagem de regresso decorreu com bastante normalidade. Exceptuando um ou outro solavanco causado pelos buracos na estrada dos quais à cautela nunca me desviei, não fosse o diabo tecê-las, ainda era muito cedo para me atrever nas artes da gincana! Assim que cheguei à cidade dirigi-me ao meu local de trabalho, virando para a  rua que lhe dava acesso e que se  encontrava-se parcialmente obstruída pelas obras de recuperação de um prédio antigo. A frente deste estava vedada por uma rede que se estendia para além de cerca de três quartos do pavimento da  estrada, deixando livre um estreito corredor que apenas permitia a passagem dos peões e motorizadas. Dentro do espaço vedado jazia toda uma parafernália de materiais e utensílios próprios da construção civil: montes de areia, a betoneira, diversos tipos de ferros, madeiras, pedras e uma grande quantidade de entulho que transbordava para além dos limites da vedação. Assim que cheguei ao meio da rua vi logo que estava metida numa alhada.

CARRO

O único espaço livre onde era possível o estacionamento e no qual tinha premeditado arrumar o carro, encontrava-se ocupado por um camião que se abastecia num armazém de grossistas que ali havia. Angustiada verifiquei que não havia qualquer possibilidade de deixar o carro estacionado lado a lado com o camião, pois além de impedir a sua posterior saída após o abastecimento, dificultava a passagem dos peões e das motorizadas. A única manobra possível e a qual se afigurava acertada era efectuar a marcha atrás, porém, isso nem pensar! Só de me imaginar aos ziguezagues fazia-me corar de vergonha! Pensei ir em busca de auxílio, alguém que se prestasse a tirar-me o carro dali para fora. Se bem o pensei assim o fiz! Antevendo uma saída airosa desta enrascada, desliguei a chave de ignição, tranquei as portas do carro e serenamente dirigi-me ao meu local de trabalho. Todavia as coisas não correram como havia preconizado, já que de momento não estava por ali ninguém habilitado para tal tarefa. Histérica e completamente fora de mim soltei um chorrilho de imprecações e amaldiçoei a minha triste sorte! Senti-me só e abandonada! Uma avalanche de infinita tristeza invadiu todo o meu ser! Afinal, todos me haviam virado as costas! Uns porque tiveram medo de morrer, e agora, outros, porque não se encontravam onde deviam estar,  quando tanto precisava deles. Sem saber como dar a volta à situação optei por voltar junto do carro, enquanto me esforçava para me lembrar de alguma solução. Foi quando vi os dois homens do camião, que de braços no ar gesticulavam desesperados, deambulando ora rua acima ora rua abaixo, indagando pelas imediações sobre quem teria sido o irresponsável que ali havia estacionado! Como não tive outra alternativa resolvi pegar o touro pelos cornos. Com o coração nas mãos avancei direito ao carro como um condenado em direcção ao cadafalso. Os homens, assim que me avistaram de chaves na mão, perceberam quem era a dona da carripana e acalmaram ligeiramente. Entrei no carro, pus o motor a trabalhar e olhei para o monte de entulho que transbordara por debaixo e à volta da rede, senti-me sem coragem para tomar essa via, porém, assim que me voltei para trás logo fui tomada de pânico! Tinha a certeza que se iniciasse a manobra de marcha-atrás, não me livraria de fazer uma figura deprimente e da qual dificilmente recuperaria. Antecipadamente via já todos a rirem-se do circo, que com a minha inépcia, ali estava prestes a montar! Não! Decididamente não iria fazer marcha-atrás, desse por onde desse! Olhei de novo para o monte de entulho que teria de lavrar, mas para a frente sempre é para a frente, avancei, portanto, direito ao monte de escombros e toca de abrir caminho por entre pedras, pedaços de cimento seco, tijolos partidos enfim, por cima de tudo, quanto por ali morava! Que se lixasse o fundo do carro, mas rirem-se de mim é que não!

carocha2008

Entretanto virei-me para trás, para me certificar se já tinha libertado espaço suficiente para as manobras de saída do camião. O que vi fez-me corar até à raiz dos cabelos. Tomados pelo assombro, os homens,  de semblante muito sério olhavam-me boquiabertos. Não me foi difícil imaginar os pensamentos que lhes iriam naquelas cabecinhas e, dei por mim a pensar que, afinal, antes tivessem rido, sempre poderia ter alinhado e rido também.

No fundo, o que mais temia era que me considerassem uma naba ao volante!

Dias mais tarde, devido às obras de conservação de uma estrada, fui obrigada a fazer um desvio que  passava por entre um pequeno povoado. As ruas eram muito estreitas e com bastantes curvas apertadas. Calculem vós a minha aflição, quando subitamente vi surgir à minha frente um autocarro da carreira. E porque mais uma vez não tive outra alternativa, engatei a mudança e vá de fazer marcha atrás, num instante consegui fazer a proeza de atravessar o carro na estrada, de tal maneira que depois nem para a frente nem para trás! Foi o cobrador de bilhetes, que nesse tempo ainda os havia, quem saiu do autocarro e me foi dando indicações de como deveria fazer a manobra. Os passageiros, principalmente todos aqueles que se encontravam sentados nos bancos da frente, tiveram assim direito a ver  um divertido  espectáculo e sem pagar bilhete. Riam-se divertidos e disseram-me adeus enquanto o autocarro seguia marcha, o que me fez sentir ainda pior, porque  suspeitei  que me haviam considerado maluca. Lembro-me, que durante uns instantes, permaneci ali a tentar recuperar de tão grande vexame. Olhei-me no espelho retrovisor e quase desmaiei de susto. Estava vermelhíssima… de vergonha… e do esforço de virar o volante em seco.

A próxima estória é mesmo vergonhosa! Até lá…

carocha

14 Comentarios to “E o carocha a fazer das suas!”

  1. joseoliveira Diz:

    Minha querida amiga. Senti com a minha Dona um vazio, quando o 1º filho deu o salto. O Segundo dá não dá, junta-se, separa-se, já vai na 4ª “mafarrica” e nem calculo quando assenta. Já pensei várias vezes a quem ele sairá…Mas não descortino.
    Sobre o “Carocha”, não posso perder esses episódios
    que me fazem delirar.
    Já agora,para não fazer má figura, nas Canárias tirei a carta de condutor de Camelos com sella. Em último recurso é uma desculpa.
    beijocas

  2. Milu Diz:

    Olá! 😀
    Já me fez rir!
    Isto do meu filho está a custar-me um bocado porque somos muito ligados. Eu sei que ele tem de voar mas vou levar algum tempo a habituar-me à ideia. Quanto ao seu filho aposto em como sei de quem herdou tais genes, claro, estou a ter em conta o espírito jovial que demonstra ter nas coisas que escreve! Não me perguntem como é que aprendi, mais tarde, a fazer marcha-atrás, só sei que engatei a mudança e fiz tudo direitinho, até eu fiquei intrigada com tamanha perícia!
    Beijinhos!

  3. Lilás Diz:

    Bem que maravilha! isto está a ficar deveras interessante e que tal começar a escrever um livro de memórias divertidas? conta comigo para o lançamento…quanto ao filhote…pois é, custa mesmo mas na verdade é uma questão de hábito e é tão bom vê-los felizes por isso que voem…Boa Páscoa e beijinhos
    ps: aguardo as cenas dos próximos capitulos

  4. Milu Diz:

    Olá!
    Obrigada! Estórias com os meus carros velhos tenho muitas, lá isso tenho!
    Recebi mesmo agora uma mensagem do meu filho que diz que está tudo bem e numa boa! Já foi mais longe do que eu, que nunca fui além de Badajoz, para comprar caramelos! Uma boa Páscoa também para ti. Beijinhos!

  5. flordeliz Diz:

    Quem manda amar demais? Quem?
    Pois, ninguém!…
    O meu ainda não fugiu, mas um dia bate asas e…
    E…vai ser uma bela choradeira, pois então!

    Quanto à marcha atrás eu aprendi na escola.

    E depois…
    Para quem começou a andar e a cair de mota antes de ter carro, as manobras estavam mais que sabidas ):

    Há uma passagem que ainda me faz ferver o sangue, o excesso de zelo do instrutor (rapazola novo!) no dia do meu exame.
    Pela manhã enquanto dava a última aula ao aproximar-me de uma rotunda de repente o carro “estacou” sózinho (pé a fundo) e eu que até já me sentia o “ás do volante” bati de peito no volante ficando meio atarantada e sem saber bem o que tinha acontecido. Olhei o “besta” e disse-lhe: Eu vi o carro mas tinha tempo de passar!
    E ele respondeu simplesmente: “Dar prioridade a quem vem dentro das rotundas!”
    Com o peito e a vergonha a doer apeteceu-me deixar ali o “coisa” e desistir mas…
    Engoli o mau estar e lá continuei até à hora de exame, que correu bem, com estacionamento e inversão de marcha em rua bem inclinada.

    Milú se fizesse exactamente o que o instrutor me ensinou nunca saia das rotundas sempre a dar prioridade ou então levava umas belas “gaitadas” para não ser encrenca.

    Cá vou continuar a acompanhar a pobre sorte do teu carocha.
    Fica o melhor que fores capaz!
    Beijinho

  6. Milu Diz:

    Olá! Obrigada
    Isto dos filhos é muito complicado, preciso de ganhar “calo” e habituar-me a que ele ande por este mundo, sem ser debaixo das minhas asas. Estou sempre a pensar coisas e nunca são boas.

    Na minha instrução lembro-me que barafustava quando tinha de fazer manobras, talvez por isso fiquei mal preparada. No dia do exame, o instrutor depois de ver quem eram os examinadores, veio junto a nós e disse-nos que se não passássemos com aqueles, não passávamos com nenhuns. Portanto, foi sorte! Uma Páscoa Feliz!
    Um beijinho!

  7. António de Almeida Diz:

    A falha é nitidamente das escolas de condução, que não obrigavam ao exercício da marcha-atrás. Hoje não sei como estará, mas espero que tenham revisto…

  8. Milu Diz:

    Olá António!
    Naquela altura também ensinavam. Eu é que tinha cá o meu feitiozinho… O instrutor manda-me fazer a marcha-atrás, eu fazia-a às três pancadas e demonstrava bastante contrariedade em repetir. Ora, em qualquer exame ficamos nervosos e se estivermos mal preparados mais nervosos ficamos. Talvez por isto foi possível passar no exame. A minha inépcia deve ter sido compreendida como um acesso de puro nervosismo Mas também tinha muita falta de confiança em mim! Se calhar até tinha razão! 😀

  9. oliver pickwick Diz:

    Ora, Milu! Se estivesse mesmo em baixa não escreveria uma história hilariante como esta. Mas, não se desespere! Por tudo que descreveu, acredito que a minha irmã caçula ainda é pior do que você ao volante. Por sinal, é o único ser vivente do planeta que não sabe pilotar uma singela bicicleta.
    Um beijo!

  10. Milu Diz:

    Olá! 😀
    A sua irmã não sabe andar de bicicleta mas não é a única! Não é não! Porque também não sei! Tentei aprender mas como não consegui à primeira,acabei por desistir! Quanto ao carro: Agora já conduzo benzinho! E já faço marcha atrás muito bem! 😀
    Um beijo

  11. flordeliz Diz:

    Já agora respondo:
    As escolas continuam a preparar pouco os alunos (falo daquela onde o meu filho aprendeu). Saiem uns belos “nabos” e se não fossem os carrinhos dos papás…
    E digo isto porque fui eu quem ensinou o meu filho a fazer marcha atrás, a inverter o sentido de marcha, a parar nas subidas e a arrancar. Se não…era mais um belo “maçarico”.
    Já te desejei boa Páscoa?
    Desejo de novo, porque me apetece!
    Beijinho ):

  12. Milu Diz:

    Obrigada! Uma boa Páscoa também para ti!
    A verdade se diga, aprender, aprender, só mesmo na estrada e depois de algumas asneiras. O que vale é que nem sempre com consequências. A mim sucederam-me determinadas coisas que me foram avisando dos cuidados deveria passar a ter. Se até os melhores condutores têm acidentes, por vezes nem bem percebem como foi possível!
    Um beijinho!

  13. congeminações Diz:

    Extemporâneamente espero que tenha passada uma Páscoa feliz, uma vez que não tive antes oportunidade de o fazer por me ter ausentado nessa quadra. Quanto ao segundo episódio da odisseia carocha, fez-me lembrar aqui há uns vinte e tal anos vivendo já nesse altura em Oeiras e quando regressava de Algés onde tinha levado ao infantário o meu filho entrei por Paço d’Arcos e de repente o trânsito parou e não havia meio de andar. Saí do carro de percorrendo a pé a rua para me certificar do que se passava já com inúmeros automobilistas desesperados a businar dei conta de que o problema era causado por uma senhora que se encontrava ao volante dum bruto Alfa Romeu e que não conseguia fazer a manobra para se desviar dum camião que descarregava mobílias e estava a entupir o trânsito. Perguntei-lhe então o que se passava e ele muito nervosa respondeu-me o quê que vocês querem enervaram-me com as businadelas e eu não consigo tirar o carro daqui. Disse-lhe pois minha senhora não seja por isso se o problema é esse a passe para o lado do pendura que eu tiro-lhe o carro daqui e fica desobstruído o transito. Ela concordou e assim aconteceu. Agradeceu-me e eu regressei ao meu carro já com os de trás a businarem porque entretanto os carros da frente já tinha partido. Fico a aguardar as cenas do próximo episódio.

  14. Milu Diz:

    Muito obrigada, a minha Páscoa passei-a sozinha, o meu filho foi para a Alemanha e vai lá estar um mês. Não me fez diferença, já deixei de atribuir significado a estes dias, não me dizem nada! Quanto à sua Páscoa sei que foi mais animada :D, fui ao seu blog e li! Faz bem!
    Eu andar para a frente sabia e bem. Desde que fosse para a frente fazia qualquer manobra! Mas olhe que a minha azelhice de andar para trás, em parte, também se devia às linhas do carro, por causa dos guardas lamas, nunca sabia a que distância estavam eles da parede! 😀

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