Cogitações

Publicado por: Milu  :  Categoria: Cogitações, SOCIEDADE

 

“A árvore boa dá bons frutos”

Mateus 7
“…Pelos seus frutos os conhecereis. É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas? Assim sendo, toda árvore boa produz bons frutos, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim produzir bons frutos. …”

 

De vez em quando dou por mim a pensar e a reviver as minhas inquietações de quando criança. Uma delas era a confusão que me fazia observar que os adultos, sim, os adultos, não adoptavam para si o comportamento que exigiam aos outros. Foram muitas as situações de incongruência que a minha sagacidade de criança detectou. Uma delas tinha a ver com as práticas religiosas aliadas ao quotidiano. Tendo sido  uma menina que frequentou a catequese regularmente, que por norma tinha lugar aos domingos, a que se seguia uma missa, foram, por isso mesmo, pródigas as oportunidades surgidas para observar o comportamento dos adultos, especialmente aqueles que eu conhecia de ginjeira, passe a expressão.

Aquelas mesmas pessoas que eu via ali, na igreja, de terço nas mãos, cabeça meio à banda numa expressão compungida de fé, expressão que  exacerbavam por altura da comunhão, que eu tinha especial interesse em observar até ao mínimo detalhe, (criança!) ao ponto de lhes perceber os movimentos que faziam com a língua, no esforço de descolar a hóstia do céu da boca, seriam as mesmas que eu conhecia, tão bem, demasiadamente bem, e a quem costumava surpreender actos, intenções pouco edificantes e conversas maldosas? Sobretudo a perversidade nas conversas! Sobre os vizinhos, amigos, conhecidos, filhos e filhas dos outros, de quem não gostavam, ou simplesmente num acto de recreio, para espantar o marasmo e a insatisfação das suas próprias vidas…

Jeremias 11:19
“Mas eu era como um cordeirinho manso, que se leva à matança; não sabia que era contra mim que tramavam, dizendo: ‘Destruamos a árvore com o pão de sua seiva, o seu fruto! Avante! Cortemo-lo da terra dos viventes para que o seu nome não seja mais lembrado!”

Durante a missa, onde até faziam questão de comungar, tomar o Cristo, não ouviam  estas pessoas as mesmas coisas que eu? Que era feito, então, da bela mensagem de Jesus? Entrou por um ouvido e de me imediato saiu pelo outro?? Belos exemplos que se dão às crianças e jovens em formação… Se é verdade que se educa pelo exemplo, então, estamos conversados.

Por outro lado, também compreendo que uma coisa é o que se ouve na igreja, outra coisa é fora dela, no palco da vida, onde vigora o princípio do salve-se quem puder. Mas então chegaremos à conclusão de que praticar uma religião de pouco vale, pois se não nos faz mais justos… Um dia todos chegarão à conclusão que  uma educação sólida e bem orientada é bem mais eficiente, coisa que não interessa ao poder instituído, que nos quer ignorantes,  pois é assim que nos “governam/roubam” mais facilmente…

Tiago 3:17,18
“Porém, a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura, repleta de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia. …”

A propósito destas minha cogitações cito Maria Amália Vaz de Carvalho, (2008) no seu livro “Cartas a Luísa” que nos diz assim, nestes termos:

“A ideia religiosa, que devia transformar-se, acompanhando a transformação fatal das sociedades, ficou para os católicos encerrada na antiga fórmula, a cada instante contrariada, ou transbordada pelas modificações operadas em tudo o mais. Daqui a eterna luta da consciência feminina, a quem ensinam a acreditar uma coisa e a praticar outra. O catolicismo imprime à alma juvenil um molde que o mundo deforma ou altera imediatamente.

-Onde está a verdade?! – pergunta o apavorado espírito da criança que vai ser mulher.

E os que a cercam, em vez de a elucidarem, desnorteiam-na dando-lhe o exemplo do absoluto contraste, que existe entre tudo que se prega e tudo que se executa.

– O melhor é não pensarmos nisto.

E a esta abstenção de todo o pensar elevado, e a esta demissão egoística de todas as fecundas lutas da consciência segue-se a gélida indiferença, o mal disfarçado cepticismo, que descansa à sombra estéril de todas as práticas minuciosas e desalumiadas do mínimo vislumbre de fé. É tão delicado, tão melindroso, tão cheio de perigos este assunto, que só muito a medo me atrevo a falar dele, mesmo ao de leve.

Reconheço, porém, que, para nós mulheres, ele é dos mais importantes, pois que tem fundas ramificações em todos os actos da nossa vida, em todas as determinações da nossa razão” (Carvalho, 2008: 28-29).

Bibliografia

 

CARVALHO, V. A. Maria. (2008). Cartas a Luísa. Grandes Autores Portugueses. Colecção 120 Anos JN. Quidnovi Editora. Matosinhos.

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