Avancemos!

Publicado por: Milu  :  Categoria: Avancemos!, FEMINISMO

“Um forte sentido de liberdade pessoal, associado à felicidade individual, é fundamental para sobreviver com boa saúde até uma idade muito avançada.”

Deepak Chopra

 

A Tomada de Consciência

Mais uma vez em prol da libertação da mulher, e reforçados que foram os meus sentimentos de  repulsa e de indignação com a notícia de Maus Tratos Sobre Idosos, publicada no Diário de Notícias do dia 14 do corrente mês, (aqui), que nos dá conta que, relativamente a Portugal, a violência sobre  idosos aumentou cerca de 30%, sendo as mulheres as principais vítimas, algumas delas a sofrerem em silêncio há mais de 40 anos,  apresento alguns excertos de um livrinho bastante assertivo que me veio parar às mãos, e que se intitula “Na Política, as Mulheres São Capazes“. Uma edição da Colecção “Bem Me Quer”, Nº 9, editado  sob a batuta da Comissão para a Igualdade e para os Direitos da Mulher – Presidência do Conselho de Ministros.

“Acontece muitas vezes passar despercebido o valor e o saber de mulheres muito capazes e muito qualificadas apenas por darem mostras de falta  de confiança em si próprias.”

“Todas nós temos opiniões sobre a sociedade e sobre a vida quotidiana. Se queremos ser capazes de contribuir para que as coisas sejam como achamos que deveriam ser, também precisamos de ter coragem para dizer abertamente o que pensamos, quando e onde são tomadas as decisões.”

“Não há dúvida que as mulheres não se envolvem muito na política. As grandes organizações que detêm o poder, assim como os órgãos eleitos por sufrágio popular, continuam dominadas por homens. Tal facto reflecte-se nas decisões tomadas e na definição das políticas: nem sempre favoráveis às mulheres como poderiam ser.”

“Há razões que explicam este domínio masculino e nós, mulheres, temos de assumir a nossa parte de responsabilidade neste estado de coisas. Aceitámos que, durante muito tempo, na sociedade, vigorasse a discriminação em função do sexo. Cabe-nos agora a nós querer participar, mas, ao mesmo tempo, é preciso que os homens modifiquem a sua atitude em relação às mulheres como políticas.”

Se quisermos tornar concreta «uma política à maneira das mulheres», temos que:

  1. Analisar a cultura dos políticos (isto é, os seus modelos, a maneira como actuam, o que verdadeiramente lhes interessa), os papéis que os políticos e os líderes desempenham;
  2. A cultura das mulheres (isto é, os seus modelos, a maneira como actuam, o que verdadeiramente lhes interessa), e os papéis que as mulheres desempenham.
  3. Assim, temos de definir a situação e examiná-la, pensar como poderá ser modificada e como dar um contributo válido para mudar a actual cultura política ou seja, a maneira de a fazer. Temos de desafiar as atitudes, as expectativas e as práticas profundamente enraizadas. E temos de ter a coragem de o fazer.”

“Não se pode deixar de reconhecer que a nossa cultura política actual – devido ao facto de ter sido sempre realizada por e para gente com poder – não é a melhor. Há regras e tradições que se entrincheiraram, e que acabaram por condicionar a evolução das pessoas, da política e das organizações. Criaram uma uniformidade entre os políticos, donde resultou quase não haver lugar para ideias novas e não convencionais.”

“Desde os primeiros contactos que as crianças vão tendo com a sociedade em que vivem, que rapazes e raparigas vão adquirindo experiências diferentes. Aqueles, influenciados pelo modelo masculino, que valoriza a força, a competição, a agressão, mas também a iniciativa e a acção. As meninas conformando-se com o ideal feminino, configurado, em grande parte, com a passividade e a sujeição, e, em contrapartida, com maior sensibilidade, afabilidade e disponibilidade. Aprendemos, assim, a exprimir-nos de modos diferentes desde a mais tenra infância: começa pelas cores dos casaquinhos, e, num ápice, desencadeia-se a adaptação ao desempenho dos papéis sexuais.”

“Como mulheres, temos de estar conscientes de que também nós contribuímos para a manutenção dos estereótipos pela maneira como educamos os nossos filhos e as nossas filhas. Se queremos mudar este estado de coisas, vamos ter de meter mãos à obra. E, assim sendo, também os homens terão de aprender a ser responsáveis por tarefas que dantes respeitavam apenas às mulheres.”

Anedotas e Caricaturas

Quando nos empenhamos a trabalhar para uma mudança de atitudes no campo de igualdade de direitos entre mulheres e homens, é preciso ter consciência de várias coisas.

  1. Não há dúvida que as anedotas, as caricaturas, os grafiti, contribuem para a manutenção de atitudes muito arreigadas, mas também é certo que são um sinal.
  2. Quando vemos as anedotas e as caricaturas dos homens políticos e as das mulheres políticas, verificamos que são consideravelmente diferentes. As imagens dos políticos e as anedotas sobre eles raras vezes se referem às suas características físicas abaixo do pescoço; no caso das mulheres, pernas, seios, etc., constituem geralmente alvo preferencial.

 

“Dupla Penalização: as Culpas e as Acusações”

 

“O que quer que se faça é mau:

Exemplo: A uma mulher com crianças pequenas que não trabalha fora de casa diz-se-lhe que é uma irresponsável e uma dependente, que devia ter um emprego, assumir as suas obrigações sociais e pagar impostos. Ensina-se-lhe tudo o que ela devia fazer e aponta-se-lhe o muito que haveria a esperar dela se ela quisesse ser útil à sociedade, o que não impediria que fosse uma boa esposa e uma boa mãe. Há quem pense que ficar em casa para tratar dos filhos não tem razão de ser.

Se uma mulher que é mãe arranja um emprego, ou é militante de um partido político ou de uma Ong, diz-se dela que não liga ao marido, nem aos filhos e os deixa ao Deus-dará; que a sua militância se faz à custa da família, que é egoísta, etc. Também se lhe lembra a sorte que tem de ter um marido compreensivo e inteligente. E o pior é que são muitas vezes as próprias mulheres a levantarem este tipo de acusações. Ora isto não pode acontecer.”

“Não é difícil fazer com que as mulheres se sintam culpadas ou falhadas. (…) Quanta mulher maltratada não acha que a culpa afinal é dela? Não acabou por ser ela quem provocou o homem, porque lhe disse, ou fez, isto e aquilo? E as que foram violadas? Quantas vezes não ouviram dizer que deram aso ao sucedido, ou que deviam ter pensado… etc. Por outras palavras: «não tinham nada que estar onde estavam». Ou porque nos saracoteámos, ou porque o decote era generoso – somos presa fácil. Haja o que houver, a culpa é sempre nossa.”

“Temos, decididamente, de trabalhar os nossos sentimentos de culpa e de vergonha, que nos oprimem. É assunto que há que resolver em conjunto. Uma das condições para isso é não lançar o descrédito, nem culpar as outras mulheres.”

Bibliografia

Comissão Para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. (2001). Na Política, as Mulheres São Capazes. Presidência do Conselho de Ministros. Lisboa.