A Sede de Poder

Publicado por: Milu  :  Categoria: A Sede de Poder, PARA PENSAR

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“Quem nada teme não é menos poderoso que aquele a quem todos temem.”

Friedrich Schiller

Sobre este texto da autoria de Osho diria que ele espelha a condição humana e as suas fragilidades. Para pensar.

“As crianças são observadoras. Estão sempre a ver o que está acontecer. O pai sai quase sempre como um leão, mas ao voltar para casa não passa de um rato. Cada marido é sempre dominado pela mulher. Não existe nenhuma outra categoria de marido. Mas porquê? Por que será que nasceu uma situação tão desagradável? Há uma forma masculina de política, há uma forma feminina de política – mas ambas tentam ficar por cima.

Em qualquer das outras áreas, por exemplo, na universidade: o assistente quer ser professor, o professor quer ser catedrático, o catedrático quer ser reitor – uma luta constante pelo poder. Poderia pensar-se que tal não deveria acontecer, pelo menos na educação. Contudo, ninguém está interessado na educação, toda a gente está interessada no poder.

O mesmo acontece na religião: o bispo quer ser cardeal, o cardeal quer ser papa. Toda a gente está em cima de um escadote a tentar trepar mais alto, mas há outros que lhe puxam pelas pernas. Aqueles que estão em cima procuram empurrá-lo, para que ele não consiga elevar-se até ao nível em que se encontram. E a mesma coisa é feita aos que se encontram num degrau mais baixo do escadote: há quem os puxe pelas pernas, outros dão-lhe pontapés e batem-lhes para os manter o mais em baixo possível. Todo o escadote, se se olhar para ele apenas como observador, é um circo. E isso acontece por todo o lado, em todo o lado.

Para mim, a política significa um esforço para o leitor provar a si próprio que é superior. Mas porquê? Porque, lá bem no fundo, se sente inferior. E o homem do instinto tem forçosamente de se sentir inferior – ele é inferior. Não se trata de um «complexo de inferioridade», é um facto, é uma realidade – ele é inferior. Viver a vida do instinto é viver no nível mais baixo da vida.

Se compreender esta luta, uma luta para ser superior, o leitor sairá da luta – dirá simplesmente: «Eu sou como sou, nem superior nem inferior.» Ao pôr-se de lado para observar todo o espectáculo, o leitor entra no segundo mundo – o mundo da inteligência e da consciência.

Trata-se apenas de compreender toda a situação em que todos se encontram apanhados. Basta que o leitor observe pacientemente toda a situação: «O que é que está a acontecer? E mesmo que eu consiga chegar ao degrau mais alto do escadote, de que me servirá isso?» O leitor ficará simplesmente pendurado no céu, com um ar de idiota. Não poderá ir para mais lado nenhum.

Evidentemente que não vai poder descer porque os outros começariam a rir-se de si: «Onde é que vais? Que te aconteceu? Foste derrotado?» O leitor não pode descer e também não pode ir para mais lado nenhum, porque não há nenhum degrau mais alto, pelo que fica pendurado no céu, fingindo que chegou, que encontrou a meta da vida.

Mas sabe que não encontrou coisa nenhuma. Não passou de um idiota e desperdiçou toda a sua vida. Agora não há nenhuma maneira de subir e, se descer, toda a gente se vai rir de si.

Portanto, qualquer pessoa que venha a ser presidente ou primeiro-ministro de um país só deveria ter uma única prece, que possa morrer no seu posto. Porque ele não vai poder voltar a descer – seria um insulto, uma humilhação; e não existe nenhuma maneira de subir mais alto. Fica-se preso; só a morte o poderá libertar de tal dilema.

O homem está constantemente a tentar, de todas as maneiras possíveis, ser uma pessoa muito elevada, especial, superior – mas tudo isso é política. E, segundo penso, só os medíocres se interessam por isso. As pessoas inteligentes têm coisas mais importantes para fazer. A inteligência não se desperdiça a si própria lutando contra políticos de terceira categoria, baixos e sujos. Só pessoas de terceira categoria se tornam presidentes ou primeiros-ministros. Uma pessoa inteligente não se vai deixar atrair por semelhante deserto que não leva a lado nenhum, nem sequer a um oásis.

Ora bem, a nível instintivo,  a política é só «poder é direito» – é a lei da selva. Adolf Hitler, Joseph Estaline, Mussolini, Bonaparte, Alexandre, Tarmelão – todos eles mais parecem lobos do que seres humanos. Se quisermos uma verdadeira Humanidade neste mundo, deveremos riscar completamente os seus nomes. Deveremos esquecer que esses homens existiram; não passaram de pesadelos. Mas, estranhamente, toda a História está cheia de gente assim.”

Bibliografia

OSHO. (2013). Intuição. Conhecer para além da lógica. Bertrand Editora. Lisboa. pp. 93-95