Sinais do Futuro
“Lá longe, ao sol, encontram-se as minhas aspirações. Poderei não alcançá-las, mas posso levantar os olhos, ver a sua beleza e acreditar nelas”.
Mark Twain
No dia 3 de Junho, participei num Seminário, subordinado ao tema (trans)Formar o Poder (trans)Formador da Formação, que teve lugar no Hotel Villa Batalha, que fica situado muito pertinho do museu da Batalha, ex-libris desta simpática vila.
Pois, no dito Semanário, e tal como sempre faço, fui retirando alguns apontamentos que no momento considerei mais expressivos e que decidi aqui partilhar. Contudo, estes meus apontamentos não representam a totalidade daquilo que fui absorvendo, que fui interiorizando, porque o mais importante, que é a inspiração, ou a satisfação sentida pela descoberta, e pela confirmação de muito daquilo que eu mesma já pensava, não sou capaz de vos transmitir. Só aqueles que se encantam com o aprender, serão capazes de perceber, de intuir a minha emoção.
Aliás, talvez até seja capaz de explicar a satisfação sentida quando se aprende, utilizando o seguinte exemplo apresentado pelo psicólogo João Leite, na sua actuação no Seminário:
ECA – Os Três Pilares da Aprendizagem
- Emoção
- Curiosidade
- Atenção
A Emoção é o que incendeia, pois não se aprende a seco. Repare-se que aqui estamos a falar de aprender e não de decorar matérias.
A Emoção faz despertar, produz a Curiosidade, que por sua vez, dá lugar à Atenção. E é nestes momentos, que alguns de nós, perante a descoberta, pronunciamos, ou sentimos interiormente, um longo «Ahhhhhhhhh!!!».
Outra coisa a saber: Nenhuma competência nova aparece do zero. Seja qual for a competência, já alguma vez fizemos, ou estivemos em contacto com algo parecido. Por exemplo, o bisturi mestriamente manuseado pelo cirurgião, se bem repararmos, em muito se assemelha ao “empunhar” de um lápis, gesto que remonta para a infância. Logo, não se aprende sem fazer. Assim, todo o Formador, se quer que os Formandos aprendam, deve pô-los a Fazer.
Cabe agora também referir as Quatro Plataformas da Aprendizagem:
- Sensorial
- Comportamental
- Emocional
- Cognitiva
Sobre as Emoções, convém salientar que estas são uma fonte essencial da aprendizagem, já que as pessoas, quer sejam as crianças, os adolescentes, os adultos e idosos procuram actividades e ocupações que fazem com que elas se sintam bem, e tendem, pelo contrário, a evitar actividades ou situações em que se sintam mal.
O Seminário teve a sua abertura oficial com a intervenção do Presidente do Conselho Directivo do IEFP. A. Valadas da Silva, que dissertou sobre Competências, que é obrigação do Formador desenvolver no Formando competências técnicas, mas também competências sociais e comportamentais. Que deve saber, também,” inspirar sonhos” e “possibilidades de” no Formando. Que devemos usar de sensibilidade para assim operar a Mudança… começando pelos nossos filhos…
Já Cristina Botas, Directora DRH do CENFIM, professou que “o Formador deve de ser o Facilitador de Aprendizagens – Motivar, Influenciar, Transformar”. As emoções, o afecto, mais uma vez chamadas à colagem, assumindo-se como “uma mulher de afectos” quando proferiu que “cada formando que passa por nós [Formadores] deixa qualquer coisa de si”. Continuando que o “Formador deve ser uma referência”, não só deve formar com competências técnicas mas também incutir valores morais, em suma, deve Formar Pessoas.
Quanto a Jorge Rio Cardoso, Professor Universitário, este iniciou a sua intervenção confessando que nem sempre foi brilhante. Declarou que começou por ser um péssimo aluno. Chumbou duas vezes. Teve imensos problemas de auto-estima, para ele não existiam regras, etc. Contudo, uma mudança se operou nele quando enveredou pelo atletismo, actividade que lhe foi incutindo regras, como por exemplo, a necessidade de cumprir horários. Com o desempenho desta actividade teve também importantes conquistas: perdeu o medo de errar, de falhar.
No fundo, e agora sou eu que o afirmo – a vida é um jogo, e em todo o jogo, há momentos em que se falha, por isso se perde, mas também há momentos em que se ganha, momentos de vitória.
Referiu que qualquer formador tem que ter em linha de conta três princípios, os quais devem ser sempre observados no seu desempenho:
- “O que vou ensinar?”
- “Como vou ensinar?”
- “Como medir o sucesso?”
Para levar a bom termo a formação deve o formador encaminhar a Informação no sentido do Conhecimento e deste para a Sabedoria.
Para exemplificar esta “Trilogia” socorreu-se de um exemplo bastante simples, que irei tentar descrever, sei que não foi bem assim, mas penso que é suficiente para entender:
Num dia de manhã, ao acordar, você vai à janela e vê o céu carregado de nuvens cinzentas. De imediato, forma-se em si a ideia de que possivelmente irá chover, pelo que ao sair de casa para ir para o emprego, à cautela, mune-se de uma gabardina e de um guarda chuva. Ora, neste gesto tão simples, tão corriqueiro, está implícito um mecanismo:
- A informação – sabe que o céu está cinzento, carregado de nuvens;
- O conhecimento – sabe que quando assim acontece, o mais provável é que irá chover;
- A sabedoria – Prevenção, previne-se para evitar um mal, uma constipação. É isto que é a sabedoria. Agir de forma a evitar um mal. Capacidade de projecção do que pode acontecer.
Assim, todo o Formador deve ter presente que todo o conhecimento a ministrar deve estar na direcção da sabedoria. E é esta competência que tenderá a ser muito valorizada nas empresas do Futuro – a capacidade de antecipar problemas aliada à capacidade de criar soluções.
Ninguém consegue aprender se estiver triste – afirmou Jorge Rio Cardoso. É, por conseguinte, imprescindível imprimir energia positiva.
Referiu também o Triângulo Pedagógico e a relação entre os seus três elementos, que podem ser conjugados de diferentes formas. Se em tempos, a relação privilegiada foi:
Formador ⇒ Saber ⇒ Aluno. Em que o Formador “despejava” o Saber sobre o Aluno, actualmente, a relação privilegiada é Formador ⇒ Aluno ⇒ Conhecimento. Ou seja, da interacção dos dois primeiros elementos, Formador e Aluno resulta o Saber ou Conhecimento. Ambos, Formador e Aluno aprendem. O papel do Formador é aqui o de Facilitador.
Legenda – Triângulo Pedagógico
Referiu, também, que actualmente não é mesmo nada fácil ser professor… Explicou como deve ser elaborada uma aula para ser bem sucedida. Primeiramente há que ter em conta que a 1ª aula é fundamental para prevenir a disciplina, ou seja, é o momento próprio para impor regras, para declarar ou negociar aquilo que pode e não pode ser feito na aula, podendo ser estabelecidas as sanções para punir os “delitos” cometidos.
É também importante elaborar o desenho da aula, tendo em conta que deve compreender os momentos de descompressão, mas de tal modo que permita retornar ao fio da meada assim que o queira. De 10 em 10 minutos deve o formador (professor) recapitular, fazer um ponto da situação, para dar oportunidade àqueles que entretanto se perderam no raciocínio ou se distraíram.
Algo que eu, que estou a elaborar este post, autora deste espaço, considero extremamente importante!
O Formador (Professor) deve, também, ter as melhores expectativas sobre o Formando ou Aluno. Quando estamos perante alguém que consideramos capaz de aprender uma determinada matéria projectamos essa confiança nesse alguém, e então é isso que acontecerá. Ou seja, o que pensamos do Formando ou Aluno influencia os resultados. Por tudo isto impõe-se como importante formar as melhores expectativas sobre todos os Formandos ou Alunos.
Até porque a missão do Formador é tornar a pessoa capaz de aprender. E, por conseguinte, formar as pessoas para fazerem de si mesmas bons cidadãos.
Deve o Formador ter sempre presente que constitui um modelo de referência pois mesmo sem se aperceber incute valores com o seu comportamento, com o seu desempenho, com a imagem de si que projecta nos outros.
“Mais do que cabeças que sabem muita coisa, precisamos de cabeças que sabem pensar.”
O Formador deve operar a mudança (transformação) nas pessoas. Torná-las capazes de de dar opiniões, treinadas para soluções e conhecedoras de como buscar a informação que se impuser como pertinente.
O Formador deve criar empatia com os Formando mas de tal modo que não sacrifique as regras, tendo em linha de conta de que se não há educação sem valores, também não há educação sem afectos.
Por outro lado devemos fazer uma grande conquista que consiste em tornarmos-nos emocionalmente aptos, ou seja, identificar as nossas emoções e saber gerir essas emoções.
O Formador ou Professor deve ser capaz de influenciar os Formandos ou Alunos a encantarem-se pela vida, pois encantar-se pela vida, é, por consequência, encantar-se com o Conhecimento. Porque motivar para a vida é ensinar que a vida engloba muitas coisas e uma delas é a escola.
Jorge Rio Cardoso fechou a sua admirável e brilhante intervenção de uma forma também admiravelmente brilhante – com Almada Negreiros:
“Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade.”
Almada Negreiros
Intervenção do psicólogo João Leite
Nos momentos iniciais da sua intervenção, João Leite chamou a atenção para o facto de andarmos a utilizar o termo pedagogia mesmo quando estamos no âmbito de ensino dos adultos, mas que neste caso é de andragogia que se trata, uma vez que pedagogia é relativo a crianças. A ciência da Andragogia não é assim tão recente como se possa pensar, já que tem cerca de 60 anos. A primeira referência conhecida que lhe foi feita data do ano 1956.
Segundo João Leite já é tempo de deixar de ensinar e passar a investir na aprendizagem das pessoas. Quanto mais ensino, menos pessoas aprendem. Também de acordo com João Leite deve-se investir na Aprendizagem Significativa, em detrimento do Ensino Tradicional, e que se traduz pelo seguinte esquema:
Recomenda que não se deve começar as aulas apresentando conceitos ou definições, já que só se aprende quando se consegue ligar as coisas, os assuntos. Só se aprende a partir daquilo que já se sabe, como se fosse uma escada, nunca a partir do zero.
Resumindo, o Formador deve tornar as pessoas capazes e uma vez capazes, livres e autónomas.
GALERIA DE FOTOS
Jorge Rui Cardoso
João Leite
Cristina Botas
Ana Raimundo
Julho 19th, 2017 as 19:19
Esse Seminário de fato deve ter sido muito interessante. Ao enfatizar que na Educação e no ensino nunca se parte do zero, me fez lembrar uma frase do educador Antonio Vieira Pinto que eu gosto muito: “A prática pedagógica é duplamente contraditória porque ela pressupõe que quem ensina sabe, quando não sabe; e quem aprende não sabe, quando, na verdade, sabe.” Também apreciei muito uma frase sua nesse post:
“Só aqueles que se encantam com o aprender, serão capazes de perceber, de intuir.” . Bjs, José Rosa.