A Reconciliação
“A crença na bondade alheia é uma prova não desprezível da própria bondade.”
MICHEL DE MONTAIGNE
Continuando na saga do vendedor de gelados…
No dia seguinte pela hora do almoço, acabadinhas de acordar, visto a noite ter sido de folia, numa das discotecas da zona, não me lembro se na Sunset ou na Princess, ambas em Alcobaça e das quais, eu e a minha prima, fomos frequentadoras habituais, saímos do nosso quarto para comermos alguma coisa e de seguida rumarmos para a praia. Atravessámos a estrada e, logo ali em frente à residência onde morávamos, existia um pequeno estabelecimento onde entrámos para tomarmos o pequeno-almoço. Sim! Pequeno-almoço! Para nós, só agora começava o dia! Sentámo-nos à beira de uma pequena mesa, encomendámos dois pregos no pão e dois refrigerantes. Depois de devidamente acomodadas olhámos em redor e quem havíamos de avistar? O nosso amigo vendedor de gelados! A contas com uma imponente travessa de belo bacalhau acompanhado de grão, batatas e ovo cozido. Assim que nos pôs a vista em cima afivelou imediatamente uma cara de poucos amigos, e nós duas , também não ficamos nada bem-dispostas. Tantos cafés e restaurantes na Nazaré e tínhamos logo de ter entrado naquele onde se encontrava aquela linda prenda! Era preciso ter galo!
Entretanto, foram-nos servidos os dois pregos que comemos em silêncio e ansiosas por sairmos daquele lugar com tão funesta companhia, porém, nos olhares discretos que enviámos pelo canto do olho em direcção ao nosso inimigo, reparámos que os seus olhos imensamente azuis pareciam adocicados e brilhavam sorridentes enquanto nos miravam! O que se passaria? Mal acabámos de comer saímos rapidamente do estabelecimento, aliviadas por nos livrarmos daquela incómoda figura e seguimos em linha recta em direcção à beira-mar, preparadas para mais uma tarde de sol e de descanso.
Algum tempo depois, avistámos o vendedor de gelados a caminhar pela areia, que ao ver-nos se aproximou de nós. De um modo extremamente afável, que muito nos intrigou, perguntou-nos se queríamos comprar gelados. Prontamente respondemos-lhe que não. Ainda mais simpático, tornou a perguntar se queríamos um gelado e que nesse caso fazia-nos o preço normal, porque sabia que nós não tínhamos dinheiro, mas que, lá por isso, não deixávamos de ter direito a ter a nossas férias! Surpreendidas e confusas entreolhámos uma para a outra e foi quando no nosso espírito se fez luz! O vendedor de gelados, ao ver-nos à hora do almoço a comer os pregos e não sabendo que tínhamos acabado de sair da cama, conjecturou que éramos duas tesas, que estávamos de férias, sim, mas a contar os tostões e que por isso não tivemos uma refeição condigna, à semelhança da dele. Estava, então, condoído de nós! As pobres moças, pensou, não tinham querido comprar os gelados mais caros, não por incompreensão ou má vontade, mas antes, porque o dinheiro não abundava! E não estava assim tão longe da verdade!
Junho 24th, 2009 as 19:02
Nanananan
Amiga a vingança serve-se fria e ele vingou-se e bem.
Querias serviço de praia ao preço do café? Pois…pois!
Gostei da descrição dos olhos do vendedor “imensamente azuis”.
Cada um apanha o que mais gosta: Umas noites mal dormidas de folia, uns escaldões, ou então…o brilho das ondas no olhar.
Afinal…mesmo os mais exaltados conseguem partilhar momentos de boa vontade e ternura.
Viva o sol, o mar, as meninas traquinas e ainda…os vendedores de gelados!
Junho 24th, 2009 as 19:34
De regresso, passo para deixar um grande beijinho.
Junho 25th, 2009 as 4:45
Olá Flordeliz,
afinal o vendedor de gelados até que era boa pessoa,e foi tão bom ter chegado a essa conclusão! Tens razão, foram noites mal dormidas e alguns escaldões, mas, quando se é jovem… e tal…estas coisas fazem parte!
Um beijinho.
Junho 25th, 2009 as 4:48
Olá Lino,
Então já regressou dessas maravilhosas férias, bem vi quanto, pelas belas fotos que publicou! 😉
Um beijinho.