Cartas de uma mãe
De
Catherine Dunne
Catherine Dunne que nasceu em Dublin é licenciada em Literatura Inglesa e Espanhola no Trinity College. Leccionou na Greendale Community School. “Nunca É Tarde para Recomeçar” foi o seu primeiro romance, que lhe trouxe o sucesso internacional além do aplauso unânime da crítica.
“Cartas de uma mãe” é um romance que nos envolve numa comovente história de amor entre uma mãe e sua filha. Afora o brilhantismo com que a autora, Catherine Dunne, abordou um assunto que está longe de ser esgotado, considerei esta narrativa um tanto deprimente, principalmente porque me chamou a atenção para uma verdade incontestável! Poucos são, aqueles de nós, que podem afirmar com veemência, que não têm um qualquer conflito com um dos progenitores à espera de ser resolvido. Chega um dia em que é tarde demais e, nesse momento, apercebemo-nos de que, afinal, havia tanta coisa para dizer!… Porque tem de ser assim?… Alice é casada com Jack do qual tem dois filhos, James e Elizabeth, duas crianças amorosas, a verdadeira razão da sua vida! Jack é um bom marido e bom pai! Não fosse o problema da escassez de dinheiro e poder-se-ia considerar uma mulher intensamente feliz. Talvez por isso, o marido, decidiu despedir-se do emprego para se estabelecer por conta própria, na sua profissão de pintor, com o fito de aumentar os seus ganhos e assim, poder oferecer melhores condições de vida à sua família. Em más horas o terá feito! A crescente falta de dinheiro em breve se fez sentir, rareando assustadoramente devido à incapacidade de Jack em gerir o seu negócio! Apesar de ser um profissional empenhado tinha, no entanto, dificuldades em cobrar aos clientes os serviços prestados. Devia-se esta circunstância a um certo acanhamento em apresentar as contas e fazê-las cobrar, preferindo esperar que o fizessem espontaneamente. Como uma desgraça nunca vem só, era também, apanágio seu, não saber furtar-se aos incómodos pedidos de dinheiro que, um qualquer conhecido lhe fizesse! De modo que a felicidade de Alice era frequentemente assombrada por questões que, na verdade, tinham matriz na bondosa mas fraca personalidade do marido. Quando James tinha dez anos de idade e Elizabeth cinco, uma terrível desgraça abateu-se sobre o lar de Alice! Seu marido, sem mais nem menos, faleceu vítima de um problema cardíaco. É então que esta mulher vem a conhecer quão dura pode ser a vida quando se é só e, quando se tem dois filhos para criar! Ainda se, ao menos, estivesse preparada para esta indesejada situação, mas vendo melhor, quem é que se prepara para a eventual morte do companheiro de uma vida? O normal é sonharem juntos que viverão longos anos, vendo crescer os filhos e, bem mais tarde, os netos! Alice iniciou, a partir de agora, um novo ciclo de vida, onde a responsabilidade pesa como toneladas sobre os seus delicados ombros, atormentada, lá vai fazendo os impossíveis para que nada falte aos seus, incluindo uma cuidada educação no sentido de poderem vir a ter um futuro mais promissor, bem melhor que o seu!…. Ela que tem de arrumar e limpar o chão da casa dos outros e sair de um emprego para entrar logo noutro! Para Alice, uma coisa é ganhar o sustento, outra bem diferente, por sinal, é a educação dos filhos e aqui reside o âmago da grande frustração da sua vida…A incompatibilidade que, gradualmente, foi crescendo entre mãe e filha! Elizabeth percorreu os anos da adolescência cultivando com a sua mãe um particular modo de vida onde reinava a provocação, os desafios insolentes e o espírito da contrariedade. Mesmo depois de ter casado e de ser mãe de uma menina, conservava a opinião de que um bom entendimento entre as duas era impossível! A mãe nunca deixaria de lhe fazer reparos! Assim permaneceram até ao dia em que Alice sofreu um AVC, Elizabeth, então, na primeira noite em que ficou a olhar por ela, descobriu com surpresa, dois maços de cartas, um para si e outro para o irmão, escritas por sua mãe! Alice, ultimamente vinha a ser vítima de estranhos episódios de desorientação mental com ligeiras perdas de consciência, factos que a fizeram recear perder o conhecimento, sem mesmo ter tempo de se despedir dos filhos e de dizer as tais coisas que, tantas vezes ficam por dizer! Sempre que as recordações lhe assomavam à mente e se sentia capaz de o fazer, sentava-se à escrivaninha redigindo aquelas cartas, onde de mulher para mulher confidenciava a Elizabeth as razões do seu proceder! O quanto a amava e a forte apreensão que outrora a dominou, condicionando a sua natureza por medo de não estar à altura de a educar. O constante e terrível sobressalto de falhar na sua educação e comprometer o seu futuro tinha sido, a causa da mútua incompreensão! Elizabeth, por fim entendeu Alice! Através dos desabafos contidos naquelas cartas pôde enxergar quem verdadeiramente foi Alice, a sua mãe! E sentiu orgulho por, em mais que uma vez, ter reconhecido nela mesma, atitudes próprias de Alice! Afinal duas mulheres! Mãe e Filha!